Quarentine escrita por dracromalfoy


Capítulo 1
ÚNICO


Notas iniciais do capítulo

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Espero que gostem dessa one, eu escrevi ela ontem por causa de uma ideia que tive conversando com minha amiga sobre como os sentimentos estão mais intensos nessa quarentena hahahaha
Desculpa qualquer erro, não deixem de comentar :)



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QUARENTINE

by dracromalfoy

 

Remus Lupin estava refletindo sobre como as coisas mudaram tão drasticamente diante dos seus olhos. Não imaginava que iria voltar para casa diante de circunstâncias tão tristes e desesperadoras.

Também não imaginava que teria que enfrentar outro desentendimento como Sirius Black justo quando estava arrumando sua mochila com algumas roupas para passar uns dias na sua cidade natal.

O relacionamento entre os dois sempre fora muito simples. Eram melhores amigos, não tinha muito como algo dar errado. Faziam tudo juntos, conversavam sobre tudo, iam a todos os lugares juntos e confiavam inteiramente um no outro, assim também era a amizade com James Potter e Peter Pettigrew, não tinha segredo.

Nos últimos seis meses, Remus e Sirius estavam saindo como mais do que amigos e isso acontecera de forma totalmente espontânea e sem muito planejamento. Estavam bêbados e se beijaram. Duas semanas depois, dormiram juntos na casa de Sirius, desta vez, estavam sóbrios. Não tocaram mais nesse assunto e não conversaram sobre o que aquilo significava, apenas continuaram naquele jogo de transarem numa noite e no outro dia fingirem que nada tinha acontecido.

Tinha funcionado muito bem até ali.

Pelo menos até aquela semana.

A questão era que eles viviam muito bem quando estavam um na cama do outro, nos braços um do outro, mas, quando a vida real chamava e eles precisavam agir como se não passassem de melhores amigos, as coisas complicavam para Remus.

Sirius, que por um lado, sabia muito bem como separar as coisas, não media esforços para continuar vivendo sua vida normalmente, saindo com quem bem entendesse, dormindo com quem tinha vontade. Remus também tivera sua cota de encontros e parceiros, mas nunca fizera isso na frente de Sirius, porque ele sabia como se sentia toda vez que via Sirius levando outra pessoa que não ele para casa.

No último sábado, saíram para um bar perto da Universidade com Peter e James, o intuito era celebrar o estágio que Potter conseguira com um dos professores, num escritório imobiliário. Chegaram por volta das onze da noite e sabiam que a noite seria longa.

A noite de Remus, porém, acabou no momento em que viu Sirius aos beijos com Edgar Bones, um colega de classe que ele nunca gostara e vivia implicando. Não conseguia acreditar que ele estava fazendo aquilo, hipócrita maldito. Remus sentou-se numa mesa vazia e ficou bebendo sua cerveja, com cara de poucos amigos enquanto encarava aquela cena totalmente ridícula. Foi tirado de seus pensamentos apenas quando James sentou-se ao lado dele.

— Aquele é o Edgar Bones? — Perguntou boquiaberto. — Uau, o Padfoot deve estar realmente bêbado, não acha?

Remus fez um muxoxo e revirou os olhos.

— Ele não precisa ficar bêbado pra ser um completo babaca.

James encarou o amigo, sem entender bem o que estava acontecendo. Remus não se deu ao trabalho de explicar. Nunca haviam contado para James e Peter do lance entre eles, mas no fundo Remus tinha noção de que os amigos desconfiavam dos dois.

Remus não sabia se tinha sentimentos por Sirius, mas estava começando a desconfiar que sim, até porque, por qual outro motivo ele ficaria tão irado e enciumado de ver o garoto aos beijos com outra pessoa? A desculpa que arrumou para isso foi que ele ficou indignado de ver Sirius beijando um garoto. Sirius sempre fora cuidadoso em relação a sua sexualidade por causa da sua família rigorosa e conservadora, mas não havia hesitado antes de beijar Edgar Bones (justo o Edgar Bones!!!) na frente de várias pessoas naquele bar que sempre frequentavam. Talvez, isso também se encaixasse no tópico ciúmes, mas Remus tinha outras preocupações no momento.

