Apenas mais um dia qualquer escrita por Tatti Rodriguez


Capítulo 1
Único




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Ah! Finalmente havia chego!

A tão conhecida rua do distrito Uchiha passava rápido por seus olhos, caminhando a passos largos em direção a reconstruída mansão Uchiha. Algumas luzes estavam acesas e próximo a porta pôde ouvir os sons das vozes que tanto sentiu falta nessas duas semanas em que esteve fora, o coração estava aos saltos em expectativa.

Limpou os pés e deixou as sandálias ninja em um canto qualquer da varanda. Abriu a porta se preparando e esperando algo de muita importância.

Três, dois, um.

— Papa! — a voz animada da filha soou e sentiu quando o corpo pequeno abraçou o seu. Colocou o braço nas costas da filha e quando ela se afastou, lhe deu um sorriso singelo.

­— Okaeri, anata. — a voz da esposa se aproximando fez o corpo arrepiar.

               Sarada sorriu quando viu os olhos do pai brilhando quando a mãe entrou em seu campo de visão. Ela nunca perdia qualquer detalhe que fosse da interação de seus pais. Sabia que em meio as outras pessoas eles não demonstravam muita coisa, ficavam mais um próximo ao outro e conversavam por olhares. Mas, quando ambos estavam a sós, era diferente. Seu pai sorria e por mais que nem mesmo ele percebesse, nunca deixava de tocar em Sakura, fosse os mindinhos entrelaçados, o tocar de ombros, as mãos dadas no sofá ou até mesmo o abraço protetor que ela flagrara muitas vezes enquanto eles cozinhavam juntos. E percebendo isso, Sarada sentia que toda aquela insegurança de alguns anos atrás, sobre os verdadeiros sentimentos de seu pai em relação a sua mãe não podiam ser continuados, não havia fundamento, não quando Uchiha Sasuke tinha os olhos negros brilhando tão intensamente para a esposa.

               — Tadaima. — disse simplesmente e a cada passo mais perto da pequena rosada o coração latejava mais forte.

               Sarada viu o desespero de seu pai em se aproximar de sua mãe. Era até engraçado. Sabia que ele não daria uma iniciativa de um contato mais íntimo com ela presente. Sorriu corando levemente e se afastou do pai.

               — Eu vou tomar um banho. — anunciou para os pais — Essa missão foi realmente cansativa.

               — No jantar espero saber como foi. — Sasuke falara e recebeu um olhar de alegria da filha. Ele gostava de saber como fora, gostava da narrativa da filha e sabia que ela não mentia em seus feitos e falhas. Ele gostava de saber sobre tudo que envolvesse Sarada.

               Sarada assentiu animada e correu para o andar de cima deixando os pais sozinhos.

               Sakura não se moveu, mesmo que Sasuke estivesse esperando algo que ela o acostumou a receber quando voltava para casa. Ele ergueu uma sobrancelha em um claro sinal de expectativa e em troca ouviu o riso cristalino da esposa para logo depois sentir o pequeno corpo colado ao seu. As pernas dela em volta de sua cintura e sua cabeça afundada no pescoço masculino. Aspirava o perfume floral feminino. A mão de Sasuke a apertava mais, quanto mais perto ela estivesse não era o suficiente.

               Sentiu os lábios doces se encontrando com o seu e então soube que estava em casa. Que saudade estava sentindo, mas a saudade o sufocava antes mesmo de ter que se ausentar. O corpo pequeno contra o seu, as mãos dela se enganchando nos negros fios e mesmo com os lábios colados, ele a depositou com cuidado no chão, sem perder jamais o contato. A mão na cintura da mulher a apertava com carinho. Ele era tão viciado naqueles lábios, ele era tão viciado nela.

               — Senti sua falta. — ela disse sem se afastar. Olhou para cima e vislumbrou o ônix e o lavanda. Afastou a franja dos olhos do marido e beijou a bochecha quente dele — Vem, vou te examinar.

               A mão menor enlaçou a dele e ele se deixou ser guiado para fora do hall de entrada e viu a sala de estar, a mesa de centro com aqueles enormes livros de medicina que Sakura vivia estudando, alguns pergaminhos de Sarada e pensou que elas estivessem estudando antes de sua chegada.

               Sentou no sofá e viu ela sentando de frente a ele. Ele não disse uma palavra e nem mesmo protestou quando ela tirou sua camisa procurando qualquer corte ou hematoma que pudesse ter, nem se preocupou com o ligeiro pensamento que teve que ela pudesse escutar e sentir seu coração louco como estava por ela estar ali, com ele.

