Space escrita por Saturn


Capítulo 9
Pluto


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Cheguei atrasada, mas cheguei!
Trago aqui uma das últimas fanfics dessa coletânea que foi meu amor por tanto tempo. Depois dessa, tem apenas mais duas e spoiler: São Saturn e Neptune.
Sim, meu nome no Nyah vem da música Saturn desse álbum e eu fiz o possível para homenagear esse álbum que eu amo tanto.
Essa é a penúltima fanfic soft, então eu sugiro que preparem vossos corações.

A música do capítulo, para quem quiser ouvir enquanto lê: https://www.youtube.com/watch?v=Ur9VuU16XSc

Enjoy it!!



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I woke up from the same dream

Falling backwards, falling backwards

’Til it turned me inside out

 

Eu pulei na cama, assustado e suado. No meu sonho, eu caía para trás da vassoura por um longo penhasco que não tinha mais fim. Suspiro, era a estréia da Grifinória no campeonato das casas, meu último campeonato, e teríamos um jogo arriscado contra a Lufa-Lufa de Amus Diggory, que jurou me derrotar nem que fosse a última coisa que ele faria. Sinto meu estômago revirar, como se toda a minha ansiedade e meu nervosismo estivessem tentando me virar do avesso para ficarem livres. 

Chuto as cobertas para longe, jogando as pernas para fora da cama e calçando meus chinelos fofinhos de qualquer jeito e saindo do dormitório em silêncio, com Sirius roncando feito um leão marinho às minhas costas, buscando um pouco de ar fresco do lado de fora. 

Desço as escadas e abro a janela do Salão Comunal, apreciando a brisa fria da madrugada batendo no meu rosto, enquanto respiro fundo, tentando controlar aquela sensação de que iria virar do avesso. Funciona um pouco, então me afasto alguns passos da janela, me deixando cair em uma poltrona, ainda sentindo o vento leve no rosto, congelando a ponta do meu nariz. 

 

Now I live a waking life

Of looking backwards, looking backwards

A model citizen of doubt

 

Fico sentado, observando a noite escura pela pequena janela, como em uma vigília, esperando algo acontecer, guardando meus pensamentos, ansiedade e nervosismo. Cada cinco minutos, mais ou menos, eu olhava por cima do ombro, apreensivo, esperando ver o time descendo dos dormitórios e preparados para jogar e acabar com a raça da Lufa-Lufa. 

Comecei a repassar novamente toda a estratégia que tínhamos planejado para vencer o jogo, e cada vez que eu repensava no plano, mais arriscado e duvidoso ele me parecia. O nervosismo pré-jogo havia se transformado em paranóia, e agora eu era um modelo humano em tamanho real da dúvida. 

 

Until one day I had enough

Of this exercise of trust

I leaned in and let it hurt

And let my body feel the dirt

When I break pattern, I break ground

I rebuild when I break down

I wake up more awake than I’ve ever been before

 

Não entendia o porquê estava tão nervoso, o quadribol estava no meu sangue. Meu pai, desde pequeno tinha me incentivado a jogar, descobrindo assim meu dom natural para apanhador, que foi afunilado cada vez mais através do trabalho duro e, desde que eu entrara para o time da Grifinória, em nenhuma partida eu tinha deixado de pegar o pomo. Algumas derrotas vieram, pelo outro time ter marcado uma quantidade absurda de  gols que não seriam compensados em pontos nem com a captura da pequena bolinha. 

Eu tinha a mesma rotina desde o meu primeiro jogo pelo time da casa. Eu acordava cedo, vestia o uniforme, comia uma torrada com geléia de morango no café da manhã, acompanhado por um copo bem gelado de suco de abóbora, independentemente do clima, depois partia para o campo de quadribol antes de todo mundo e conferia as palhas da vassoura, certificando-me de que estavam alinhadas e retas. No começo do sexto ano, mais algo tinha se juntado à rotina antes do jogo, um beijo estalado de Lily na bochecha esquerda, me desejando boa sorte. Já tinha virado tradição, e eu nunca tinha perdido uma partida sequer desde que tudo aquilo fosse feito. 

Resolvo voltar para o dormitório e tentar dormir um pouco, já que em poucas horas, eu estaria voando pelo céu frio em busca de uma bolinha minúscula e encapetada que me daria a vitória do jogo e a oportunidade de olhar debochadamente para Amus Diggory. Deito na minha cama, jogando os chinelos para longe enquanto puxo as pernas para cima do colchão e, apesar de imaginar que eu não conseguiria dormir, meus olhos se fecham no instante que minha cabeça toca o travesseiro gelado. 