Como por exemplo, uma pandemia.

Claro, quem poderia imaginar que justo no ano que parecia mais promissor para seus interesses acadêmicos, uma pandemia tomaria conta do mundo?

Por causa disso, Remus Lupin estava arrumando a mochila para ir para a casa dos pais. A Universidade de Hogsmeade havia fechado as portas na segunda-feira, após aquela noite desastrosa no bar, e anunciado que, inicialmente, as aulas estavam suspensas pelo período de vinte dias. Na próxima segunda, a cidade entraria em quarentena.

Remus pensou na possibilidade de continuar na cidade, mas achava melhor voltar para a casa de sua mãe, já que a cafeteria que trabalhava também iria ficar fechada e, sendo assim, evitaria transtornos caso tivesse problemas financeiros para continuar no apartamento. Numa situação delicada como aquela, ficar perto da família talvez fosse o melhor.

E aí estava o outro problema de Remus.

Sirius Black.

Mais especificamente, Sirius Black sendo insistente e dizendo que Remus deveria ficar em Hogsmeade. No seu apartamento.

— Você enlouqueceu se acha que vou ficar com minha família de quarentena. — Esbravejou Sirius, jogando-se no sofá de Lupin. — Eu vou para meu apartamento, eles já sabem e sinceramente devem estar aliviados. E você sabe que o apartamento é imenso e que não teria problema nenhum se você ficasse por lá comigo. Na verdade, eu iria adorar.

— Não quero te atrapalhar. Vai que o Edgar resolve aparecer por lá. — Respondeu Remus, de mau humor.

Ele não tinha esquecido de como ficara magoado com Sirius no domingo. Aquela era a primeira vez que se viam desde aquele dia e, para ser sincero, não tinha a intenção de ver o amigo, mas Sirius ficara possesso quando soubera que Remus tinha planos de ir para sua cidade sem nem se despedir ou considerar a oferta de ficar com ele em seu apartamento.

Edgar? — Sirius repetiu, boquiaberto. — O que... Ah, Moony, você está com ciúmes do Edgar?  

— Não estou ciúmes, Sirius. Só estou dizendo que não quero atrapalhar, sabemos que seria, hum, estranho.

— Não é como se eu fosse deixar que ele fosse pro meu apartamento, vamos estar de quarentena, lembra?

Remus bufou impaciente.

— Devo presumir que se não fosse a maldita quarentena, você estaria agora com ele no seu apartamento?

— Óbvio que não. Você sabe que eu desprezo Edgar Bones. O que aconteceu aquele dia foi um erro que nunca mais vai se repetir, então não precisa ficar todo enciumado.

— Não me importo, Padfoot. Vou pegar o trem daqui a pouco e vou pra bem longe daqui sem data pra voltar.

Sirius arqueou uma sobrancelha. Remus reparou como sua expressão murchou e seus ombros caíram.

— Sem data pra voltar?

— Sim. Essa coisa de vinte dias é fachada. Tenho certeza que a coisa vai ser mais longa do que imaginamos. — Remus colocou uma toalha enrolada dentro da bolsa, sem paciência.

Sirius ficou em silêncio até Remus terminar de arrumar tudo dentro da mochila, que estava três vezes maior após cheia de roupas e coisas que seriam necessárias na casa da mãe. O seu trem partiria dali duas horas, então ele ainda tinha uns quarentena minutos antes de sair de casa ou até mais, já que o amigo havia dito que o levaria até onde o pegaria.

Sentou-se no sofá com Sirius, um pouco afastado de onde ele estava e não disse nada. Não tinha muito o que dizer. Estava preocupado, infeliz de ter que ir, infeliz por ver a situação que o mundo se encontrava e torcendo para que aquilo terminasse logo.

