Um mar de distância escrita por Kacchako Project


Capítulo 4
Capítulo 4 - Presentes




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— Quero conhecer essa sua namoradinha — Mitsuki disse enquanto observava o filho engolir o café da manhã. 

— Não sei de que merda você tá falando! — retrucou, com a boca meio cheia.

— Não se faz de besta, moleque! — Bateu com a colher de madeira na cabeça do filho e o ouviu murmurar um palavrão. — Tô falando da loira glamourosa que você encontra todo dia na praia.

— Tsk… ela não é minha namorada.

Cacete! Desde que começou a dar aulas particulares de surf para Camie, Katsuki não tinha mais nenhum minuto de sossego. Não queria ter aceitado, já que não tinha paciência pra ensinar amadores, mas a garota foi muito persuasiva, mexeu com seu ego de melhor surfista de Joudagahama, e ele simplesmente não soube dizer não. Só que eram tantas insinuações amorosas que Bakugou começava a se arrepender. Será que ninguém entendia que era um relacionamento estritamente profissional?!

— Ela parece interessada e muito generosa... — insinuou a tal generosidade ao pegar nos seios e balançá-los.

— Mas que porra, velha! — Katsuki cuspiu o café quase se engasgando. — Tsk… vou ter pesadelos a noite inteira.

— Ah, não se faça de inocente, seu bastardo! Já tem dezesseis, não é mais nenhuma criancinha.  — Jogou um pano para que ele limpasse a própria bagunça. — E acha que eu não vejo ela te agarrando ou te amassando com aqueles peitões todas as vezes que vocês aparecem na loja?! É Katsu pra lá… Katsu pra cá… — zombou, imitando a voz da garota.

— A Srta. Parafina é escandalosa demais, não serve pra ser minha namorada. — respondeu indiferente, jogando o pano de volta para a pia.

— Hum… — Sentou-se de frente para o filho e apoiou o queixo sobre as mãos cruzadas. — Então, tem mesmo uma garota… Vai filhinho, conta pra mamãe quem é… — pediu com certo tom de deboche. 

Que merda! Por que tinha que falar mais do que a maldita boca? Por que apenas não mandava aquelas provocações para o inferno, assim como fazia com Kirishima? Não… Ele tinha que se auto sabotar, logo no sábado de manhã e bem na frente da sua velha. Mas isso era culpa de todos os anos que fizera de terapia, afinal, satisfatória ou não, Katsuki sempre tinha que dar uma resposta à Ryuko. 

— Não tô a fim de nenhuma garota, cacete. — Revirou os olhos enquanto engolia os ovos mexidos. 

Bom… não estava mentindo, nenhuma das garotas que conhecia despertava seu interesse a ponto desejá-las como namoradas, apesar de já ter ficado com uma ou outra, não havia nada de especial em nenhuma delas. Entretanto, não podia dizer o mesmo de uma certa sereia que ocupava parte de seus dias e de seus pensamentos.  

— Huhum… talvez aquela do cabelo rosa desbotado?

— Humph… o Cabelo de Merda é a fim dela, mas não tem culhões pra admitir. — Sorriu debochado ao lembrar de como o amigo ficava parecendo um idiota, mais do que já era, perto de Ashido. 

— Talvez aquela morena, como é mesmo o nome dela?  Yaoyo…

— Mas que merda, velha! Já disse que não tô afim de ninguém! — interrompeu-a, batendo os punhos na mesa. 

— Me respeita, moleque! — gritou, batendo mais uma vez a colher na cabeça do filho. Levantou, recolheu a louça e foi em direção à pia. — Não importa, pode trazer quem quiser no jantar de hoje à noite. Sabe que seus avós estarão aqui, não sabe?

— Tsk… tô sabendo — resmungou, massageado o lugar da batida.

— Espero que esteja aqui para receber eles. Eu também convidei... — Hesitou enquanto ligava a torneira. — Convidei o David, não quero que você se atrase! 

