Incoerências escrita por Miss A


Capítulo 3
Terceira Regra: Não se apaixonar pelo Malfoy.


Notas iniciais do capítulo

Nesse momento: Em uma relação de amor e ódio com Junho Scorose.

Afinal, quem diabos inventou a regra de que deveríamos postar até o dia o 30/06????



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O dia estava bonito demais.

Eu deveria ter desconfiado.

As corujas voaram pelo salão, entregando cartas aos alunos e eu realmente fiquei animada em ver que tinha algo para mim.

Receber uma carta de quem você ama logo de manhã só pode significar algo bom, não é?

Geralmente sim.

Mas não dessa vez.

Quando notei que tinha recebido um berrador já não havia nada a ser feito.

Assim que eu o vi eu sabia exatamente de quem era e do porquê.

Encarei Scorpius, que estava do outro lado do salão.

— Rose, você recebeu um berrador – James falou o óbvio.

Fixei os olhos no objeto mágico, assustada demais para falar. Ou correr.

— É melhor abrir antes que ele exploda!

Não me mexi.

Tarde demais.

— ROSE GRANGER WEASLEY! – Definitivamente era a voz do meu pai... para todo o salão ouvir – QUE HISTÓRIA É ESSA QUE VOCÊ ESTÁ NAMORANDO O MALFOY? ESTOU EXTREMAMENTE DESGOSTOSO. EU REALMENTE ESPERO QUE SEJA UMA MENTIRA, VOCÊ SE ENVOLVENDO COM... COM... UM MALFOY. VOCÊ É UMA WEASLEY! MINHA FILHA! É UM ABSURDO! AGUARDO A SUA RESPOSTA DESMENTINDO ESSA HISTÓRIA. Com amor, seu pai.

E o berrador explodiu, destruindo o meu café da manhã.

Quis desaparecer.

Quis estar vestindo a capa da invisibilidade.

Quis até ser um diabrete para sair voando daquele lugar.

O silêncio reinava.

Até que alguém riu e então todos começaram a rir e a falar ao mesmo tempo.

Vi que Scorpius se levantou, mas balancei a cabeça. Não queria que ele fosse até mim naquele momento.

Meus primos me encaravam.

Na verdade, eu sentia os olhos de toda a escola em mim.

Olhei para a mesa dos professores e eu podia jurar que McGonagall tentava segurar o riso.

Eu queria desaparecer. Já mencionei isso?

— Que história é essa? – James perguntou.

— É verdade – Falei. Era melhor continuar na mentira até que eu falasse com Scorpius.

— Você está namorando com o Scorpius e nem me contou? – Roxy inquiriu.

— Desculpe.

— Como isso aconteceu? – Questionou Dominique.

— Só aconteceu.

Vi que meu irmão estava fazendo uma careta.

— Por que parece que você vai entrar em colapso a qualquer momento? – James zombou.

— Talvez ela vá.

— Rose, você está muito vermelha – Lily observou, o que, é claro, fez com que o meu rosto esquentasse ainda mais.

Eu tentei respirar fundo algumas vezes.

— Vamos sair daqui – Falei para James e Roxy.

— Eu não terminei de comer ainda...

Eu supliquei com os olhos.

Ela bufou, mas se levantou.

— Na hora de beijar a boca do Malfoy você não precisou de mim – Ela resmungou.

James nos seguiu e saímos do salão o mais rápido possível. Eu sentia olhares perfurarem minhas costas.

— Você pode explicar tudo isso agora?

Eu soltei o ar que nem havia percebido que tinha prendido.

— É tudo mentira.

— Que?

— Eu não estou namorando o Malfoy – Falei enquanto continuava andando, queria me afastar do salão o máximo que podia.

— Mas então por que... ah, a aposta! – James exclamou.

— Você fez uma aposta com ele?

— Sim... Ele me pediu para fingir ser sua namorada em uma festa na casa dele. Tia Ginny e o tio Harry estavam lá.

— Você acha que foram eles que contaram?

— Não, acho que não. Eu pedi para a Ginny não comentar.

— Por que ele queria que você fosse a namorada dele?

— Questões pessoais.

Roxy ergueu a sobrancelha.

— Se você quiser eu posso socar ele até ficar claro que você não vai continuar com esse acordo – James se ofereceu.

— E eu posso ajudá-lo. Não quero que ele fique se aproveitando de você assim.

— Ele não está. A verdade é que eu estava o ajudando, porque eu queria.