Porém, também estava infeliz por deixar Sirius, porque, naquele momento, ele notou que realmente iria sentir falta dele.

— Você ficou chateado, não ficou? — Perguntou Sirius, cabisbaixo. Notando que Remus não respondera, continuou: — Ficou chateado por eu ter beijado o Edgar.

— Acho que sim. — Respondeu. Àquela altura do jogo, não tinha motivo para esconder. Iria embora dali algumas horas, só o veria quando tudo aquilo acabasse – torcia para que voltasse a vê-lo – então não tinha motivos para fingir. — Eu só... Sei lá, Padfoot. Eu nunca fico com ninguém na sua frente, entende? Acho que me sentiria mal fazendo isso. Eu sei que não temos nada, mas ainda assim é estranho ver você com outra pessoa na frente de todo mundo, sabendo que quando é comigo, temos que manter segredo. Ainda mais estranho ver você com um garoto.

— Nós não temos que manter segredo, Remus. — Contrapôs Sirius, soando magoado.

— Você nunca contou ao Prongs e ele é seu melhor amigo.

— Ele também é seu melhor amigo. Você contou? — Sirius questionou. Remus abriu a boca para responder, mas não tinha o que dizer. — Eu nunca te disse que era pra ser segredo, Moony. Na verdade, foi você quem ficou todo esquisito depois da primeira vez, então eu só te dei espaço. Parecia confortável pra você que isso ficasse só entre nós dois.

— Tudo bem, Sirius. Não faz sentido discutir isso agora.

Por um momento, voltaram para aquele silêncio desconfortável. Remus queria fazer perguntas, queria dizer que não fora ele quem ficara esquisito depois da primeira vez que transaram e que não contara para James porque sentira que não deveria fazer aquilo no lugar de Sirius, que era o mais grudado nele. No entanto, não disse nada disso. Apenas ficou em silêncio até dar o horário de ir.

Na hora de ir, Remus sentia um aperto no peito. Queria poder ficar, pra ser sincero, mas sabia que não seria correto.

Sirius tocou o rosto de Remus delicadamente e engoliu em seco. O simples toque deixara Remus nervoso, porque não estava acostumado aquele tipo de atenção publicamente.

— Desculpa.

— Pelo que está se desculpando? — Perguntou Remus, suspirando.

— Por ter te deixado inseguro. — Remus fez menção de se afastar, mas Sirius não deixou, segurando sua mão. — Olha, eu estou puto, ok? Puto porque você vai pra longe quando estamos com essa situação aqui. Já era ruim o bastante antes, mas agora sabendo que te magoei, fico ainda pior. Queria resolver isso, Remus.

— Nós podemos resolver isso depois, Padfoot. Eu não deveria ter ficado chateado. Somos amigos.

— Sim, somos amigos. — Rendeu-se Sirius, vendo que não tinha propósito continuar naquela discussão. — Amigos, então. É melhor, né? Nós funcionamos bem como amigos.

— Sim, acho que é melhor.

Sirius concordou com a cabeça, mas ainda segurando sua mão. Soltou um palavrão impaciente e beijou Remus, segurando-o pela nuca e suspirando fundo. Era a primeira vez que se beijavam publicamente, mas não era uma sensação ruim, notou Remus ao retribuir o beijo.

— Fique bem, Moony.

— Você também, Padfoot. Dê notícias.

&

Remus estava há um mês e meio na casa de sua mãe, sem sair para ir a lugar algum. Aquela devia ser a vigésima chamada de vídeo com os amigos. Apenas naquela semana.

James estava totalmente fora de si, nervoso com um trabalho da faculdade que iria apresentar mais tarde, mas ainda não tinha terminado. As chamadas de vídeo entre o grupo consistia em reclamar das aulas online e relembrar aquela época – que parecia tão distante – quando podiam se ver, sair e se divertir.

