Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 10
10 - Uma voz de desespero


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Voltei rápido? Espero que sim, pois queria muito mostrar esse capítulo e já doida para escrever o próximo.

Desejo uma belíssima leitura.



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Capítulo dez
       Uma voz de desespero

 

“Não diga que não é justo
Você claramente não estava ciente de que
Me deixou miserável
Então, se você realmente quer saber
Quando estou longe de você
Fico mais feliz que nunca”
(Happier than ever – Billie Eilish)

 

— O que está fazendo aqui? — Marina foi a primeira a dizer algo para mim e a Alison já estava me protegendo ao ficar na minha frente. — Achei que estava machucada, Elisa. — Parecia que estava se segurando para não rir.

Aquilo só podia ser um pesadelo, não basta ter de encarar sentimentos que antes achava estarem bem enterrados dentro de mim, agora tinha de revê-las? O pior é que sabia o que se passava pela cabeça delas, que era a nova vadia que dava em cima do namorado da Alicia.

— Vocês estão pedindo por uma surra! — Gritou a minha amiga.

— Espere aí, esquentadinha, só viemos conversar com ela. — Pelo jeito seria a nova gíria para dar porrada.

— Que foi? — Apenas o que consegui dizer de maneira baixa pelo medo.

— Devemos desculpas, achávamos que estava transando com o Daniel. — Que acabei de ouvir? É sério isso? — Disse que não tiveram nada. — Cada dia mais me surpreendia com esse cara, tinha feito o que pedi. — Deveríamos saber, uma sapatona nunca se interessaria por homens, não é? — Completaram e meu rosto esquentou por lembrar daquele maldito boato.

— Ela não é lésbica. — Você quer que saia daqui sem conseguir andar? Não me importo delas achando isso. — Mas tenho certeza que não ficou com ele.

— Por que tem tanta certeza? Seguem aquela regra estupida de não sair com o ex da amiga? — E elas ainda achavam que era uma das meninas que tentaram o roubar, a risada forçada delas entregava tudo.

— Não, é virgem. — Não acredito que soltou essa, queria ter aquele poder de se teletransportar nesse momento e ir para qualquer lugar longe daqui.

Para ajudar nessa hora a Alicia tinha acabado de chegar e se juntou a elas, bem quando a Alison tinha escancarado a minha intimidade para todos. Era como se estivesse indiferente a isso, mas sua expressão mudou quando viu minha amiga.

— Já você dá para qualquer um. — Lá vem as lacaias a defender.

— Então quer dizer que é assim que pensam do Daniel? Que não é especial? — Fez questão de botar mais álcool no fogo. Por que não fiz de uma vez que nem tinham sequer dado um selinho, quem dirá ir para a cama?

Começaram a se encarar e sabia que dali veria uma luta digna de um evento de UFC. Sabia que só provocou para que fossem para cima dela mesmo e pudesse ter alguma desculpa para dar socos nela pelo que fizeram comigo, mas foi longe demais e lembrar do que aconteceu da outra vez me deixava era apavorada.

— Tadinha, não consegue esquecer mesmo. Já para ele você é nada. — Foi a primeira vez que tinha ouvido a voz da namorada daquele demônio após um bom tempo e era fofa, mesmo que da sua boca tenham saído os piores xingamentos. — Já está na hora de irmos para a área VIP, meninas. — Quis esfregar na nossa cara que tinham recebido um ingresso assim, o nosso era comum.

— Ainda bem que foram embora. — Comentei quando estavam mais afastadas. — Mas tinha mesmo que dizer que nunca fiz sexo? — Dei meu sermão.

— Queria que concordasse que gosta de mulher? — Talvez seu espanto por a minha fala era por ter me visto chorar por conta da mensagem que o Daniel tinha mandado, mas melhor que ter de andar de muletas.

— Sim, ou que ia para o convento. — Revidei.

