Summer Camp escrita por Tahii


Capítulo 1
Créditos Extras


Notas iniciais do capítulo

Oie! Tudo certo com vocês? ♥

Apesar dessa história estar bem fora da minha zona de conforto, estou muito feliz de ter colocado ela em prática, ainda mais no Junho Scorose. Espero que gostem ♥ ♥ ♥

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ACAMPAMENTO DE VERÃO

HOGWARTS ELEMENTARY SCHOOL

12 a 19 de Julho

INSCREVA-SE COMO MONITOR !!! 

 

— Nunca que eu vou ficar oito dias no meio do nada com um bando de pirralhos da quinta série — Alvo cochichou, estendendo o panfleto em minha direção. — Se eu fosse ganhar algo com isso, mas…

— Acho que dá para conseguir créditos extras — dei ombros, dobrando o pedaço de papel.

Créditos extras? Quem que vai fazer isso por créditos extras?

Era um costume de Hogwarts levar os alunos da quinta série para os confins do vilarejo de Hogsmeade durante uma semana para simbolizar o fim do elementary e o início do middle school, mas para que toda a magia acontecesse os professores recrutavam os monitores do colegial para ajudarem voluntariamente na árdua missão de conter as ferinhas selvagens. Os créditos extras eram apenas uma lenda para atrair os que estavam precisando; o verdadeiro valor era a palavra voluntário na ficha de inscrição para universidades. 

No dia em que recebemos o panfleto na reunião de monitores, a maioria inventou uma desculpa.

— Me prontifiquei a aguar as plantas da minha vizinha durante o verão — Andrew Bones foi o primeiro a abrir a boca, não fazendo questão de ser meramente convincente. 

— Vou viajar com os meus pais — Lysander Scamander, da lufa lufa, lamentou com uma falsa expressão de tristeza. A escola inteira sabia que os pais dele iriam viajar e que ele ficaria sozinho em casa, visto que ele já estava fazendo propaganda das festas que daria. 

— Minha mãe disse que estou de castigo, não posso sair de casa nem para respirar a poluição de Londres — Alvo, grande Alvo Potter. — Seria até bom todo o ar campista, mas… A Ginevra não costuma mudar de ideia. 

— Eu vou — ergui a mão, convicto de que sofreria um julgamento posteriormente. — Tem que levar toalha e roupa de cama?

Embora parecesse ridículo perder uma semana de férias num acampamento, seria importante constar no meu currículo atividades voluntárias, ainda mais num período em que eu poderia estar fazendo qualquer outra coisa. Seria fácil atribuir a minha pessoa adjetivos como responsável, sério, engajado e dedicado. Meu pai achou uma boa ideia, minha mãe colocou um monte de frascos de repelente na minha mochila e meus amigos me encheram o saco até o dia da saída. 

No sábado, às quatro horas da tarde, eu estava em frente ao prédio da Hogwarts Elementary School com uma mochila nas costas, tênis confortáveis nos pés e braços fedendo à repelente de mosquitos. A professora Hooch e o professor Baldrick estavam perto do grande ônibus roxo conversando com os primeiros alunos que chegavam. 

— Você está fedendo — Rose Weasley disse, de repente, se aproximando de mim. Ela estava com uma mochila e uma expressão de quem também se submeteria àquilo apenas pelo seu futuro acadêmico. Não era difícil de lembrar do seu descontentamento quando foi a vez da nossa turma ir para o acampamento, anos atrás.

— É para repelir insetos e pessoas indesejáveis — deslizei o dedo na tela do meu celular para desligá-lo. Enfiei no bolso. — Por sorte você se parece com uma joaninha e é indesejável.

— Engraçado como sempre, Malfoy, só tente não matar as crianças com esse odor. 

— Idem.

Dos dezesseis monitores, apenas quatro iriam. Eu, Weasley, Alice e Roxanne. Porém, não estava escrito em nenhum lugar que deveríamos ser legais um com o outro; a grande preocupação era apenas estar de volta com as sessenta crianças vivas e, de preferência, felizes. Sim. Sessenta crianças. Felizes. 

