Naquela mesma noite, Jacob foi até a casa de Bella e expulsou Edward, sem muitos detalhes, algo rápido e por meio de uma discussão calorosa. A garota apenas sabia que ele voltou consternado e nunca falou sobre o que conversaram, por isso Bella sabia que era melhor não saber o que ocorrera naquela noite. Talvez fosse uma maneira de Jake preservar a saúde mental de Bella.

Por algumas semanas, ambos ficaram em estado vigilante, de completa atenção, esperando que Edward voltasse, talvez querendo qualquer explicação. Bella tinha medo dele querer a criança, mais do que tudo, ela fugiria para qualquer lugar com seu filho para que ele não o pegasse. Contudo, Edward Cullen nunca mais apareceu, não foi visto em Forks e as semanas passaram enquanto o alívio de Jake e Bella aumentava.

Para os dois, não foi nada fácil no começo, por um lado Bella ficou quatro meses tentando entender Edward e o medo profundo do que era ser mãe… Estava sendo uma péssima mãe, sem cuidar da alimentação ou da saúde por conta da tristeza. Jacob procurava entender e cuidar de Bella, mas os primeiros traços de uma depressão se alastravam por todo o corpo de Bella, quase como se aquela dor nunca fosse passar, e ela queria desistir de lutar. Todas as noites ela chorava sozinha, estar em casa sozinha nunca foi tão solitário, nem mesmo quando Jake estava ao lado era fácil de lidar com a profunda dor que se espalhava por todo seu corpo, paralisando-a.

Por outro lado, Jake tentava entender o que fazer e se reconciliar com Leah, que não aceitou a ideia muito bem. A namorada de Jacob não compreendia o elo fraternal que os unia, o amor incondicional de duas pessoas que gostariam de apenas nunca se separar, não importando as condições. Ela foi embora da cidade um mês depois, queria ficar longe de Jake. Bella se culpou ainda mais por tudo que estava acontecendo na vida do amigo e ver a tristeza incomum em seu olhar era mais do que suficiente para fazer com que a garota ficasse pateticamente se sentindo inútil e desprezível.

Por esse motivo, Jake achava muito difícil não sentir um certo rancor de Bella naquele momento. Não era fácil lidar com o fim de seu relacionamento mais longo e fazer Bella não se sentir culpada por aquilo. Jake poderia dizer que estava tudo bem, mas não estava, ele verdadeiramente gostava de Leah e por semanas ligou para a garota esperando qualquer retorno. O silêncio dela, no entanto, machucava ainda mais Jake e, por conseguinte, Bella.

Jacob estaria sendo insincero se dissesse que uma raiva não cresceu ali, e Bella sabia o que ele sentia. Não podia culpá-lo, mesmo se um dia ele dissesse o que sentia em voz alta, o que ele nunca o fez temendo que a relação dos dois ficasse abalada. Algumas vezes, Bella pensou em machucá-lo tão profundamente que ele jamais a olharia novamente, tudo para livrá-lo do fardo de cuidar de uma criança que não era sua. Contudo, como algumas coisas são um pouco esquisitas e aquela poderia ser facilmente explicada pelo elo entre os dois, que era inquebrável, o tempo curou as feridas e essa situação ficou esquecida. Jake a amava em qualquer condição, e o sentimento era recíproco.

Os dois passaram por términos difíceis e um bebê chegaria logo, precisavam começar a entender suas despesas. Logo, a tristeza acabou por se superar alguns meses depois, ambos entenderam que precisavam esquecer o passado. Mais do que nunca, precisavam superar suas próprias diferenças e mágoas daquele laço que os unia. Esse fato ocorreu mais ou menos quando descobriram que a criança, na verdade, seria duas. Uma menina e um menino estavam prestes a nascer e os dois precisavam cuidar deles, qualquer outro sentimento que não amor existia ali. Talvez Jake nunca admitisse, mas Bella sabe que viu lágrimas em seus olhos quando receberam a notícia em uma de suas consultas ao ginecologista.

