Love Songs escrita por MStilinski


Capítulo 2
Unsteady


Notas iniciais do capítulo

oi gente!

queria muito agradecer a Pink Angel pela recomendação já no primeiro capítulo, fiquei muuuito feliz mesmo, obrigada de coração ♥ e também sinto muto por te fazer chorar haha

e também muito obrigada pelos comentários, muita gratidão por vcs!

mais um cap aqui e dessa vez é inspirado na música Unsteady do X Ambassadors, uma música que eu amo!

esse também é de sofrer, perdão! hahaha ainda teremos alguns caps felizes

ah, e se alguém quiser me indicar músicas que vcs gostem e que achem que podem servir de inspiração eu ficaria muito grata! to dentro de casa há tanto tempo que já até cansei das minhas músicas haha

boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791901/chapter/2

Hermione olhava impaciente pela janela do café já quase vazio em que se encontrava. Era início da manhã e o horário de trabalho de muitos já estava próximo de começar, o de Hermione sendo um deles. Ela já havia finalizado sua refeição, mas não podia ir embora porque sua companhia ainda não havia aparecido. Ele sempre se atrasava e era uma das coisas que Hermione mais detestava nele e detestaria ainda mais se ela se atrasasse para o seu trabalho por causa dele.

Hermione continuou observando o movimento da rua do lado de fora - o pequeno engarrafamento que estava se formando, as pessoas andando apressadas, provavelmente para evitarem atrasos ao chegarem em seus trabalhos, mas também porque lá fora uma leve chuva estava começando e ninguém queria chegar encharcado ao seu destino.

— Deseja mais alguma coisa? – o garçom disse, atraindo a atenção de Hermione para ele.

Ela sorriu educadamente.

— Não, obrigada. Eu só estou esperando alg... Ali está ele. – Hermione disse, seus olhos sendo tomados pela visão do homem que ela esperava entrando no restaurante.

Draco olhou ao redor, antes do recepcionista recebê-lo com um sorriso largo no rosto. Draco disse algo ao homem, mas antes que terminasse de falar seus olhos encontraram o de Hermione e ele murmurou algo outra vez para o recepcionista ao seu lado e então andou na direção dela.

Hermione continuou o observando enquanto ele tirava o sobretudo, colocava nas costas da cadeira e então se sentava de frente para ela, o rosto tomado pela expressão típica de tédio.

— O que foi? – ele perguntou, nada educado.

Hermione suspirou, tentando manter sua paciência – Draco tinha esse efeito sobre ela, de fazer com que toda a sua calma e serenidade de sempre fossem embora em questão de milésimos de segundos.

— Bom dia para você também, Draco. – ela disse – Está atrasado.

— Eu sei.

Hermione esperou pelo pedido de desculpas – seria o gesto correto e educado a se ter, mas isso não aconteceu. Ela suspirou, porque Draco agora agia somente de um jeito infantil com ela e Hermione tinha apenas que aceitar e tentar não perder toda a sua mínima paciência, afinal, se era assim que ele lidava com tudo, quem era ela para dizer que era errado?

— Vai comer alguma coisa? – Hermione perguntou, empurrando o cardápio pela mesa até mais próximo dele.

— Comi em casa.

Hermione franziu o cenho.

— Eu te convidei para vir tomar café comigo e você comeu em outro lugar e me deixou aqui esperando?

Draco deu de ombros.

— Eu não queria acordar mais cedo.

Hermione revirou os olhos.

— Poderia ter avisado, Draco. Eu poderia ter comido em casa e não teria gastado todo esse dinheiro aqui.

Draco suspirou.

— Eu pago o seu café da manhã.

— Não precisa. Eu tenh...

— Eu faço qualquer coisa para você parar de reclamar sobre isso e ir direto ao assunto, então eu pago, Hermione. Agora pode ser direta? Tenho que ir para o Ministério em poucos minutos.

Hermione respirou fundo diante de tamanha falta de educação.

— Você está um poço de doçura hoje.

— Gostou? – ele deu um sorriso cínico – Agora, direto ao assunto, por favor?

— Certo. Preciso que fique com o Scorp pela próxima semana.

Draco apenas piscou.

— Está falando sério que me chamou aqui tão cedo apenas para pedir que eu fique com o meu filho durante a semana?

Nosso filho.

— Não existe nós, você deixou isso bem claro há oito meses, não se lembra?

— Não comece com isso agora, Draco...

— Não vou começar com nada. – ele levantou o olhar e segundos depois levantou a mão, fazendo um gesto para um garçom.