               Ele nunca negou que ficava desconfortável quando Sakura investia tanta atenção e cuidado para com ele, fosse voltando de uma missão, um simples resfriado ou a preocupação do dia-a-dia. Ele não se achava digno daquele cuidado, não achava que merecia qualquer que fosse a demonstração de qualquer tipo de preocupação e sentimento caloroso vindos dela. Ele havia a machucado demais, não tinha porque deixar ela cuidar dele.

               “— Porque não me deixa cuidar de você, Sasuke-kun? — a voz dolorida o fez parar de respirar — Não confia em mim?

               O quê? Ela era boba? Como assim não confiaria nela? Ela que jamais deveria confiar nele novamente. Não queria ter que falar, queria que ela apenas acatasse a sua escolha de não deixar ela cuidar tanto dele. Mas, ela era a Sakura, ela nunca o escutava de verdade, nunca se afastava quando pedido e nunca desistia dele, fosse o que fosse. Sabia que ela precisava de palavras e era o mínimo que ele poderia fazer, quem sabe, se fosse claro, ela entendesse e com sorte, concordaria.

               — Você é tão irritante. — falou sentando novamente na maca de frente a ela. Viu que ela lhe olhava com expectativa, sabia também que aquela simples palavra havia balançado alguma coisa dentro ela — Eu não mereço que cuide de mim, Sakura. Eu não mereço sua preocupação. Eu não posso a aceitar. Eu não sei mais o que é ser cuidado, eu machuco, é diferente.

               — Eu posso ser irritante, mas o burro é você, Sasuke-kun. — ela falou da maneira doce que ela sempre entoava quando ela sabia de algo que ele não. Ela deu mais um passo para frente e pegou a mão masculina cheia de cicatrizes. — Justamente por não saber mais como é ser cuidado por alguém, é que merece que eu cuide de você, toda a minha preocupação e todo o meu sentimento. Você não precisa mais machucar, cuide de mim. Mostre a si mesmo o que eu já sei, que também pode cuidar de mim. ”

               Desde aquele dia em que ela o havia deixado sem palavras e um fogo crescente em seu peito para fazer de tudo para cuidar dela, ele não mais tinha alguma objeção de negar seus cuidados. Ele admitiu para si mesmo, era bom ser cuidado, era bom ser o alvo da preocupação e carinho de alguém e aquele alguém ser Sakura, era tudo o que a sua alma quebrada precisava para se curar.

               — Está tudo bem agora. — ela garantiu sorrindo e depositando um beijo suave no ombro esquerdo do marido.

               Ele sabia que sim, porque ele estava em casa, ao lado das mulheres de sua vida.

               — Estou liberado para um banho agora? — perguntou fazendo graça e ela sorriu sabendo que aquele lado brincalhão de Sasuke era algo que apenas ela e Sarada possuíam.

               — Sim, está. — ela se levantou, mas foi puxada e dessa vez era no colo de seu marido que estava sentada.

               — Eu também senti sua falta. — confessou baixinho.

               Sasuke nunca foi de demonstrações e palavras, mas como se permanecer frio e distante quando sua salvação, a luz de seus dias e a razão do seu bater de coração estava ali, com ele? Aprendeu gradativamente a domar o seu orgulho e que tudo bem ele dizer o que sentia, mesmo que as vezes. Tudo bem sorrir para a sua família, tudo bem entender e dizer a si mesmo todos os dias que era digno da família que formara e que apesar de seus pecados, ele pôde ser agraciado com uma esposa que amava e uma filha que era a extensão desse amor.

               — Eu sei. — ela falou baixinho também, divertida, como se fosse um segredo.

               Ele acariciou os cabelos macios e se perdeu na imensidão verde que o engolia num oceano de emoções lindas e puras.

               — É tão injusto. — ele comentou.

               — O quê? — Sakura passava a ponta dos dedos em cada traço e terminava em um carinho que sabia ser do agrado do Uchiha.

Ninguém sabia, mas Uchiha Sasuke era um mimado. Ele poderia ser uma pedra de gelo e um ninja de sangue frio, mas no calor de seu lar, ele se revelava um grande mimado. Poderia ser culpa de Sakura um pouco quando preparava seus tomates diários ou quando o acostumara com singelos carinhos nas costas largas enquanto ele dormia e ela estudava até tarde da noite ou poderia ser também quando ela usava aquele perfume nas suas roupas e resmungava quando ela trocava o amaciante? Sim, poderia. Poderia ser culpa de Sarada também quando ela dava muito mais atenção a ele do que aos amigos de time quando não estava em missão ou quando ela fazia aquele suco de tomate – que mesmo ela detestando tomates – aprendeu a fazer para agradar o pai ou quando ela ficava ao seu lado em uma discussão boba apenas para irritar a esposa e ver aquele lindo rosto corado? Sim, também poderia.