— Como assim? Você é a amiga dele agora?

— Não estou entendendo mais nada.  

— Nós estávamos saindo juntos antes da aposta.

Pronto. Agora eles sabiam.

Pela vigésima vez no dia, eu quis desaparecer.

— O que? – Eles perguntaram juntos.

— Rose!

Virei-me e vi Scorpius vindo em minha direção, com Albus atrás. 

Paramos no corredor para esperá-los.

— Achei que deveríamos conversar...

Assenti e notei três pares de olhos nos escarando, esperando para ouvir nossa conversa.  

Franzi o cenho para eles, mas eles não se mexeram.

Segurei o braço de Scorpius e o puxei para longe dos meus primos.

Minha família não tinha muito senso.

— Como você está?

— Arruinada.

— Desculpe-me por isso.

— A culpa não é sua... Bem, meio que é sim, mas está tudo bem.

Ele deu um sorriso.

— Você deveria ter visto o seu rosto... achei que ia explodir.

Eu tampei o meu rosto com as mãos.

— Que humilhação.

— Ei, está tudo bem – Ele afastou as minhas mãos – Todo mundo já recebeu um berrador na vida.

— Eu não!

— Recebeu agora. Mais um check na sua lista.

— Mas isso não estava na lista, Scorpius!

Ele revirou os olhos.

— O que você disse para os seus primos?

— Continuei na mentira. Eu cumpro as minhas apostas.

— Obrigado. Acho melhor mantermos só por um tempo. Não quero que meus pais descubram que menti depois de todo o nosso progresso.

— Está tudo bem.

— Eu realmente agradeço por isso.

— Não aceito nada menos do que isso – Dei-lhe um sorriso, mas ele se desfez com um pensamento – Não vou precisar ficar te beijando por aí, não é?

— Só se você quiser.

— Não quero.

Talvez eu quisesse, mas ele não precisava saber.

— Acho que vai ser um pouco difícil você resistir, mas podemos fingir que somos um casal discreto.

— Essa palavra não combina com você.

Ele deu de ombros.

Olhei para os alunos que circulavam pelo corredor. Logo as aulas começariam.

— Acho melhor a gente ir.

— Não sei se quero. Acho que vou me esconder na casa do Hagrid.

— Pensei que você fosse uma grifinória, Weasley.

— O chapéu seletor errou.

Scorpius riu. 

— Veja pelo lado bom, você agitou a manhã, se não a semana toda, de Hogwarts.

— Isso não é algo bom!

— Engraçado. Eu sempre considerei causar tumulto algo positivo.

Inacreditável.

— Saia da minha frente.

Scorpius tocou meu queixo.

— Se anime. Você está namorando Scorpius Malfoy.

Achei que ele ia me beijar, mas infelizmente não.

Ele piscou e saiu, frustrando a minha expectativa.

Insuportável.

 

 

Roxy ainda estava me esperando.    

— E aí?

— O que?

— Como foi com o seu namorado?

— Roxy, você é insuportável às vezes.

— E você mente às vezes. Que tal explicar essa história sobre você estar saindo com um Malfoy?

Eu deixei escapar um sorriso, enquanto mexia no cabelo.

— Não sei se quero falar sobre isso. Admitir que a pessoa que você detesta é gostosa é algo difícil.

— Aposto que você não achou difícil quando estava se esfregando nele.

— Algumas vezes o pensamento me ocorria.

Ela bufou.

— Desde quando está acontecendo isso?

— Desde o aniversário dos Scamanders.

Ela parou de andar.

— Você está escondendo isso de mim por dois meses?

Encolhi os ombros.

— Desculpa?

— Não sei se suas desculpas serão aceitas, não sozinhas. Eu quero detalhes. A história inteira. Incluindo os detalhes sórdidos.

Havia um motivo para que eu não tivesse contato nem para minha melhor amiga.

Eu era vaidosa e orgulhosa e admitir estar me envolvendo com Scorpius Malfoy era constrangedor.

Constrangedor, porque eu havia passado anos maldizendo seu nome e brigando com ele em todas as oportunidades possíveis.

Ele tinha começado essa desavença quando se tornou amigo do Albus. Eu detestava perder e aos onze anos seu melhor amigo encontrar outro amigo era o fim.

Isso havia sido superado com os anos, mas a imagem que eu tinha de Scorpius ficou.

Além disso, ele parecia reforçá-la cada vez mais com suas atitudes irresponsáveis e algumas vezes desprezíveis.

