Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 13
13 - Tanto para nada


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem? :3

Voltamos a programação normal com a Elisa, dessa vez é depois que ela sai do hospital e vai para casa. Pelo jeito as coisas irão mudar!


Espero que gostem e desejo uma belíssima leitura, bem como bom feriado!



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Capítulo treze
        Tanto para nada

 “E agora todo esse tempo
Está passando
Mas eu não consigo dizer-lhe por que
Dói toda vez que eu te vejo”
(I Hate U, I Love U – Olivia O’Brien)

 

Não sei quanto tempo se passou desde o momento em que recebi o abraço dele e nem sequer percebi que estavam nos olhando sem entender nada e faltavam me matar se não o soltasse agora mesmo. Era como se tivesse uma super força que me impedia de me afastar, mas sabia que de alguma forma era eu a pessoa que não queria isso.

— Obrigado. — Sua voz era fraca, muito fraca.

— Você precisa sair, Panda. — Sempre uma dessas três para vir com ameaças ao me pegar pelo braço sem delicadeza nenhuma e puxar para trás. A sua voz e seu corpo gritavam para que a obedecesse se não levaria uma surra.

Me virei para ela e não disse uma palavra ao andar a passos arrastados para a porta e ir para o corredor que dava até a recepção. O vidro esboçava uma Elisa que tinha o cabelo bem revirado e o rosto vermelho, as lágrimas já secas estavam bem marcados pelos riscos pretos e me sentia anestesiada mesmo que isso me fizesse ter vergonha depois por como estava em um lugar como aquele. Era como se fosse algo pequeno diante do que vivi hoje e nem entendia de que jeito consegui chegar até o carro.

— Brigou com ele? — E assim fui recepcionada ao sentar no banco de trás, por sua cara bem sorridente.

— Por que acha isso? — Não teria como explicar o que tinha acontecido lá.

— Olha para você, parece que está fazendo cosplay da banda Kiss. — Mostrou seu espelho para mim, mas nem o encarei por já entender que tinha dito. Foi por isso que Marina tinha me chamado assim quando me expulsou do quarto.

— Não, apenas conversamos. — Aí, agora vai me pressionar por mais.

— Isso é impossível. — Sussurrou depois de um tempo em completo silêncio.

Ouvia o som do rádio que tocava um pop simples que não me aconselhava em nada sobre o que deveria responder a ela e isso me deixava mais agoniada. Não eram nessas horas que enviavam algum sinal que poderia livrar a protagonista de uma encrenca? Confesso que se estivesse em seu lugar talvez teria a mesma reação ou até pior, mas ao mesmo tempo estava chateado por achar que fui até lá para discutir com um doente.

— Preciso concordar com minha filha. — Agora que tinha notado que encarava o seu pai em busca de alguma ajuda, que com toda a certeza não veio.

— Demos uma trégua por estar internado. — Tá, sei que fiz mais do que falei.

— Você não o odeia a esse ponto. — Será que Alison está com os seus delírios românticos ou tinha acabado de dizer que meu lado certinho havia vencido? Seu sorrisinho me incomodava.

— Não. — E agora nem sabia o que sentia por ele, porque quando as lembranças do seu rosto inchado e os olhos molhados ao encará-lo antes de ir embora o que vinha era somente a dor.

Ela pulou no banco quando a música começou a tocar e, se fosse uma que não gostasse, diria que tinha algo para me perguntar antes disso. Talvez saber algo pela maneira como me comportei naquele hospital. Era desespero.

— Seu pai me ligou perguntando onde estava. — Sabia que já havia resolvido e não o respondi, fiquei o trajeto inteiro vendo a paisagem e meu reflexo ao virar para a janela. Estava ridícula e não me importava nenhum pouco.

Dei um tchau com a mão quando sai do veículo por não conseguir falar direito, era como se tivesse algo me sufocando. Parecia que fui flutuando até chegar na porta pelo turbilhão de pensamentos que me atormentavam. O dia em que foi a sala que esperava pedir para ser cobaia, quando mandou mensagem, assistiu o podcast comigo e tantas outras em que fui grossa me deixavam arrependida.

— Lisa, demorou. — Disse quando estava passando pela cozinha e o tom doce e preocupado que usava foi o gatilho que faltava para não aguentar mais e soltar as lágrimas ao correr para abraça-lo. Talvez me sentiria mais calma. — Foi tão ruim assim o jogo? — Sentia que nem merecia seu amor por ter sido um monstro com alguém que está em uma cama do hospital. Por que me sentia tão culpada se nem sabia disso antes?