Sou acordado com vários travesseiros e cobertas sendo atirados na minha cara por Sirius, que aparentemente segue essa mesma rotina desde que entrou para o time também. Me inclinei na cama e peguei a camisa nojenta que ele atirou em mim, jogando-a na cara de uma ainda adormecido Remus, levantando-me logo em seguida e começando a rotina de sempre. 

Vesti meu uniforme e desci para o café da manhã, onde eu tenho a desagradável surpresa em constatar que não tem geléia de morango, quebrando assim minha rotina e, fazendo toda a confiança que eu tinha adquirido do dormitório até o Salão Principal, evaporar feito água em uma fogueira. Ainda estou encarando a mesa, embasbacado, quando Lily chega junto com Lene, a segunda garota vestida para a partida, enquanto a ruiva usava um suéter da grifinória grande demais, um cachecol vermelho e dourado e carregava uma bandeira de um leão que ocasionalmente rugia e xingava os adversários -  obra de Sirius que ninguém conseguiu desfazer, embora ninguém tenha tentado com muito afinco -. 

Ela percebe que estou olhando desolado para a mesa, percebe que falta um ingrediente para completar minha rotina da sorte e começa a tentar me animar e dar soluções:

— Você poderia comer com a geleia de framboesa, é bem parecida. 

Balanço a cabeça, negando e dizendo:

— Precisa ser a mesma, assim a rotina não vai dar certo, eu não vou ter sorte, vamos perder e o Diggory vai esfregar aquele maldito pomo na minha cara até ele virar um feijãozinho. 

A ruiva bufou, irritada e me arrastou pelo braço até o campo de quadribol, enquanto eu tento dar um último gole em um copo de suco de abóbora gelado. Ela me larga quando chegamos às arquibancadas e se virou para mim, de braços cruzados, furiosa:

— Escuta aqui, Potter. Você vai enfiar nessa sua cabeça enorme e oca que vocês vão ganhar esse jogo e você não vai ficar choramingando pelos cantos por causa de uma maldita geleia de morango. Agora pegue o inferno da sua vassoura, termine o resto da sua estúpida tradição e me encontre fora do vestiário em cinco minutos. 

Me sentindo mais alerta do que estivera na semana toda, eu corro para obedecer a ruiva. 

 

Still I’m pinned under the weight

Of what I believed would keep me safe

So show me where my armor ends

Show me where my skin begins

Like a final puzzle piece

It all makes perfect sense to me

The heaviness that I hold in my heart belongs to gravity

The heaviness that I hold in my heart’s been crushing me

 

Eu estava preso àquela tradição como se fosse algo sagrado, me sentido exposto quando ela tinha sido quebrada, como se toda a armadura de sorte e segurança que eu vestia para os jogos tivesse sido abruptamente arrancada de mim, expondo pele nua e nervosa. 

Terminando de conferir todas as palhas da minha vassoura, eu corro para fora do vestiário, encontrando uma sorridente Lily com as mãos segurando um pequeno prato, protegendo algo do vento. Quando chego ao lado da ruiva, ela estende as mãos e me dá uma torrada, coberta com uma generosa camada de geleia de morango. Eu olho para a garota, abismado e ela me explica como conseguiu aquilo enquanto eu mastigava:

— Aparentemente Amus ficou sabendo da sua rotina ridícula e escondeu todos os vidros de geleia de morango que conseguiu encontrar nas mesas do salão principal antes do café da manhã. Por sorte, você tem a mim na sua vida e eu sou um gênio. Encurralei Amus em um corredor e ameacei contar para o Prof. Slughorn que ele pediu que o pai mandasse o último trabalho de poções feito para ele. Depois disso, ele ficou muito ansioso por ajudar. - Ela tirou um vidro de geleia do bolso - Quer um reserva?

Tudo aquilo fazia perfeito sentido, o capitão da Lufa-Lufa sabia que eu me abalaria pela minha rotina não estar completa. Eu engulo a torrada e dou risada, balançando a cabeça para a engenhosidade da garota

— Você é incrível Lily. Não sei o que eu faria sem você.

— Eu sei - Ela levanta na ponta dos pés e me dá o habitual beijo estalado de boa sorte na bochecha esquerda, e eu sinto como se um enorme peso estivesse sendo retirado do meu coração, acabando com o nervosismo e me enchendo de confiança novamente - Agora vá lá e acabe com Amus. 

 

I’ve been worried all my life

A nervous wreck most of the time

I’ve always been afraid of heights

Of falling backwards, falling backwards

I’ve been worried all my life

 

Quando o jogo inicia, eu sinto o habitual frio na barriga que antecede a cada partida, como acontecia todas as vezes em que eu entrava no campo. Preocupado em vencer, eu estava uma grande pilha de nervos em forma de James em cima da vassoura, situação que só piorou quando a Lufa-Lufa saiu na frente por trinta pontos, fazendo o nosso time se desestabilizar, perdendo jogadas óbvias. 