Peter estava com o celular pesquisando algo para ajudar o amigo no trabalho; Sirius estava deitado na cama de qualquer jeito, rindo da situação e Remus estava contente por já ter terminado toda sua carga disciplinar da semana. Ficar socialmente isolado dava a ele tempo de fazer muita coisa, então ele focava nos estudos.

— Eu vou trancar meu curso — contou Sirius, casualmente. — Não faz sentido estudar música online, eu não tenho um piano em casa para praticar e já cansei do violão.

Sirius tinha uma sala na casa dos Black repleta de instrumentos musicais. Remus acreditava que ele soubesse tocar pelo menos quinze. Porém, com o drama da sua família e o fato dele não se dar bem com eles, fizera com que ele fosse para seu apartamento particular apenas com algumas roupas e seu violão inseparável. Realmente, parecia um desperdício continuar um curso que não estava suprindo suas necessidades e ambições.

— Devíamos mesmo trancar o curso! — Bradou James, jogando seu trabalho de Cálculo num canto qualquer. — Não estamos aprendendo nada com essa merda de aula online.

Remus riu.

— Você parece bem contente com suas aulas, Moony. — Comentou um Peter distraído, sem olhar para a câmera. — Está indo tudo bem?

— Por incrível que pareça, sim. — Deu de ombros e tomou um gole do seu chá gelado, que sua mãe acabara de preparar para ele. — Esse semestre minhas matérias não são tão difíceis e eu não tenho nada prático, então está tranquilo só com as aulas online.

— Sortudo. — Bufou James. — Bem, é isso. Eu vou ter que desligar agora, vou tentar terminar esse trabalho antes de começar a conferência. Tenho certeza que o Slughorn vai me dar bomba nesse semestre. Tchau pra vocês.

Sirius foi o último a desligar e Remus teve a impressão de que ele quisera falar alguma coisa com ele, mas acabou desligando rapidamente porque sabia que não estava com muito ânimo para conversar a sós com o amigo. Por mais que a sós, significasse nada mais que uma chamada de vídeo. Seu celular vibrou sobre a mesa e ele já sabia quem seria antes mesmo de espiar pela barra de notificações.

(17:32) Sirius: você está me ignorando.

(17:32) Sirius: já tem quase dois meses.

(17:35) Remus: não estou ignorando. estávamos conversando agora mesmo.

(17:36) Sirius: você demora horas para responder minhas mensagens e quando responde são respostas curtas.

(17:36) Sirius: desculpa mas pra quem costumava ficar horas na ligação comigo, você está realmente muito quieto ultimamente.

(17:38) Sirius: eu te fiz alguma coisa?

(17:50) Remus: é claro que não, padfoot. e você sabe disso.

(17:50) Remus: eu só estou desanimado, está sendo uma droga ficar em casa.

(17:51) Sirius: tá legal

(17:51) Sirius: eu fiquei com medo que vc estivesse chateado com alguma coisa que fiz

(17:51) Sirius: eu gosto muito de vc remus

(17:51) Sirius: muito mesmo. sinto falta de conversar com você

(17:53) Remus: eu também. sinto muito se dei a impressão de que estava te evitando. eu não estou.

(17:51) Sirius: tudo bem, a gente se fala então.

Remus ficou com a consciência pesada. Ele vinha ignorando Sirius sem nem perceber, simplesmente porque ficava receoso de entrarem numa conversa desagradável sobre tudo que acontecera durante aqueles meses. Estava tentando fazer com que as coisas voltassem ao normal, voltassem para quando os dois eram apenas amigos. Teria sido muito mais simples e talvez ele pudesse estar passando a quarentena com ele, assistindo filmes, jogando videogame e tendo companhia o dia todo.