O pior da minha vida. — Meu soluço veio com as lembranças daquela correria e ele caído no chão antes de ser levado na maca.

Quando falei isso meu pai me levou para o sofá e não estava mais protegida por seus braços e era tarde demais para esconder que chorava sem conseguir parar. A maneira como me olhava era muito conhecido por mim, principalmente depois das brigas com a mãe, e pelo jeito nem sabia o que fazer.

— Que aconteceu? — Por onde começo?

— O Daniel. — Voltei a me aninhar em seu colo pela vergonha de contar tudo que houve nesse dia, a parte do futebol, do hospital e sobre o projeto. Eu tinha medo do que mais sentiria.

Seu aperto aumentou quando ouviu esse nome e me consolava ao dar tapinhas nas minhas costas como fazia na minha infância ao tirar nota baixa. Ele se sentia culpado e não era isso que queria.

— Que esse idiota fez dessa vez? — Tinha esquecido que as vezes depois disso explodia e me mandava estudar no quarto. — Não deveria ter deixado que fosse. — Quem dera fosse apenas por causa de uma outra briga.

— Iremos fazer o trabalho juntos. — Não teria coragem de dizer a pior parte.

— Por acaso te obrigou? — Não diga isso. — Se quiser vou na escola para ver sobre isso, pelo jeito que esse garoto é capaz de te forçar a perder a virgindade.

— Nunca vai acontecer. — Era baixinho, mas serviu para que parasse de dizer uma coisa assim dele, mesmo que não tivesse esse direito por ter sido a pessoa que mais falou mal.

— É bem possível sim, homens como ele só pensam em sexo. — Se eu ficasse parada ia apenas continuar com essas besteiras e me machucar mais por saber que era o que ficava repetindo quando corria algum boato de uma nova menina que tinha ficado.  

— Ele vai morrer, pai! — A cada palavra solta a verdade batia de frente e trazia aquela sensação agoniante de volta. — Que faço? — Isso me sufocava a fala ao ponto de quase não conseguir soltá-la.

— Como assim? — Nem precisava olha-lo para sacar que sua raiva tinha ido.

— Ele desmaiou enquanto jogava. — Sussurrei e dei uma parada para conseguir respirar um pouco. — Eu ouvi quando disseram que tem problema no coração e está internado para verificarem sua situação.

— Então não quer dizer que vai falecer. — Provavelmente comentou para que me sentisse mais animada, porém tudo isso só me deixava pior.

— Por que você não viu o que vi! — Tinha me afastado e pegado seus braços e o encarado para que entendesse que estava sendo séria. — Não viu seu rosto pálido, suas olheiras ou sua dificuldade para falar uma frase e até de respirar. — Cada coisa dele tinha percebido mesmo que tentasse esconder, era tão vivo em minha mente que poderia até desenhá-lo. — Ele tremia tanto e era de medo. — E essas lágrimas malditas não paravam de sair. — Parece alguém que poderá viver? — Era como se tivessem passado horas por ter vacilado várias vezes no meio desse desabafo.

— Precisa se acalmar, filha. — Vai completar com ficar assim não vai te ajudar em nada? — Amanhã terá boas notícias dele.

— Eu não consigo. — Fui sincera ao passar a mão em meu rosto para limpar o rímel que ainda estava lá, para logo ficar molhado de novo. — Aquele ódio todo que sentia se foi quando entrei naquele quarto, se penso nele apenas me vem a culpa e uma vontade imensa de chorar. — Quando falei para outra pessoa caiu a ficha do que pensava dele.

— Por quê? Se Daniel está assim não foi por sua causa. — Passava a mão em meu cabelo ao colocar a cabeça na almofada para abafar meus soluços.

— Falei coisas horríveis dele para vocês todos esses anos. — Sem falar quando stalkeava a rede social dos dois para xingar. — E disse não quando pedia para fazer o trabalho, mesmo que implorasse ou fosse legal comigo nem ligava. — E engoli seco quando as lembranças de cada coisa vinham a mente. — E isso para alguém que vai morrer a qualquer momento. — Entendeu agora como me vejo?

— Mas você disse sim. — Tinha razão, só que era insuficiente.

— Queria que fosse em um momento melhor, deveria ter perguntado sobre sua insistência. — Essa dúvida sempre tinha e guardei para mim. — Eu me comportei feito uma idiota por duvidar dele e achar que era para rir depois.