Mas, ah, quem não o mimaria? Ele sabia que ele se acostumara mal com pequenas coisas, mas não podia negar, era muito bom ser mimado. E elas jamais poderia dizer que ele não as mimava também. A verdade é que Sakura e Sarada sabiam que ele merecia compensar o que não viveu, todos os momentos e mimos que não pôde ter pela infância roubada. Ele se surpreendeu quando se descobriu ansioso por esses momentos.

— Não vejo mudança alguma em você. — confessou acariciando a bochecha corada.

— Está falando isso porque descobrimos um cabelo branco em você? — ela abafou um riso.

Ele corou levemente e fechou os olhos emburrado. Ela riu mais alto e grudou sua bochecha na dele.

— Bem, eu não tenho o Byakugou no In. — ele rebateu.

Ela amava ver aquele lado tão bobo e infantil do grande homem.

— Mas eu não o uso para isso. Eu falei, não preciso me manter jovem. Eu simplesmente sou mais nova que você. — ela deu de ombros.

— Um ano, na verdade, alguns meses. — ele enfatizou. Era besteira, mas não queria parecer muito mais velho que Sakura, na verdade, não se importava com aquele maldito fio branco ou com algumas marcas de expressão presentes no rosto. Ele só não queria que ela achasse que ele estivesse velho para ela.

— Mas aparentemente falando, eu sou mais. Se não fosse tão carrancudo. — ela brincou e ele não conseguiu segurar o riso. Ela pegou o rosto perfeito em suas mãos e olhou profundamente em seus olhos — Você é lindo, Sasuke-kun. Você sabe disso, sabe bem usar isso.

Ele a beijou mais uma vez.

.

.

.

Depois de seu merecido banho e com as roupas confortáveis e com aquele cheiro do amaciante que gostava, Sasuke desceu as escadas se dirigindo à cozinha. Viu Sarada e Sakura concentradas em preparar o jantar e ele sabia pelo cheiro que ele provaria algum prato com tomates.

— Papa! — Sarada cumprimentou feliz. — Fiz aquele suco de tomates que tanto gosta.

Ele deixou um sorriso de satisfação escorregar nos lábios finos e assistiu a filha pegar da geladeira a jarra de vidro transparente.

— Que demora, pensei que teria que ir lhe buscar. — Sakura falou apenas para ele ouvir, enquanto ele ia ao armário ao seu lado para pegar três copos de vidro.

— Então eu deveria ter demorado mais, tsuma. — falou no ouvido da esposa e se deliciou com a visão dela corada, parecia tão vermelha quanto o suco que Sarada carinhosamente havia lhe preparado.

— Você é bem bobo! — reclamou e se concentrou no arroz a sua frente.

Sasuke pegou a jarra e despejou o líquido vermelho no copo e provou com gosto. Não havia suco melhor que o de Sarada. Viu a filha esperar sua aprovação.

— Está muito bom. — falou simplesmente e ela sorriu convencida, daquela maneira que ele sabia que era como ele fazia.

— Não sei como consegue tomar uma coisa dessas, papa. — Sarada dizia desgostosa e Sasuke sentiu o coração se partir.

— Vai quebrar os sentimentos de seu pai falando assim, Sarada. — Sakura brincou lembrando de quando Sasuke dera pela primeira vez um tomate para Sarada experimentar. Quando a viu a filha cuspir e dizer que era a fruta mais estranha que provara, o coração de Sasuke não aguentou. Achou que aquele seria um dos gostos parecidos que teriam, mas sua filha não parecia disposta a dar mais uma chance para os preciosos tomates. Naquela noite, Sakura ouviu Sasuke resmungar entristecido até dormir.

Se sentaram à mesa e enquanto ele comia os tomates secos que Sakura havia preparado especialmente para ele e elas se deliciavam com o Sukiyaki, eles ouviram Sarada dizer com empolgação sobre a missão em uma das vilas vizinhas que o seu time havia feito. Prestava atenção em cada detalhe e mesmo que ela já estivesse com seus 16 anos, não podia deixar de se preocupar quando ela comentava sobre algum imprevisto ruim.

— Mas então, Boruto me ajudou.

Ele não quis, não quis mesmo, mas percebeu como a voz dela havia vacilado e como ela ajeitara os óculos – agora de uma armação um pouco maior -. Ele conhecia seu amendoim, sabia que ela só fazia aquilo quando ficava nervosa e sabia também que ela fazia aquilo com mais frequência quando Boruto estava por perto ou quando falava dele.

