Edward se foi. As semanas se passaram e se tornaram meses, como se eu estivesse submersa, sem sentir nada. Enquanto tomava café da manhã em um sábado, quatro meses depois que ele se fora, Charlie decidiu ter uma conversa sobre a situação. 

— Basta! Você vai pra casa, Bells. – Charlie disse enquanto soltava o garfo no prato, me assustando.

— Eu estou em casa.

— Não, você vai para Jacksonville, morar com sua mãe e Phill. – ele suspirou – Não sei como te ajudar, Bella. Isso tudo é demais para mim.

— Eu fiz algo errado? – olhei para meu pai, pelo que pareceu a primeira vez em anos.

— Não, e esse é o problema. Você não faz nada! É como se fosse um zumbi, Bella. – ele respirou fundo – Se ao menos fizesse algo, eu entenderia. Mas você parece sem vida, e eu não sei te ajudar.

— Eu faço o dever de casa e trabalho, pai. Arrumo a casa também. – tentei advogar em meu favor – Mas se você quiser posso ir ver Jacob. Ele anda mandando mensagem.

— Isso seria ótimo, mas... – antes que ele pudesse terminar de falar, eu o interrompi

— Eu vou até lá hoje, então. Vai ser bom.

— Ótimo. – ele disse enquanto soltava a louça na pia e ia até a sala.

         Não é que eu queira ir até a praia, mas Jacob realmente tem me mandado mensagens. Seria bom ter uma distração, hoje não tenho turno no trabalho. Arrumar a casa é ótimo, mas não é uma tarefa que exija pensar, e pensar me faz sentir dor.

         Me obrigo a terminar de comer meu cereal, e lentamente arrumo a cozinha. Depois de lavar a louça e limpar as bancadas, vou até meu quarto. Se vou sair de casa preciso usar algo que não seja meu pijama. Decido tomar um banho e lavar meu cabelo antes de me trocar, e vou até o banheiro com uma muda de roupas e minha necessaire.

         A água quente me acalma, o perfume de morangos do shampoo me lembrando de quando o vi pela primeira vez na aula de biologia, quando ele se afastou como se eu estivesse com um cheiro ruim, o que depois fez sentido ao descobrir que meu cheiro era tentador demais para ele. Tudo me lembra dele.

         Terminado o banho, me enxuguei e penteei o cabelo. Ao tentar colocar a calça, percebi que ela estava larga. Faz sentido, há dias não consigo comer direito... a dor é tão grande que me faz perder o apetite.

         Balancei a cabeça e sai do banheiro, já trocada. Fui até meu quarto, deixando minhas coisas na cadeira e colocando meus tênis. Peguei minhas chaves de casa e da caminhonete e desci até a sala.

— Tchau, pai. Estou indo até a casa do Jake.

— Tchau, Bella. – Charlie parecia surpreso ao me ver vestida para sair, como se não tivesse acreditado que realmente iria.

         Enquanto saia de casa conseguia me lembrar de Edward parado ali, me esperando para ir ao baile da escola. De seu carro na vaga que é de Charlie, de todas as manhãs que ele me buscou para ir para a escola. Balanço a cabeça, ordenando que esses pensamentos saiam daqui.

         O caminho até a reserva foi rápido. Enquanto estacionava na entrada da casa de Jacob pude ver Billy espiando pela janela. Charlie deve ter avisado que eu viria, para ter certeza de que nada aconteceria comigo. Balancei a cabeça ao perceber que devo ter preocupado mesmo Charlie. Desligo o carro e coloco as chaves no bolso do meu moletom, saindo do carro. Quando chego na porta, Jacob já esta abrindo.

— Bella! – o sorriso que acompanha seu cumprimento é enorme – Faz tanto tempo, Bella. Quer fazer o quê?

— Oi, Jake. – sorrio de volta, surpresa por me sentir feliz ao vê-lo – Eu pensei de irmos até a praia. A não ser que tenha outra ideia...

— Não, isso é perfeito. Meus amigos estão lá hoje, posso te apresentar para eles. – Jake estava enorme, muito mais alto que eu – Pai, vou até a praia com Bella. Volto mais tarde.

— Se cuidem, crianças. – Billy disse do corredor que ligava a entrada da casa até a sala – Bom ver você, Bella.

— Bom te ver também, Billy.

— Vamos, Bella. Tchau, pai. – Jake pegou seu casaco e saiu de casa, indo comigo até o carro.