Mas logo se recompôs, com Lene e Sirius fazendo uma brilhante demonstração de como botar medo no time adversário, enfiando cinco gols sem sequer o goleiro perceber que estava sendo bombardeado por um esquadrão de artilheiros da mais alta qualidade. 

Volto a procurar pelo pomo e o vejo brilhando fracamente no lado sul do campo, acima da torcida barulhenta da Grifinória, que grita e comemora quando eu passo voando rente às cabeças em uma perseguição de alta velocidade atrás do pomo, balançando perigosamente na vassoura e quase caindo para trás de quinze metros de altura, agradecendo por não ter medo de altura e tendo como único pensamento obsessivo de pegar aquela bolinha. 

 

’Til one day I had enough

Of this exercise of trust

I leaned in and let it hurt

Let my body feel the dirt

When I break pattern, I break ground

I rebuild when I break down

I wake up more awake than I’ve ever been before

 

Tinha chegado o momento mais importante do quadribol. Aquele que eu deixava de acreditar que poderia pegar o pomo e, invés disso, o capturava. Me inclinei na vassoura, familiarizado com a sensação e estendo a mão à minha frente, sentindo meus dedos instintivamente se fecharam sob o metal gelado da bolinha, sentindo as asas agitadas arranharem minhas mãos. 

Assim que levanto a bolinha para o alto, a arquibancada abaixo de mim explode em uma comemoração ensurdecedora e alguém, sem pensar muito, resolve que é uma boa ideia me puxar para o meio da comemoração, me fazendo cair da vassoura e cair em cima de alguns grifinórios que não param de gritar um segundo sequer. 

Levantei da arquibancada, quebrando um corrimão no meio do caminho e monto novamente na vassoura, voando até o meio do campo, onde me encontro com o restante do time comemorando e a equipe adversária saindo do campo de ombros baixos, não pude perder a oportunidade de dar de ombros debochadamente para Amus e mostrar provocativamente o pomo para ele, que teve que ser arrastado para fora do campo por alguns colegas lufanos. 

Nunca tinha me sentido tão agitado como naquela manhã. 

 

Still I’m pinned under the weight

Of what I believed would keep me safe

So show me where my armor ends

Show me where my skin begins

Like a final puzzle piece

It all makes perfect sense to me

The heaviness that I hold in my heart belongs to gravity

The heaviness in my heart belongs to gravity

 

Preso sob o peso esmagador de seis pessoas em cima de mim, comemorando a vitória, eu apenas ria, sentindo que nada poderia me abalar, me sentindo tão seguro quanto possível na iminência de uma guerra bruxa e de ser esmagado por um Sirius que pulava nas minhas costas e gritava sem parar. 

Uma mão salvadora me tira do meio do tumulto e me afasta um pouco daquele pessoal, era Lily, sorrindo abertamente e com o rosto tão vermelho quanto seus cabelos, devido à excitação do jogo.  Ela me abraça forte, me parabenizando pela vitória e eu a seguro nos meus braços como se a garota fosse uma última peça do quebra cabeça que faltava na minha vida, e que ela me completaria. 

Aquilo era perfeito. Uma vitória devastadora e a garota que eu amava me ajudando em tradições bobas o dia todo, não teria como ficar melhor. 

Meu último pensamento foi instantaneamente apagado da minha mente quando a garota falou:

— Ei, o que você acha de comemorarmos só nós, tipo, em um encontro?

Meus olhos arregalam por trás dos óculos e a gravidade parece fazer seu trabalho com afinco, pois eu não conseguia me mexer e meu corpo todo parecia estar sendo puxado em direção ao chão, em contraste com meu coração, que parecia querer fugir do meu peito e flutuar acima de mim por dias. 

E foi assim que a garota que eu amava, que por anos tentei conquistar, me chamou para um encontro, que custei a acreditar por dias, perguntando para mim mesmo e para qualquer pessoa se ela não estaria brincando com a minha cara, até que a ruiva tirou minhas dúvidas me tascando o melhor beijo da minha vida. 

Pelo menos até o próximo beijo dela. 


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram?

Pessoalmente, eu acho ela bem bobinha e fofinha, meu estilo favorito de Jily.
Gostaria de agradecer à Baby Blackburn e a Day pelos maravilhosos comentários que aquecem meu coração capítulo após capítulo.

Até quarta-feira que vem! Um beijo :*



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