Killing Christimas escrita por Unknown


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Oioiii, aqui vai o especial de natal do ano de 2018, postado no Spirit ♥

Dessa vez, com novidade!! Consegui entrar no projeto papel e lapis, o que significa que eu tive toda uma equipe: uma capista maravilhosa, coordenadoras me ajudando, uma beta apaixonante e um parceiro incrível.

Obrigada especialmente a Brenda e Ana por toda a paciência hehe vocês são otimas ♡♡

Enfim, espero que gostem. Logo logo sai a parte 2!



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Neve estava entrando pela janela aberta.

 

Nico gosta da sensação, da textura que os flocos brancos tinham. É a única coisa dessa época do ano que ele não repudia. É diferente com os pinheiros enfeitados, as imagens de Santa Claus, com as músicas estúpidas e com os presentes excessivos. Ele odeia tudo. Odeia mais que tudo.

Nico olha discretamente para a sua irmã na poltrona. Ambos estavam na sala. Ele sabe que ela, assim como si próprio, também odeia tudo sobre o Natal. Porém, são tipos distintos de ódio: o mais quieto, mais conformado e melancólico pertence à irmã. É um ódio que não arde e queima como o dele.

“Quantas vezes vou precisar pedir para você fechar essa janela, Nicolas?”

Seu tom é calmo.

“Eu gosto da neve.”

“Vai ficar resfriado.”

“Ótimo.”

“Eu posso ficar resfriada também! Aqui está congelando, merda.”

Nico suspira pesadamente e fecha a janela com força, um pouco enraivecido, voltando para o sofá imediatamente.

Ainda que não tenha ceia nem presentes nem sequer um pisca-pisca na janela, virou meio que uma tradição deles nos últimos anos sofrer juntos nessa data. Geralmente ficam assim, largados no sofá, cada um se entretendo à sua maneira para não desperdiçarem mais lágrimas jovens. De alguma forma, ter alguém para carregar a dor junto, torna-a mais suportável.

Com o silêncio, Nico sente seu peito pesando. De repente, ele é a pessoa mais triste do mundo. De repente, ele quer chorar.

Bianca percebe e levanta da poltrona, sem esperar por mais, deixando um livro para trás. Seu olhar é cheio de amor e compaixão.

Lembra muito os olhos de sua mãe, o que faz Nico finalmente desabar em choro.

Sem falar absolutamente nada, Bianca junta o edredom do chão e envolve seu irmãozinho nele. O menino tem quase dezenove anos, mas agora não parece ter mais que oito. Ele se encolhe todo e aceita os afagos da irmã mais velha. Bianca sorri dócil e cantarola alguma coisa. Tudo bem, é sempre assim. É sempre assim.

“Espere um pouco!”, ela levanta do sofá e lhe entrega uma piscadela confiante.

Esse fingimento todo, essa é a parte dela que lembra Nico do seu pai.

Após pouquíssimos momentos, volta para a sala a garota usando seu pijama cinza largo, o violão numa mão e uma xícara de leite quente na outra.

“Que tal uma música bem triste pra gente ficar o mais triste possível e depois morrer de comer bolo?”

Nico assente, quase que sorrindo. Bianca não toca para ele faz muito, muito tempo, e a música soa estranha por aquele apartamento, como se não tivesse lugar para ela. A música parecia ser um elemento vivo demais para fazer companhia a eles.

Ao mesmo tempo em que a melodia vai se encaixando nas frestas aos poucos, Nico vai se encolhendo dentro de si, num sofrimento tão particular que nem mesmo sua irmã pôde entender. O sofrimento mais interno de Nico di Angelo.

Ele quer fazer com que pare, mas não consegue porque com a música, com o leite e com o cobertor, não tem como fazer parar. A dor vai ninando-o calmamente, fazendo-o se perder numa lembrança, num som. Ele está sendo guiado para um lugar para onde sempre vai nessa data do ano.

E quando finalmente chega, a memória voa nele como vômito. De repente e impiedosamente, vem como um cadáver furioso, agarrando-se em seus tornozelos, arranhando a carne de suas pernas.

Então, é Natal, embora fosse dez anos antes.

