Dessa vez eu não entrei em choque, a dor em minha mão fazendo com que lágrimas caíssem de meus olhos. Quando chegamos na casa de Emily, Embry me ajudou a abrir a porta e me levou até o sofá, indo até a cozinha em seguida. Minha mão estava roxa e inchada, doendo demais. Embry me deu o gelo e saiu da casa, encontrando com Paul na entrada e ambos indo para a garagem se transformar. Comigo e Emily na mesma casa, e com vampiros na reserva, os lobos não deixariam abertura para que fossemos machucadas. A proteção do objeto do imprinting dos membros da alcateia sempre era a prioridade. Emily me explicou um dia que a proteção era feita até mesmo do lobo que sofrera o imprinting.

         Emily veio até a sala com um cobertor e um copo de água com comprimidos analgésicos em mãos, e sentou-se ao meu lado nos cobrindo e eu aceitei os comprimidos, engolindo-os com a ajuda da água. Ela ligou a televisão e deixou algum programa passando, que eu não assisti. Estava preocupada com Jake, e pensando que eu tinha de ir até Charlie ainda hoje em Portland. Eu falaria com Jake quando ele chegasse aqui, decidi. Era a melhor forma, já que eu não queria dirigir na estrada sozinha, correr risco de Victoria me seguir. Eu não percebi quando, mas dormi encostada no ombro de Emily. Os analgésicos fazendo o efeito esperado.

— Ela quebrou dois ossos nos dedos anelar e médio, mas o gesso vai fazer com que cure rapidamente. Em algumas semanas ela poderá ir até o hospital para retirar. – uma voz angelical me acordou, e eu demorei alguns segundo para associar a voz a pessoa. Carlisle.

         Sentei no sofá, vendo que a coberta que Emily tinha trazido consigo estava sobre meu corpo e que meu pulso esquerdo estava coberto por um gesso. Ainda sonolenta, vi Carlisle me olhando do outro lado da sala, com Embry atrás dele. Emily não estava em nenhum lugar que eu conseguia enxergar e Jake estava diretamente na minha frente, encarando o vampiro na sala. Não falei nada, observando Carlisle cuidadosamente.

— Bella. – ele me cumprimentou, uma expressão triste em seu rosto – Gostaria de pedir desculpa pelo comportamento de Edward e estender a gratidão de toda a família por ter ido até a Itália. – suas palavras não fizeram com que eu sentisse nada, e minha expressão continuou a mesma – Você não tinha obrigação alguma de fazer isso. Somos gratos, Bella.

— Você tem razão, não tinha obrigação. – minha voz saiu rouca de sono, pigarreei antes de continuar falando – Mas fiz por consideração à Esme. Ela não merece sofrer a perda de um filho de novo.

— Entendo, e como disse, somos gratos. – Carlisle disse, o sorriso triste no rosto – E quero assegurar que os lobos podem entrar e sair de Forks o quanto quiserem, e nós não invadiremos as terras dele. Entendo que eles são parte de sua vida e por isso estarão na cidade.

         Eu não o respondi, preferindo observar enquanto ele guardava as coisas que tinha usado para fazer meu gesso e sair da pequena sala de estar. Assim que ele estava fora de vista, Jake sentou-se ao meu lado, o corpo inteiro tremendo.

— Jake? – chamei baixinho, sem resposta – Você está bravo comigo? – tentei de novo.

— O que você estava pensando, Bella? – ele perguntou, a voz tremendo – Socar um deles! Ele podia ter te machucado, Bella. E eu não sei o que teria acontecido... Eu prometi que você estava segura comigo, Bella, mas não posso te proteger se você sair socando vampiros!

— Me desculpe. – murmurei, levando minha mão boa até a dele e apertando levemente – Eu estava com raiva e não pensei direito. Não vou fazer de novo. – sorri para Jake, que agora me olhava – Vou deixar o privilégio de socar vampiros para você de agora em diante.

         Jake riu com a última frase, me puxando delicadamente para seu colo e me beijando. Ainda era meio estranho, ter essa intimidade com ele, mas ao mesmo tempo a sensação era de que isso era certo. Ficamos abraçados por um tempo depois do beijo, ouvindo a respiração um do outro, com as testas unidas.

— Preciso ir ver Charlie, Jake. – sussurrei – Levar algumas coisas para ele.

— Agora?

— Sim, prometi que iria hoje.

         Jake suspirou, saindo da casa de mãos dadas comigo. Nós não tínhamos conversado sobre estarmos juntos ainda, e de alguma forma não era necessário. O que temos é real e seguro o suficiente, não é necessário ser posto em palavras. Durante o caminho até minha casa fomos conversando sobre as aulas que tivemos hoje e quando estávamos chegamos Jake ficou tenso.

— Que foi?

— Ele não desiste, não é? – sua voz estava baixa e tensa.

— Quem? – perguntei, tendo a resposta a minha pergunta segundos depois quando ele estacionou em frente a minha casa.

         Edward estava parado no caminho até a porta de entrada, uma expressão de raiva e indignação no rosto. Eu não conseguia acreditar que ele tinha coragem de me procurar depois de tudo que aconteceu. Sai do carro devagar, e Jake já estava do meu lado quando fechava a porta. Senti a raiva voltar a tomar conta de meu ser e senti Jake passar um braço pela minha cintura, me segurando ao seu lado. O maxilar de Edward ficou ainda mais rígido, se isso sequer fosse possível, ao ver o movimento.

