Get Well Soon escrita por dracromalfoy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas (caso alguém leia, o que sinceramente não tenho muitas esperanças)
Faz um bom tempo desde a última vez que vim aqui e postei uma história, confesso que senti saudades da época em que eu me dedicava em escrever várias fanfics dos meus personagens preferidos.
Estando nostálgica como estou, voltei aqui com uma história que me apaixonei durante meses, e sim, é uma continuação.
Caso ainda não tenha lido Promise (https://fanfiction.com.br/historia/766946/Promise/) te convido a ler antes de continuar nessa one aqui. Não é obrigatório, mas pode ser necessário.
Caso já tenha lido (hello again), espero que goste dessa continuação e se apaixone novamente por esse casal que eu tanto amei escrever.
Tenho também fanfics Jily, Blackinnon, Wolfstar, enfim... Caso se interesse por algum desses casais, te convido a entrar no meu perfil e ler algumas delas.

ONE SHOT PROMISE foi inspirada no livro "Estamos Bem" da Nina Lacour
e essa continuação foi inspirada na música GET WELL SOON, da Ariana Grande.
E, por favor, não se esqueçam de favoritar e comentar suas impressões, é muito importante para mim, principalmente porque pretendo voltar aqui mais vezes e postar novas histórias, e isso me motiva muito.
Abraços.

?” tt: @thwshining



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GET WELL SOON

por dracromalfoy

Férias de Verão.

 

Albus esperava por Scorpius do lado de fora da sua casa. Os Potter moravam numa casa relativamente grande no centro de Hogsmeade que, por ser uma cidade pequena, fazia com que seu lar fosse perto de todo o restante. A casa dos Malfoy era a três quadras dali, mas Albus contava que já estivesse sentado na escada da varanda há mais de meia hora (muito mais tempo do que Scorpius levaria para chegar ali).

Acabou se distraindo com um jogo aleatório do seu celular, deitado no chão. O som que vinha do aparelho abafou o som dos passos de Scorpius pisando na grama macia. Apenas notou sua presença quando viu sua silhueta sentando-se na madeira da escada. Albus levantou-se rapidamente e arrumou sua postura. Scorpius sorriu.

— Demorei? — perguntou Scorpius, sem tirar o sorriso dos lábios. Albus fez que sim com a cabeça, sem dizer nada. Estava nervoso com a presença dele, não sabia o motivo, mas estava. — Tive que desfazer a mala antes de vir, ou meu pai iria ficar uma fera.

— E com razão, você acabou de chegar e veio direto pra cá.

Scorpius deu de ombros. Seu braço tocou o de Albus, tão levemente que, em outra situação, provavelmente nem teria sentido. Mas era Scorpius, e não era outra situação.

— Seus pais estão em casa? — Scorpius questionou, encarando Albus, que olhava um ponto aleatório à frente, sem realmente ver nada.

— Estão. Eles raramente saem, hoje em dia. — Respondeu, olhando-o também. Scorpius balançou a cabeça e desviou o olhar — James saiu com o Teddy.

— Não os vejo há tanto tempo.

— Hmmm, vamos entrar, eles devem estar vendo TV. — Albus fez menção de levantar-se, mas Scorpius puxou seu braço, levemente, pedindo que ele se sentasse novamente. – Não está com medo dos meus pais, né? — Scorpius negou, rindo sem graça. Ele olhou para o chão e ficou em silêncio. — Oi.

Scorpius riu novamente.

— Olá, Albus. — Cumprimentou com seu sorriso maravilhoso. Ele chegou mais perto do garoto, ficando de frente para ele. Scorpius tocou sua bochecha com uma das mãos e depois o beijou devagar, suavemente e, depois, afastou-se um pouco mais. — É bom te ver de novo. É bom te ver em Hogsmeade.

Voltar para Hogsmeade havia sido um grande esforço para Albus. Depois da morte da sua irmã, Lily, meses atrás, ele entrara na Universidade e mudara-se para o campus, sem voltar para visitar os pais um único dia. Era difícil pensar naquela cidade sem lembrar-se de tudo que acontecera ali, de todas as memórias, de toda a dor.

