Junto com o resto escrita por Biazitha


Capítulo 1
No dia 01


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Depois de anos, voltei às raizes. DaeJae merece, sinceramente.
Tive essa ideia após assistir um TikTok sobre aqueles “histórias de terror em duas sentenças”, então desenvolvi tudo com base nele. Os melhores plots estão naquele lugar jkjkkkkk
https://vm.tiktok.com/wC2Xs1/

A fanfic será narrada em 3ª pessoa, mas o foco maior está no Daehyun. Esse menino sofre, gente...
Era uma oneshot e agora virou uma shortfic com 10 capítulos. Quero dar um final bem positivo e bonito para a fanfic, então bora.

Agradeço imensamente à @vks pela capa divina e maravilhosa. AMEI FORTE


Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791889/chapter/1

Holofotes de todas as cores iluminavam a pista de dança onde não dava para encaixar outro ser humano tamanho emaranhado de corpos suados. Mãos para o alto com copos de conteúdo questionável eram a visão máxima para as pessoas que estavam em um nível mais baixo que o do centro da boate; a música não fazia sentido nenhum aos ouvidos — uma sequência de batidas potentes que chegavam a tremer o coração — e era quase impossível acompanhar seu ritmo frenético. O cheiro de bebida alcoólica, perfumes enjoativos e cigarros estava impregnado em cada canto daquele lugar. E mesmo com tantos pontos aparentemente negativos as pessoas pareciam não se incomodar; dançavam e aproveitavam o momento como se o mundo fosse explodir dali algumas horas.

Com um suspiro de satisfação, o homem esperou sentado em um dos bancos giratórios o barman aparecer com o seu drink. Após tomar um longo gole da bebida amarga e colorida, Jung Daehyun sentiu a cabeça esquentar com o acúmulo de álcool em seu sangue. Segurou o cabelo escuro e emaranhado entre os dedos, sorrindo minimamente com a sensação inebriante. 

— Você está fodido. — Jongup apareceu ao seu lado fedendo a vômito e suor, e aproveitando da liberdade que a amizade de anos lhe oferecia roubou um gole do copo do outro. 

— Obrigado, igualmente. — Respondeu por cima da música, indicando com a mão como a roupa do outro estava em um estado muito diferente de como haviam começado a noite; a de Daehyun não ficava atrás. Se por acaso seus pais tivessem um vislumbre de como estavam, com certeza gritariam sobre como aquela postura era degradante para a sua linhagem. A imprensa parecia discordar do pensamento rígido, noticiando de forma descontraída todos os momentos de diversão e algazarra que faziam; molhar a mão dos jornalistas era sempre crucial para uma boa imagem pública. 

Moon Jongup, assim como o amigo, vinha de uma família abastada da Coreia do Sul. Filhos de Deputados Estaduais e seguindo carreira de Secretários da Segurança e da Justiça na Prefeitura de Incheon, não haviam trabalhado sério um dia sequer em seus 25 anos de vida. Suas responsabilidades eram meramente figurativas — assinavam papéis e planilhas apenas se tivessem vontade — e quando resolviam aparecer em suas salas panorâmicas no penúltimo andar era só para lembrar a todos que ainda existiam. Eles gostavam de se iludir achando que controlavam uma pequena parcela de funcionários, a emoção de berrar e exigir balanços dos subordinados era poderosa. Gostavam dos olhares assustados e das lágrimas desesperadas, queriam deixar bem claro que mesmo aparecendo três vezes na semana na Prefeitura e fazendo pouco pelo cargo que exigia muito, ainda sim seriam sempre mais relevantes do que o resto.

E exatamente por sentirem essa necessidade tão grande de se diferenciar dos outros haviam organizado aquela festa de despedida. Bom, pagaram para que alguém organizasse, mas o mérito continuava sendo todo deles. As estrelas da boate frenética de Hongdae naquela noite eram os dois. 