Eu sabia que seria julgada se contasse para alguém e eu não queria pagar pela minha língua.

Mas agora a escola inteira já sabia.

Seria inevitável não ser julgada.

— Eu estava carente naquele dia – Comecei – Eu estava me sentindo abandonada por todo mundo e Scorpius se aproximou. Ficamos implicando um com o outro, mas... Não sei o que aconteceu, comecei a me sentir diferente. Acho que foram as luzes coloridas da festa, sabe?        

— Você ficou atraída pelo Malfoy, mas a culpa foi das luzes. Claro.

— É sério! As luzes ficavam iluminando o maxilar dele e... não sei, talvez eu tenha um fetiche por maxilares.

Ela riu.

— Você estava drogada, não é?

— Não!

— Continue.

— Acordei com ele no dia seguinte – Fiz uma careta ao lembrar – Foi horrível.

— Transar com o Malfoy deve ter sido realmente péssimo. Um pesadelo completo – Ela zombou.

— Não menospreze os meus sentimentos!

— Desculpa, mas seus sentimentos são estúpidos.

— Roxanne!

— Continue a história, eu ainda não te perdoei.

 Revirei os olhos.

— Para resumir depois de muita negação da minha parte eu admiti que havia uma certa tensão sexual entre nós e resolvemos solucionar o problema. Algumas vezes. Talvez muitas.      

Ela deu um sorriso malicioso.

— Então como é ficar com o seu inimigo? Se é ainda posso chamá-lo assim.

Inimigo era exagero.

— Ele não era o meu inimigo, Roxy. Eu só não gostava dele.

— Era um pouco mais do que isso.

— Ok. Ele me irritava e eu queria agredi-lo fisicamente toda vez que ele falava alguma gracinha, mesmo que não fosse para mim.

Ela riu.

— Isso define bem.

— Mas eu não o vejo mais assim. Ele ainda me irrita, mas é como James me irrita. Não levo a sério.

— Estou impressionada.

— Eu também. Quem diria que debaixo daquela arrogância existia uma personalidade aceitável?

— Será que Albus estava certo sobre ele esse tempo todo?

— Que ele nunca nos escute falando isso!

— Quando vamos entrar nos detalhes sórdidos?

— Em nenhum momento! Eu não vou te contar nada.

— Nem sei se precisa, já que você não para de sorrir enquanto fala dele.

— Eu estou sorrindo por causa da sua cara de palhaça.

— Eu acho que você está sorrindo porque está apaixonada.

Franzi a testa.

Roxanne Weasley era absurda.

— Que imaginação fértil, já pensou em escrever livros?

— Vou começar um hoje. Scorose: uma história de amor.

— Scorose?

— Scorpius e Rose.

Tentei segurar o riso.

— Você é um trasgo, Roxanne Weasley.

— Eu achei que o amor deixava as pessoas bem humoradas.

— E eu achava que você era uma pessoa legal, mas parece não.

— É assim que você trata a pessoa que precisa te perdoar?

— Não sei se o seu perdão vale a pena.

— É melhor você sair da minha frente, garota.

Entrei na sala de aula rindo, mas imediatamente parei quando todo mundo me encarou.

Acelerei o passo até o fundo da sala, Roxy se sentou ao meu lado.

— Essas pessoas adoram uma fofoca.

— Você também.

— Mas eu não sou indiscreta.

— “Detalhes sórdidos, Rose!”.

— Fica calada, Weasley.

Eu fiquei.

Mas não foi uma boa ideia, porque comecei a pensar sobre o que ela tinha dito sobre eu estar apaixonada.

Aquilo tinha me incomodado, mas eu não sabia se queria investigar o pensamento.

Senti uma sensação estranha no estômago.

É. Definitivamente não.

 

 

Mas é claro que foi impossível não pensar.

Especialmente, porque durante o dia todo pensamentos sobre Scorpius me surpreenderam como um soco no estômago.

Eu não parava de lembrar.

Do seu sorriso.

De como ele ficava bonito de verde.

Dele me encarando igual um idiota na sala da McGonagall.

Dos gracejos com os seus pais.

De nós dois dançando.

Ele preocupado comigo na sacada de sua casa.

Ele falando sobre ser jogador de quadribol.

A verdade era que eu me encontrava fascinada por ele.

As regras que eu havia criado mentalmente sobre ele pareciam distantes demais.

E totalmente ineficazes.    