Ah! Então, todo aquele rodeio e papo de namoradinhas era apenas um plano de fundo para o verdadeiro anúncio: ela traria o próprio namorado ao jantar em família. Velha safada! Mas não era como se Katsuki não soubesse do relacionamento sério da mãe ou como se fosse contra ela seguir em frente. David Shield era um cara legal, viúvo, sem filhos, vendia as melhores pranchas da região e sempre reservava os melhores acessórios para ele, o que fazia muito sentido já que estava interessado na sua coroa. Mano Velho desgraçado! Fazia de tudo para agradá-lo com a simples finalidade de chamar a atenção de sua mãe, o amor era um sentimento muito estranho mesmo.  

Enfim, não tinha objeções ao relacionamento — jamais esqueceria seu pai e os breves momentos juntos, e tinha certeza que ela também jamais o deixaria cair no esquecimento —, mas já estava na hora de ela preocupar-se consigo mesma, afinal, ele não precisava mais de tantos cuidados; sabia se virar sozinho; tinha um futuro promissor no surf, segundo All Might; tinha bons amigos e Ochako ao seu lado, sem dúvidas, a melhor parte do paraíso. É…  ele era muito feliz ali, e tudo bem sua velha aproveitar um pouco mais das dádivas de Joudagahama também.

Porém, não era como se Mitsuki estivesse pedindo autorização para seu pirralho explosivo. Ela fazia o que bem entendia e não precisava da aprovação de ninguém, mas Katsuki sempre seria seu filhote amado, logo, seria importante que se desse bem com seu companheiro. Há dois anos, quando propôs a sociedade a David, não pretendia apaixonar-se, apenas queria uma ocupação coerente aos interesses do filho. Tinha bastantes economias e recebia uma boa pensão, por que não ser sócia de uma loja de pranchas de surf?

E ela deu um verdadeiro upgrade na loja; de uma pacata lojinha de esquina a uma mega loja de artigos esportivos, referência em toda região de Tohoku. Trabalhavam bem juntos, enquanto David preocupava-se com a qualidade dos itens que vendiam e na produção de artigos personalizados, Mitsuki cuidava de todos os assuntos administrativos. Não demorou para que as reuniões de negócios transformassem-se em encontros casuais e depois em encontros românticos. Seu coração, mesmo que sempre lhe faltasse uma parte, finalmente batia sereno.

— Não vou me atrasar. — respondeu, terminando a refeição e pegando sua prancha. — Mas diz pro Mano Velho pentear o cabelo antes de sair de casa e pra caprichar na rabeta da minha longboard nova. 

— Diga você mesmo, seu bastardo! — gritou em resposta, mas o filho já havia saído feito um furacão.

Mitsuki sorriu abertamente. Katsuki era o motivo do seu estresse diário, assim como do seu amor eterno; nada e ninguém poderia roubar-lhe o orgulho de vê-lo se tornar um homem forte e decidido, Masaru também se sentiria orgulhoso, tinha certeza disso. Suspirou com tais pensamentos. Certamente, hoje à noite, junto com sua família e com seu companheiro, teria a melhor comemoração de aniversário dos últimos anos.

 

[...]

 

Depois de ter passado a manhã inteira com seus amigos e almoçar no quiosque dos Kirishimas, Katsuki deu um perdido em todos eles e foi encontrar Ochako na Sansuton. As desculpas eram sempre as mais esfarrapadas possíveis: tinha dever de casa, precisava passar na loja, tinha que ir no mercadinho pra sua velha, precisava passar parafina na prancha... etc. Detestava usar esses subterfúgios, por esse motivo preferia encontrá-la à noite, quando a única coisa que devia fazer era sair silenciosamente de casa, mas como isso não seria viável hoje, ele tinha que usar uma das típicas desculpas e sair pela tangente.