No dia seguinte, às dez da manhã, as famílias Jung e Moon partiriam em uma das gigantes naves para o planeta prometido. Lá, outro futuro os aguardava juntamente com outras famílias tão ricas e influentes quanto eles. 

— Estamos esperando por esse momento há dois anos, eu só saio daqui carregado. — Daehyun fez questão de informar com um sorriso, empurrando o amigo cambaleante e se jogando de volta no mar de pessoas. 

A cortina pesada movimentou-se no horário programado, deixando com que a luz do sol entrasse na suíte e o barulho rotineiro do trânsito de Incheon funcionasse como um despertador natural. Diferente dos outros dias, Daehyun não ouviu a esteira ergométrica da avó funcionando escandalosamente, muito menos a caixa de som da sua mãe no volume máximo enquanto dançava na academia. Agradeceu pelo silêncio incomum na mansão, porque a sua cabeça martelava com a ressaca cruel que lhe acometia. 

Abriu um dos olhos com grande esforço e puxou uma grande quantidade de ar, arrependendo-se; usava a mesma roupa do dia anterior e o cheiro que exalava deixou-o mais enjoado do que já estava. Jogando a coberta para o lado, sentou devagar na cama e esfregou o rosto. Demorou um tempo para se localizar no ambiente e, quando finalmente conseguiu encontrar o seu ponto de equilíbrio, notou que algo não estava certo. 

— Puta merda, que horas são? — Gritou com o vazio, desconectando o celular do carregador e chacoalhando-o com força para que a tela acendesse. 

09h34min.

O horror que sentiu foi tão grande que precisou sair cambaleante até o banheiro, colocando para fora toda a mistura alcoólica e amarga que deixava-o pior. Depois de escovar os dentes com rapidez e passar as mãos úmidas no cabelo, correu para fora da suíte procurando por alguém. Atravessou o extenso corredor vazio com todas as portas abertas e quartos arrumados. Chamava pelos nomes dos pais, avós e tias, mas sem resposta. 

Quando desceu para a parte térrea encontrou duas cozinheiras sem o costumeiro uniforme branco paradas na sala de jantar, conversando e rindo. Assim que Daehyun entrou no cômodo elas o olharam como se ele fosse uma assombração, e calaram-se. 

— Onde está a minha família? — O tom de voz era rouco, contudo urgente. 

— Senhor Jung, não sabíamos que voltaria. — A mais velha fez uma reverência rápida, afastando-se da presença do homem até estar encostada rente a parede. Como a família não mais moraria na Terra, as duas haviam sido despedidas juntamente com os outros empregados naquela manhã, no entanto os hábitos e o receio não iriam embora tão de repente. Tantos anos trabalhando ali, seguindo listas diárias enormes de tarefas e cobranças pesadas de boa conduta, criaram um ambiente hostil para os empregados. A avó de Daehyun exigia que só falassem quando eram solicitadas respostas. 

— Claro que eu voltaria para casa, avisei a todos que partiria com eles pela manhã, apesar da festa. Por que ninguém me chamou? — Ele tentou de novo, dando dois largos passos até a outra mulher também encostar na parede. Não tinha tempo para as regras de postura delas, precisava de respostas!

— Eu liguei na casa dos Moon, como sua mãe pediu. O senhor Jongup informou a todos que vocês estavam juntos na residência e partiriam para a Estação no carro dele.  

— Juntos? — O raciocínio do homem estava lento, meio atrapalhado com a ressaca e o nervosismo. Ele movimentou os braços para o alto, urrando de frustração. — Não estávamos juntos, eu voltei para cá enquanto o dia amanhecia!

As explosões de emoção na mansão não eram corriqueiras. Prezando pela bom convivência e por uma imagem equilibrada para quem os visse, poucos haviam sido as discussões feias ali dentro; não passavam de portas batendo com um pouco mais de força e suspiros altos. De tal modo, as duas mulheres soluçaram em uníssono, desconfortáveis com o que presenciavam. 