— É feio mentir. — Mostrou a língua para mim e dei aquela risada pela sua cara de pau enquanto andávamos até os nossos assentos.

De longe víamos os jogadores treinarem ali antes do campo e de longe já notava o Daniel pelo tanto que era rápido e talentoso. Foi como estar naqueles tempos em que podia ver isso todo fim de semana praticamente, porém que era passado e estar em um lugar assim apenas me deixaria mal.

— Quem me dera eu tivesse ficado com aquele gostoso. — Suspirou Alison ao observar justamente a mesma pessoa que eu, mas com segundas intenções em mente. — Viu como é legal? Desmentiu que tenham se beijado.

— Nada demais. — Respondi dando de ombros e tentando prestar atenção em outra coisa, como o homem do cachorro-quente chegando.

— Ele não faria isso com qualquer uma, pelo menos comigo não disse nada nem quando estava brigando com a sua namorada por sua causa. — Era a verdade, mesmo que estivesse lá presenciando tudo não vi tentando a parar.

— Só quer fingir de bonzinho para o colocar no meu grupo. — Sussurrei depois de pensar bem o porquê dele me defender. — Não entendo como uma pessoa que receberá bolsa para a faculdade dos Estados Unidos da América quer tanto trabalhar comigo.

— Será que está apaixonado por você? — O quanto ficou assustada me deu a impressão de que falava sério.

— Isso só acontece naqueles seus filmes melosos, Alison. — Por algum motivo meus olhos pararam no alvo de nossa conversa e ainda corria sem parar, mas agora com uma velocidade menor do que antes. Seu jeito me lembrou das vezes que estávamos juntos e parecia sempre ofegante, contudo poderia ser por causa do aquecimento.

— Então é você que está. — Ainda nessa?

— Com ódio só se for. — Sem parar de prestar atenção nele, mas querer pegar uma comida de estádio me fez chamar o vendedor. Ter um pão, salsicha, milho, batata-palha, ervilha, queijo ralado, molho, maionese, mostarda e ketchup juntos em apenas uma coisa me deixava mais que contente. — Disso aqui confesso que sentia falta.

— Que novidade. — Rolou os olhos e sabia que tinha ficado chateada por ter cortado seu papo sobre amor.

— Vai começar a partida. — Disparei e ela se concentrou em sua frente.

— Que saco, o Daniel é o mais bonito dali. — Se o que eu sentisse não fosse nada além de desprezo por ele, ia concordar sem nem pensar, mesmo que seu rosto e cabelo fossem comuns por aqui, ainda assim tinha seu charme.

— Aquele ali não é gato também? — Apontei para um do outro time que parecia ser o tipo dela, além de querer tirar essa ideia da cabeça de que por um segundo achei a mesma coisa que minha amiga.

— Sim, mas não quero torcer por eles. — Entendi tudo, seu esforço e o quanto ficava animada dependia unicamente da beleza deles.

— Esqueci que era assim. — Pontuei.

Antes do juiz dar a partida o vi ir para a frente com um microfone para falar uma coisa, era algo que acontecia muito quando o ano letivo começava ou era algum jogo importante. Até isso tinha feito questão de apagar da memória e quando ele apareceu uns trechos de suas falas clichês do tempo que participava vinham a mente sem que pedisse. Como você era boba de se encantar com isso.

— É meu último ano na escola e de muitos aqui presentes nesse campo. — Sua expressão era bem melancólica, eu dava era graças por poder ir à universidade e me livrar desse hospício. Ouvia algumas garotas fazendo um grito de tristeza por ficarem longe dele e não me entrava na cabeça como gostavam tanto dessa pessoa. Era um blá blá blá desnecessário sobre aproveitar o tempo que resta.

— Até você? — Alison estava usando um lenço e caiu a ficha de que estava emocionada com todas as palavras desse discurso idiota.