 

 

Mais tarde, eu estava indo para o salão principal quando vi Scorpius conversando com uma sonserina. Aquilo me deixou irritada e fingi que não ouvi quando ele me chamou.

É claro que a irritação não era com ele. Ou com ela.

Era com Roxanne Weasley.

 

 

Durante o jantar ignorei completamente a Roxy.

O que durou só dois minutos, porque era impossível não falar com a minha melhor amiga.

— Por que você está me fuzilando com os olhos?

— Porque eu te odeio.

— Oras. O que eu fiz agora?

— Você colocou pensamentos na minha cabeça!

— Que pensamentos?

— Sobre eu... Gostar do Malfoy.

— Te incomodou porque é verdade, não é?

— Provavelmente – Cuspi a palavra.

Aquela era a verdade afinal.

Destruí o meu bolo de caldeirão com o garfo. 

Ela abriu um sorriso.

— Isso tudo é raiva?

— É. Não queria sentir isso, Roxy. O pior é que eu não tinha percebido.

— Sentimentos podem ser péssimos, eu sei.

Continuei exterminando o meu bolo.

— Mas... Será que tem a ver com sentimento? Sentir atração por alguém não significa necessariamente que você está apaixonada.

— Tem razão.  

Fiquei esperançosa por ela ter concordado.

— Você acha mesmo?

— Claro. Ele está te deixando ansiosa?

— Mais ou menos.

— Você fica de bom humor depois de falar com ele?

— Não necessariamente – Menti. 

— Também não tem pensamentos inconvenientes sobre ele o tempo todo?

— Claro que não.

— E a sensação de estar em período fértil?

Eu ri.

— Roxy, você é absurda.

— E você é uma mentirosa.

Eu queria poder negar.

Suspirei pesadamente.

— Você acha que ele percebeu?

— Não sei. Você vai falar para ele?

— Não!

— Por que não?

— Eu não pensei muito sobre isso, mas acho que eu não teria coragem.

— Você não é uma grifinória?

— Sempre achei que o chapéu seletor errou a minha casa.

— É algo impossível.

— Não sei não, ele é velho.

— Mas ele é um objeto mágico. Não envelhece.

— Tenho minhas dúvidas.

— Você tem medo do que?

— De ser rejeitada, é claro. É o Malfoy.

— O que você vai fazer?

— Evitá-lo?

— Mas vocês são namorados agora.

— Droga.

— Que incoerente sua vida. Você está apaixonada pelo seu namorado, mas está desesperada por causa disso.

Eu ri para não chorar.

— Vocês ficam bem juntos, Rose.

Olhei para Scorpius sentando na mesa da sonserina, conversando com Albus.

— Mas ele é o Malfoy. Qual foi a última vez que ele namorou alguém?

— Ele está namorando você.

Revirei os olhos.

— Não é a mesma coisa.

— Eu ouso dizer que você tem grandes chances. Contra todas as expectativas do universo, vocês estão se dando bem.

— É bizarro. Meses atrás eu torcia o nariz toda vez que ouvia a voz dele.

— Sentimentos nem sempre demonstram lógica.

— Exatamente. Não entendo porque fui desenvolver esses sentimentos românticos por ele.

— Realmente... Transar frequentemente com o seu desgosto em pessoa, depois se tornar amiga dele o suficiente para aceitar ajudá-lo em um namoro falso... É surpreendente que você tenha se apaixonado.

Encarei-a.

— Eu te odeio.

Ela riu.

— Eu sou sua amiga, meu dever é jogar as verdades na sua cara, você gostando ou não.  

— Ok. É verdade. Por isso que eu te amo.

— Você é a incoerência em pessoa.

Dei de ombros.

Eu era.

 

 

Estava tudo dando errado.

Aparentemente eu estava apaixonada pelo meu namorado.

Eu não fazia ideia do que fazer.

Mas, por ora, eu estava o evitando.

Já faziam dois dias.

Na tentativa de continuar, cheguei à sala de aula mais cedo do que costume, o que se mostrou uma péssima ideia.

Scorpius entrou na sala antes de Roxy, o que significava que a cadeira ao meu lado estava vaga e que se ele estava andando na minha direção era porque tinha segundas intenções com ela.

— Ei, namorada.

— Esse lugar é da Roxy.

— Eu saio quando ela chegar – Ele sentou-se próximo demais.

— Você não tem muito senso de espaço, não é?     

— Você está me evitando?