 A próxima semana passou rapidamente, Remus entregou os trabalhos que estavam pendentes e assistiu as aulas que estavam disponíveis na plataforma da faculdade. Até mesmo se divertiu numa vídeo chamada com alguns colegas de turma, onde conversaram sobre o assunto que estavam estudando e depois discutiram um livro que haviam lido em conjunto. Foi realmente divertido e ajudou Remus a espairecer a mente diante de tantas preocupações causadas pela pandemia. Receava pela saúde das pessoas que amava, sentia muito pelas mortes e se sentia impotente vendo o sofrimento de milhares de pessoas. A situação era tão delicada e triste, que houveram dias em que Remus apenas se deitou nos sofá ouvindo música, sem conseguir fazer mais nada durante o dia todo. Sua mãe, que outrora estava trabalhando em casa, estava com medo de perder o emprego, como vinha acontecendo com muitas pessoas por todo o país, que estava parado diante do isolamento social.

Remus pensava nos planos que fizera e como tudo estava dando errado. Era para ele estar procurando por um estágio, fazendo trabalho voluntário na biblioteca de idosos e, talvez, já tivesse outro emprego. Aliás, o dono da cafeteria havia telefonado avisando a Remus que assim que isso passasse, ele iria acertar as contas com ele. Infelizmente, a cafeteria que ele tanto gostava não voltaria a abrir.

E também tinha Sirius Black.

Após a conversa daquele dia, Remus não falou mais com ele e ele também não o procurou. Isso estava deixando o garoto louco, porque a verdade era que, no fundo, ele sentia muita falta de Padfoot. Estava com saudade das noites que passavam conversando sozinhos, falando sobre mil e uma coisas que no fim nem mesmo se conectavam. Sentia falta dos seus toques, dos seus beijos, dos sorrisos que ele lançava na meia luz com aqueles olhos negros brilhantes. Era tolice querer que tudo voltasse como era antes, quando ele havia conhecido aquele outro lado do melhor amigo, aquele lado que o viciara e fizera com que ele escapasse da sua cama para ir para a dele por tantas noites.

Pensou, durante vários momentos, em ligar para Sirius e dizer tudo que estava sentindo, mas como poderia fazer isso? Não queria confundir ainda mais as coisas, ainda mais depois que decidiram que sendo apenas amigos, seria melhor.

As coisas apenas mudaram de figura na manhã de um sábado chuvoso.

Remus acordara cedo e ficara na sala lendo um livro enquanto sua mãe trabalhava no computador. Por volta das dez da manhã, seu celular vibrou com a primeira mensagem de Padfoot desde aquele dia. Uma mensagem longa que Remus acreditava ter lido umas dez vezes, perplexo.

(10:22) Sirius: Espero que eu não te acorde, mas se você acordar com essa mensagem, bom dia. Eu estou acordado desde às 3h, então se quiser, pode me desejar um bom sono daqui a pouco, estou realmente exausto. Eu só queria dizer tudo que eu estive pensando durante essas horas que fiquei acordado sem conseguir dormir. Sou realmente ruim com palavras, Moony, eu não sou você, porque você é realmente talentoso e consegue falar palavras lindas sobre qualquer que seja o assunto. Eu me peguei pensando nisso, sabe? Sobre como você sempre escreve coisas lindas. Eu li agora pouco um cartão postal que você me mandou no Natal do ano passado, é realmente lindo. Tem também outro cartão postal bem surrado do meu aniversário de quinze anos, parece que já fazem cinquenta desde que li, mas é lindo também tudo que está escrito. Fico imaginando se você repara em como eu nunca consegui escrever nada interessante para você no seu aniversário ou no Natal. Tenho certeza que eu devo ter mandado alguns cartões postais sem nada escrito.

Eu estive pensando em muitas coisas, pra ser sincero. A primeira delas foi, de fato, o fato de você ser talentoso com mensagens em cartões postais. Outra coisa, foi o fato de que você é adoravelmente organizado. Eu estou olhando agora para minha estante de livros – que nunca cheguei a ler – e só hoje notei que está organizada por ordem alfabética de sobrenome de autor. Eu nunca teria feito isso, por isso sei que foi você quem a organizou, provavelmente enquanto eu dormia ou tomava banho.