— Eu sei que disse que ia ser bom ver caras gostosos e maduros quando o ano acabar, mas também não queria deixar esse lugar. — Tentava não chorar. — Falou tudo! — Gritou quando comentou sobre alguns momentos que a nossa turma passou e provavelmente foi parecido para os outros.

— Cala a boca, a Luísa está te encarando. — Avisei.

— Vamos viver a vida, Elisa. — Estava totalmente contagiada e tentava me levar para cima ao pegar pela mão, mas continuei ali.

— Não, obrigada. — Fiquei o mais séria possível enquanto o esperava terminar com aquela ladainha, poder ver a partida e ir embora o mais rápido possível.

Finalmente os atletas estavam tocando na bola e tentando de todo jeito fazer um gol de primeira, como acontece demais em uma pelada, porém não seria tão fácil assim passar por aquele time. Só que o nosso não era pouca coisa, ainda mais com craques ali que era melhores que alguns da seleção brasileira.

— Por que não passam para o Mateus? — Sussurrei, tentando a todo custo não me alterar ou pular ali mesmo apesar da raiva que já sentia. — Que fominha. — O tom um pouco mais alto que até a Alison escutou.

— O Gustavo? — Questionou e confirmei com a cabeça.

Ela já estava mais que entregue e reagia a cada toque na trave, defesa que fazia o goleiro, chapéu e carrinho. Era um show a parte, tinha de admitir, mas estava me segurando ali pensando na maquiagem que ia borrar.

— Respira e inspira. — Repeti para mim mesma.

Tinha um momento em que o adversário fez um toque no Vinicius e ele caiu bem dentro da área, percebi o pessoal se levantando ao meu lado e gritando “pênalti” praticamente em sincronia. Em um momento não olhava mais para eles e tapava os ouvidos, dura feito uma pedra.

— Se solta, amiga. — Gritou ao pegar no meu braço.

— Para, não quero. — Devolvi e tirei sua mão dali para continuar a me concentrar no chão. Perder a aposta para ele achar que gostava de futebol era algo que não estava disposta a fazer.

— Você era mais divertida. — Até eu sabia o quão amarga e diferente tinha sim ficado, no entanto ter falado dessa maneira me magoou um pouco.

— Aquela Lisa de antes morreu, já deveria ter se acostumado. — Não via mais nenhuma movimentação enquanto o juiz parecia pensar no que faria.

E então veio a decisão de que não teria penalidade máxima e via que os meninos tentavam falar com ele e até brigando, provavelmente o quanto era injusto e para rever isso, só que pelo jeito não cederia e ainda deu cartão amarelo a Gustavo.

— Que ladrão! — Falei bem alto no impulso e o resto da nossa torcida começou a dizer a frase dessa hora em meio ao estádio, mas ainda continuava sentada.

— Eles vão conseguir fazer um gol, tenho certeza. — Sua esperança sempre me animava e ainda sentia isso, mas no fundo sabia o quão perigoso era para o meu coração se acontecesse. Talvez não poderia mais resistir.

— Só se estiver falando do outro time. — Cochichei e tentei a todo o custo deixar de lado meu saudosismo e torcer para o adversário. — Marca, Thiago. — Vendo pela camisa esse era o atacante deles.

E foi nessa bendita hora que o Mateus conseguiu roubar a bola do adversário e levou até o Daniel sem nem parar um segundo. Eles sempre tiveram uma ótima parceria e parecia ter aumentado com o tempo. Mesmo que meu cérebro ditava que deveria prestar atenção em outra coisa, meus olhos não largavam o camisa dez da nossa equipe. Era como se estivesse brilhando e dava de sacar mesmo de longe que estava sorrindo e sabia que ia ganhar.

Ali estava ele preparado para fazer uma bicicleta para abrir placar como se lesse meus medos e pensamentos, os zagueiros de mais de um metro e oitenta iam a seu encontro, mas era tarde demais. O goleiro mesmo que tentasse não tinha a mínima chance e o grito de gol foi ouvido por algum narrador qualquer.

