Pensamentos Roubados escrita por Unknown


Capítulo 4
Que nem nos filmes




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4. Que nem nos filmes

 

Nico sorri um sorriso levado e me dá as costas, ele continua andando. Por um momento, fico paralisado, porque jurava que era a minha hora de brilhar. Como assim aquela boquinha perfeita ainda não tá na minha?!

“Espere aí, seu pilantrinha!”

Então saio correndo, porque ele já está a cinco metros de distância. Mas Will Solace esquece das pernas estabanadas e acaba tropeçando no caminho.

Eu caio. Lindamente. Igual uma gazela espatifada.

“Meu Deus, Will! Você tá bem?”

Acho que ralei meu joelho e meu cotovelo direito.

“Deixa eu ver.”

Nico se ajoelha ao meu lado e eu sento. Ele coloca minha perna dobrada e vê que, realmente, minha pele saiu e tá sangrando.

Não sinto dor. Não no machucado.

O que contorce é o meu coração quando uma mecha negra de seu cabelo cai e ele a coloca no lugar, atrás da orelha, sem desviar a atenção do meu joelho. Sinto uma fisgada quando reparo nos lábios entreabertos e na marquinha de expressão entre as sobrancelhas e me ocorre o pensamento de que ele poderia ter sido meu há muito tempo.

Eu estou perdidamente apaixonado.

E pessoas perdidamente apaixonadas não pensam.

Então eu o beijo.

Simples assim. Seguro no seu rosto e o puxo para perto, colo meus lábios nos seus e sinto o cheiro da sua respiração.

E esse é o momento mais feliz da minha vida, o meu coração salta feito louco, vida corre em minhas veias como nunca antes.

O problema é que o momento dura apenas alguns segundos.

De repente, sinto uma pressão terrível nas têmporas e um milhão de sentimentos me invadem. Não é como ter uma crise existencial, onde você sente tudo ao mesmo tempo. É mais como a sensação de alguém colocando os dedos na sua garganta, um vômito ao contrário. Esses sentimentos não pedem passagem, eles só entram com tudo.

Hesitação.

Medo.

Insegurança.

Trauma.

Acho que nem um segundo se passou, mas estou pensando coisas que não são minhas.

 

Ah não. De novo não.

Percy Jackson.

Ele vai fugir. Ele vai fugir.

Por que eu não expliquei antes disso acontecer?

Percy Jackson.

Por que eu não escutei ele pensando em me beijar?

Ele está me escutando. Isso dói.

Isso dói.

Isso dói.

 

Percy Jackson.

 

Nico se levanta de repente. Parece que o beijei por horas, mas foram três segundos no máximo. Ele está de pé, os olhos arregalados, os lábios e o corpinho todo trêmulo.

Ele vai chorar.

“Nico, me perdoa, eu…”

“Por que você fez isso?” ele grita, com raiva.

Nico está dando passos para trás. Se afastando, indo embora.

Eu me levanto e tento ir em sua direção, mas ele já começou a correr e o meu tornozelo está doendo. Não vou conseguir alcançá-lo.

Ele está fugindo.

Fugindo.

Escapando por entre meus dedos.

Não sei se vou suportar perdê-lo quando já estava me acostumando com a possibilidade de tê-lo.

Isso é cruél demais pra mim.

No entanto, não vou atrás dele. Sinto que não posso. Não é justo, ele precisa ter um tempo. Sinto como se tivesse invadido sua privacidade de um modo íntimo demais.

 

***

 

O fim de tarde é dolorido e solitário.

Acho que escutei os pensamentos do Nico e ele não gostou nem um pouco.

Acho que isso já aconteceu antes e ele não gostou nem um pouco. Afinal, quem é Percy Jackson?

Nico não vai responder minhas mensagens nunca e eu não sei mais o que escrever.

 

Will: ei, o que houve?

Will: eu meio que… ouvi os seus pensamentos?

Will: aaaaa o que foi aquilo

Will: me perdoa, eu não sabia o que estava fazendo

Will: quer conversar? Porque eu quero e muito

Will: quando quiser, eu vou estar aqui, ok? Não vou embora até você me disser pra ir

 

Tenho medo de que ele vá desaparecer.

Tenho medo de que eu vá desaparecer para ele.

 

Gasto a minha tarde revendo meus pensamentos, repassando tudo que aconteceu, fazendo teorias. Assisto um filme ou dois, mas não presto atenção de verdade. E de noite, minha cabeça também não me deixa fazer outra coisa: eu só consigo pensar nele.

Ele, que mora a três ruas daqui, numa casa cujo número eu não decorei.

Ele, que ia me deixando entrar e eu não respeitei os limites.

Minha mãe aparece por volta de 23h.

“Você está bem, Will? Não saiu do quarto o dia todo.”

“Tô bem.”

“Pra onde você foi hoje de manhã?”

“Fui no parque.”

“Encontrar alguma garota?”

O sorriso dela é sugestivo e eu reviro os olhos.

“Você sabe que meu coração tem dono.”

“Estava na esperança de você ter superado.”

Mamãe ri graciosamente.

“Eu também. Mas não aconteceu.”

Ela dá de ombros e me chama pra tomar café com meu pai e meus irmãos. Digo que sim, porque estou morrendo de fome. Lanche noturno em família: não existe nada mais empolgante.

E de madrugada, eu não consigo dormir. A escuridão da noite parece demais com os olhos dele. Todas as músicas que tocam são sobre ele. Nico está em tudo que existe no universo e isso não vai me deixar em paz.

Mas, afinal, a insônia vale a pena, já que por volta de duas da manhã recebo uma notificação:

 

Nico: tudo bem, vamos conversar

 

E eu respondo imediatamente. Sem nem pensar. Sem nem hesitar.

 

Will: por mensagem? Ou quer que eu te ligue?

 

Cada segundo que ele passa digitando me mata.

 

Nico: não

Nico: eu sei que é tarde, mas você pode me ver agora?

Will: minha mãe não vai me deixar sair

Will: você pode vir pra cá?

Will: te coloco pra dentro pela janela

Will: igual naqueles filmes românticos

Nico: KKKKKKKKKKK

Nico: ok

 

Ele sabe onde eu moro. O ônibus da escola sempre para aqui antes da casa dele. Então eu deixo a luz acesa e espero.

E espero.

Mas meu cabelo tá feio e minha camisa tá furada, e meu hálito também não tá nada bom. Então eu começo a correr pelo quarto, colocando uma camisa decente enquanto tento organizar meu cabelo em cachos. Escovo os dentes enquanto saio recolhendo as coisas jogadas pelo chão.

Gradualmente, a ideia de que ele vai estar no meu quarto vai entrando na minha cabeça.

Não sei se gosto disso.

Meu estômago está revirando.

Meu crush. No meu quarto.

Não é exatamente nas ciscunstâncias que sempre quis, já que na minha imaginação ele geralmente me jogava contra a parede e morria de me foder, mas ainda assim.

A gente vai se beijar?

Deus me livre mas quem me dera.

No instante em que guardo a última meia na gaveta, escuto um barulhinho na janela. Depois outro. Abro-a e coloco a cabeça pra fora.

“Pedrinhas? Sério?”

Nico sorri.

“Não era pra ser que nem nos filmes?”

Sorrio também.

Puta que pariu ele

é

muito

L I N D O



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