Enquanto o garçom se aproximava e anotava o pedido de Draco – apenas um chá preto com leite, o preferido dele – Hermione o observava. Ele parecia mais magro, o osso de sua mandíbula sobressaindo na curva próxima a orelha, os olhos tomados por olheiras intensas e a pele muito pálida, como se nem mesmo tivesse contato com o sol há meses.

Ela se preocupava com ele. Sempre iria se preocupar, afinal, ele era o pai de seu filho, mas tinha algo mais – Draco foi seu amor por tanto tempo. Ela nunca esperou por isso, nem ele, nem ninguém próximo a nenhum deles. Sempre foram opostos, inimigos por anos, durante e após Hogwarts. Até que um dia, na despedida de solteira de Gina, dois anos após o fim da guerra e da vitória do Menino que sobreviveu, Hermione finalmente bebeu tudo o que conseguia, até o limite possível de seu corpo – assim como todas as outras amigas, afinal, era um dia feliz, de comemoração - e quando acordou estava na cama de Draco Malfoy.

Ela não se lembra como aconteceu – a bebida exagerada faz isso com o cérebro -, apenas sabe o que Draco a contou: Gina e as outras amigas delas saíram do bar e deixaram para Hermione a obrigação de pagar a conta, já que havia sido ela quem havia organizado toda a despedida de solteira, o que fazia parte de seu trabalho como dama de honra. Hermione não estava em condições nem mesmo de abrir sua bolsa e Draco pagou para ela. Pelo que ela entendeu, ele esteve durante toda a noite no local, porque era um hábito dele passar as noites de sexta-feira naquele bar da comunidade bruxa inglesa. Estava indo embora quando viu o sofrimento de Hermione enquanto ela tentava se equilibrar no balcão ao mesmo tempo em que tentava abrir a sua bolsa e pegar alguns galeões.

Ele pagou para ela e quando Hermione o viu ela disse um “obrigada, Malfoy” de modo muito embolado e depois decidiu, por algum motivo desconhecido, dizer a ele que sempre o achou um insuportável mimado e preconceituoso e Draco apenas assentiu, porque sabia que ela tinha razão. Logo depois, ela disse que sempre o achou bonito, apesar de tudo e então Hermione decidiu - dizendo para si mesma, mas em alto e bom som e por isso Draco conseguiu escutar – que era uma boa noite para cometer um erro.

Então ela o beijou, sem mais nem menos. Quer dizer, ela tinha motivos para querer cometer um erro com outro homem e Draco foi o primeiro que apareceu na sua frente – Hermione e Rony tinham terminado o namoro de dois anos há poucas semanas e ela estava chateada. Havia sido a coisa certa, principalmente quando eles viram que tudo o que sentiam um pelo o outro era apenas amizade e que tudo não havia passado de uma confusão. De qualquer maneira, ela estava chateada naquele dia, porque Rony era a sua certeza de um relacionamento e de uma família futura, mas então se viu sem ele e... Sentiu-se perdida.

Por isso aquela noite se tornou uma boa noite para cometer um erro, já que ela se via sem perspectiva no quesito amoroso, então simplesmente decidiu beijar Draco Malfoy, do mesmo jeito que beijaria qualquer outro homem que tivesse feito o que ele fez ao aparecer na sua frente naquele momento. Mas com Draco foi diferente -  o beijo simplesmente pareceu... completo. Certo. E incrivelmente bom. Hermione disse que ele deveria levá-la para algum lugar e Draco perguntou algumas vezes se ela tinha certeza disso, afinal, ela parecia totalmente embriagada, mas Hermione apenas disse que estava suficientemente sã para consentir, o que foi suficiente.

Eles foram para a casa de Draco e, como Hermione disse a ele, ela estava suficientemente sã para consentir, porque ela se lembra de grande parte dos momentos em que eles estavam fazendo sexo. Se lembra dos beijos, do toque quente, do prazer formigando por seu corpo e escorrendo por suas pernas.

Ainda assim, foi um choque acordar em uma cama desconhecida, em um quarto jamais visto por ela, com uma dor de cabeça inenarrável e com um Draco Malfoy parcialmente nu deitado ao seu lado, dormindo tranquilamente.