— Eu estou aqui, não estou? — Daehyun parecia descontrolado tentando encontrar sentido na situação. Elas assentiram com a cabeça, sem olhá-lo diretamente. — Então, por que Jongup disse que eu estava lá? 

— E-Eu não sei. 

Ele não podia enrolar mais, as dez horas estavam se aproximando e precisava estar dentro daquela nave o quanto antes. Contava com o cenário de que sua família estava dando um jeito de segurar o piloto por mais alguns minutos; eram respeitados e influentes, só precisava aparecer lá e tudo ficaria bem novamente.

E, depois, Daehyun faria questão de socar a cara de Jongup até a brincadeira de mau gosto perder a graça. 

— Entrada proibida, senhor Secretário.

Com uma mão em seu peito, o soldado corpulento empurrou-o para trás. As portas principais da Estação Espacial estavam fechadas, os vidros escuros não deixavam que nada pudesse ser visto do lado de fora. As colunas gigantes de concreto sustentavam não apenas os quarenta andares de pesquisa e desenvolvimento, como também acolhiam em segurança militar a grande nave que garantia um futuro melhor fora da Terra. Depois de tantos lançamentos a cada mês, a população não mais se importava em acampar ali na frente para acompanhar outros seres humanos serem transportados para longe dali; a injustiça da situação impedia que encontrassem mais admiração na situação. 

— Como é? — A voz cansada e sem fôlego de Daehyun esforçou-se para sair, perdendo cada vez mais o vigor conforme suas possibilidades positivas iam diminuindo. 

A distância de Incheon até Seul não passava de 25 minutos, por que não poderia entrar? 

— Apenas pessoal autorizado, senhor Secretário. Sinto muito. 

O corpo do Jung vacilou por um instante, as pernas amoleceram e precisou se segurar no ombro de um dos soldados. Nunca havia passado por tanto estresse em sua vida, porém ele era Jung Daehyun e entraria naquela nave por bem ou por mal. 

Recompondo-se com uma carranca enfezada, puxou a passagem do bolso da calça e chacoalhou na frente dos militares. Após aquela revelação, se olharam por um momento e um deles chamou por alguém no rádio. De braços cruzados e tentando recuperar o equilíbrio interior, o homem aguardou até que as portas se abrissem para ele entrar. 

E, de fato, as portas abriram em um estrondo seco de metal esbarrando no concreto. 

Mas fecharam em seguida atrás da mulher baixinha. 

— Qual é o problema? — Ela indagou aos dois parados como estátuas de mármore ao seu lado, ignorando a terceira pessoa ali; a mais importante dentre todos os presentes.

— Ele tem a passagem, senhora. 

— E...? — Incentivou uma continuação, arqueando as sobrancelhas ruivas em cima dos olhos verdes. O sotaque carregado reforçava o óbvio: não era da Coreia. Talvez esse fosse um dos motivos para que não estivesse reconhecendo a cara de Daehyun que saía estampada quase mensalmente nas revistas virtuais, nos boletins diários e em páginas de fofocas na internet. Podia não ser ativo em seu trabalho na Prefeitura, contudo sabia entreter a imprensa como ninguém.

— Boa tarde, preciso entrar na próxima nave o quanto antes. — Tentou sorrir, atraindo a atenção da mulher para si. Aprendeu desde criança que a dissimulação pavimentava os melhores caminhos, e usar nas pessoas certas garantia-lhe regalias inimagináveis. 

— Isso não será possível. As instruções não poderiam ser mais claras: atrasos não são tolerados. — Apontou para a passagem amassada entre os dedos esbranquiçados do homem. Em seguida, olhou para o relógio em seu pulso e constatou: — E o senhor excedeu o limite em vinte minutos.

A faceta calma enganadora do Jung evaporou por seus poros como água fervendo, caindo aos poucos em uma boca retorcida e orelhas vermelhas. Não estava em condições de segurar a falsidade interesseira por muito tempo. 

— Aconteceu um imprevisto na Prefeitura, eu não posso deixar a minha cidade desorganizada. — Mentiu. — Minha família já entrou, estão me esperando. 