Jacob sempre fazia questão de estar presente naqueles momentos, ainda que aquilo lhe custasse um bom tempo de trabalho e dinheiro, mas fazia aquilo de coração aberto, esperando que suas crianças viessem ao mundo com uma figura paterna presente. Assim, começaram a seguir a vida sem mágoas, sem rancor, apenas com um passado sendo enterrado em prol de um futuro incerto, mas recheado de alegria e esperança. 

Para garantir esse futuro, porém, venderam as duas motos de Jake para pagar pelas consultas, exames e a internação de Bella para o dia do parto. Utilizavam apenas o carro do pai de Bella e por isso começaram a morar juntos na casa de Bella, a fim de dividir algumas despesas e economizar.

Além do mais, alugaram o antigo apartamento de Jacob e usavam o dinheiro para comprar os utensílios dos bebês, era um dinheiro que estava ajudando a lidar com as despesas em dobro. E como não podia deixar de ser, Jacob agora trabalhava em dobro também, em partes pelas crianças e em partes para ocupar a mente e deixá-la longe de Leah. Assim, mudou para o turno da noite o seu trabalho na empresa de carros e trabalhava em um banco na parte da manhã, mas como ainda era muito novo no cargo, não recebia muito, o que fazia Jake odiar ainda mais o mundo corporativo. Com ternos velhos e costurados em partes muito visíveis, ele trabalhava o máximo que podia para garantir uma boa vida aos quatro, porque, sim, ele e Bella agora estariam ligados para sempre junto daquelas duas crianças que se preparavam para vir ao mundo. Para a tristeza de Bella, ela via que o amigo, em diversos momentos, dormia apenas quatro horas por noite. 

Logo, fez questão de entregar o máximo de si também, trabalhou até o momento em que foi demitida, demorou a revelar o que estava acontecendo para o restaurante em que era garçonete, afinal, foi demitida quando descobriram que estava grávida. E não foi muito fácil esconder a barriga dos gêmeos. De qualquer modo, não se abalou muito e tentou encontrar outras maneiras de ajudar Jake.

Somente o seu salário como recepcionista na clínica veterinária não ajudaria muito, além disso, estavam fazendo cortes nos salários e Bella foi atingida na época, preocupando os dois. Nessa época, Bella descobriu o artesanato e vendia velas aromáticas para pagar algumas contas mais básicas, além disso, ela e Jake usaram as velas como luz por uns meses para economizar energia no período noturno. Essa medida não durou muito, Jake apareceu com suas economias e alugou um lugar apenas para ela poder vender suas peças artesanais, que agora começavam a render um bom dinheiro conforme ela vendia para Seattle, ainda assim, era um gasto muito alto manter o aluguel da loja e ela resolveu mover tudo para a sua sala de estar.

Enquanto a vida se estabiliza um pouco, Bella e Jake também resolveram aprender a fazer as coisas com suas próprias mãos depois que viram o preço de berços e carrinhos: construíram o berço juntos, fizeram as cadeiras para comida, um cercadinho, o armário, os carrinhos e as cômodas dos bebês, bem como a poltrona de Bella. Forks não sentiria falta de algumas poucas árvores dessa maneira e as ferramentas antigas do pai de Jake realmente foram de enorme ajuda. Bella pintou todos os móveis com muita delicadeza, a fim de deixar o ambiente mais aconchegante.

Como Bella estava envolvida com arte, aprendeu a tricotar e costurar, fez todas as mantas e roupas iniciais, bem como fraldas de pano para as crianças. Além disso, também começou a vender algumas peças artesanais, o que ajudava um pouco na renda extra. Todo o dinheiro que entrava, seria para cuidar dos bebês e, sinceramente, suas despesas estavam começando a ficar mais tranquilas com o tempo, uma esperança nascia entre os dois, principalmente depois que ganharam muitas fraldas no chá de bebê de Bella. Muitos amigos de Charlie e Renée ajudaram Bella naquele momento e fizeram questão de dar mais do que ela necessitaria, uma vez que gêmeos não seriam muito fáceis.

Àquela altura, Bella precisou parar de trabalhar na clínica e se dedicar apenas aos trabalhos manuais, a barriga dificultava as coisas e ela estava extremamente irritada, o que também irritava Jake, que sempre tentava ser muito paciente com os pedidos inusitados de Bella e os decorrentes esquecimentos sobre suas obrigações. Ainda assim, estavam começando a ficar mais animados com a vinda dos bebês, que viriam em dois meses.