— Quem? Eu?

— Você.

— Não.

— Tem certeza?

— Não.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Eu estou brincando. É claro que eu não estava te evitando. Por que diabos eu te evitaria?

Só porque eu talvez esteja apaixonada por você? Não.

Eu quis rir.

De nervoso.

— Foi isso que eu falei para o Albus!

Não respondi.

— Eu queria te contar que recebi uma carta dos meus pais. Eles aparentemente amaram você.

— Aparentemente?

— Talvez noventa por cento da carta foram elogios para você, mas eu não estou pronto para falar sobre isso.

Eu ri.

— Eu não esperava que você o fizesse.

— É, bem, você me conhece.

— Talvez.

Ele sorriu.

Roxy entrou na sala e eu a encarei com olhos desesperados, afinal Scorpius estava sorrindo do meu lado e eu precisava de ajuda. Mas parecia que ela não lia mentes, porque acenou e foi sentar-se com uma grifinória.

— Parece que ela não se importa.

Eu o ignorei e voltei minha atenção para o professor Longbottom que havia acabado de entrar na sala.

 

 

Não foi nada fácil.  

Quando ele não me interrompia com piadinhas ou comentários aleatórios, era eu que ficava distraída olhando para ele.

Éramos uma péssima dupla de estudos.

— O que foi?

— O que?

— Você fica me encarando.

— É que tem uma sujeira na sua bochecha – Menti. 

Ele limpou a sujeira inexistente.

— Achei que era porque você queria me beijar loucamente.

Também...

— Você se dá muito crédito, Malfoy.

Ele se ajeitou na cadeira e piscou.

— Eu tenho a suspeita de que você gosta.

De repente meu estômago começou a praticar contorcionismo.

E pensar que eu costumava odiar o Malfoy.

Cruzei os braços e encarei o professor Longbottom como se a minha vida dependesse disso.

A parte emocional dela talvez.

Voltei meus olhos para Scorpius.

Será que ele daria um bom namorado?

Ele pendeu a cabeça para o lado.

— O que foi?

— Nada.

— Você está estranha.

— Não tomei café da manhã hoje.

— Ah, é. Por que você estava me evitando, não é?

Revirei os olhos.

— Parece que eu falhei.

— Rose, você está a sete anos tentando. Você não vai conseguir se livrar de mim.

Suspirei dramaticamente.

Desisti de prestar atenção na aula e fiquei observando Scorpius desenhar símbolos nos pergaminhos.

Quando a aula acabou falei um tchau apressado e sai o mais rápido possível, arrastando Roxy comigo. 

 

 

Não consegui fugir por muito tempo.

Eu estava na biblioteca tentando terminar o meu pergaminho sobre astrologia védica e suas possibilidades de previsões, mas pensamentos sobre Scorpius Malfoy me distraiam.

Era uma vergonha.

Levei o dobro do tempo para finalizá-lo e quando pensei que estaria livre fui surpreendida por Scorpius.

Ele chegou sem dizer nada e arrastou uma cadeira até o meu lado, ignorando qualquer espaço pessoal. Típico.

Ele sentou-se virado para mim.

— Você está estranha.

— Não acho.

— Você tem me ignorado.

— Isso de novo?

— Estou falando alguma mentira?

— Não tem como te ignorar, Scorpius – Dei um sorriso que eu esperei ser o suficiente para convencê-lo.

Ele não respondeu, só ficou me observando. A testa franzida.

Fechei o livro que tinha usado.

— Com licença – Levantei para guardar o livro na estante, uma clara tentativa de fugir.

Será que se eu fosse em direção à porta ele notaria?

Balancei a cabeça.

Eu não poderia abandonar o meu pergaminho depois de todo o trabalho de escrevê-lo.

Ergui-me para colocar o livro na última prateleira.

—  Eu te ajudo.  

Scorpius parou atrás de mim e pegou o livro da minha mão.

Senti o meu coração acelerar. O que, eu particularmente, achei um absurdo.

Tentei me virar naquele estreito espaço que ele tinha me deixado.

Foi pior.

Porque ele estava perto demais.

Eu odiava o fato dele ser tão bonito.

Tentei não encarar sua boca. Juro que tentei.

Ele colocou um fio de cabelo atrás da minha orelha e ergueu meu queixo.

Basicamente foi o meu fim.

— Eu estava com saudades.

Eu sabia do que ele estava falando.

A última vez que tínhamos ficado juntos tinha sido na festa.