Sessenta crianças?! — Rose Weasley surtou quando a professora Hooch começou a nos contar sobre detalhes importantíssimos que deveríamos saber para que tudo fosse perfeito. Olhei entediado para a ruiva; era tão inteligente, mas não sabia fazer contas. — Em quatro nunca vamos conseguir controlar sessenta crianças — rosnou, perplexa. 

— Rose, calma — o professor Baldrick pediu, sentando-se na carteira em frente a da garota. Ele costumava ser bem paciente com todos, alguns achavam ele engraçado, outros achavam ele bonito. — Vocês vão estar lá para servirem de referência. Eles precisam ter um chefe, um guia, uma autoridade, da mesma forma que acontece aqui no colégio. E nós dois estaremos lá o tempo todo. 

— Weasley, você não consegue dar conta de quinze crianças? — perguntei mediante seu rosto assolado de medo, preocupação e tudo que há de ruim e desesperador no mundo. — Eles não são monstros nem nada, além de que você é bem intimidadora, principalmente quando está brava e parece um dragão. 

— O Scorpius tem razão, Rose — o professor concordou. — Você é bem intimidadora. Libere o dragão que há dentro de você e tudo ficará bem! 

Quando eram quase seis horas da tarde, o horário marcado para sairmos, o professor Baldrick mandou que entrássemos no ônibus para verificar se estava faltando alguém. Fomos apresentados como Monitores-Chefe dos grupos, embora eles só fossem descobrir a qual pertenceriam quando chegássemos em Hogsmeade; por hora, éramos aqueles que eles deveriam respeitar. A maioria das crianças estavam quietas, sentadas, olhando os pais através da janela, e colaboraram com a chamada. 

Roxanne e Rose ficaram no segundo andar do ônibus, eu e Alice embaixo, Baldrick e Hooch na cabine do motorista — um bom exemplo de como seria os próximos dias. 

— Tem alguma coisa errada — Alice sussurrou ao meu lado, abaixando os óculos redondos até a ponta do nariz. — Só estou ouvindo o barulho do motor. 

— Isso é ruim?  — para mim parecia ótimo. A viagem levaria umas quatro ou cinco horas ao todo e um cochilo seria a melhor opção para evitar minha labirintite. 

— Muito. 

Eu só fui entender o que Alice falava quando, depois de pegar no sono, fui acordado por uma gritaria ensurdecedora. Passei a mão pelo canto da boca para limpar o pouco de baba escorrida, fiz esforço para abrir os olhos e perceber que os pestinhas estavam quase em pé nos bancos, falando alto, jogando coisas um para o outro, dava até para ouvir uma música de extremo mau gosto fazendo o plano de fundo da bagunça. 

— EI! — eu tive que me levantar, forçar minha voz para que ela fosse ouvida no barulho de Hipogrifos Nervosos, uma banda esquisita que parecia estar fazendo sucesso. — EU QUERO ESSE SOM DESLIGADO, EU QUERO VOCÊS SENTADOS E EU NÃO QUERO GRITARIA — alguns levaram a sério, outros não. Semicerrei os olhos em direção a dois garotos que pareciam não estar se importando. — Ou vocês não vão comer sobremesa durante essa semana. 

Foi uma ameaça mediana, porém suficiente para que calassem a boca e tirassem a música horrorosa. Holanda Hooch havia falado sobre todas as ameaças possíveis capazes de controlar as crianças, e sobremesas, playlist da festa, taça das casas e acomodações eram os principais tópicos para barganhas de comportamento. 

Voltei a me sentar com a sensação de que não conseguiria dormir até chegar lá.

— Você é um bom monitor — Alice me deu tapinhas nos ombros, sorrindo compreensiva —, mas não tem cara de quem gosta de trabalhar em acampamentos de verão. 

— Não gosto de várias coisas — dei ombros. — O lado positivo é que vai ser um bom evento para as universidades verem, além de que eu consegui achar uma desculpa para não responder mensagens no celular. 

— Celulares são proibidos? — os olhos dela se arregalaram.

— Não — suspirei, me aconchegando na poltrona —, eu só achei que seria legal fazer de conta que estou num retiro e que ninguém pode me importunar. 

— Acho que as crianças vão frustrar seus planos de princesa, Scorpius. 