Você também é tão carinhoso. Quem poderia imaginar isso? Você é sempre quieto, tão na sua que quase não fala e interage. Lembro que, quando estudávamos juntos em Hogwarts, eu, Prongs e Wormtail estávamos sempre falando coisas obscenas, zoando um com o outro, falando de nossos corpos e nossas anatomias, é realmente vergonhoso lembrar disso agora, mas isso me fez lembrar que você tinha aversão que tocássemos em você. Eu sempre achei que fosse só seu jeito, e ainda acho, mas, agora, eu estou pensando em como você me toca. Não de um jeito sexual, quero deixar claro, mas em como você sempre me toca carinhosamente, mexe nos meus cabelos, passa os dedos no meu rosto, a forma como você me segura em seus braços. Eu me peguei pensando muito nisso ultimamente.

Você deve estar se perguntando por que eu estou te contando tudo isso, ou por que eu andei pensando tanto nessas coisas. A verdade é que eu também não sei muito bem. Meu primeiro pensamento, foi que eu estava pensando nisso porque não tem muito o que fazer quando você não pode sair de casa, trancou sua faculdade e não gosta muito de ler. Eu também já enjoei dos jogos que tenho aqui em casa e já ouvi pelo menos cinquenta álbuns de bandas desconhecidas, algumas de quando eu não era nem nascido. Mas, no fim, acho que estar de quarentena, deitado na minha cama sem ter o que fazer ou pra onde ir, me fez ver algumas coisas que eu não via antes.

Eu também estou com os sentimentos a flor da pele, Moony. Você sente isso também? Como se tudo fosse simplesmente demais? Ontem mesmo eu estava cozinhando e me distrai com o noticiário na TV. Quando fui ver, meu almoço tinha queimado. Eu apenas sentei no sofá e chorei como uma criança por causa da minha comida queimada. Estou envergonhado te contando isso, mas é verdade. Eu me senti tão mal, fiquei realmente triste. Mas acho que não estava chorando por causa da comida em si, mas aquilo desencadeou algo em mim que me fez chorar como um bebê pensando em mil coisas. Você era uma delas.

Coisas simples e cotidianas tomaram proporções que simplesmente saíram do meu controle. Ter tempo para pensar me fez perceber que eu estou, na verdade, apaixonado pelo meu melhor amigo que escreve textos lindos em cartões postais e que gosta de dormir mexendo na minha orelha. Isso não é completamente insano?

Enfim, eu estou com muito sono, Moony. Muito mesmo. Então eu vou dormir e espero não me arrepender de ter mandado tudo isso.

Remus estava perplexo. Parecia que tinha visto um fantasma. Ele não conseguia imaginar sob quais circunstâncias Sirius estava quando decidiu que seria sensato mandar aquele texto, mas ele estava claramente agradecido por ter a chance de lê-lo.

Entretanto, não sabia o que fazer. Como responderia à altura daquilo? E, claramente, Padfoot era bom com palavras, porque aquilo deixou Remus sem saber o que dizer.

Ele fechou o livro que lia e foi para seu quarto. Não tinha mais o que fazer e não sabia como prosseguir, então ligou para Sirius, que atendeu pouco antes de ir para a caixa de mensagens.

— Eu estava dormindo, Moony. — Reclamou Sirius, com a voz embargada. — Bom dia.

— Bom dia. — Ficaram em silêncio por alguns minutos. — Então, você parecia bem... hum... inspirado.

— Ah, bem, acho que descobri um novo talento, talvez. — Sirius riu, e Remus riu com ele, sentindo a tensão dissipar. — Eu espero não ter sido inconveniente.

— Não, não foi. Eu fiquei um pouco... Sei lá, Padfoot, não estava esperando, entende?

— Sim. Entendo.

— O que vamos fazer agora?