Há quase uma semana.

Não que eu estivesse contando.

— Não faz tanto tempo assim.

Scorpius se inclinou para me beijar e eu pousei minhas mãos em seu quadril, puxando-o para mais perto.

Esqueci totalmente que estávamos na biblioteca.

Até que o meu cotovelo fez um livro cair.

Empurrei Scorpius.

— Aqui não.

Olhei ao redor, para ver se alguém tinha nos vistos.

A bibliotecária não gostava de mim, se me dedurassem a situação ficaria pior.

Ele me soltou. Parecia incomodado.

— O que foi?

— Está acontecendo alguma coisa e você não quer me contar.

Desviei o olhar.

— Não está acontecendo nada.

— Você está fugindo de mim desde que todo mundo descobriu sobre a gente. Se você está com vergonha, eu gostaria que você me dissesse. Não vou te forçar a nada.

Franzi o cenho.

— Vergonha do que? 

— Das pessoas saberem que estamos juntos. De ser vista comigo.

— O que? Não tem nada a ver com isso. De onde você tirou essa ideia?

— Você mudou depois que a escola descobriu.

Parte de mim estava se sentindo culpada.

— Scorpius... – Estendi o braço para pegar sua mão – Eu nunca teria nada parecido com vergonha por você. Muito pelo contrário. Sinto muito que você tenha interpretado dessa maneira, não foi a minha intenção.

Ele apertou minha mão, mas ainda estava tenso.

— Então, você está grávida?

— O que?

Eu estava tão chocada que ri.

— Porque se você estiver, você pode me contar, Rose.

— Eu não estou grávida, Scorpius!

— Você tem certeza?

— Absoluta.

Ele respirou fundo, aliviado.

— Eu estava pronto para dizer que tudo iria ficar bem, mas estava aterrorizado com a possibilidade.

Eu ri mais.

— Eu não acredito que você pensou nisso.

— Na realidade foi Albus.

— E você entrou na onda dele.

— Eu só estava tentando entender o seu comportamento.

Senti vontade de abraçá-lo.

Scorpius preocupado e paranoico era particularmente fofo.

— Você pode parar de sorrir? Estou me sentindo um idiota.

— Desculpe!

É claro que eu continuei sorrindo.

Ele soltou minha mão, indignado, e cruzou os braços.

— Você ainda não me contou o que está acontecendo.

Meu sorriso se desfez.

— Não tem nada acontecendo.

— Nós dois sabemos que você está mentindo, Rose.

Por que o meu nome tinha que soar tão bonito na voz dele?

— Pensei que fôssemos amigos. Eu me abri com você, não recebo o mesmo em troca?

Automaticamente, uma porção de réplicas se apresentaram na minha mente, mas lutei para ignorar cada uma.

Minhas mãos estavam suando.

— Eu precisava pensar um pouco. Sobre mim, sobre os meus sentimentos...

— Sentimentos sobre o que?

Não era óbvio?

Mordi os lábios.

Encarei o teto brevemente, tentando tomar coragem, antes de voltar a olhá-lo.

— Sobre você.

Ele parecia confuso.

— Seus sentimentos... de ódio?

Eu forcei uma risada.

— Isso também, mas acho que você entendeu.

Lentamente, o seu rosto aderiu a expressão da compreensão.

Um longo tempo se passou – ou talvez só uma tenha sido alguns segundos – antes dele falar novamente.

— Eu... não sei o que dizer.

— Você não precisa dizer nada, Scorpius. Não contei esperando que você falasse alguma coisa.

— Mas eu quero falar algo, porém não tenho certeza do que eu quero falar.

Ergui a sobrancelha.

Muito eloquente.

— Você me deixou mais confuso do que eu estava. Acho que só preciso de um tempo para pensar, assim como você teve.

— O tempo que você precisar.

— Obrigado.

Quando ficou opressor olhar para ele, eu me movi.

— Eu preciso ir.

Ele tocou o meu braço e eu senti uma energia sendo descarregada até a ponta dos meus pés.

Paixão era um sentimento estranho.

Olhei-o, em expectativa. 

— Só não some, está bem?

— Não vou. Aparentemente eu não sou boa nisso.

Ele deu um sorriso de canto e eu decidi que era melhor sair dali o mais rápido possível antes que eu parecesse uma idiota apaixonada o encarando.

 

 

— Por que o Malfoy está te encarando? – James perguntou.

Ergui os olhos do meu café da manhã e olhei para a mesa da Sonserina.