Olhando para Draco ali, parado na sua frente, como se tudo ao seu redor estivesse desfocado, centralizando apenas na imagem dele, Hermione se lembrou do desespero que sentiu ao acordar naquela cama e entender o que havia feito e as proporções daquilo – eles sempre foram inimigos, nunca pregaram ideais semelhantes, sempre estiveram em lados opostos. Ele era o garoto que a havia chamado de sangue-ruim sem demonstrar nenhum pingo de remorso. O mesmo garoto rico e mimado que nunca deixou ela e seus amigos em paz durante os anos de Hogwarts. Ao mesmo tempo, era o mesmo garoto amedrontado que ela havia visto na Mansão Malfoy, ainda durante a guerra, e que não havia reconhecido Harry, dando a eles minutos essenciais para que conseguissem fugir das garras de Voldemort. O mesmo garoto que desde o final da guerra, após as notícias de que os Malfoy estavam ajudando o Ministério a capturarem outros Comensais da Morte e que haviam pagado uma multa por apoiarem Voldemort, havia sumido de vista, sem deixar rastro ou notícia nenhuma.

Mesmo assim, ela tinha certeza, naquele dia, que havia cometido o pior erro de sua vida, afinal, ela era Hermione Granger e ele era Draco Malfoy, e juntos eles eram a definição de opostos. Ela foi embora daquela casa sem fazer barulho, quase como um fantasma, e manteve o segredo daquela noite de todas as pessoas, até mesmo de seus melhores amigos, Harry e Rony, porque não tinha ideia de como eles reagiriam. Mentiu para Gina dizendo que havia ido para casa na noite anterior após pagar a conta do bar e jurou a si mesma que levaria esse segredo para o túmulo.

Bom, não funcionou. Dois meses e meio depois, ela descobriu que Draco Malfoy havia deixado uma parte de si com ela – algo que após nove meses veio a se chamar Scorpius Granger Malfoy, um garotinho lindo e irritantemente idêntico a Draco na aparência física, apesar de ser uma boa mistura dos pais quanto a personalidade, sendo a teimosia e a inteligência que tanto Draco quanto Hermione tinham se sobressaindo nos traços do garotinho.

Durante a gestação ela teve que contar tudo aos amigos – que ficaram surpresos e um pouco irritados com Hermione apenas por alguns minutos, antes de dizerem que a apoiariam em tudo – e teve que contar tudo a Draco também. Ele a surpreendeu de todas as formas possíveis: quando ela finalmente conseguiu encontrá-lo (ele realmente havia sumido do mapa e ela não se lembrava da localização da casa dele) e lhe deu a notícia, Draco ficou em completo choque por alguns longos minutos e então apenas disse:

— Bom, não é o ideal, mas estou dentro.

Hermione se surpreendeu de um jeito que pensou não ser possível. Continuou surpresa durante toda a gestação, ao ver Draco cumprindo sua palavra – ele havia passado os últimos dois anos pós-guerra morando em Southampton, uma cidade britânica afastada da capital britânica, em uma casa próxima a casa dos pais, como um esconderijo para os Malfoy após toda a falha do Lorde das Trevas, que levou embora a fama e o respeito da família. Após a notícia do bebê, Draco se mudou para Londres, conseguiu um emprego como auror no Ministério da Magia e passou a cuidar de Hermione como se ela fosse o bebê.

Eles brigaram por muito tempo por causa disso, mas, em certo momento, as discussões acabaram e um certo carinho foi nascendo entre eles, sendo nutrido cada dia mais pelo amor que ambos sentiam pela criança que estava crescendo no ventre de Hermione. Em certo momento, tal amor transbordou e cresceu entre eles, os dois grandes opostos.

Eles se apaixonaram. Hermione sentia tanta coisa por ele que nem mesmo sabia que era possível se sentir de tal maneira. Era um amor leve, tranquilo e sereno, com cumplicidade, carinho e admiração.

Ela admirava a força dele por ter passado por cima de toda a chantagem que sofria em seu ambiente familiar durante e após a guerra e ter passado a acreditar em novos e corretos ideais, apesar de isso ter significado um afastamento quase completo dos próprios pais. Ele admirava a inteligência dela, como Hermione sempre lutava pelo que era certo e como defendia seus amigos sempre, sem se importar com as futuras consequências.

Eles se tornaram o brilho um do outro, a escuridão em meio a luz. Para Hermione, Draco se tornou sua aventura mais linda. Para Draco, ela se tornou sua salvação.

Se apaixonaram enquanto Scorpius crescia, continuaram se amando enquanto criavam ele juntos, embaixo do mesmo teto, acordando e observando como o sol iluminava ainda mais o outro. Até oito meses atrás – quando o divórcio chegou como uma nevasca repentina.

