Cheater escrita por Maga Clari


Capítulo 3
Bilhete número 5 e 6




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BILHETE NÚMERO 5

Que cara adorável!

A decisão foi difícil. O que me fez seguir em frente foi assistir Rose Weasley continuar defendendo aquele babaca aos quatro cantos do mundo. Inclusive, ela teve a AUDÁCIA de fazer um discurso daqueles na frente de toda a classe de poções, quando o dito cujo ganhou a competição semanal. 

Rose ficou em segundo lugar, mas aproveitou o momento para encher o ego dele. Elogio pra cá, elogio pra lá. Oh, minha querida, se a senhora soubesse o que seu príncipe encantado anda fazendo… Certamente o enxergaria muito mais como um sapo fedorento exibindo uma coroa de espinhos. E eu, se pudesse, pegaria esses espinhos e enfiaria bem no…

— Ei, Scorpius — por sorte, Albus impediu que eu verbalizasse meus pensamentos em voz alta. — Tá tudo bem? Você parece eu quando tenho constipação.

É bem provável que meu semblante tenha se transformado em algum tipo de monstro horrendo, porque eu sabia que o sangue havia subido até o topo e eu amassava uma folha de pergaminho enquanto os assista, de longe, receberem os aplausos. 

Albus estava genuinamente preocupado. Ao constatar que sua piada não tivera o efeito esperado, arriscou cutucar meu braço, mas de nada adiantou. Eu experimentava uma espécie de transe de cólera e irritação naquele momento. Era difícil desviar o foco para qualquer coisa diferente de Rose Weasley e Lorcan Scamander. Em algum momento, nossos olhos se encontraram. Os meus e os de Lorcan, no caso. Não os de Rose, que tinha outros focos melhores que o filho de um ex-comensal da Morte. Engraçado, não é? Como são as coisas? Ninguém aqui parece ter conhecimento gramatical o suficiente para entender o que significa “ex”. Acho que só compreendem a parte do “comensal da morte”. Mas isso é assunto para outra história.

— Scorpius — dessa vez, o tom de voz dele era sério e tinha até autoridade — Você não acha bom ir lá fora um pouco? Eu sei que você se esforçou bastante nisso, mas é que…

— Fique na sua, tá legal?

— Scorpius, por favor. Estou vendo a hora do pergaminho pegar fogo. 

Aí, Albus tentou tirá-lo da minha mão. O grito em contrapartida veio sem querer. Mas já era tarde demais e todo mundo tinha me ouvido. A classe toda olhava pra mim. O pergaminho realmente entrara em combustão e caíra cinzas em minha poção esverdeada, que agora havia secado por inteiro. 

Precisei de um minuto para respirar fundo. O professor Rolf interrompeu a cerimônia e veio averiguar a situação. 

— Pode me explicar o que foi isso, Senhor Malfoy?

— Nada — respondo sem saber onde enfiar a cara.

— Prefere que eu tire todos os seus pontos ao invés disso?

— Não aconteceu nada, Professor, foi um acidente.

Albus olhava de um para outro. O desespero quase palpável.

— Okay. O senhor tem meia hora para me entregar um novo. Caso contrário, zero! Fui claro?

— Transparente, Professor.

— Ótimo.

Esperei que ele virasse as costas para dar o dedo do meio, mas Albus, mais uma vez, me impedira de passar vexame. Observei a classe ser dispensada e restar apenas eu e o casal do ano. Eu juro que estava bem. Tudo ia perfeitamente bem. Mas ele tinha que aparecer com aquela pose de mocinho-herói-da-pátria. 

— Quer ajuda?

Levantei os olhos do meu caldeirão só para destilar veneno através dos meus olhos. Não respondi nada. Continuei trabalhando em silêncio, esperando que o vencesse pelo cansaço.

— Ei. Malfoy.  Se fizermos juntos, leva metade do tempo. Confie em mim.

Levantei o rosto só mais uma vez, para espirrar, e para ver Rose Weasley conversando animadamente com o professor.

— Qual é o seu problema, afinal? Tenho notado toda essa aura cinza ao seu redor ultimamente. É alguma coisa com sua família? 

— Como se você se importasse com isso... — resmungo, espremendo duas centopéias para tirar o líquido amarelo.

— Olha, eu não sei o que deu em você, mas eu não tenho culpa de ter ganhado em primeiro lu…

— DÁ PRA CALAR ESSA BOCA?!

Sim, eu havia chegado no meu limite.

— Desculpe?

