O templo Jedi estava totalmente destruído. As grandiosas estatuas que adornavam o salão principal foram reduzidas a meros pedaços disformes, espalhados pelo chão de mármore manchado com o sangue de Jedi e clones. A batalha não durou muito, apenas o suficiente para dizimar todos que ali viviam pacificamente. Para onde quer que olhasse, tudo o que Obi Wan via era dor e desespero impregnados nas paredes que outrora emanavam tranquilidade e equilíbrio. A integridade do templo foi destruída justamente por aqueles que um dia juraram lealdade aos Jedi. Os clones. Ele sentiu na pele do que seus companheiros de guerra eram capazes. Sentiu ainda mais em seu coração pela traição de Cody, um amigo que ele considerava leal.

Por causa dos corpos espalhados pelo chão,ele tinha que olhar com atenção redobrada por onde andava. Os gritos de dor e desespero emitidos pelos mortos enquanto eram assassinados ecoavam em sua cabeça como uma sirene constante, fazendo com que algumas lagrimas rolassem pelo seu rosto. Ele não esteve lá para ajuda-los. Não pode fazer nada para impedir que fossem mortos. E mesmo agora, por mais que quisesse desesperadamente poder fazer algo pelos seus companheiros que jaziam sem vida no chão – dar-lhes um fim digno, ao invés de ficarem ali apodrecendo ao relento – ele nada poderia fazer, pois tinha um ultimo dever para com a Ordem Jedi a cumprir. E este dever estava aninhado em seus braços, dormindo pacificamente.

O único sobrevivente daquele massacre esteve escondido durante o ataque em uma espécie de bunker subterrâneo, localizado bem abaixo da principal câmera de reunião do conselho Jedi. Somente os mestres sabiam da existência daquele pequeno ser verde e juraram mantê-lo escondido e protegido. Ninguém poderia saber de seu paradeiro, pois Grogu era poderoso demais. Caso fosse descoberto pelo lado sombrio, tudo estaria perdido. Nem mesmo o escolhido seria capaz de cumprir a sua profecia, fosse ela qual fosse. Mas pelo que Obi Wan testemunhara através dos holovideos, a profecia jamais se realizaria de qualquer forma.  Anakin fora seduzido pelo lado sombrio e foi ele o responsável pelo ataque ao templo Jedi. Ele matou crianças e adultos, matou todos sem um pingo de compaixão. Aquele não era o garoto que Kenobi treinara. Aquele não era o seu irmão. Anakin caíra, junto com a Ordem jedi.

Obi Wan parou subitamente atrás de uma pilastra rachada. Seu coração estava acelerado. As imagens perturbadoras do massacre poluindo sua mente. E novamente, os gritos.

Grito de ajuda. Gritos de dor. Gritos de misericórdia. Gritos de medo.

E fora Anakin que os fizera gritar.

E se ele soubesse de Grogu? O mataria, mesmo sabendo que se tratava de um bebe inocente sem controle algum sobre seus extraordinários poderes?

Só de pensar nessa hipótese, Obi Wan sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Na época, sentiu-se mal por não ter contado a Anakin sobre a existência da criança. Sabia que quando o rapaz descobrisse, se sentiria traído. Mas ao analisar a situação, percebeu que foi o melhor a se fazer.

Pelo menos, Grogu teria uma chance de escapar.

Mas ainda era cedo demais para comemorar. Sozinho com uma criança nos braços, Obi Wan estava em desvantagem caso fosse interceptado por muitos clones. Teria que ser cauteloso e...

Seu coração congelou quando ouviu passos se aproximando e provavelmente não eram Jedi vindo ao seu auxilio. Ele e mestre Yoda certificaram-se de que não havia sobreviventes além de Grogu, que agora dependia exclusivamente do mestre Jedi para continuar vivo e em segurança.

Enrolado no manto do ruivo, a criança abriu os enormes olhos e o fitou com curiosidade. Com toda a movimentação, ele despertara do sono induzido por Kenobi, que fizera isso para poupa-lo de ver a tragédia que se caiu sobre seu lar. Grogu era apenas um bebe e estava com medo, muito medo, mas mesmo assim, ainda era mais forte do que o próprio Obi Wan com relação à força. Um simples truque para dormir não funcionaria por muito tempo.

Ele piscou os olhos e virou a cabeça para frente. Ainda estavam escondidos nas sombras da pilastra decadente e quando viu os clones se aproximando, emitiu um grunhido assustado. Ele não presenciara o ataque, mas era tão forte com força que podia sentir, assim como Obi Wan quando captou os gritos dos mortos, que os clones eram inimigos e queriam lhe fazer mal.

— Shh! — Sibilou Obi Wan para Grogu, apertando-o mais perto do peito. — Não olhe pequeno. Feche os olhos.

Grogu torceu a boquinha para baixo. Estava prestes grunhir novamente, quando Kenobi passou a mão pela sua testa, sussurrando baixinho para que ele voltasse a dormir.

Os três clones continuavam se aproximando com as armas em punho, prontos para atirar em qualquer coisa que se mexesse.

O mestre Jedi inspirou fundo. Mestre Yoda lhe confiara à segurança de Grogu e ele não iria falhar com o pequeno youngling. Iria tira-lo dali.

Segurando a criança com o braço esquerdo, ele apanhou seu sabre de luz com a mão direita e o ativou. Eram três, ele poderia dar conta. Ao menos era o que ele esperava.

Obi Wan estava prestes a saltar em direção ao trio, quando um deles parou e consultou seu comunicador que bipava incessantemente. O Jedi não conseguiu ouvir a mensagem, mas não importava. Eles foram orientados a retornar a entrada principal, deixando o caminho livre para que ele e Grogu continuassem com o plano de fuga. Um alivio momentâneo, que logo acabaria, dando lugar a dor e ao ódio de si mesmo por ser forçado a matar seus companheiros clones. Kenobi estava cansado e o seu trabalho estava apenas começando.

Um grunhido fraco e irritado saiu do meio de suas vestes e ele percebeu que enrolara a criança demais no tecido. Rapidamente ele a desenrolou e encontrou os brilhantes olhos impacientes da criança encarando-o.

— Me desculpe, Grogu. — Obi Wan guardou seu sabre de luz. — Prometo que não farei mais isso. Mas quero que me prometa também que não vai olhar para nada além de mim, esta bem? Olhe apenas para meu rosto. — Kenobi disse com firmeza e apontou para a face. — Não quero que essas imagens fiquem gravadas em sua mente, como estão na minha.

Grogu entortou levemente a cabeça para o lado e assentiu. Com sua minúscula mão, agarrou com força a vestimenta do Jedi ruivo. Seus olhos brilhavam, evidenciando sua alma jovem e inocente repleta de medo.

E foi nesse instante que Obi Wan percebeu que faria de tudo para proteger Grogu.

Não importava quantos clones tivesse que matar, ou quantos corpos tivesse que ver a sua frente, correndo o risco de nunca mais conseguir se livrar dessas imagens aterradoras... Sua prioridade era tirar a criança dali e envia-lo para um lugar seguro. Um lugar onde poderia ficar protegido e escondido, até que fosse a hora dos Jedi se reerguerem novamente.

E depois de fazer isso, depois de garantir a segurança da criança... Iria atrás de Anakin.

E apesar dos pesares, ainda havia uma centelha de esperança de que, assim como salvou Grogu, pudesse salva-lo também.