— É só isso? – Draco perguntou, arqueando as duas sobrancelhas loiras, impaciente e tirando Hermione de seu devaneio.

— Ah... Não, não é. Eu... Como você está, Draco?

Draco não falou nada diante da pergunta, passou apenas alguns segundos a encarando e Hermione retribuiu o olhar. Conhecia aquele par de olhos cinzas melhor do que tudo e conseguia ver que ele ainda estava magoado, quebrado. Ela sabia disso não apenas por conhecer muito de Draco, mas porque também se sentia assim.

— Isso importa para você? – ele perguntou, por fim.  

Hermione suspirou, cansada.

— Pare de ficar tão na defensiva, Draco...

O garçom chegou com o chá de Draco, colocou a xícara sobre a mesa na frente dele e então pediu licença, se afastando da mesa. Draco continuou com os olhos em Hermione por mais alguns instantes, sem se importar com o seu chá.

— Isso importa para você? – ele perguntou novamente.

— É claro que importa.

— Por quê?

— Draco, por mais que você não entenda e me odeie agora, eu ainda amo vo...

— Não diga isso.  – ele a cortou – Não diga isso quando você sabe que não é verdade.

— Draco...

— Seja direta, Hermione. Isso tudo se tornou tortura. – ele suspirou, cansado, e deu um gole no chá.

Hermione franziu o cenho.

— Se tornou tortura me ver? Falar comigo?

Draco deixou a xícara sobre o pires e encarou Hermione.

— Sim. É uma tortura ver você e saber que você não quer mais estar comigo. Satisfeita? É isso que você queria ouvir?

Hermione deu um longo suspiro, sabendo que Draco não tinha ideia do quanto aquela frase a magoava – ele simplesmente a via como um monstro agora, havia criado essa imagem de Hermione e parecia não querer esquecê-la. Ela tinha certeza de que, se Scorpius não existisse, Draco nunca mais olharia para ela e a evitaria de todos os modos possíveis.

Draco simplesmente não entendia. Ele não entendia que havia chegado um momento em que o amor entre eles simplesmente não foi mais suficiente para manter um casamento. Não havia mais diálogo, as provocações retornaram, como duas crianças birrentas e não dois adultos responsáveis. Eles mal se viam devido ao trabalho de Draco no Ministério e o de Hermione no St. Mungus - Draco sempre chegava mais tarde do que ela e tinha tempo apenas para ver o filho, comer e ir dormir devido ao cansaço.

Eles mal se olhavam e mal se tocavam. Não havia mais o esforço para manter um relacionamento. Foi tudo se desgastando. Então, em uma terça-feira a noite, depois de Hermione ter jantado sozinha outra vez, enquanto ela esperava Draco terminar de colocar Scorpius na cama, ela se deu conta de tudo – eles não eram mais companheiros, pareciam duas pessoas desconhecidas que dividiam uma casa. Ela se sentia sozinha naquela casa e naquela relação. Não havia mais propósito em manter o relacionamento.

É claro que havia amor. Hermione tinha certeza de que nunca amaria alguém como amava Draco que, além de ter lhe dado o maior presente de sua vida que era o seu filho, foi uma pessoa que moveu mares e terras por ela, que foi contra todas as condições para tê-la ao seu lado. Ela fez tudo isso por ele também, mas em algum momento ao longo dos anos eles entraram na comodidade, em um limbo nada agradável.

Ela nem mesmo sentia mais a felicidade genuína que Draco a causava – sentia-se apenas normal, quase indiferente. Draco não merecia isso, não merecia estar ao lado de uma pessoa que não se sentia bem mais naquele relacionamento. Então, naquela terça-feira, quando Draco voltou do quarto de Scorpius, Hermione apenas o chamou, olhou para aquele par de olhos cinzas pertencentes a alguém que ela seria para sempre apaixonada e disse as palavras, as malditas palavras:

— Eu quero o divórcio.

Até hoje ela se lembra do olhar de Draco. De como todo o local se tornou gelado, de como o silêncio se tornou sufocante. Ele não disse nada por longos minutos e então simplesmente foi para a cozinha e a deixou sozinha, sem resposta, sem diálogo.

