Se os anos até o quarto tinha sido relativamente tranquilo, tudo começava a mudar.

Eu não estava entendendo quais eram meus problemas porque a garota do all star azul parecia disposta a discursar cada um dos meus inúmeros defeitos que eu nem sabia que eu possuía.

Nós estávamos sentados de costas um para o outro e ela bufava tão alto que podia sentir seus cabelos me cutucando.

— Você não entende. – eu fiquei em silêncio, não entendia muitas coisas. – Eles não podem fazer isso!

Eu concordei com a cabeça esquecendo que ela não podia ver meu gesto encorajador.

— Fale alguma coisa! – Ela disse começando a ficar irritada novamente. – Não fique ai balançando sua cabeça loira para mim.

— Como sabe que eu estava balançando a cabeça? – questionei impressionado.

Ficamos de frente e me lembro do revirar de olhos, dá boca espremida. E por fim do suspiro cansado.

— Você sempre balança a cabeça concordando comigo. – Ela diz voltando a ficar de costas para mim.

— Só quando acredito que está certa.

Ela ri e eu podia sentir seu corpo balançando.

— Eu estou sempre certa.

Dessa vez é minha vez de sorrir. Não sou dado a rompantes de alegria, nunca fui. Mas com aquela garota tão intensa eu acabei me acostumando a sorrir mais do que pretendia.

Continuamos juntos. Uma costa contra a outra.

— Eu só queria que tocassem nossa música trouxa. – Ela falou deitando a cabeça em meu ombro.

— Nem sei se vou a esse baile. – Falei a verdade, porque achava algo que nem gostaria de fazer.

Senti se corpo se levantando e antes que conseguisse dar por mim. Lá estava ela. Em minha frente com os enormes olhos azuis. Me encarando perto demais.

— Como assim? – Sua boca parecia tão vermelha. Seu nariz coberto de sardas e os cílios tão grandes.

Consigo ainda hoje me lembrar daquele momento. Eu engolindo seco e quase engasgando perdido em seu rosto.

— Qual o problema?

— Achei que íamos juntos. – ela falou se afastando. – Você nunca entende nada.

Eu não entendi. Não entendia a loucura do castelo com um baile. Não entendia porque a garota do tênis azul estava indo embora tão cabisbaixa. Não entendia porque não estava gritando comigo. Então eu corri atrás dela.

— Pede para seu irmão aquele artefato trouxa. – Falei colocando as mãos nos bolsos. – Não precisam tocar a música. Levamos a nossa.

Seu sorriso se abriu imediatamente. Pulou ao meu lado e saiu dançando em minha frente.

Parecia a mesma menina saltitando até o chapéu seletor. E eu apenas me permitir admirar os passos que all star azul traçava no chão do castelo.