Remus estava deitado na sua cama, abraçando um travesseiro. Conseguia sentir suas mãos tremendo e o coração batendo forte, acelerado dentro do peito. Não sabia como prosseguir com aquilo. Será que estava apaixonado por Sirius? Bem, sim. Antes mesmo de ler aquilo, antes mesmo de Sirius notar, ele já sabia disso. Soube quando viu o amigo com outras pessoas, quando chegou em casa e chorou baixinho, desejando que ele notasse que estava magoado, esperando que ele pedisse desculpas e dissesse que queria ficar com ele.

— Não sei, Remus. Você quem sabe. Eu estou aqui, entende? Estou aqui e acho que não seria capaz de ir a lugar nenhum, figurativamente falando. — Remus riu do uso da palavra. — Estou expandindo meu vocabulário, o que achou?

— Excelente. Realmente muito bom.

— Pois é. Então, eu estou aqui, vou fazer o que me pedir pra fazer, Remus. Se quiser ficar comigo, vamos ficar juntos, pra valer. Vamos contar ao Prongs, ao Wormtail, e vamos ser um casal grudento e tal. Se quiser continuar como era antes, vou aceitar. Se não quiser nada comigo, vou aceitar também.

— Queria poder te beijar agora. — Sirius ficou em silêncio. — Sirius?

— Eu posso ir até aí.

— Não é uma boa ideia. Estamos de quarentena.

— Eu sei, mas pense bem, eu não sai de casa nenhum dia, tenho feito compras pelas internet. Que mal teria eu pegar o carro e ir até aí?

— Não sei, Sirius...

Era uma proposta tentadora. Ele queria vê-lo, queria beijá-lo e mostrar que sentia o mesmo e que sabia disso desde muito antes.

— Vou tomar banho e estou indo.

— Sirius!

— Qual é, Remus? Olhe, não vou nem entrar, ok? Eu só preciso ver você um pouquinho. Você fica no portão da sua casa e eu dentro do carro, não vamos nem nos tocar. Vai ser realmente difícil, mas dada as circunstâncias... — Remus riu ao ouvir Sirius bufar do outro lado da linha. — São quarenta minutos de carro até aí.

— Posso voltar com você? — perguntou Remus, sem ter muita certeza se era uma boa ideia, mas disposto a tentar. — Ficar aí com você?

— Porra, sim.

Remus riu com o entusiasmo na voz de Sirius. Despediu-se rapidamente e começou a arrumar suas coisas. Não sabia se era o certo a se fazer. Talvez tudo desse errado, talvez eles percebessem que na verdade não estavam nada apaixonados e aquilo tudo era um equívoco. Porém, Remus se deu o benefício da dúvida.

Sua mãe não entendeu muito bem o motivo dele estar indo embora, mas não ficou chateada, apenas pediu que tomasse todo cuidado possível.

— É a primeira vez desde que você chegou que te vejo sorrir de verdade, Remus. — Disse ela, abraçando o filho. — Seja lá o que isso signifique, estou feliz por você. Estava começando a ficar preocupada.

Ela se despediu do filho e cumprimentou Sirius de longe assim que ele estacionou o carro, usando uma máscara preta. Remus achou simplesmente adorável.

Remus não parava de sorrir, estava indo para casa.

&

Now he’s moving close,

My heart in my throad.

I won’t say a word,

But I think he knows.

 

Remus acordou cedo naquela manhã. Sirius ainda dormia, o rosto enterrado no pescoço de Remus. Ele conseguia sentir sua respiração quente contra sua pele, seus cabelos bagunçados caindo sobre seus olhos e os lábios levemente abertos. A coisa que ele mais gostava de fazer ao acordar, era assistir e beber da imagem de Sirius adormecido em seus braços.

Todas as manhãs, ao acordar, Remus se perguntava como conseguira viver tanto tempo sem aquilo.

O que seria dele durante a quarentena se não tivesse Sirius para se apoiar? Se não tivesse o amor de Sirius para cuidar de si? Se não pudesse amá-lo?

Remus não sabia, talvez nunca descobrisse.


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