— Não abrimos exceções.

— O lançamento só acontecerá daqui a quarenta minutos, ainda há tempo.

— Senhor, não abrimos exceções. — Ela repetiu enfática, levando as mãos finas e adornadas com grandes anéis até a cintura e repousando-as ali. 

— Mas vocês não podem proibir alguém como eu. 

— E quem é o senhor? 

— Eu sou o Secretário da Justiça de Incheon e filho do Deputado Estadual Jung Jiyoung, exijo que me deixe entrar nessa nave. — Explodiu de vez. Ele não conseguia engolir a saliva tamanho o desespero que fazia a garganta secar. Só de pensar que os seus pais, avós, tias e amigos estavam dentro daquela maldita nave, e ele não. 

Sua família não hesitou em deixá-lo para trás. Não deveriam ter dado um jeito? Cancelado suas passagens e esperado o novo lançamento? Por que seu pai não subornou o piloto? Por que sua mãe não conversou com os soldados? 

— Prazer, sou a Agente-Chefe da Estação e cuido do embarque dos passageiros. Nós não temos previsão de quando a nova varredura acontecerá, mas o senhor será informado.

Não! Ele não podia esperar mais meses, ou talvez anos, até que todo o processo tivesse início de novo. Não tinha como ficar para trás quando era tão importante na alta sociedade. 

— Eu já falei que não ficarei mais um minuto na Terra. Estou com a passagem em mãos e exijo que me levem! 

Jogou trêmulo o pedaço de papel que garantia a sua liberdade, vendo-o rolar pelo chão sujo. A passagem dourada brilhou sob a luz do sol ardente, parecendo totalmente sem valor. Sentiu os olhos de desprezo da mulher avaliarem a sua camisa vermelha e a calça escura — ainda da noite anterior — sujas e fedidas com mais atenção, depois sorriu de uma forma não-natural e virou as costas. 

— Nós devolveremos o dinheiro assim que possível. 

— Mas eu exijo... — Ele berrou enquanto tentava segui-la para dentro, sendo barrado mais uma vez por mãos fortes em seu peito. Viu enfraquecido as portas se abrirem com o barulho seco e depois fecharem. Balbuciava frases repetidas de ameaças vazias, tentando convencer alguém. Não convencia nem a si mesmo. 

— Senhor Secretário, o senhor não está mais no direito de exigir nada. Por favor, volte para o seu carro.

Os soldados seguraram-no pelos braços, empurrando o corpo esguio para se afastar da Estação. Não tinha mais forças para resistir, de qualquer forma. 

Daehyun, pela primeira vez, foi barrado de um lugar e tratado como se não fosse ninguém. 

O dia quente foi substituído por uma tarde fria e apática, com uma lua crescente deprimente começando a fazer a sua aparição no céu amarelado. Sentado na cama bagunçada e no mais completo silêncio, Daehyun reavaliava os últimos acontecimentos. O celular caído embaixo da cama, totalmente sem utilidade depois de tantas ligações fracassadas que tentou fazer; ninguém se importava com ele e se havia ficado para trás, nem mesmo seus pais atendiam suas chamadas. A nova perspectiva de sua vida iluminou partes obscuras de tudo o que ele achava ser real e não era. 

Da grande janela da suíte aberta escutava os alarmes insuportáveis da Estação anunciando para toda a Coreia do Sul que a última nave rumo ao planeta Orisim estava saindo da estratosfera aos poucos. 

E ele ainda estava ali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Disponível em https://www.spiritfanfiction.com/historia/junto-com-o-resto-19595257/

Os capítulos não serão muito longos.
Muito obrigada a quem leu até aqui e me deu apoio para voltar a escrever com B.A.P!
@Daegresco te amo muito, obrigada por sempre me apoiar DaeJae quem nos uniu anos atrás, amém


Blog cheiroso onde pedi a capa: http://weeklyworks-ww.blogspot.com



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Junto com o resto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.