Está chovendo lá fora. Nesse Natal não irá nevar. Mas tudo bem, Nico não precisa da neve para ficar feliz. Ele tem Bianca, sua irmã mais velha, que toca violão e canta na frente da lareira. Ele tem Hades, o seu pai, com quem arruma os presentes debaixo da árvore brilhante. E ele tem Maria, a sua mãe, que arruma os últimos detalhes da ceia em cima da mesa.

Está tudo perfeito, tudo bastante alegre. Seu pequeno mundinho resumido a três pessoas que o amam muito.

“Vamos comer?”, chama Maria. “Em poucos minutos será meia-noite.”

Hades sorri para Nico, confidente.

“Estou morrendo de fome, e você, campeão?”

“Eu também!”

Bianca larga o violão sobre as almofadas e levanta. Todo mundo vai para a mesa, se organiza e senta. A mesa é quadrada, os adultos estão de frente para os filhos. E assim eles oram, pedindo a Deus, ou qualquer um que esteja escutando, por mais um ano feliz e próspero — e, principalmente, agradecendo por tudo (pelo sacrifício na cruz e tal). Nico sempre acha essa parte engraçadinha, pois todo mundo sabe que, na verdade, o Natal existe por causa do Papai Noel, que entrega presente pelos correios e que ele só continua existindo porque o espírito natalino está vagando pelo mundo.

“Antes de comer, eu e o seu pai queremos dizer uma coisa pra vocês”, anuncia a mãe.

O casal se entreolha, hesitante e preocupado.

“O que foi?” Bianca pergunta, de repente, preocupada também.

Hades respira fundo. O olhar sério, as feições graves.

“Crianças, eu…”, e, repentinamente, um sorriso enorme floresceu em seu rosto. “Eu fui promovido a CEO da empresa!”

Nico não sabe muito bem o que isso significa, mas comemora mesmo assim. Se ele foi promovido, provavelmente vai ganhar mais dinheiro, o que significa mais biscoito de morango na hora do lanche. Já é um ótimo motivo para comemorar.

Houve a ceia e, depois da meia-noite, já poderia abrir os presentes. Mas Nico quer ter o gostinho de acordar amanhã bem descansado para passar o dia com o que ganharia. Então, depois de abraçar o pai e receber, de Bianca, um beijinho na testa, Maria o levou para o quarto. Esperou o garoto escovar os dentes e lavar o rosto para colocá-lo na cama.

Agora, Nico está debaixo das cobertas macias e quentinhas, só que sem nenhum pingo de sono. Seus olhos grandes e inquietos buscam refúgio na mãe.

“Eu posso ouvir uma história antes de dormir?”

A mulher sorri terna.

“Claro, meu amor. Vamos ver… Acho que tenho alguma sobre o Natal.”

Maria se acomoda sentada ao lado do corpo do filho, na cama. Ela arruma os cabelos negros dele e lhe oferece um olhar animado.

“Você quer saber a verdadeira história do Natal?”

“Sim!”

“Então preste atenção porque vou te dizer apenas uma vez. Todo mundo acha que se trada de duendes e Papai Noel, mas isso ‘é só um boato metade verdadeiro’. É certo que o Papai Noel entrega os presentes e que alguém os faz lá no Polo Norte, o que o que ninguém sabe é que esse alguém, na verdade, é um menino da sua idade.”

“Como eu nunca ouvi falar dele, mamãe?”

“Ele nunca aparece, Nico. Poucas pessoas sabem que ele existe. Nem mesmo eu sei o seu nome, mas gosto de chamá-lo de Natal, porque é o que ele é. O Natal inteiro mora dentro dele. Dizem que, no lugar do coração, ele tem uma estrela igual às que a gente coloca no topo das árvores. Os olhos dele são brilhantes como os pisca-piscas!”

Maria está sorrindo, como se falasse de um grande amigo. Ela continua entre sussurros, contando um segredo só dela e de seu filho:

“Eu sei certinho onde ele mora, mas não posso te contar, porque alguém poderia ouvir e então todos os brinquedos dele seriam roubados.”

Nico sente-se tristonho, afinal, ele é a pessoa mais confiável do mundo inteirinho (Bianca que disse).