Os dias seguintes foram o oposto disso – ouve discussões e brigas além do normal. Scorpius passou muitos dias seguidos na casa dos avós maternos, porque quando os pais estavam em casa eram gritos e incompreensão. Draco não entendia por que, sabia que a amava e sabia que ela o amava, não via o propósito em se separarem. Hermione tentava mostrar que não existia mais uma relação entre eles, que haviam deixado de serem companheiros, tentava mostrar que infelizmente o amor não era mais suficiente – em muitas das vezes não é. Em alguns casos se torna um obstáculo, uma justificativa para permanecer em algo que não existe mais.

Ela saiu de casa, voltou para a casa dos pais e ficou lá com Scorpius, que via o pai em finais de semana, até o divórcio ser finalizado há oito meses. Draco evitava vê-la, era sempre a mãe de Hermione que lhe entregava Scorpius e em questões de minutos ele ia embora, deixando óbvio que não queria estar ali, que não se sentia confortável ou feliz com toda a situação.

Assinaram o divórcio em dias separados, cada um em sua casa. Draco viajou com Scorpius por três meses para a Escócia enquanto Hermione procurava por casas, encontrando uma pequena, com apenas dois quartos, no subúrbio de Londres, próximo a casa dos pais e da casa de Harry e Gina. Desde então eles passaram a se ver ocasionalmente nos momentos em que Draco buscava o filho para os finais de semana, mas aqui, nesse restaurante e nessa tensão, era a primeira vez que Draco aceitava se sentar e conversar com Hermione.

Partes de Hermione nem mesmo sabiam como agir, o que era engraçado, afinal eles eram um casal, atingiram níveis altos de intimidade. Mas não era mais a mesma coisa, porque agora Hermione conseguia ainda ver a raiva e a mágoa dele e isso a deixava triste de uma maneira sem precedentes.

Foi assim que se sentiu nos últimos oito meses – sabia que tinha tomado a decisão certa, mas também sabia que nunca iria conseguir se desfazer do amor que ela sentia por Draco.

Foi por isso que havia chamado ele aqui, porque havia tomado uma decisão para conseguir mudar sua vida, sair do limbo que ela havia se tornado. Não sabia como Draco iria reagir, mas sabia que não seria nada bom; até mesmo se arrependeu de ter decidido realizar essa conversa em público.

— Não quero entrar nessa conversa de novo, Draco. – Hermione falou – Já falamos sobre isso tantas vezes e não faz bem para nenhum de nós dois.

— Sabe, Hermione, o divórcio não foi a pior coisa que você fez comigo. – Draco falou, cruzando os braços, a irritação na voz palpável – A pior coisa que você fez foi porque você nem mesmo quis tentar. Você não nos deu outra chance.

— O que iria mudar, Draco? Nós já estávamos perdidos!

— Poderíamos ter achado um jeito! – ele aumentou o tom de voz e atraiu olhares de outros clientes, então pigarreou e voltou a um tom de voz aceitável – Você nunca me pareceu o tipo de pessoa que desistia fácil das coisas.

— Eu não sou, mas não me mantenho em desafios sem nenhuma perspectiva de realização.

Draco assentiu levemente.

— Então não havia perspectivas para nós?

Hermione suspirou, sentindo a boca seca e uma leve vontade de chorar.

— Eu amo você, Draco. Sempre vou te amar. Mas nós não fomos feitos para ficar juntos. Simplesmente não dava mais.

— Porque você decidiu que não dava mais. Eu só não tive escolha.

— E você acha que eu fiz a coisa errada?

— Em nem mesmo me dar uma escolha? Em ser tão teimosa e se achar a dona da razão que nem mesmo considerou a possibilidade de tentar outra vez? Sim, eu acho, Hermione.

Hermione ficou sem palavras. Não queria entrar naquele assunto, mas sabia que seria inevitável, ainda mais ao ver Draco e ver o sofrimento dele.

Ela não havia tomado a decisão errada. Ela havia pensado muito naquilo, havia tentado mudar, mas não havia mais espaço para aquilo em uma relação já fadada ao fracasso. Draco e Hermione nunca foram feitos para se darem bem, nunca foram feitos para permanecerem juntos – são opostos e sempre serão.

Hermione cortou o olhar com Draco, piscando várias vezes para afastar as lágrimas que se formavam em seus olhos castanhos, e voltando a se focar no assunto que havia vindo conversar com ele ao invés de reviver memórias passadas.

Como se seu cérebro não a obedecesse, Hermione foi tomada pela lembrança do primeiro beijo que eles trocaram – o beijo em que já havia sentimento e que ela estava completamente sóbria – em uma tarde no St. James’s Park, depois de fazerem compras para o enxoval de Scorpius, enquanto Hermione descansava - ela de repente se pegou olhando para Draco, com um sentimento tão grande de gratidão em seu peito por não estar passando por toda a turbulência de emoções e sentimentos que somente uma gravidez causa e sem nem mesmo pensar ele a beijou. A surpresa de Hermione foi grande, mas ela estava pensando em fazer a mesma coisa quando Draco agiu mais rápido, então apenas retribuiu.