Apenas quando Scorpius Malfoy — o garoto que tanto amava, mas que abandonara depois da tragédia — voltara para ele, fazendo de tudo para que o mesmo se reerguesse e seguisse em frente. Albus não se sentia capaz, mesmo depois, de seguir em frente, mas sentia-se melhor sabendo que tinha Scorpius, sentia-se melhor sabendo que ele estava ao seu lado e que ali continuaria.

— Não teria feito isso sem você. — Confessou Albus, segurando a mão de Scorpius entre as suas e beijando-o novamente, depois olhando em seus olhos. Queria que ele visse que dizia a verdade, que estava ali graças a ele. — Jamais conseguiria sem você.

— Claro que conseguiria. — Ele voltou a exibir seu sorriso magnífico, Albus sentia um frio na barriga apenas de olhá-lo. — Eu não fiz nada, Al.

Albus encostou a cabeça no ombro de Scorpius, olhando para o jardim de frente para sua casa. Lembrava-se de quantas vezes já não ficaram exatamente daquela forma: sentados um ao lado do outro, apenas observando a rua, as pessoas. Estar nos braços do garoto pálido dos cabelos loiros quase brancos sempre fora o lugar preferido de Albus, sempre fora sua forma preferida de estar.

A porta da frente se abriu e Albus levantou-se de abrupto, tomado pelo susto, devido ao estrondo. Era sua mãe, Ginny. Ela parecia cansada, tinha olheiras abaixo dos olhos e seu cabelo parecia desgrenhado de uma forma que jamais havia visto antes, exceto naquele último mês que ele voltara para casa.

— Scorpius! É bom ver você. — Sentenciou ela, parecendo realmente surpresa de vê-lo ali.

— É bom te ver também, Sra. Potter. — Scorpius levantou-se, junto de Albus, e estendeu a mão para Ginny.

A mãe de Albus olhou para o filho com um olhar indagativo e, em seguida, sorriu educadamente para Scorpius.

— Vamos entrar, fiz biscoitos.

A casa dos Potter era um completo silêncio. O farfalhar das xícaras tocando nos pires causava incômodo em Scorpius, a forma como todos eles pareciam evitar falar um com os outros, mal se olhavam, mal se tocavam.

Durante muito tempo, Scorpius esteve dentro daquela casa. Depois que Albus e ele começaram a namorar, ele ia toda terça e sexta-feira jantar com eles. Lembrar-se disso e pensar na situação atual era estranho, porque os Potter costumavam ser alegres, felizes e, naquela casa, era difícil ter um minuto de silêncio.  Sentar-se a mesa da copa e não ouvir nenhum ruído de voz era completamente estranho e entristecedor.

Albus estava ao seu lado, comendo biscoitos devagar, sem mexer um músculo sequer que não fossem os da boca. Parecia tenso, apreensivo e tão triste quanto estivera no campus, um mês antes. Scorpius sabia que Albus apenas estava criando ao seu redor uma barreira para afastar a própria família.

— Está na faculdade, Scorpius? — perguntou o pai de Albus.

— Sim, senhor. Edimburgo. — Respondeu apreensivo.

Não que Harry fosse bravo, ou uma pessoa ruim. Mas o garoto não conseguia evitar já que no começo do namorado, dois anos antes, o pai de Albus não gostara tanto da decisão do filho, ainda mais sendo Scorpius filho de Draco Malfoy.

— É uma boa faculdade. — Disse ele, sem emoção na voz. Encarou Scorpius por breves segundos, como se o estudasse. Olhou para Albus em seguida e depois abaixou a cabeça, voltando a comer. — Seu pai deve estar orgulhoso de você.

Albus encarou o pai, perplexo. Não porque ele dissera algo errado, mas porque ele entendia onde ele queria chegar — ou pelo menos presumia que sim. Para Albus, tudo o que o pai dizia era interpretado como um ataque pessoal ao filho, mesmo quando não era. E, na verdade, nunca era um ataque.

O silêncio estava começando a incomodar Albus também, ainda mais porque ele sentia a forma como Scorpius se movia nervoso, a forma como ele batia a ponta do tênis na perna da mesa, totalmente ansioso com algo. Talvez ansioso para sair dali, para fugir daquela áurea pesada e depressiva. Albus sentiu seu próprio peito se apertar, vendo sua família totalmente desconectada e tóxica até mesmo para quem era de fora.