O grande problema apareceu no fim do sétimo mês, udia Bella caiu das escadas quando estava sozinha em casa e sua pressão caiu repentinamente. A garota rodou pelas escadas, quebrou uma costela e bateu a cabeça de tal maneira que ficou inconsciente por horas, mas como Jake ainda trabalhava dois turnos, só a encontrou de madrugada ao pé da escada, sangrando e quase sem vida.

Aquele episódio foi marcante para ambos, Jake mal parou em casa, apenas levando Bella diretamente para o hospital e internando a amiga. Com uma concussão, a costela quebrada e o deslocamento da placenta, os bebês precisavam sair naquele mesmo dia, tivessem os dois planejado ou não. Assim, com Bella completamente desestabilizada e perdendo muito sangue, os gêmeos lutavam para sair, enquanto a garota era mantida viva pelos médicos.

Jake ficou na sala de parto, esperando ansiosamente pelas crianças, que elas estivessem bem enquanto Bella lutava para que pudesse viver por eles. Todo o corpo de Bella estava pálido e recebendo muitos remédios ao mesmo tempo, os médicos fazendo o possível para que as crianças saíssem o mais rápido possível e não sofressem as sequelas daquele acidente tão banal e terrível.

Jake apenas precisava ouvir o choro de Billy e Renesmee, homenagem aos familiares de ambos. Apenas o choro das crianças o tranquilizaria naquele momento, tudo seria esquecido quando aquelas crianças aparecessem em sua vida, nada teria sido em vão desde a fuga de Edward, aquela batalha faria sentido quando os gêmeos estivessem ali, em seus braços e aos cuidados de Bella.

Renesmee foi a primeira a sair, seu silêncio mortal e perturbador, sendo levada pelos médicos para um canto longe de Jacob enquanto uma das enfermeiras tentava impedir que ele se aproximasse e buscando manter a sanidade do garoto no lugar, para que ele se acalmasse. Ela precisava chorar, pensava Jake, era somente aquilo que precisava.

A atenção de Jake mudou para Billy, que nascia sem lágrimas tampouco, mas diferente de Renesmee não foi levado por outras mãos. Os médicos que se aproximavam dele, tentando explicar que a falta de oxigênio afetara o segundo bebê de tal maneira que ele não conseguiu sobreviver, que era muito comum, aqueles médicos não entendiam o que Jake pensava naquele momento… Eles diziam palavras que Jake não ouvia, não compreendia e nem buscava entender naquele momento, porque sua mente estava enlouquecida e o coração palpitava de tal maneira que ele não conseguia se concentrar.

Como explicaria para Bella a sua demora? Como a olharia nos olhos e diria que por um atraso incomum, uma irresponsabilidade de deixar uma grávida sozinha, a fizera perder um de seus filhos? Como poderia um dia se perdoar por aquilo?

Ele observava os médicos trabalhando com a amiga, tentando consertar sua costela e manter a cabeça a salvo daquele acidente. Ela sobreviveria, eles garantiram, mas não diziam nada a respeito dos bebês. Um silêncio ensurdecedor tomava conta do lugar, como se ninguém soubesse o que dizer exatamente para o pai daquelas duas crianças que chegaram de maneira tão conturbada. Esperavam que o primeiro bebê chorasse, lutavam para que aquela criança sobrevivesse também.

Jake podia ouvir as ordens do cirurgião pediatra, mesmo que não entendesse o que nada daquilo significasse. Três pessoas fazendo um trabalho conjunto, lutando para que Renesmee continuasse ali. O coração de Jake, contudo, permanecia aflito com toda a situação, sem acreditar em tudo que estava acontecendo e como poderia sequer encarar Bella depois daquilo tudo. Queria que não fosse daquela maneira, que fosse como o planejado pelos dois... Depois de tudo que fizeram para que a batalha não fosse perdida.

Os médicos em torno de Renesmee pararam de se mover e os olhos de Jake encheram-se de lágrimas, que se derramaram pelo seu rosto quando um grito vigoroso rompeu o silêncio daquela sala. Renesmee chorava por uma oportunidade, pela sua própria vida, vencendo a primeira batalha.