Scorpius estava me olhando nada discretamente.

Ele desviou o olhar.

— Não sei. Talvez seja porque eu disse que estava apaixonada por ele.

James se engasgou com o suco.

— O que?

— Eu não usei exatamente essas palavras.

— Por que você disse isso para ele?

— Porque é o que ela está sentindo, babaca – Roxy explicou.

— Mas como isso aconteceu?

— Eu não sei!

Roxy suspirou. Ela deveria não nos suportar.

— O que ele respondeu?

— Disse que estava confuso e precisava pensar.

— Não sei no que. Para mim é óbvio que ele gosta de você também – Ela disse.

— É? Eu não tenho certeza – Suspirei – De qualquer jeito, vou dizer para ele que não posso mais interpretar a namorada falsa.

— Eu acho que ele vai te pedir para interpretar a namorada verdadeira.

— Não sei qual me deixa mais enojado – James falou.

Dei um tapa em seu braço.

— Isso é jeito de falar?

— Só disse o que eu estava sentindo. Não é você que é adepta disso?

Roxy riu.

— Eu odeio vocês dois. Igualmente.

— Oras, só porque o Malfoy entrou no seu coração você decidiu nos expulsar?

— Quem disse que vocês estavam nele?

— Essa doeu, Rô.

Rolei os olhos.

Apoiei a mão no queixo e virei-me para o meu primo.

— É muito ruim, James?

— Bem... depende.

— Você não parece muito otimista.

— Você acha que ele gosta de você?

— Talvez. Não sei o que pensar. Eu sei sobre o passado dele, mas quando estamos juntos... funciona, sabe? Mas agora ele pediu um tempo para pensar. Pensar no que?

— Não era você que o estava evitando para poder pensar? – Perguntou Roxy.

— Não. Eu estava evitando-o, porque eu não queria pensar.

— Muito coerente.

— Normalmente, eu sou.

Era uma mentira deslavada.

Se eu fosse minimamente coerente, teria cumprido todas as regras criadas por mim mesma.

Eu era um exemplo de incoerência, inconstância e incompreensão.

 

 

Entre uma aula e outra eu posso ter visto Albus e Scorpius vindo em minha direção.

Mas, talvez, eu tenha ignorado e fugido para a próxima aula o mais rápido que eu podia.

Eu não queria ter outra conversa com Scorpius.

Não queria ter que dizer que deveríamos acabar tudo.

Eu estava pensando seriamente em enviar uma carta.

Definitivamente o chapéu seletor tinha errado minha casa.

Para o meu azar, Scorpius era o corajoso da relação.

Eu o encontrei sentado no chão, perto do quadro da Mulher Gorda.

— O que você está fazendo aqui?

— Te esperando. Você está atrasada – Ele se levantou.

— Eu estava pensando em não ir jantar, mas estou com fome demais.

— Posso falar com você antes?

Eu queria dizer não, porque eu realmente estava com fome, mas se eu adiasse essa conversa eu não teria vontade nenhuma de comer.

— Você deveria falar com ele, querida – Disse a mulher do quadro.

Franzi o cenho.

Será que ele esteve conversando com um quadro?

— Você quer conversar aqui? – Olhei do quadro para ele.

Ele pareceu entender.

— Vamos seguir para o salão.

Mas não chegamos lá. Paramos em um corredor vazio qualquer.

Ele parou na minha frente. Mãos no bolso da calça.

Desnecessariamente bonito.

— Então?

A ansiedade estava me matando e eu não estava afim de aguentar aquele suspense todo.

Ele deu um riso sem graça.

— Achei que seria fácil falar, porque te vejo como amiga, mas não é.

Amiga.

Será que eu conseguiria prestar atenção no que ele estivesse falando e ainda assim manter a pose inabalável?

Ou será que ele acreditaria que se eu dissesse que a expressão de decepção era porque o meu gato tinha morrido?

Ele passou a mão pelos cabelos.

— Eu estava confuso, Rose. Nós passamos anos implicando de forma irracional e depois estávamos flertando, conversando e transando na Sala Precisa. Era muito bom, mas era você.

Cruzei os braços.

Eu estava extremamente ofendida.

— O que isso quer dizer?

— Você era a garota que eu não suportava. Toda aquela de pose de correta escondendo sua arrogância. A queridinha de todos. Ninguém podia ir contra você. Você precisava ter razão absoluta sobre todas as coisas. Você...