Porque passar um dia sem vê-la não era uma opção plausível. Não estar com Ochako era pior do que saber surfar e não ter nenhuma prancha ou que um dia de verão sem ondas boas. Bakugou não acreditava em merdas como almas gêmeas ou destinos interligados, mas tinha que admitir que ela parecia completá-lo como a maldita peça de um quebra-cabeça. E só de pensar sentia-se um perfeito idiota; retardado, como se tivesse acabado de levar um caixote. Porém, sentir-se assim não era a pior parte, a pior parte é que Ochako era a porra de uma sereia que não entendia as implicações do nível de intimidade que tinham.

Ela o abraçava e o tocava como se não houvesse nada de mais em tais gestos, já ele esforçava-se apenas para ignorar os arrepios e o frio na barriga; entrelaçava suas mãos todas as vezes que mergulhavam perto dos recifes de corais, e não soltava até que tivessem emergido com alguma novidade do fundo do mar; esboçava um sorriso tão angelical que o fazia sentir-se na crista de uma super onda; deitava ao seu lado para contemplar o céu noturno, tão perto que podia sentir sua respiração, consequentemente, perdia-se em devaneios inesperados e bobos demais para serem ditos em voz alta.

Mas nada se comparava a quando encontrava-na tomando banho de sol. Merda! A visão que tinha não lhe parecia real. Se não a conhecesse desde criança, poderia jurar que vê-la radiante sob a luz do sol, com as escamas rosadas cintilantes e os cabelos ao vento, era apenas um sonho, talvez, um delírio infantil do qual não se quer mais acordar. E era justamente aí que estava sua sorte e seu azar. Nada disso era um sonho e nada disso era uma novidade.  

Ochako sempre o abraçava e tagarelava milhões de coisas aos seus ouvidos; sempre entrelaçavam as mãos quando nadam ou mergulhavam juntos; sempre sorria mostrando todos os dentes da boca; sempre passavam as noites contando as estrelas lado a lado; e ele sempre a importunava durante os banhos de sol. Eles sempre estiveram juntos, afinal eram os melhores amigos do mundo, absolutamente nada os separava. Não havia nenhuma novidade nisso, não havia nada de diferente no relacionamento deles, exceto um simples detalhe: Katsuki não era mais um menino de onze anos. 

Se alguém lhe perguntasse quanto tudo isso começara, não saberia responder, só sabia que de repente ficou assim: meio confuso e demasiadamente ansioso. Contudo, ele sabia manter as aparências, a costumeira carranca não lhe saía do rosto e as respostas ácidas estavam a todo momento na ponta da língua; tentava ao máximo ser o mesmo Katsuki de sempre. Portanto, mesmo que estivesse eufórico para chegar à Pedra do Sol, permanecia à passos calmos e confiantes.

E percorreu todo o trajeto dessa maneira, parou apenas em uma lojinha de esquina pra comprar uma bugiganga que prometera a ela. Sereia imbecil! Desde quando fazia promessas tão banais? Enfim, remou discretamente até a Gruta Azul e chegou no horário combinado à Sansuton; esperava ver a maldita cena do banho de sol, porém, Ochako não estava lá. Pôs-se de pé para procurar melhor, talvez ela estivesse apenas nadando por aí ou caçando estrelas-do-mar; só que quando finalmente percebeu uma cauda cor-de-rosa nadando a sua adjacente, já era tarde demais. Não houve tempo de reação, no segundo seguinte, ela virou sua prancha e Katsuki afundou no mar.

— Mas que merda, Bochechas! — gritou assim que emergiu. — Que porra eu fiz dessa vez?

— Sabe que não gosto dessas palavras feias! — reclamou, jogando água na cara dele. — E eu vi você na praia hoje.

— Tsk.. eu tô na praia todo dia, cacete. Não sei de que merda tá falando…

Por mais que Ochako fosse uma sereia, às vezes se comportava como uma adolescente  comum da superfície, cheia de mistérios e palavras pela metade. Talvez fosse só a convivência, talvez não… Bakugou nunca sabia o que se passava naquela cabeça redonda e temperamental.