Scorpius anunciou que precisava ir embora alguns minutos depois, e Albus suspirou aliviado. Levou-o até a varanda, onde ficaram a sós novamente.

— Eu sinto muito pelos meus pais. — Desculpou-se. Não sabia exatamente se deveria fazê-lo, mas fez mesmo assim. Sentia-se incomodado com a situação.

— Está tudo bem, Albus. — Scorpius encostou-se num dos pilares e mordeu o lábio inferior, pensativo. — Como vocês estão? Estão conversando normalmente? — Albus encarou Scorpius, sem entender o que ele queria dizer. — Como está sua relação com seus pais, Albus?

— Normal. — Deu de ombros, desviando o olhar. Era automático. Scorpius conhecia Albus. Ele precisava apenas olhar para o garoto para saber quando ele estava mentindo. Albus suspirou. — Ainda não me acostumei com “estar em casa”. É diferente.

Scorpius puxou Albus para mais perto de si, que se deixou levar, segurando o loiro pela cintura, enquanto ele segurava seu rosto delicadamente entre suas mãos — que, naquele momento, estavam geladas contra o rosto ardente de Albus.

— Quer conversar sobre isso? — Indagou Scorpius. Albus balançou a cabeça negativamente. — Tudo bem. Sabe que pode falar comigo, certo? Sobre isso ou sobre qualquer outra coisa, não guarde para você...

— Sim, eu sei disso, Scorpius. — Albus revirou os olhos. — Eu estou ok, podemos superar isso?

Scorpius suspirou e abraçou Albus, o mais forte que pôde. Sentira falta dele naquele último mês. Gostaria que os dois pudessem ter mais momentos como aquele, que pudessem ter tantas demonstrações de afeto quanto tinham anteriormente. Iria respeitar o momento de Albus assim como respeitara os outros seis meses anteriores, e iria respeitar mesmo que esse momento durasse um ou dois anos. Iria respeitar mesmo que isso doesse nele, mas porque sabia que se afastar de Albus iria doer muito mais.  

Albus notou, claramente, que algo incomodava Scorpius. Ele não sabia o que fazer ou dizer – passava tanto tempo tentando se resolver com si mesmo que, quando precisava pensar em qualquer outra coisa, ele travava completamente.

— Preciso ir agora.

 

Albus tomou banho tarde da noite naquele dia. Ficara horas e horas assistindo filmes aleatórios e desinteressantes no seu quarto. Pegara no sono, mas acordou com sua mãe gritando com seu irmão mais velho, James. Tomou banho e desceu para comer alguma coisa, sua barriga roncava.

Ginny Potter discutia algo com Harry, parecia nervosa e tinha a expressão de mágoa, de exaustão. Vendo o filho entrando na copa, calaram-se imediatamente.

Albus fingiu que não tinha ouvido ou visto nada, serviu-se de um pedaço de bolo que sua mãe havia feito mais cedo e sentou-se a mesa, pois sabia que Ginny ficaria brava se ele levasse a comida para o quarto.

— Não nos contou que você e Scorpius estavam namorando novamente. – Comentou Ginny, sentando-se de frente para o filho na mesa. Harry estava encostado na geladeira, também comendo. — Fiquei surpresa quando os vi juntos.

Albus engoliu em seco, querendo que aquela conversa não acontecesse.

— Não estamos. — Respondeu sincero. — Não conversamos sobre isso, na verdade.

Albus pensou consigo mesmo e tentou puxar na memória se, em algum momento meses antes, os dois chegaram a conversar sobre terminar o namoro e depois sobre reatar. Essa conversa nunca acontecera, simplesmente se afastaram. Antes, planejavam ir para Nova York juntos, iriam estudar juntos. De repente, Scorpius já não iria mais, pouco depois, Lily se fora. Acreditava que, mesmo que não fosse verbalizado, os dois não estiveram namorando nos meses que passaram fisicamente separados, ele mesmo não teve como pensar nisso com tudo que estava acontecendo.

— Não conversaram sobre isso? — Ela repetiu, confusa.