— Você sabia que é possível dar um fora sem ofender, Malfoy?

Era o pior fora que eu já tinha tomado.

— Quem falou alguma coisa sobre fora?

— Você, claramente. Se você pensa todas as coisas, por que continuou saindo comigo?

— Estou tentando dizer que estou apaixonado por você.

Que?

Eu o encarei, sem entender.

— Como?

Aquele discurso deveria ser uma declaração?

 – Você não entende, Rose? Essas eram as coisas que eu costumava pensar sobre você. Não penso mais. Eu estava errado.

— É a pior declaração que eu já ouvi.

Seu rosto começou a se tingir de vermelho.

— Eu nunca tinha feito isso antes.

— Não era você que era bom em elogios?

— Eu estou nervoso, ok?

Eu sorri.

— Volte para a parte onde você disse que estava apaixonado por mim.

Ele deu de ombros, fingindo não ser algo importante.

— Eu estou apaixonado por você. É isso.   

Senti o meu estômago torcendo.

Girando.

Queimando.

— Você deveria ter começado com essa frase.

Ele bagunçou o próprio cabelo.

— Você não vai deixar eu me livrar dessa, não é?

— Não - Eu disse, aproximando-me dele – Mas eu tenho uma proposta.

Suas mãos pousaram em minha cintura.

— Qual? – Seus lábios roçaram minha bochecha em um beijo.

— Quanto mais você dizer que está perdidamente apaixonado por mim, mais fácil ficará de esquecer a sua falta de tato.

— Eu não disse que eu estava perdidamente apaixonado por você.

— Não? Ah, é verdade! Mas o seu sorriso absurdamente irritante te entregou.

Como reflexo, ele sorriu.

— Agora o meu sorriso é irritante?

— Ele sempre foi – Toquei seu queixo. Observando melhor o seu sorriso.

Absurdamente harmônico.

O rosto do Scorpius deveria estar exposto em quadros gigantes dentro de um museu.

Como é que alguma vez eu o comparei a um trasgo?

— Suponho que você precisará se acostumar com isso tanto quanto eu com as suas reviradas de olhos insuportáveis.

Eu o beijei, porque gostei de como aquilo soava.

Scorpius e eu jamais seríamos o casal de promessas românticas. 

Estávamos mais para réplicas e provocações disfarçadas de afeto.

Eu estava satisfeita com isso.

— Scorpius...

Um pensamento tinha me ocorrido.

— O que?

— Meu pai vai matá-lo!

— Porque você interrompe os meus beijos para dizer coisas desagradáveis?

Eu sorri.

— Medo, Malfoy?

— Não. Mas, eu ficaria mais confortável se você nos apresentasse quando estivermos em uma festa do Ministério da Magia, onde um terço da população bruxa britânica vai estar de testemunha.

Eu ri e o beijei.

Parecia que o desejo de sorrir, beijá-lo e sair saltitando pelo corredor não iria passar tão cedo.

Seus dedos enroscaram-se em meu cabelo e eu suspirei contra os seus lábios.

Seus beijos desceram para o meu pescoço.

— Eu não queria ter que dizer isso, mas...

— Então, não diga.

Revirei os olhos e afastei seus ombros.

— Eu realmente quero jantar.

— Está falando sério, Weasley?

— Eu estou com fome.

Eu era filha de Ronald Weasley no fim das contas.

— Tem certeza que você não está grávida?

— Scorpius!

— Só checando...

— Você não deveria mais ouvir Albus quando se trata de mim. Ele é o Potter errado para isso.

— E quem é o certo? James?

— Exato.

Ele parecia descrente.

— James dá bons conselhos?

Pensei um pouco.

— Ele me disse que regras são feitas para serem quebradas.

— O que você acha disso?

— Eu sou péssima com regras, Scorpius. Quebro todas. Até as minhas.

Especialmente, as minhas.

 

  

 

 


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Notas finais do capítulo

E na fic de hoje aprendemos que: nos limitar com regras nem sempre é uma coisa boa e talvez beijar aquele cara que você odeia também não, você pode acabar se apaixonando por ele.

Obrigada por todos os comentários! Obrigada por todo mundo que acompanhou Junho Scorose! E apesar de todo o surto, estou extremamente feliz por esse projeto ter se tornado realidade ♥

Para quem tiver o interesse em ler mais Scorose: https://fanfiction.com.br/historia/751049/Coincidencias/

Nos vemos em breve ♥