— Você sabe muito bem, Katsuki! — acusou, aproximando-se. — Eu te vi com a Srta. Cabelos Dourados! E você deixou ela surfar na sua longboard!

— E você sabe muito bem, Bochechas, que eu tô dando aulas de surf pra ela!

— Mas precisava dar sua prancha pra ela? 

— Ah, então já esqueceu o que aconteceu na última vez? — perguntou arqueando uma das sobrancelhas. — Esqueceu que a prancha dela sumiu, misteriosamente, quando bateu no recife de corais?!

— Não sei do que você tá falando… — respondeu enquanto escondia um sorriso suspeito.   

Ciumenta! Era isso que Ochako era, só que ele não podia correr o risco de dizer isso em voz alta. Sem dúvidas, ela perguntaria o que é ciúmes, e ele não saberia responder sem se comprometer. Mas não podia negar que achava muito engraçado vê-la atrapalhar todos os treinos de Camie, a boicotava tanto que a maldita, mesmo após dois meses de aulas, não conseguia ficar mais do que cinco minutos em cima da prancha. Com sorte, desistiria até o final do verão e Katsuki seria um homem livre. 

— Talvez isso refresque sua memória — ele disse, mostrando-lhe uma alga vermelha que pegara quando fora jogado ao mar.

— Não, Kacchan! Você não faria isso comigo, né? — indagou, afastando-se.

— Não tenha tanta certeza, Bochechas.

Algas vermelhas causavam uma estranha coloração alaranjada quando em contato com a pele dela, e não adiantava esfregar, pois a cor só saía após 24h. Ochako odiava essas plantinhas e fazia de tudo para evitá-las ao nadar por aí; Katsuki sabia disso e usaria essa arma para se vingar da recepção que tivera. Porém, tinha que ser rápido, já que nadando ela era obviamente mais ligeira que ele; a majestosa cauda de sereia lhe dava agilidade e a fazia deslizar sem dificuldades pelas águas tranquilas de Joudagahama.

Era uma bela cena para se admirar, principalmente, quando surfavam juntos e tinham a sorte de encontrar um tubo perfeito. Nossa! Ochako parecia divina dentro da onda, um espetáculo que só ele podia apreciar, tão maravilhosa… tão linda! Mas que merda! Não podia nem imaginar uma revanche sem distrações. Era um caso perdido mesmo! Mas se a deixasse escapar não teria chance de se vingar, então, a segurou rapidamente pelo braço, girou seus corpos e a encurralou contra a Sansuton. E antes que ela pudesse pedir misericórdia, esfregou as algas nas bochechas dela. 

— Que droga, Katsuki! — disse irritada. — Sabe que isso não sai!

Ochako mergulhou para tirar os resquícios da alga do seu rosto; ele aproveitou pegou a prancha e sentou-se na pedra com os pés na água. Sabia que ela não iria embora, era só uma questão de tempo até voltar a superfície.

— Satisfeito? — questionou, estufando as bochechas alaranjadas. — O que eu vou dizer pra okaa-san?

— Diz que precisou esfregar a cara nas algas pra pegar isso. — E jogou a bugiganga que comprara mais cedo.

— O que é isso? — Pegou e começou a observar o objeto, abrindo e fechando repetidamente.

— Tsk… é uma presilha de cabelo, as garotas gostam de usar essa merda pra ficarem mais... mais enfeitadas. — Deu de ombros. Ela não precisava disso, mas sabia como adorava parafernalhas terrestres, sobretudo, as rosas e com estrelas.

— Oh! — exclamou encantada, colocando a presilha de maneira desajeitada no cabelo. — Como ficou?