— É. — Ele suspirou fundo. — Não conversamos se estamos ou não estamos. Somos amigos, eu acho.

— Ainda gosta dele? — perguntou a mãe, arqueando uma sobrancelha. Seu pai olhou-o com curiosidade e afeto. Mesmo com a crise que viviam, ainda eram uma família.

Albus olhou para o seu bolo, pensativo. Não sabia se estava confortável para responder aquela pergunta.

Amava Scorpius.

— Estamos nos resolvendo. — Respondeu de forma implícita. — Ele mora na Escócia, eu em Nova York.

Ginny balançou a cabeça, concordando e Harry apenas permaneceu em silêncio. Os dois subiram para dormir alguns minutos depois, deixando Albus sozinho na copa.

Ele não podia negar, pensara sobre a relação dele com Scorpius durante todos os dias que estivera ali. Mesmo que estivessem se entendendo, mesmo que ele se sentisse bem e amado ao lado do garoto, ainda não era a mesma coisa de antes, ainda havia a distância, ainda havia tudo que acontecera na vida de Albus. Ele ainda estava quebrado, ainda estava caído.

 

Scorpius andava em círculos pelo seu quarto. Estava preocupado, ansioso e com medo ao mesmo tempo. Tinha combinado algo com Albus, iriam se encontrar novamente. Porém Albus estava atrasado, quinze minutos para ser mais específico. Poderia, é claro, ser algo comum, mas não para o Potter. Desde que Scorpius o conhecera — e isso significava muito tempo — Albus nunca foi de se atrasar para nada. Sempre fora extremamente pontual e, por vezes, costumava chegar para compromissos até mesmo mais cedo do que o combinado.

Por esse motivo, Scorpius estava preocupado com o que poderia estar acontecendo, um milhão de pensamentos passando pela sua cabeça — um pior que o outro.

Scorpius disse a si mesmo que esperaria mais quinze minutos, mas não aguentou esperar nem cinco. Resolveu que a melhor coisa a se fazer era telefonar até a casa dos Potter para saber se Albus estava lá, ou algo parecido.

Não demorou para que atendessem.

— Sra. Potter? — Scorpius disse ansiosamente assim que a chama foi atendida. — Sra. Potter, sou eu, Scorpius.

— Oi Scorpius, como você está?

— Hmm, bem. Sra. Potter, Albus ficou de vir na minha casa, mas ele ainda não chegou. Ele já saiu daí?

— Ele ainda não saiu do quarto, Scorpius. Acordou faz pouco tempo. — Ela fez uma pausa, o garoto não soube se deveria dizer mais alguma coisa. — Vou subir para chamá-lo, assim vocês conversam. Só um minuto.

Ele esperou mais de cinco minutos, o telefone em silêncio, pensando no que estaria acontecendo.

— Albus está trancado no quarto e não abre a porta. — Exclamou Ginny, sua voz sôfrega e a respiração entrecortada. — Já chamei, já bati na porta, ele não responde, não tem... Scorpius eu não...

Ela começou a chorar, alto. Scorpius ficou estático, o coração batendo forte, sem voz e sem reação. Apenas medo. Muito medo.

— Lily... – Ela chorou novamente, soluçando.

— Lily? O que...

— Foi exatamente assim com Lily...

Scorpius não se lembrava se colocara o telefone de volta no gancho e nem mesmo se fechara a porta ao sair. Ele apenas entrou no carro do seu pai e seguiu para a casa dos Potter, o coração parecia palpitar no alto da garganta. Ele não conseguia pensar no que poderia ter acontecido, sentia tanto medo, sentia algo no fundo do peito que parecia sufocá-lo aos poucos. As mãos deslizavam pelo volante devido ao suor, e, sinceramente, não sabia como fora capaz de chegar até a casa de Albus intacto.

Ele não pensou em tocar a campainha ou bater na porta, apenas entrou e correu para o andar de cima, onde Ginny chorava na porta do quarto de Albus, implorando para que ele abrisse a porta. Harry e James não estavam ali, provavelmente nem mesmo estavam em casa.

— Albus, sou eu, Scorpius. Abra a porta, por favor. — Não sabia como tinha voz para poder falar, mas esforçou-se ainda mais. — Albus, por favor...