A lembrança lhe causou mais dor e mais vontade de chorar, mas Hermione apenas voltou a olhar para Draco, que mantinha os olhos focados na xícara de café, e pigarreou, querendo voltar ao assunto principal.

— Eu te chamei aqui, Draco, porque queria ser a primeira a te contar que eu fui transferida do St. Mungus. – ela disse.

Draco levantou o rosto para ela, o cenho franzido, sem entender.

— Eu vou me mudar. Eu e Scorpius, é o que quero dizer. Vou para os Estados Unidos.

Draco não respondeu nada. Por vários minutos ele não disse uma palavra, parecia nem mesmo ter entendido. Por fim ele franziu o cenho ainda mais e seu rosto começou a ficar vermelho.

— Você não vai levar meu filho para outro país. Para outro continente! Você não vai fazer isso!

— Draco, nada vai mudar. Você passa os finais de semana com ele, mas sabe que pelo o que foi definido sobre a guarda de Scorpius quando nos separamos podemos aumentar esse tempo para semanas ou, quem sabe, até um mês. Só não fizemos isso ainda porque você não tinha com quem deixar Scorpius durante o trabalho e eu tenho meus pais, mas sabe que podemos mudar isso, não tem problema.

— É claro que podemos, porque é muito fácil eu trazer Scorpius para cá sendo que nem posso aparatar ou voar com uma criança de três anos! Que droga, Hermione! Por que você não vai sozinha?

— Não vou deixar meu filho aqui!

— E eu tenho que aceitar que meu filho vai para outro continente?! Nem tudo é do jeito que você quer!

— Draco, eu não vou deixá-lo aqui. Você tem dinheiro, pode alugar alguma coisa lá para quando for visitá-lo.

Draco deu uma risada irônica.

— Eu não vou fazer isso. Não vou aceitar tudo o que você quer dessa vez. Não vou deixar você acabar com a minha vida dessa vez.

— Eu não acabei com a sua vida!

— Tem certeza? Você era a coisa boa, o presente da minha vida e não aguentou ficar comigo e não quis me dar uma segunda chance. Você foi embora. Agora quer levar a coisa que eu mais amo para longe de mim? Você está acabando com a minha vida!

— Draco, não estou tirando Scorpius de você, mas eu vou me mudar e vou levar meu filho comigo, mas jamais vou te impedir de vê-lo, porque sei como você é um bom pai e como ele te ama e precisa de você. Podemos arranjar um jeito, podemos...

— Não podemos nada. – Draco ficou de pé e pegou o seu sobretudo – Não vou perder Scorpius, porque já perdi você. Não vou deixar você tirar meu filho de mim. Ele não vai.

— Ele vai! – ela ficou de pé também, os olhares trocando faíscas.

— Vamos ver. Espere uma carta do meu advogado.

Dito isso, Draco saiu andando como uma tempestade, emanando raiva e logo saiu do restaurante.

Hermione olhou ao redor, notou os olhares dos outros clientes e de alguns funcionários sobre si devido a pequena cena que ela e Draco protagonizaram ali e se sentiu envergonhada, então voltou a se sentar, totalmente frustrada.

E triste. Sentia-se triste. Era horrível ver o que havia causado a ele, horrível ver como Draco havia voltado a sentir tanta raiva dela outra vez. Ver uma relação de ódio se tornar amor era fenomenal, mas presenciá-la retornando ao ódio era...devastador.

— Posso lhe trazer mais alguma coisa? – o garçom apareceu, olhando com cautela e curiosidade para Hermione.

— Um chá, por favor.

O garçom assentiu e saiu de perto da mesa, deixando Hermione sozinha novamente com os olhos castanhos observando a rua do lado de fora, em que a chuva já havia engrossado.

Ela sabia agora que outra batalha judicial começaria. Enfrentaria a pessoa que mais amou por conta do maior amor deles, porque agora eles simplesmente não sabiam mais conversar um com outro - a raiva e a mágoa já haviam se sobressaído.

Para Hermione agora era óbvio – nem sempre o amor era suficiente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado!

e sim, infelizmente nem sempre o amor é suficiente :(



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Love Songs" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.