         Já dentro do carro, Jacob fez um barulho de surpresa. Olhei para ele com a chave a caminho da ignição, tentando entender o que aconteceu.

— O que aconteceu com seu rádio, Bella!? – Jake olhava horrorizado para o buraco onde antes tinha um rádio.

— Ele quebrou, eu tirei. – menti.

— Você fez um estrago e tanto, hein? Parece que tirou com as unhas, Bella – Jake riu – Posso instalar outro, se quiser.

— Claro. Posso vir durante a semana. – disse sorrindo – Obrigada, Jake.

         Seria um alivio não ter que ver o buraco onde antes estava o rádio que Emmett tinha me dado de aniversário. O buraco me lembrava do vazio em meu peito, deixado por Edward, e por toda a família Cullen. Todos tinham ido embora sem se despedir.

         O dia ao lado de Jacob foi tranquilo, e eu me sentia feliz. Isso é estranho, pois não sentia isso desde que ele disse que eu não era o suficiente, que estava indo embora. A semana seguinte foi animada, fui até a casa de Jake ou ele até a minha todas as tardes depois da escola. Fazíamos a lição de casa, íamos até a praia, vimos filmes. Hoje, algumas semanas depois de achar  algo que lembrasse felicidade novamente, Jacob ligou. Estava com febre e achava melhor não vir até mim, para que eu não ficasse doente. Decidi fazer uma sopa e ir até lá, então. Charlie iria trabalhar até tarde hoje, estavam tendo desaparecimentos em Forks e nas cidades vizinhas e as delegacias estavam se ajudando.

         Com a sopa já pronta e em um pote, deixei um bilhete na mesa dizendo para Charlie que tinha sopa na geladeira e como esquentar no fogão. Peguei minhas chaves e fui até a caminhonete, segurando firme no corrimão. Estava chovendo e eu não queria cair e derrubar a refeição de Jake.

— Oi, Billy. – cumprimentei o pai de Jake, e melhor amigo de meu pai, quando ele abriu a porta – trouxe sopa para o Jake. Ele disse que não está se sentindo bem.

— Ele está no quarto, Bella. – ele disse – Pode deixar que eu levo isso até a cozinha para esquentar.

— Obrigada. Vou ver como ele está.

         Chegando até a porta do quarto dele eu o vejo de pé de costas para mim, sem camiseta, se apoiando na cômoda. Ele realmente cresceu muito desde a primeira vez que o vi ao chegar em Forks. Agora já parece um homem.

— Jake? – eu o chamei, chegando perto – Porque você esta sem camiseta? – encostei em seu ombro – Você está queimando de febre, Jake.

— Não estou me sentindo bem, Bella. – ele disse, parecia estar com dor – Não consigo respirar direito.

— Eu fiz sopa... Vamos comer alguma coisa, depois eu posso ir com você até o hospital, se quiser.

— Eu preciso de ar, não consigo respirar direito – ele disse, ao mesmo tempo que bruscamente virou para me olhar.

         Jacob estava ofegante, suando por conta da febre. As gotas de suor fazendo seu corpo ter um leve brilho sob a lâmpada de luz amarelada de seu quarto, deixando seu corpo com um tom dourado. Jake saiu do quarto bruscamente e foi em direção a porta. Sem sapatos, só de shorts.

— Jake! Não vai lá fora assim, está chovendo! – ele me ignorou enquanto abria a porta – Jake, você está doente! Vai te fazer mal! – corri atrás dele – Jake! – ele estava indo em direção às arvores, a chuva forte nos encharcando – Jacob! – gritei, correndo para tentar alcança-lo.

         E então o impossível aconteceu. Bem na minha frente. Jacob começou a tremer muito, caindo no chão. Como ainda estava perto da casa dele, apertei o passo para tentar alcança-lo... e não era mais Jacob na minha frente.

         Tinha um lobo, enorme, na minha frente. Tremendo.

— Jacob! – gritei, desesperada.

         Os olhos do lobo me fitaram, humanos demais. Inteligentes demais para um animal. E não era um animal... era Jacob. Eu vi a transformação. Tropecei enquanto me afastava dele... assustada com o que vi, chocada. Será possível que todas as histórias são reais? Vampiros, lobisomens... O que mais existiria nas sombras? Eu cai para trás, assustada.

         E então o lobo, Jacob, levantou a cabeça e uivou. Senti lágrimas escorrerem de meus olhos. O que está acontecendo?