Isabelle Lightwood sussurrou “Adriel” para sua lâmina serafim e a arma iluminou a noite escura com um brilho pálido. A caçadora e Jace estavam em um beco sem luz na cidade, buscando uma criatura que era culpada por uma série de assassinatos contra integrantes do submundo. Ainda não tinham conhecimento de quem – ou o que – era seu suspeito, mas adentrando o local podiam sentir que o fedor de um demônio era pungente.

O ar estava pesado enquanto a dupla adentrava ainda mais a ruela e, como eram iluminados apenas pela lâmina de Izzy, seus passos eram cautelosos e medidos. Qualquer erro poderia resultar em uma morte, e nenhum deles estava disposto a morrer ainda.

Jace indicou uma enorme lata de lixo com a cabeça e a garota parou onde estava, permitindo que ele seguisse sozinho e contornasse a coisa. O culpado devia estar se escondendo lá, imaginando que o odor forte de putrefação seria escondido pelo mal cheiro do lixo. Ledo engano, ainda mais para as narinas treinadas de Caçadores de Sombras.

Izzy se distraiu alguns segundos, observando Jace e seu caminhar. Era maluco como ele a hipnotizava, com seus cabelos loiros e olhos sagazes. Sorriu de sua idiotice, estava em uma missão, poxa vida! Não era momento de ficar analisando a beleza angelical do irmão de criação nem nada do tipo.

Afastou os cabelos negros do rosto com um jogar da cabeça e algo chamou sua atenção.

A rua escura tinha, à sua esquerda, um contêiner para lixo e Jace estava quase chegando na outra ponta dele, e à direita, inúmeras sacolas pretas que não deviam ter cabido na lixeira. Entretanto, um dos sacos parecia estar se movendo, como se balançasse com o vento. Embora não ventasse naquela noite abafada.

— Jace - Murmurou sentindo que algo parecia errado. O garoto imaginou que surpreenderia o demônio no outro lado da lixeira, mas não havia nada. Izzy piscou algumas vezes os olhos castanhos e repetiu - Jace.

Ele olhou para ela, negando com a cabeça para dizer que não tinha nada ali.

— Tem alguma coisa errada - Sua garganta começou a se fechar enquanto via as sacolas definitivamente se movendo.

Jace também viu aquilo, sacando suas armas e se colocando em posição de ataque. O culpado dos assassinatos se desenrolou do chão, erguendo seu monstruoso corpo disforme e abrindo a boca cheia de dentes pontiagudos e azuis, rugindo para os Caçadores com seu bafo grotesco.

Seria uma boa luta, Izzy pensou.

***

— Eu to moída - Isabelle resmungou deitada em sua cama no instituto. Jace sorriu para ela e se aproximou cruzando o quarto sentado em uma cadeira de rodinhas.

— Deixa eu te curar?

— Eu sei fazer sozinha.

— E mesmo assim não fez ainda. Acho que quer que eu faça.

— Acha o que? - Levantou a cabeça olhando para ele com descrença.

— Você quer que eu faça - Implicou.

— Jace, você está pensando que eu quero que você me toque?

— Hum, colocando nessas palavras só me dá mais certeza.

Izzy sentou na cama, aproximando seu rosto machucado de Jace, ficando a poucos centímetros de distância.

— Pode me curar então – Falou esticando seu braço para ele. Sua voz fazia cócegas no garoto, que resistiu à tentação e puxou sua estela do bolso da calça, tocando-a na pele quente.

— Um Iratze saindo - Anunciou desenhando. A prática para fazer aquela marca fez com que acabasse rápido. Izzy esticou as costas aliviada, o gesto exibia um pedaço de pele descoberto pela blusa. Jace sentiu o corpo pegar fogo, ela o estava provocando.

— Sabe... Acho que preciso de mais um.

— Onde? - Sua voz já saia em um sussurro, estava tentando lutar contra a vontade de tê-la, mas preferia mil vezes matar um demônio, enfrentar licantropes e ser enganado por fadas. Não conseguia dizer não para Isabelle Lightwood, nunca tinha conseguido e achava que nunca conseguiria. Ela o tinha na ponta das mãos macias.

— Aqui - Retirou sua regata preta, exibindo o peito coberto apenas por um sutiã rendado. Seu abdômen estava roxo de algum golpe recebido durante a luta.

— Isso está feio - Se aproximou, deitando o corpo sobre as pernas dela e marcando sua pele com a estela mais uma vez.

— E dolorido – Reclamou – Eu não consegui desviar quando ele jogou um tentáculo em mim.

— Foi aquela hora que você saiu voando?

— Essa mesma.

Jace terminou e deixou o objeto cair dos dedos, passando sua mão pela cintura de Izzy e trazendo seu corpo para perto do seu.

— Onde conseguiu isso? - Tocou seu peito vacilante.

— Comprei em uma loja mundana - Sorriu maliciosamente tocando seus narizes. Suas respirações se misturavam e seus corações batiam na mesma intensidade - Gostou?

— Você sabe que eu me impressiono facilmente - Brincou levantando da cadeira e deitando o corpo sobre o dela.

— Ainda mais se eu estiver no meio - Constatou fugindo do beijo que ele tentava dar e mordendo seu pescoço com luxuria.

— Não tem nada a ver - Tentou mais uma vez lutar contra a paixão que tinha dentro de si, mas então Isabelle finalmente o beijou e o resto do mundo deixou de existir. Não havia nada no universo além de Jace e Izzy e dos lábios grossos dela sobre os dele. Sua mão inquieta acariciava todo o corpo esguio da garota, desejoso de mais. Com ela Jace nunca estava satisfeito, queria sempre mais. Queria mais tempo junto, mais proximidade, mais Izzy, MAIS.

Uma batida na porta despertou os dois de seu transe e se separaram rapidamente. A porta se abriu e Alec colocou a cabeça para dentro do quarto.

— O jantar está pronto.

— Espero que não tenha sido você quem cozinhou - Jace falou tentando distrair o garoto da visão da irmã de sutiã, sem sucesso.

— O que vocês...?

— Jace estava me curando - Falou apontando para a marca preta em sua barriga, que não mais estava arroxeada. Não deixava de ser verdade, mas Alec não era burro.

— Coisas de família, sabe - Deu de ombros levantando da cama da garota relutante - Bem, vamos comer então.

Antes de deixar o quarto, Alec ainda lançou um olhar com as duas sobrancelhas arqueadas para a irmã, que sorria enquanto vestia sua blusa mais uma vez, tapando seu corpo.