O coração acelerou com aquela possibilidade. Viu o rosto distraído da filha e de repente aqueles cabelos negros se tornaram rosa e os olhos pretos eram verdes. Ele conseguiu ver Sakura ali. Era exatamente como a mãe quando mais nova, quando ela... Falava dele...

O estômago embrulhou e de repente pensou em muitos tipos de treinos e punições para Boruto para a sua próxima aula ao pupilo.

— Tudo bem, papa? — Sarada perguntou ao ver a cara enjoada do pai.

— Está querida, seu pai apenas, bom, — Sakura olhava sentindo um misto de divertimento e pena — ele apenas está cansado.

— Eu também. — a morena disse — Se importam se eu subir agora?

— Claro que não, amor. — Sakura falou sorrindo para a filha — Vá descansar. Fez um bom trabalho hoje.

A garota sentiu o peito inflar diante do apoio e elogio da mãe, por mais que fosse sempre comum Sakura a elogiar, sempre seria gratificante saber que sua mãe se orgulhava tanto dela. Agradeceu mais uma vez pela comida e deu um beijo na bochecha dos pais e subiu cansada, ansiando apenas sua cama e uma boa noite de sono.

— Anata...

— Você viu o que ela fez com os óculos, não é? — perguntou na esperança de ter visto demais.

— Sasuke-kun, não pense nisso. — ela pediu sorrindo daquela maneira doce.

Aquela maneira que ela fazia quando ela sabia algo que ele não.

— Você sabe de alguma coisa. — ele estreitou os olhos.

— Não, eu não sei de nada. — ela sorriu amarelo e se levantou também.

Ela sempre foi uma péssima mentirosa. Ela sabia de alguma coisa e não queria o contar.

— Você sabe de alguma coisa, Sakura. — afirmou.

— Não, anata.

— Eu conheço vocês duas. Sei que há alguma coisa com Sarada e sei que você sabe.

Ela se virou com a melhor expressão que ocultasse qualquer coisa que fosse e afirmou.

— Não há nada.

— Você não quer me contar.

Ele levantou e saiu da cozinha se sentindo traído pelas pessoas que mais amava no mundo. Saiu da mansão para a ronda que sempre fazia ao redor da casa para garantir que estava tudo bem e quando checou tudo, voltou para dentro da mansão. Subiu as escadas e mesmo que estivesse se sentindo traído, deu uma passada no quarto da filha para checar se estava tudo bem. Fechou a porta com cuidado para não acordar seu anjo e foi para seu próprio.

Se jogou na cama depois de tirar a camisa e ignorou quando Sakura saiu do banheiro da suíte e deitou ao seu lado. Sentiu a mão em suas costas e não quis gostar do carinho, mas ele gostava.

— Não queira me agradar, Sakura. — ele falou e sentiu a mão se afastar.

— Não estou fazendo para te agradar, anata. — ela falou simplesmente folheando o livro em suas mãos.

— Não acredito que está escondendo algo de mim. — falou depois de um hiato de silêncio.

— Não estou escondendo nada.

Sentiu o corpo dela se remexer no colchão e a respiração dela bater em suas costas nuas.

Ele virou para ela e viu que ela estava deitada de frente a ele, com aquele sorriso que ela sempre dava para ele, os enormes e doces olhos o deixando hipnotizado com o brilho.

— Sabe que a Sarada nunca esconde nada de nós e se ela não falou ainda com você, ela logo irá falar. Está esperando o tempo certo. — ela falou calmamente, fazendo um carinho nos cabelos do marido.

— Eu sei, só não gosto de ser o último a saber. — ele falou a puxando para mais perto.

— Mas no fundo você sabe. Conhece sua filha e seu aluno, anata. Só não quer aceitar. — ela beijou o pescoço do marido — Espere alguns dias, fique calmo.

— Você não pode me pedir calma quando está assim comigo, Sakura. — a voz rouca do Uchiha soou e ele a ergueu a colocando sentada em eu colo. As pequenas mãos se apoiaram no peitoral e ele a viu corar. Ele adorava o fato de ser o único que a fazia corar com facilidade.

Varreu para longe aquele assunto que prolongaria o máximo que pudesse e se concentrou na mulher em cima de si.

Ela o beijou e ele sempre a corresponderia. Ele já estava se sentindo em casa há horas, mas naquele momento, era a vez de Sakura dar as boas-vindas da maneira que estavam esperando desde há duas semanas atrás. Pensando que apesar de ser um dia qualquer, ela sempre o faria especial, assim como todos os dias de sua vida.


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