— Não parece uma alternativa inteligente em voz alta, eu sei — ela riu, pegando o celular para responder as notificações que o faziam vibrar. — Por que você decidiu vir?

— Porque pensei que o Alvo viria, e também porque estaria de pernas pro ar em casa — Alice Longbottom era uma garota legal, monitora da lufa-lufa, participava da orquestra e tinha um precipício pelo meu melhor amigo.  

— Ele morreria antes do terceiro dia. 

— Com certeza.

O senhor Baldrick estava certo: monitorar acampamentos não era algo para fracotes, e Alvo não tinha o perfil de alguém capaz de tal ato heróico, já era o suficiente ele cuidar dos próprios óculos. 

Demorou um século para que chegássemos até a frente de um portão cuja placa dizia “ACAMPAMENTO DE HOGSMEADE”. Estávamos numa rua vazia iluminada por dois postes de luzes amareladas, não era possível enxergar nada dentro do terreno do acampamento além de árvores e moitas, o som de grilos fazia fundo para a gritaria das crianças eufóricas, que desceram do ônibus quase pulando um por cima do outro, alguns tropeçando em pés alheios, empurrando quem estava na frente, dando risadas escandalosas; parecia o próprio inferno infantil num cenário macabro de séries estadunidenses de serial killers. 

Ainda bem que a professora Hooch estava com o mesmo apito que atormentava os ouvidos das líderes de torcida na escola. 

— ATENÇÃO! ATENÇÃO! — pediu batendo palmas. — A partir de agora, todos vocês estão sujeitos a perder ou a ganhar pontos. Não se esqueçam que a casa vencedora vai poder escolher as músicas da festa de sexta-feira e, é claro, vai ganhar a Taça das Casas — as crianças comemoraram com gritinhos e assobios. — Agora, os monitores irão chamar seus alunos. Roxanne vai chamar os grifinórios, Alice os lufanos, Rose os corvinos e o Scorpius os sonserinos. Em seguida, todos nós iremos dar uma volta no acampamento para nos familiarizarmos antes de conhecerem seus dormitórios. 

Cada casa ficou com quinze alunos, como o previsto. Sob a minha supervisão ficaram nove meninos e seis meninas, todos bem esquisitos, inclusive. 

Fizemos um tour logo após, passamos pelo refeitório, salão comum, vimos de longe o lago de esmeralda, a cabana dos monitores e dos alunos. Duas cabanas ficaram para as meninas e duas para os meninos, todos muito bem acomodados em beliches e separados de acordo com as casas.  Ajudamos todos a se organizarem com as malas, dividimos as camas e fomos para o refeitório tomar um lanche, momento oportuno para que as regras fossem comunicadas pelos professores. Todo o cenário era bem nostálgico, e até mesmo as regras pareciam despertar uma saudade da  época em que eu e Alvo estávamos eufóricos pela loucura de ficar uma semana longe dos nossos pais. 

Acompanhei todo o meu grupo até a entrada das cabanas, e aproveitei para dar o meu recado, ciente de que seria necessário ter pulso firme com eles. Foi um bom acordo com ambas as partes visando seus próprios interesses. 

— Todos devem dormir logo porque amanhã, sete e meia da manhã, eu estarei aqui na porta com um megafone para todos acordarem, se vestirem e estarmos pontualmente às oito no refeitório para às nove estarmos prontos para as atividades. Entenderam? — as quinze crianças assentiram. — Não façam gracinhas, não extrapolem os limites do bom senso, porque eu não quero ter que dormir aqui com vocês e acredito que vocês também não queiram. 

Esperei que todos entrassem para me dirigir a cabana dos monitores, que já estava acesa. A casa era bem aconchegante; toda em madeira, uma simpática sala de estar logo na entrada, com sofás marrons e uma lareira, luzes amareladas e um cheiro de eucalipto.

— Ótimo. Agora que o Scorpius chegou, vamos ao que interessa — me sentei no sofá, ao lado das garotas. O senhor Baldrick falava apoiado na lareira, Hooch escorada na parte de trás do outro sofá. — Nós temos dois quartos para quatro monitores. Normalmente dividimos entre meninos e meninas, mas como só temos o Scorpius dessa vez…

— Ele pode dormir no sofá — sugeriu Rose num tom debochado —, ou com os alunos na cabana.

