As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 16
Lamentando os mortos


Notas iniciais do capítulo

Chega na casa de Áries o cavaleiro de Taça, um homem capaz de curar todos os feridos.



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Itsuki foi a última a abrir os olhos. Ao seu redor, estavam Natassia e Shoryu, ambos em pé e, aparentemente, plenamente recuperados. Mas também haviam rostos desconhecidos ali, e até mesmo a ausência deles. Duas amazonas mascaradas e dois cavaleiros completavam o grupo. Uma das amazonas tinha os cabelos castanhos e usava uma armadura da cor do céu, enquanto a outra, loira, tinha uma armadura rosa escuro, com correntes enroladas em seus antebraços. Quanto aos cavaleiros, um deles tinha traços orientais e usava uma armadura branca, enquanto o outro estava mais próximo de Itsuki, acolhendo-a em seu colo. Era um homem loiro, um pouco mais velho que Shoryu, que depositava algumas gotas de água na boca da amazona, que pareciam estar escorrendo ao redor de seu antebraço até pingar a partir de seus dedos. Apesar da proximidade, Itsuki conseguia ver que a armadura dele era prateada.

— Que alívio ver você recuperada mais uma vez — disse Natassia para Itsuki, com um sorriso. — Este é o médico do Santuário — disse se referindo ao loiro que cuidava de Itsuki — o mesmo que cuidou de você ontem. E eu acabo de descobrir que ele também é um cavaleiro de Prata... — explicou, sem graça.

— Eu sou Maitreya¹ de Taça. Prazer em conhecê-la, Itsuki.

— O que é isso que você está me dando? — perguntou a amazona, referindo-se às gotas de água que o cavaleiro pingava-lhe na boca.

— A armadura de Taça possui propriedades miraculosas de cura. Na Era Mitológica, ficou conhecida como o Santo Graal². Geralmente, eu uso a água guardada dentro da armadura quando ela está na forma de totem. Mas como eu estou vestindo-a agora, estou usando o meu cosmo para condensar a água do ar diretamente sobre o mangote da minha armadura³.

Após mais algumas gotas, Itsuki sentiu-se plenamente revigorada e conseguiu se levantar, aproveitando então para cumprimentar e conhecer os demais cavaleiros que haviam ali chegado.

— Eu sou Marin de Águia, uma amazona de prata — disse a amazona de armadura azul celeste. — E esses cavaleiros de bronze são Seiji de Pégaso, meu discípulo, e Helena de Andrômeda.

— Então vocês são os amigos do Shoryu que ele mencionou mais cedo... — comentou Itsuki cordialmente. — E onde está o Kiki? — questionou, procurando-o em volta.

Subitamente, todos ficaram com uma expressão de pesar. Virando-se em direção a uma região mais escondida nas sombras da casa de Áries, os cavaleiros apontaram para Itsuki onde estava um corpo coberto por um lençol branco, manchado de sangue na altura do peito.

— Eu sinto muito Itsuki — desculpou-se Maitreya. — Mas quando eu cheguei aqui o coração dele já havia parado. Eu tentei salvá-lo e até consegui curar os ferimentos de seu corpo... Mas Kiki já havia abandonado esse plano. Infelizmente, não há mais nada que eu possa fazer.

— Espera... O que isso quer dizer? Então ele não vai se recuperar? — questionou, aflita.

— É muito improvável — respondeu Maitreya. — No momento, o corpo de Kiki está em um estado de meia-morte, com batimentos e respiração muito fracos e lentos... Mas ele não vai durar assim por muito tempo.

— Tudo depende se Kiki já cruzou o limite para a entrada do mundo dos mortos — explicou Shoryu, com um olhar vago, que parecia não estar focalizando em nada específico. — Nesse momento, ele pode estar a caminho ou já ter entrado nele. Não temos como saber.

— Shoryu... — disse Itsuki preocupada.

A amazona tentou tocar o braço do cavaleiro, mas ele se afastou e deu-lhe as costas, indo na direção do corpo de Kiki. Natassia aproximou-se de Itsuki para tranquiliza-la.

— Dê um tempo pra ele... Ele e Kiki eram muito amigos. E ele está se sentindo culpado já que Kiki morreu tentando nos proteger.

— Mas todos nós fomos responsáveis pela derrota... — lembrou Itsuki, sentindo-se mal por Shoryu.

— Ah, e caso você note, não comente isso com ele... — sussurrou Natassia — Mas ele perdeu a visão na última luta e ela ainda não voltou, mesmo com a água da armadura de Taça...

— O quê? É sério? — questionou incrédula.

— Sim, parece que foi a técnica do cavaleiro de Virgem que atingiu o Shoryu... É algo que ainda está em curso, e que vai além de danos físicos ao corpo dele.

— Mas como ele vai lutar assim? — perguntou Itsuki.