— É. Isso mesmo que você ouviu — repito, me levantando, sem paciência — Caso não tenha percebido, eu estou ocupado — aponto para o caldeirão fervilhando.

— Tudo bem, tranquilo, mensagem recebida — ele parece recuar, mas então completa: — Depois fica chorando pelos cantos e não sabe o porquê.

Espera.

Ele disse aquilo?

Virei o corpo para a porta, onde Lorcan, Rose e o Professor Rolf Scamander estavam de saída. Àquela altura, eu já havia desistido da poção e pego minhas coisas para ir embora também. Parei na frente deles e pensei que a voz na minha cabeça fosse uma alucinação. Mas era só meus pensamentos entrando em colapso. Uma parte dizia calma, Scorpius, vai ficar tudo bem. Outra parte estava mais para respire fundo, um, dois, três. Mas a terceira parte, ah! a terceira parte…, ela enlouqueceu e me trouxe um tom gélido e cheio de segundas intenções:

— Chorando, Scamander, estará você. Quando descobrir que ser filho de professor não o impede de se tornar um farsante. Aposto que a sua poção foi uma fraude, igual a quem fez.

Lorcan ergueu a varinha, mas me antecipei lhe dando um soco.

Perdi 50 pontos e ganhei uma detenção, mas valeu a pena.

 

BILHETE NÚMERO 6

Eu só achei que você deveria saber do que ele era capaz

Ah, não. Ah, não. Ah, não, ah, não, ah, não! Não, ele não fez isso. Eu sabia que algo estava errado desde o primeiro bilhete. Mas tinha que ser o Scorpius? Lorcan ia apanhar pra valer, talvez até a morte, caso se metesse com um doido daquele. 

Scorpius Malfoy é o aluno mais esquisito da escola. Um misto de emo-grunge com eremita caladão. E pelas barbas de Merlim, eu não gosto desse garoto. Sempre com humor questionável, curiosidade indiscreta e essa pose de superioridade Malfoyliana, mesmo que essa palavra não exista, porque o conceito é mais real do que a minha vontade de puxá-lo pela orelha e tirar satisfação.

Como eu não suspeitei antes? Estava bem na minha frente. Debaixo do meu nariz. ÓBVIO que era o Scorpius. Só podia ser ele. E eu tentei o meu melhor olhar de decepção, aquele que aprendi com minha mãe. Um olhar de decepção tão decepcionante que Scorpius teria vergonha até de existir enquanto SER HUMANO. Diferente dele, meu namorado transbordava a doçura e bondade para oferecer ajuda mesmo não sendo sua obrigação. A troco de quê? Uma acusação dessas bem na frente do Professor, que por acaso é também pai dele. 

Das duas uma. Scorpius havia perdido a noção de perigo ou era um psycho bizarro mesmo. Depois daquele soco, tentei correr atrás dele, para defender meu namorado e todos os outros da classe que poderiam se tornar vítimas a qualquer momento. Ele já estava na esquina da ala norte com a ala oeste quando as escadas mudaram de lugar. Continuei o seguindo, e quase caí no trajeto. Mas deu tempo de lançar um feitiço que o imobilizou no corrimão, o olhar assustado.

— O que você quer, Weasley?!

— Eu que pergunto! Qual é a sua? Ele só estava querendo ajudar!

— Ajudar?! Você não sabe de nada, garota!

— Você é que não sabe. Aquele soco foi totalmente desnecessário. 

— Desnecessário foi o seu discurso adulador! Mas que droga! — não sei se foi uma exclamação direcionada a mim ou às escadas que mudaram outra vez, e ele lá, colado no corrimão — Me deixa em paz, Weasley.

— Foi você, não foi? Admita logo.

— Eu o quê?

— Os bilhetes.

— Pelo amor de Morgana, Weasley, desfaz esse feitiço, eu já estou enjoado.

— Não antes de você confessar.

— Eu sei lá que bilhete é esse, só me solta! 

Realmente, o rosto dele estava mudando de cor, já que a posição em que o feitiço o grudou às escadas não era das melhores. Fiquei com pena. 

— Isso ainda não acabou. — foi tudo que respondi, antes de sumir marchando pelo corredor contrário.

Pensei que aquele susto o faria parar um pouco com a coisa de stalker. Mas quando cheguei perto da entrada da Lufa-Lufa, havia dois bilhetes de uma vez. Um apareceu quando fiz cosquinhas no quadro de pêra; o outro foi atrás do barril que mudou de lugar revelando a entrada.

Ele não poderia fazer aquilo em tão pouco tempo e em direção contrária, podia?


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