— Ou você pode ir, Weasley, já que parece ter a mesma altura e idade mental deles. 

— Se mais monitores tivessem aceitado, onde eles dormiriam? — Roxanne perguntou, olhando ao redor.

— Nos quartos que eu e a professora Holanda vamos dormir, é claro. Nos outros anos sempre ficamos na cabana de hóspedes, mas o colchão é muito ruim, e já que só temos metade da monitoria esse ano, preferimos fazer companhia a vocês — Baldrick sorriu apontando para as duas portas perto da entrada. — Então, quem vai dormir com o Scorpius?

— Por que não tiramos dois ou um? A primeira que sair divide o quarto com ele. 

— Boa ideia — Rose sorriu irônica, talvez acreditando na própria sorte.

A ideia de Alice foi prontamente acatada. Elas estenderam os braços e, de repente, o rosto de Rose Weasley começou a ficar vermelho como um pimentão, mas ao invés de seus dentes rangerem como o usual, ela apenas abriu um sorriso irônico: havia sido a primeira a sair. Embora não fosse a melhor coisa do mundo — ou a mais indicada para a minha saúde mental —, eu não fazia questão de dividir ou não com alguém específico. Além de que eu conhecia Rose desde o maternal e, apesar dela ser um pouco nervosa, não me mataria durante a noite nem nada do tipo. Embora eu me permiti duvidar ao não ouvir uma reclamação sequer. 

Os professores repetiram sobre a questão do horário e logo fomos arrumar nossas coisas. Já passava da meia-noite quando eu deitei na cama de solteiro de lençol verde. O quarto era pequeno, bem pequeno, quase claustrofóbico. Tinha uma janela de madeira que pegava quase a parede inteira, duas camas de solteiro embaixo dela, um criado mudo com uma luminária, um ventilador no teto; ao lado da porta de entrada um guarda roupa aberto, onde deixamos nossas mochilas, e só. O colchão era confortável, mas não era grande o suficiente para mim, por isso meus pés ficaram para fora. 

Eu estava guardando o meu celular desligado na gaveta do criado-mudo quando Rose voltou do banheiro vestida com um pijama azul e uma cara de poucos amigos. Deitou na cama como se aquele fosse o dia mais trágico da sua vida, pegou o celular e começou a digitar como se os dedos fossem máquinas — provavelmente estava falando para alguém sobre eu ser a pior pessoa do mundo.  

— Posso apagar a luz? — perguntei educadamente, afinal, não queria que ela realmente morresse de ódio porque se não o acampamento poderia correr o risco de ser arruinado, assim como a atividade do meu currículo. Eu me levantei, fui até o interruptor e esperei sua boa vontade enquanto olhava seu short curto mostrar a polpa de sua bunda. 

— Pode, mas eu quero que a luminária fique acesa. 

— Não me diga que tem medo de escuro — assim que apaguei, o quarto ficou sob a iluminação do criado mudo. Ela fingiu que não me ouviu e eu deitei, virando para o lado da parede. 

Mas sim, ela tinha medo do escuro e uma tendência a não me dar respostas. 

O sono parecia não chegar naquela noite, talvez pelo excesso de calor e de lembranças pré-adolescentes, o que quase me motivou a ligar meu celular e mandar uma mensagem para Alvo apenas para desabafar sobre o desespero que começava a me consumir. Quando acordei de madrugada por causa do calor, a luminária estava acesa e o celular de Rose vibrava sem parar em cima do criado mudo. Apaguei a luz, tirei o lençol que antes me cobria e tentei dormir por mais algumas horas, temendo que a minha mente começasse a me atormentar com as coisas que aconteceram da última vez que estive em Hogsmeade. 

 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?

Esse capítulo foi essencialmente introdutório, apenas para situar todo mundo sobre o ambiente e a vibe da história. Teremos mais sete capítulos pela frente.

Espero que tenham gostado! Me contem nos comentários, ok?

Um grande beijo ♥ ♥ ♥