— Não se preocupe — acalmou-a Maitreya, com um sorriso reconfortante — A perda de um dos sentidos não é algo limitante para um cavaleiro. Não se ele domina o sétimo sentido, como é o caso do filho de Shiryu. Ele vai ficar bem.

— Ei! Chega de perder tempo! — gritou uma desagradável voz conhecida de Itsuki. — Vamos logo para a próxima casa. Temos inimigos para alcançar — ordenou Christopher de Lagarto, irritado, e que se aproximava após sair de detrás de uma coluna em que estava encostado.

— Você... O que esse cara está fazendo aqui?! — indignou-se Itsuki.

— Ei... Calma — interviu Natassia, com um sorriso amarelo. — Agora nós estamos todos do mesmo lado — lembrou.

— Dragão! — insistiu Christopher, bastante impaciente e encarando Shoryu, que se despedia ajoelhado ao lado do corpo de Kiki — Chega de chorar pelos mortos. Temos uma guerra pra vencer.

— Seu... Quem você pensa que é pra falar assim com ele?! — exclamou Itsuki, batendo peito com Christopher.

— Você acha que são os únicos que perderam alguém? — rebateu Christopher, sem se importar em ser empurrado. Apesar da costumaz expressão de arrogância e cinismo do cavaleiro, Itsuki pode notar também algo de diferente em seu olhar. Era como se o cavaleiro tentasse esconder, com a agressividade, o que realmente estava sentindo. Mesmo que por poucos segundos, a dor que transpareceu em seus olhos cortou o coração da amazona. — Alexander de Baleia... Philipp de Cão Maior... Angel de Cruzeiro do Sul. Todos os meus amigos mais próximos foram desmembrados ou tiveram as cabeças esmagadas diante de meus próprios olhos. Vocês pelo menos tem um corpo para enterrar... — concluiu, finalmente desviando o olhar, que parecia começar a lacrimejar, mas de ódio, e não de tristeza.

— Eu... Eu não sabia... — lamentou Itsuki, recolhendo-se.

— Ele tem razão, Itsuki — disse Shoryu, aproximando-se do grupo. — Não temos permissão para chorar pelos mortos, ainda... Vamos à casa de Touro — concordou.

Ignorando Itsuki, que tentava se desculpar, Christopher tomou a dianteira e se dirigiu a saída a passos rápidos. Apesar da tensão do momento, todos concordaram em segui-lo e, então, aos poucos, começaram a correr em direção à saída, liderados pelo cavaleiro de Lagarto.

Seiji de Pégaso, porém, deteve-se ao notar que sua mestra Marin, de costas para o grupo, não havia se movido, e encarava a entrada da casa de Áries.

— Marin? — questionou, ao voltar por ela.

— Vão sem mim, Seiji. Eu devo ficar aqui e proteger a primeira casa.

— Do que você está falando?

— Vocês todos têm capacidade de lutar de igual para igual com um cavaleiro de ouro, mas o mesmo não se aplica a mim. Se eu for com vocês, só irei atrapalhar. E além disso, sem o Kiki, alguém precisa ficar aqui para impedir o avanço de novos inimigos... — explicou — Já posso sentir a presença de alguns monstros subindo as escadas para a primeira casa...

— Mestra Marin... — insistiu preocupado.

— Não se preocupe, Seiji. Eu vou ficar bem. Agora, vá logo, e mostre o seu valor. Já estava na hora de você provar que é merecedor de ser o sucessor de Seiya... Vá, e saia de sua sombra.

— Marin... Obrigado — agradeceu Seiji com uma reverência, a seguir virando-se e correndo para alcançar os companheiros que já haviam deixado a casa.

Sozinha na casa de Áries, Marin aguardou pacientemente até chegarem os primeiros inimigos. Monstros mitológicos sem fim, renascidos um atrás do outro por Epimeteu, e enviados ao Santuário. Com a grande quantidade de cavaleiros de bronze e de prata mortos na invasão inicial dos cavaleiros inimigos, e com os cavaleiros de ouro ocupados com inimigos mais poderosos, os monstros mitológicos começavam a tomar conta do Santuário. Agora, somente Marin os separava das 12 casas.

Assim que chegaram os primeiros minotauros, enormes gigantes humanoides com cabeça de touro, portando machados e exalando fogo, Marin partiu para cima deles, para liquidar um depois do outro, com seus socos e chutes capazes de rasgar a carne dos monstros.


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Notas finais do capítulo

1. Maitreya, que tem origem no termo sânscrito maitri, que significa amistosidade, é tido como a próxima reencarnação de Buda.

2. Não há citação na obra de Saint Seiya sobre a armadura de Taça ser o Santo Graal. Esta é, portanto, uma interpretação da minha fanfic.

3. Na obra de Saint Seiya, somente se fala em curar os feridos após beber a água da armadura de Taça quando ela está no formato de totem, mas na minha fanfic eu abri essa outra possibilidade.



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