“Não tem ninguém aqui, mamãe! E eu prometo que não vou contar.”

Maria pondera com a cabeça, sem conseguir conter um meio sorriso.

“Primeiro, você tem que chegar no branco infinito, ir direto até o alto e além e dobrar à esquerda, nas rochas rochosas. Se você olhar bem de perto, vai ver uma luzinha entre as pedras. É lá que tem a porta. A porta para a casa do Natal.”

Nico se sentiu importante, importante mesmo. Agora ele sabia de um dos segredos mais secretos do mundo: ele sabia onde achar o Natal.

Maria contou mais algumas coisas, sobre como o Natal nunca cresce, igual ao Peter Pan. Ele é brincalhão que nem todo menino e gosta muito de inventar brinquedos novos. É ele também que julga a lista de crianças boas e más, já que só ele sabe o que é uma criança boa e uma criança má realmente, uma vez que ele é os dois por igual.

Depois de quase uma hora conversando sobre a história, Nico finalmente começou a sentir sono. Maria beijou-lhe a testa e, para que o menino aceitasse deixar o assunto de lado, disse que quando ele fosse mais velho ela o levaria para conhecer o Polo Norte.

“Boa noite, meu anjinho.”

“Boa noite, mamãe.”

A mulher apagou a luz, saiu do quarto e fechou a porta silenciosamente.

Estava feliz, pensando em como gostava da história do garoto Noel e como compartilhá-la com o seu filho fazia seu coração transbordar.

Pelo menos esse foi um pensamento bom o suficiente para se ter pouco antes de morrer.

 

***

 

Hades lavou o rosto e encarou-se no espelho com orgulho. Aquele era o rosto do mais novo CEO de uma multinacional de grande nome. Ele estava feliz. Agora poderia colocar Nico nas aulas de música que o menino tanto queria e presentear Bianca com um lindo carro no seu aniversário de dezesseis anos. E, para Maria, finalmente a viagem dos sonhos para o Caribe. Eles seriam um jovem casal apaixonado de novo.

Por um momento, Hades se sente o homem mais realizado da Terra. Ele está exatamente onde quer, tem uma linda família, ama o que faz, ama o mundo à volta. Hades é plenamente feliz por apenas alguns momentos. Um momento que acaba quando mal tinha começado. Um momento que termina muito, muito triste. Um momento que é interrompido pelo barulho ensurdecedor de um disparo. O espelho do banheiro racha em pedaços de tamanhos diversificados, cai no piso e se espalha como água.

Assustado, Hades se abaixa e olha em volta. Tem um homem com vestes pretas parado em seu quintal. Agilmente, ele rola para dentro do quarto e fica debaixo da cama, perto do criado-mudo, onde esconde uma pistola. No entanto, antes de alcançá-la, a porta do quarto é aberta.

“Maria, não!”

Mas é tarde demais. Ela já está parada no meio do quarto, encarando a janela aberta furiosamente. Maria é inteligente e sabe o que está acontecendo, precisou de apenas meio segundo para raciocinar e entrar naquela guerra com o marido. Depois de mais um disparo, que pegou na parede perto do seu rosto, abaixou-se e foi até a sua própria arma na escrivaninha. Há barulho de movimentação lá fora, barulho de mais de um homem.

Se quisessem matá-la, teriam conseguido. Ela não era o alvo.

Batidas na porta do quarto.

“Papai? Está tudo bem? Eu ouvi um barulho...”

É a voz de Bianca. Hades, já com a pistola na mão, toma impulso e corre o mais rápido que pode até a porta, usando o armário de escudo. Gira a maçaneta.

“Meu amor, eu quero que pegue o seu irmão e se tranquem num quarto. Depois de se esconderem, ligue para a polícia.”

“Mas, pai...”

“Fechem as janelas, se escondam num local seguro. Eu e a mamãe vamos dar um jeito nisso, ok? Mas preciso da sua ajuda.”

Bianca entendeu que era sério quando seu pai mostrou a arma que tinha em mãos. Ela saiu correndo atrás de seu celular. Hades então olhou por cima do ombro, saindo um pouquinho de trás do armário, apenas para encontrar os olhos de sua mulher.