— O passado é passado, então esqueça e dê seu melhor a partir de agora para se dar bem com o Daniel. — Aconselhou igual um sábio chinês. — Deixo vocês fazerem o trabalho aqui em casa se quiserem. — Bom que entendeu.

— Obrigada. — Dei um sorriso amarelo e me levantei dali para ir ao meu cantinho tentar dormir, isso se certo alguém não atrapalhasse meus planos.

“Cadê você?” — Alison.

Essa mensagem foi mandada várias vezes, seja em caps lock, com vários pontos de interrogação e exclamação, sem falar das ligações. Ela parecia até uma mãe com essa preocupação toda.

— Estava tendo um momento pai e filha. — Respondi ao atende-la.

— Pela voz de choro deve ter te dado sermão. — Tentou adivinhar.

— Não, é sobre Daniel. — Confessei.

— Sempre assim, não tem outro assunto para falar não? — Já sabia que estava mais que de saco cheio dele, mas era impossível deixar isso de lado.

— Dá para pelo menos fingir que se importa? Ele vai morrer e você fica achando que é nada demais? — Era estranho demais me ver o defendendo.

— Pare de falar bobagem, logo estará na escola. — Entendi, seu jeito de não se afetar era negar a gravidade.  

— Quando ouvi sobre seu problema de coração também pensei que era apenas mais uma crise, porém ia ter alta em pouco tempo por ser novo ainda. Ver numa cama de hospital entubado e quase sem conseguir falar foi doloroso, porque aí percebi que não era brincadeira. — Foi tudo falado tão devagar que podia ouvir os seus suspiros a cada pausa.

— Exagerada como sempre. — Estava a ponto de berrar.

— Está bem, pense como quiser. — Desisto.

— E por isso chorou? — Sua voz embargada me deixou em choque.

— Olha quem fala. — Soltei um riso bem curto antes que piorasse essa situação.

— Não é novidade nenhuma, Elisa. — Sussurrou. — Já você estar assim é bem surpreendente. — Realmente talvez tenha feito isso em poucos dias mais do que nesses anos.

— Disse mil vezes que é culpa. — Sim, é isso.

— Eu sei. — Vindo com ironia.

— Até vamos fazer o projeto juntos. — Finalmente falei.

— Sério? Que bom. — Até tinha parado de chorar para comemorar, era a pessoa que mais torcia por nossa parceria. — Achei que não ia mais continuar. — Via a sua cabeça sonhadora dizendo “eu shippo”.

— E mais nada, tá? Nem troca de olhares apaixonados, beijo, ou seja o que for que esteja imaginando. — Fui a cortando sem que começasse a abrir a boca.

— Tem certeza? — Qualquer coisa que comentasse ia virar um espetáculo em sua visão, mas mesmo assim algo em mim queria contar.

— Apenas um abraço. — Confidenciei baixinho pela vergonha.

— Naquele gostoso? Que sortuda! — Ver que estava um pouco animada me deixava melhor, porém ao mesmo tempo me sentia um lixo por rir assim. — Era cheiroso? Conseguiu sentir o tanquinho? — Capaz que ia ficar sem detalhes.

— Nem pensei nisso, foi estranho. — Como tremia ao me apertar era o que mais me atormentava. 

— Vai visita-lo? — Essa demora ao me retornar era pela decepção que deve ter sentido ao estragar a sua fanfic?

Pensei um bom tempo antes de responder, porque ficava era dividida entre ir e apanhar das três lacaias ou tentar me sentir menos pior ao vê-lo. Talvez poderíamos falar sobre o que faríamos ou crimes reais.

— Sim. — Quem sabe depois das aulas.

— Também irei. — Do jeito que a conheço teve ter até feito uma cartinha ou algo para dar a ele e me perdi tanto nesses pensamentos que nem vi que tinha desligado.

Queria ser mais como Alison que era confiante e ia mesmo quando tinha medo, se batessem nela por causa disso pelo menos não ia se arrepender do que não fez. Ao contrário de mim ela não tinha dúvida na sua fala em me acompanhar no hospital, se fosse eu não se sentiria tão mal agora por pelo menos ter o afrontado ou até aceitado antes dessa maldita partida.


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Notas finais do capítulo

Que acharam do capítulo?

Apenas para avisar que a gif não é minha, é a "Alison" pensando no complexo de garota certinha da Elisa (tirei do cosmopolitan). Caso tenham percebido algum erro de português podem me avisar que irei revisar.

Caso queiram comentar fiquem a vontade, ficarei muito feliz com isso, adorarei saber a opinião de vocês.



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