Uma merda! Vem cá, Bochechas… — chamou. Ochako subiu na pedra sentando-se lado a lado de Katsuki, que por sua vez, tirou a presilha mal colocada, separou uma mecha do cabelo, tomando cuidado para não encará-la e não acabar se perdendo no brilho daquela íris castanha, e prendeu a presilha de maneira adequada novamente. — Nada mau!

Ela sorriu, contente, e ele desviou o olhar. Cacete! Mesmo com as bochechas coloridas, era inevitável não se sentir um idiota ao ver aquele sorriso, por isso, a melhor opção era sempre desviar o olhar. Assim, evitava o constrangimento e perguntas desnecessárias. 

— Eu trouxe esse presente pra sua okaa-san — informou, tirando do pescoço um cordão que segurava um pequeno frasco com um líquido verde-escuro. — É a poção: gota de alegria. Não me olha com essa cara, dessa vez coloquei a quantidade certa de wakame.

Não havia medicamentos no fundo do mar, dessa forma, as sereias faziam as mais diversas poções para os mais diversos sintomas; tal atividade era considerada uma arte sagrada para os habitantes submarinos. Ochako estava aprendendo o ofício com sua mãe e Katsuki, na maioria das ocasiões, era sua cobaia.

— Acho bom mesmo, não quero que a velha fique rindo igual a uma imbecil durante o jantar. — Pegou o frasco, lembrando-se muito bem da primeira vez que tomara a poção. Ela havia errado na quantidade de ingredientes, e o que devia apenas causar um bem-estar momentâneo, fez com que ele ficasse o dia inteiro rindo igual a uma hiena. — Mas acho que hoje ela não vai precisar disso.

— Não?! Pensei que ela ficasse meio triste em datas comemorativas...

— É… só que dessa vez tem o David.

— Não me diga que eles se casaram? — perguntou, animada. Acompanhava a vida de Katsuki como se fosse uma novela, mesmo que em certos momentos não quisesse ser apenas uma telespectadora. 

— Mas que porra… não, Bochechas! 

— Mas humanos não se casam quando estão apaixonados? 

O mundo humano era confuso demais para Ochako. Quando uma sereia e um tritão estavam apaixonadas, apenas tatuavam seus nomes na palma da mão direita um do outro — como símbolo do compromisso que teriam e do amor que sentiam —, em seguida, uniam-se intimamente, entrelaçando as caudas e o coração. Por isso, não entendia o porquê dos humanos demorarem tanto para ficarem juntos.

— Tsk… É... às vezes, mas antes eles namoram. 

— Hum… — Ochako assentiu em concordância. — Mas o que é namorar, Kacchan? 

Puta merda! Ele vinha evitando tão habilmente o assunto que simplesmente não conseguia acreditar que falhara de maneira tão ridícula, e agora lhe devia uma explicação. Porque, querendo ou não, ele teria que se explicar! Cacete, estava perdido mesmo.

— É quando… — Engoliu em seco, desviando o olhar para o horizonte. — Quando você gosta de alguém e quer passar a merda do tempo inteiro com ela; pensa nela em todos malditos segundos do dia e quando estão juntos é como se a porra do mundo inteiro não existisse mais. Tsk… costumam passear, conversar e outras merdas desse tipo.   

— Acho que entendi… — Ochako também encarava o horizonte, absorvendo todas as informações e tirando suas próprias conclusões. Por fim perguntou:  — Katsuki… nós somos namorados?  

Suspirou enquanto sentia as mãos suarem e o estômago gelar. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela faria tal questionamento, apesar de não conhecer todos os costumes da superfície, Ochako aprendia rápido e não era nem um pouco burra. Na verdade, a cara redonda e mística de sereia não demonstrava o quão inteligente era.

— Não, Bochechas, falta uma coisa. — respondeu o mais calmo que as batidas aceleradas do coração permitiam.  