Seria bom dizer que com um tiro certeiro, ele matou o homem no quintal. Seria bom contar como Maria pulou pela janela e atirou nos outros dois que estavam junto dele. A polícia logo chegaria, e, depois do susto, todos ficariam bem. Com muita investigação, descobririam que aqueles eram mercenários mandados pelo seu oponente dentro da empresa, Guido Morezza. O idiota seria preso e todos ficariam bem.

Mas não foi o que aconteceu.

Os homens invadem a casa e logo estão no quarto do casal. Os di Angelo atiram para mostrar que estão armados, mas os criminosos são espertos. Eles arrombam o quarto das crianças antes que elas possam se esconder direito e pegam a menina pelo pescoço. Quando uma arma está apontada para a cabeça de sua filha, pais fazem qualquer coisa.

Os dois colocam as armas no chão e agora estão indefesos.

“Escutem, nós só queremos a cabeça de Hades di Angelo. Se vocês ficarem de boa, vai dar tudo certo.”

Maria tem sangue nos olhos. Ela olha para as duas crianças no braço dos homens e rosna:

“Não se atrevam a fazer nada com eles.”

“Como eu disse, esse não é o objetivo.”

Hades respira fundo para tomar coragem. Com as mãos para o alto, fala:

“Deixem minha família em paz. Podem me matar, mas não na frente dos meus filhos. Por favor.”

O líder deles pondera com a cabeça.

“Você vem comigo. Sua mulher e seus filhos podem ficar aqui com os meus garotos. Desde que ninguém reaja, eles vão sair vivos.”

Hades engole em seco.

“Tudo bem. Nico, Bianca, para dentro.”

“Pai, não!”

Ele vocifera para que os dois obedeçam.

Hades é segurado na nuca pelo seu carrasco. Antes de sair do quarto meio que arrastado, vira e diz para sua esposa e as duas crianças:

“Eu amo vocês.”

O mercenário, Antony, está no meio do caminho de levá-lo até o lado de fora, onde Hades pediu para morrer, quando escuta as sirenes.

“Ah, vocês não fizeram isso.”

No mesmo instante, no quarto, os dois invasores que ficaram para trás se assustam e se distraem com o barulho. Maria alcança sua arma jogada no chão e atira na direção deles.

É quando uma bala atravessa o seu tórax. E depois outra. E outra. E outra.

Nico grita. Bianca o abraça.

Na sala, ouve-se o barulho de mais um disparo. O corpo do pai cai morto no chão.

Depois disso, nada mais importa.

A polícia consegue prender os assassinos, mas não importa.

Os irmãos são levados para a delegacia em segurança, mas não importa.

Seus pais foram mortos, os corpos espalham sangue pelo chão. Na sala, os presentes estão empapados do líquido vermelho. Os miolos de Hades pegaram na árvore de Natal que ainda brilha.

Nico é órfão. Em plena noite de natal, ele e Bianca são brutalmente jogados no mundo, sozinhos.

Sozinhos.

Sozinhos.

É a partir desse momento que ele cria um sentimento estranho dentro de si. Algo que seu corpo inventou para preencher o vazio deixado pelo trauma. Algo asqueroso, violento, um desejo vil e estrondoso. Um sentimento que nem os afagos de sua irmã mais velha são capazes de acalmar. Um sentimento que sobe em sua garganta e domina os seus sentidos pelos próximos anos.

Ele sente ódio.

Não dos assassinos.

Não do concorrente da empresa de seu pai.

Não de Deus.

Nico sente ódio pelo Natal.

Um ódio tal que, quando dá por si, sente-se tremer e queimar. Ele larga a xícara de leite, que cai no chão, interrompendo a música de Bianca. Seus olhos são arregalados, medonhos, ele está com raiva e medo e ódio e tudo ao mesmo tempo.

É nesse instante crucial em que Nico decide algo.

Algo que vai marcar sua vida em antes e depois.

Algo que parece que vai mudar e acabar com todos os seus problemas.

“Nico? O que foi?”

 

 

 

“Eu vou matar o Natal.”


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