— Você viu isso? — Alison perguntou com a maior alegria de todas, mas ao se virar para mim havia paralisado e não conseguia dizer mais nada.

Tudo ali tinha sido tão lindo e contagiante que quando me vi estava em pé e meu grito de felicidade foi solto como se quisesse sair há muito tempo. Eu sabia nessa hora que nada mais poderia ser feito ou escondido, lágrimas saiam sem parar e me peguei sorrindo ao vê-los se abraçando e o arbitro recomeçando a partida para os adversários.

— Eu amo. — A voz era de choro, mas não me importava para nada, a amiga ao meu lado parecia querer saber que ia falar. — O Futebol. — Admiti e um peso saiu das minhas costas, enquanto ela murchou com minhas palavras.

— Foram demais, não é? — Minha cabeça fez um sim e nos abraçamos ali mesmo enquanto pulávamos no ritmo da torcida.

Ele não estava mais participando da dança da vitória e parecia estar tentando encontrar alguém na arquibancada quando chegou mais perto da linha. Mesmo que tudo me levasse a ele nesse jogo, achei que não sabia mais onde era o VIP. Isso era que achava, até apontar o dedo para a área comum e os seus lábios pronunciarem algo que jamais daria de ouvir daqui.

— A Marina está olhando para cá. — Sussurrou e então foi quando percebi que isso era nada bom. Será que pensam que foi para nós? Que bobagem.

Deu de ver que até fez um coração com as mãos para a namorada, mas pareceu nem de perto o suficiente para acalma-las. Todos foram chamados para retornar ao jogo, pois ainda faltava uns 10 minutos para acabar o primeiro tempo.

— Elas estão loucas, só pode. — Comecei a rir, porém não me acompanhou.

— Não, a comemoração foi para você. — Parecia tão certa disso que para mim estavam precisando era de óculos.

— O que significa? — Estava sem entender nada.

— Que escolheu você para o primeiro gol e não ela. — Quê? Não pode ser, era pior do que imaginava e ia apanhar na saída. Aquilo rondou minha mente por um bom tempo, o bastante para ficar me encarando e estalando os dedos na frente do meu rosto.

— É um idiota. — Disse com raiva, mas passou quando voltou a ver todo o resto da metade do jogo sem culpa nenhuma.

— Mas um idiota lindo. — Sempre vinha com essa.

Se aquela duvida se tinha apontado para mim vinha frequentemente aos meus pensamentos e me incomodava, um acontecimento dentro do gramado me fez acordar e tentar compreender que era aquilo. Daniel foi empurrado? Caiu?

— Alison, que aconteceu? — Sua cara era de terror total e nem se deu o esforço de falar um “a” para a minha pergunta. Parecia continuar ali caído no campo sem se mexer, desacordado. Os médicos da escola chegaram e o pegaram para colocar na maca. Péssimo sinal. — Responde! — Era desespero em minha voz?

Nem quando estava sendo levado parecia mostrar reação e toda a plateia estava no completo silêncio, a bola não rolava mais enquanto esperavam uma posição, os jogadores de cabeça baixa. Era um clima de velório em pleno domingo.

— Foi do nada. Acho que ele desmaiou. — Finalmente disse algo.

Talvez preferisse não ouvir algo assim dela e ficar com meu pensamento que foi alguma falta e logo ia voltar, mas estava inconsciente? Quando olhei para onde estava a sua namorada não a encontrei mais ali. A partida até continuou com a substituição dele, mas graça nem sentia mais, só fiquei até o final pela promessa que fiz. Não queria me sentir culpada por abandonar na metade.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Que será que Daniel tem? Veremos na próxima.

Apenas para dizer que essa imagem não é minha. Se tiver algum erro de português podem me falar.

Quero agradecer demais desde já a todos que deram a chance de ler esse capítulo, caso queiram comentar sintam-se a vontade, irei amar saber o que querem para os próximos e sua opinião (pode ser qualquer coisa).



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