Ela o observava atenta, com os olhos brilhantes e ansiosos por uma resposta coerente que ele também estava inquieto para dar. Foda-se! Foda-se todos aqueles sentimentos esquisitos que faziam seu peito palpitar, que faziam sua boca, repentinamente, secar e as borboletas desgraçadas dançarem em sua barriga. Foda-se também as diferenças e o mar que os distanciava! Seguiria seus instintos e ponto final. 

Então, assim que terminou de falar, selou seus lábios aos da sereia. Fechou os olhos para apreciar com mais intensidade o momento. Era um pouco mais úmido e salgado do que imaginara — não que ficasse pensando sobre isso —, tinha gosto de maresia, e era tão bom quanto acordar em uma manhã ensolarada. Afastou-se um pouco, queria saber que tipo de reação lhe causara e não foi surpresa nenhuma quando olhou no fundo dos olhos de Ochako, e viu que estava tão extasiada e tão fascinada quanto ele. Havia uma constelação inteira a sua frente, reluzia tanto que, por um segundo, Katsuki se esqueceu o que era a escuridão; logo, umedeceu os lábios, segurou-lhe o queixo e deu mais um… dois… três selinhos nela. 

— C-co-como se chama isso? — Ela perguntou assim que se afastaram pela segunda vez.

— Beijo.

— Hum… acho que gostei — revelou, um pouco envergonhada, estava corada e o alaranjado das bochechas quase não podia ser mais visto.

O aniversário era de Mitsuki, mas quem ganhara o presente fora ele. Sentia-se tão leve que podia jurar ter flutuado no momento do beijo, ou ter surfado um tsunami e sobrevivido. Sentia-se fantástico! Lamentava-se apenas por não poder ficar mais, afinal prometera à sua velha que não se atrasaria. 

— Tenho que ir — anunciou com pesar, pondo-se de pé e pegando sua prancha.

— Não vai ficar pra ver a despedida do sol? — Katsuki negou e Ochako bufou, frustrada. — Queria poder ir no jantar com você.

Ele também queria poder levá-la e apresentá-la para toda sua família; queria lhe mostrar sua casa; seus amigos; o aquário no qual guardava todas as coisas marinhas que ela lhe presenteava; compartilhar mais que alguns instantes no mar; mas isso era impossível, sendo assim, tinham lidar com essas impossibilidades da maneira de sempre: criando oportunidades e desculpas para ficarem juntos.

— Prometo trazer a sobremesa pra você quando a lua estiver no meio da noite— afirmou e, imediatamente, viu um sorriso surgir na cara redonda de Ochako. 

— Traz aqueles com recheio de chocolate? — pediu, salivando só de imaginar. 

Ele riu de lado e concordou, sem demora, pulou no mar começando a remar em direção à Gruta Azul. Não era necessário despedidas entre eles, entretanto, antes que Katsuki sumisse de sua vista, Ochako o chamou:

— Kacchan! Pode trazer mais desses beijos também?

Riu mais uma vez. Era inacreditável como não conseguia manter as aparências quando estava com ela, assim como não podia evitar a quantidade de sorrisos que estampava no rosto. Era um idiota mesmo! E sem virar-se para vê-la, respondeu:

— Quantos você quiser, Bochechas! 

 

 


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Notas finais do capítulo

*Rabeta – Parte de trás, ou rabo, da prancha.
*Tubo – Quando uma onda é suficientemente oca e o surfista fica sob a crista.
*Wakame – Uma macroalga, algumas vezes encontrada à venda como Wakama.
* Ignorei totalmente o fato do aniversário de Mitsuki ser em dezembro, já que nesse capítulo é verão, e a estação, no Japão, é em meados de julho.

Então, o que acharam?

Espero que tenham curtido esse capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo ♥
O próximo capítulo será o penúltimo, então, comecem a preparar o coração. Estou amando os comentários e fiquem à vontade para perguntar qualquer coisa sobre a fic. ;)

Obrigada por ler e nos vemos em breve! ♥



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