— Meu privilégio, Bella. – Jake me lembrou, o corpo tenso, as mãos tremendo.

— Eu sei. – disse, olhando brevemente para ele, tentando mostrar que não faria nada dessa vez – O que é que você quer? – a pergunta foi dirigida a Edward – Ainda não entendeu o recado? Não interfira na minha vida!

— Bella, eu preciso conversar com você. - encarei ele, esperando que continuasse – A sós.

— HÁ! – eu ri de forma debochada – É, isso não vai acontecer.

— Mas, Bella...

— Nós temos algo importante para fazer, sanguessuga. – Jake interrompeu ele no meio da frase, eu sentia meu próprio corpo tremendo – Se você quer tanto conversar com ela, pode muito bem fazer isso na escola – o sorriso de Jacob era irônico – Isso é, se Bella aceitar.

— Não, obrigada. – falei irritada – Vai embora, Edward. Eu tenho algo para fazer.

— Mas você não deveria ficar sozinha com ele. – a voz de Edward estava baixa, perigosa – As coisas que ele anda pensando sobre você...

— O que tem? – senti Jake ficar imóvel ao meu lado, a respiração pesada, ao ouvir a frase de Edward – Ele pode pensar o que quiser sobre mim, Edward. Não é da sua conta. – sibilei as palavras, fazendo questão de colocar o máximo de raiva em cada uma delas – Vai embora!

         Edward não se mexeu, escolhendo ficar parado encarando a mim e Jake. Se ele queria ser teimoso, eu sabia ser mais ainda. Sorri, vendo que eu tinha deixado a janela do quarto aberta. Andei até a frente da minha janela, puxando Jake atrás de mim, que de alguma forma entendeu o que que queria que ele fizesse. Em questão de instantes, estava nos braços de Jake, que escalava a arvore em frente a minha janela e logo estava sendo deixada no chão do quarto. Mas Jake não foi rápido o suficiente e Edward estava ali, parado em meu quarto, em frente a janela.

— Qual a sua dificuldade em entender que eu não quero falar com você? – perguntei, exasperada – Vai. Embora. Edward! – falei cada palavra devagar, pronunciando cada uma com ênfase para tentar passar a mensagem.

— Eu preciso falar com você! – foi sua única resposta, cruzando os braços, parecia uma criança emburrada.

         Revirei os olhos e sai do quarto, puxando Jake comigo e fechando a porta com força. Sabia que isso não poderia impedir que ele viesse atrás de nós, mas a sensação de bater a porta era boa. Fui até o quarto de Charlie, parando brevemente quando a lembrança de Victoria aqui me fez respirar fundo. Jake entendeu e entrou na frente, ficando exatamente do meu lado enquanto eu pegava as coisas de Charlie e colocava em uma mochila. Fui até a janela e fechei, passando a trava. Isso não impediria que ela entrasse em minha casa, mas a ação de fechar a trava trazia uma falsa sensação de segurança.

Propositalmente eu ignorei Edward, que nos seguiu silenciosamente o tempo inteiro, enquanto me movia pela casa pegando coisas que julgava necessário que Charlie tivesse consigo e que ele poderia ter esquecido. Na cozinha, peguei o máximo de comida que pudesse ser preparada em microondas e coloquei em uma caixa de papelão que tinha vindo junto com a última ida ao supermercado. Jake pegou a caixa e a mochila e me seguiu até o lado de fora da casa, respirando pesado e com o corpo inteiro tremendo o tempo todo desde que saímos do carro, deixando as caixas na parte de trás da minha caminhonete. Ele jogou um plástico por cima, para evitar que as coisas fossem molhadas pela chuva e foi para o lado do motorista.

— Bella, por favor... – Edward estava ao meu lado enquanto eu abria a porta do carona, segurando meu braço.

         Estremeci sob seu toque gelado, não acostumada com a temperatura depois de tanto tempo ao lado de Jake. E então ele não estava mais ali, sendo empurrado por um Jacob completamente furioso.

— Não encoste nela, sanguessuga! – ele gritou, tremendo e me deixando de forma protetiva atrás de si – Ela NÃO quer falar com você! Não me obrigue a chamar os outros para te mandar embora. - eu pude ver seus ombros se mexendo enquanto ele respirava fundo, os tremores mais forte ainda - Eu estou sendo legal porque sei que um confronto com você agora faria mal a Bella, e eu me importo com o bem estar dela, algo que parece que você não conhece! Mas se você continuar forçando uma situação que não vai acontecer, e nos seguindo, eu não vou mais querer me controlar!

Eu senti Jacob tremendo demais, a respiração descontrolada, e encostei minhas mãos em suas costas. Jake trouxe um dos braços para trás, como se quisesse ter certeza de que eu estava em segurança. A mão que encontrou meu corpo parou de tremer de forma violenta e ficou com um tremor quase imperceptível. 

— Me deixe em paz, Edward. – eu sussurrei, sabendo que ele ouviria – Eu não aguento mais. – encostei o rosto nas costas de Jake, sentindo as lágrimas escorrerem de meus olhos – Por favor, me deixe em paz!