A Criada Francesa escrita por Claen


Capítulo 16
Sr. Teddy




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A noite começava a cair quando a informação que aguardávamos finalmente veio até nós. O relógio sobre a lareira marcava quase dezoito horas quando a campainha tocou.

Duas pessoas estavam à nossa porta. Reconheci uma delas como sendo o garoto do beco, já a outra, era um senhor de mais idade, devia ter cerca de cinquenta anos, talvez menos. Não dava para saber ao certo, uma vez que a sujeira e o maltrato que o seu corpo vinha sofrendo durante os anos de moradia na rua, poderiam facilmente fazê-lo parecer mais velho do que era na realidade.

— Boa noite. – cumprimentou o rapazinho, bastante educado. – O Sr. Holmes está?

— Está sim, meu jovem. Entrem, por favor. – convidei, enquanto indicava para que subissem as escadas.

Eles seguiram para o andar superior e pedi para que se sentassem, mas eles não queriam por medo de sujar as poltronas. Eu insisti, até que o mais velho aceitou. Holmes já estava aguardando os dois enquanto fumava seu cachimbo.

— Boa noite, Billy. Vejo que trouxe um amigo. – disse Holmes.

— Sim, Sr. Holmes. Esse é o Sr. Taylor. Ele já mora nas ruas há um bom tempo e conhece o homem de quem o senhor me falou.

— Pois bem, Sr. Taylor, o que o senhor poderia nos contar sobre ele? – perguntou Holmes, curioso e ansioso pelas novas informações que teria.

— Para dizer a verdade, eu também não sei muita coisa, a única coisa que sei com certeza é que o nome dele é Vincent.

— Bem, esta já é uma grande informação. – constatei.

— Ele não era muito de falar e essa foi a única coisa que ele conseguiu nos dizer que fizesse algum sentido. – começou o nosso visitante. – Ele apareceu numa manhã lá na praça onde eu e mais um pessoal costumávamos dormir. Isso já faz um bom tempo. Eu não sei bem quanto, porque a gente da rua não costuma ficar olhando o calendário, mas deve fazer quase uns dez anos.

“Ele chegou assustado e chorando. Suas mãos e roupas estavam sujas e eu acho que era sangue, mas ele não disse nada, só ficou encolhido num canto. Na hora a gente viu que ele não batia muito bem da bola e pensamos que ele estivesse machucado, mas depois vimos que o sangue não era dele. Aí ficamos com medo, porque achamos que ele pudesse ter brigado e machucado, ou até matado alguém.”

“Ele ficou ali por perto, mas não nos aproximamos muito dele nos dias seguintes. Só quando tivemos certeza de que ele era inofensivo, que resolvemos fazer contato. Ele não parecia ser muito capaz de se cuidar sozinho pelas ruas, então a gente resolveu acolher ele. Se a gente que vive na rua não se ajudar, quem é que vai fazer isso, não é?”

“Um dia, ele encontrou aquele urso de pelúcia no lixo e daquele dia em diante, nunca mais largou o bicho. O Vincent não fazia mal pra ninguém, sabe? Mas um dia, quando a gente não estava por perto, ele resolveu se aliviar no parque, bem quando estava cheio de mulher grã-fina, aí já viu. Elas começaram a gritar que ele era um tarado, até que a polícia apareceu e levou ele. Depois desse dia nós nunca mais vimos ele pelas ruas.”

— Entendo... Então foi nesse dia que ele foi levado ao Bedlam e nunca mais saiu de lá, até na semana passada quando foi levado ao St. Thomas. Não há dúvida alguma de que se trata da mesma pessoa. – concluiu Holmes. – Muito obrigado, Sr. Taylor, suas informações ajudaram a elucidar algumas coisas.

Assim que agradeceu, Holmes deu algumas moedas ao homem que saiu satisfeito.

— O Sr. Taylor nos contou algumas coisas interessantes, mas infelizmente nada que pudesse ligar o Sr. Teddy, ou melhor, o Sr. Vincent à família Hyde. – constatei, um pouco desapontado.

— Pode ser, Watson, mas se ele não estiver enganado quanto a data do aparecimento do Sr. Vincent, ela coincide com a do desaparecimento de Juliette. Eu não acredito em coincidências...

— Como não? – interrompi. – E não foi justamente uma coincidência que nos levou a conhecer o Sr. Vincent?

Ao dizer isso, recebi um olhar não muito amistoso de meu colega, mas dessa vez foi ele quem precisou dar o braço a torcer.

— Sim, Watson, nesse caso você pode ter razão, mas se aceitarmos toda a história do Sr. Vincent como apenas coincidência, seriam coincidências demais. Além de o Sr. Vincent ter começado a vagar pelas ruas na mesma época em que Juliette desapareceu, ele estava assustado e vestia roupas sujas de sangue. Eu afirmo que o Sr. Vincent não apenas testemunhou a morte de Juliette, assim como também participou do ato. Mas quem é ele? Ele pode ser algum membro da família, um conhecido, ou até mesmo um antigo empregado.

— Mas se isso for verdade, não creio que ele tenha feito isso por vontade própria, já que como o enfermeiro nos disse, ele pode já ter nascido com algum tipo de deficiência mental. Se isso for mesmo verdade, eu acho que ele foi obrigado a fazer algo que não queria e isso foi tão traumatizante que o levou a um estado de choque do qual ele não conseguiu mais se recuperar.

— Perfeita dedução, Watson! Isso é exatamente o que eu penso. No entanto, eu creio que por mais que sua deficiência mental o deixe desligado do mundo, ele tenha alguns momentos de lucidez, e foi justamente um desses momentos que o deixou tão transtornado ao ponto de causar confusão no hospital e acabar ferido. Ele certamente viu alguém que fez com que recordações ruins viessem à tona, provavelmente o assassino de Juliette. Também acredito que outro breve momento de lucidez fez com que ele tentasse pedir ajuda. Pensando melhor sobre aquele dia, havia muitos policiais no hospital e nós conversávamos a respeito de Lestrade e da Scotland Yard e ele pode ter entendido que éramos policiais e tentou nos pedir ajuda. Ele queria contar alguma coisa, mas não teve a oportunidade, porque foi levado pela enfermeira.

— Acho que devemos voltar lá e tentar conversar com ele, talvez tenhamos sorte e consigamos arrancar alguma coisa. – sugeri. – As coisas parecem começar a fazer sentido, mas depois de tudo isso, uma dúvida permanece, pois antes, eu acreditava que os tais benfeitores por trás do Sr. Vincent pudessem ser Ethan e Violet Hyde, agora, já não tenho tanta certeza. Talvez ainda tenhamos elementos desconhecidos nessa história toda.

— É certo que ainda não sabemos de tudo e que nos escapam alguns pormenores, mas estamos no caminho certo. – disse Holmes, confiante.


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