Ouviu-se um barulho dentro do quarto, mas a porta continuou fechada. Ginny levantou-se correndo e foi para o andar debaixo, como se tivesse se lembrado de algo muito importante. Quando voltou, carregava uma chave pequena entre as mãos e seu rosto estava em puro desespero.

— Nós fizemos essa chave no ano passado quando... Quando ele pensou que tivesse perdido a original. — Ela tentava explicar, ainda entre soluços. — É uma cópia.

Scorpius abriu a porta com as mãos tremendo. Ele tinha medo de entrar no quarto, não podia negar. Tinha medo do que veria, mas preferia que fosse ele à Ginny. O quarto estava vazio, mas a porta do banheiro estava fechada, com um feixe de luz. Cauteloso, Scorpius abriu a porta que, por sorte, estava destrancada. Albus estava ali dentro, na banheira sem água alguma, ainda vestido com suas roupas, o olhar fixo num ponto específico e com lágrimas rolando pelas suas bochechas coradas. A imagem mais dolorosa que Scorpius já visualizara em toda sua vida. Ele respirou fundo, sentindo-se aliviado, sim, mas ainda devastado. Ginny estava na porta, abraçando o próprio corpo. Scorpius acenou para ela, para que soubesse que tudo estava relativamente bem.

— Converse com ele. — Pediu ela, num sussurro extremamente baixo. Ginny sabia, de alguma forma, que seria melhor deixar que Scorpius falasse com o filho primeiro. O que ela diria? Depois de meses em silêncio, o que ela diria a Albus? Que sentia muito? Aquilo não adiantaria. — Estarei na sala. Apenas... Fale com ele, Scorpius.

Ela virou-se, deixando a porta encostada. Scorpius entrou no banheiro, ainda apreensivo, ainda preocupado.

Ele sentou-se no chão ao lado da banheira, encostando a cabeça na beirada da mesma, apenas encarava o chão, pensando no que dizer, em como agir. Albus estava imóvel, sem reação e quase... Parecia quase sem vida. Scorpius olhava para o chão, mas a imagem ainda estava na sua mente. A expressão de dor no seu rosto, as lágrimas, os olhos vermelhos e levemente inchados.

— Podemos conversar? — Perguntou Scorpius, sentindo-se estúpido com aquela pergunta ainda mais estúpida. — Você consegue conversar?

Albus manteve-se em silêncio, sua respiração parecia pesar mais.

— Eu quero ajudar você, Al. — Scorpius lamentou-se alto. — Eu quero que você fique bem. – Como esperado, Albus não respondeu. Mas, desta vez, suspirou fundo e baixou a cabeça, não parecia chorar mais, parecia estar mais calmo, mas ainda lutando contra as lágrimas, ainda lutando para se manter firme. Scorpius levantou-se de abrupto. — Levante-se, Albus. Tire a roupa.

Albus o encarou como se ele estivesse dizendo algo absurdo — e provavelmente estivesse — e apenas desviou o olhar, soltando um ruído de desdenho.

— Estou falando sério. — Scorpius continuou, tirando a sua camiseta por cima da cabeça e começando a desabotoar sua calça jeans. — Lembra quando descobri que minha mãe estava doente? Quando o médico deu a ela menos de dois meses de vida? Eu me lembro de ouvir todas as pessoas que chegavam à minha casa tentando me consolar. Você entrou na banheira comigo aquele dia, mesmo eu pedindo para você ir embora e, depois de tanta insistência, ficamos lá por horas, em silêncio. A sua companhia sempre me deixou melhor, Albus. Você é meu combustível. Sempre foi. Hoje, pelo menos hoje, me deixe ser o seu.

Albus não respondeu nada – nem mesmo anuiu a cabeça. Ao invés disso, ele se levantou, calmamente, o corpo totalmente preguiçoso e sem força. Num gesto de descrença, ele balançou a cabeça e abriu a torneira de água quente, começando a encher a banheira grande. Scorpius não ousou dizer nada, nem se mover. Apenas continuou parado onde estava, apenas com sua roupa de baixo, observando Albus, que assistia a água corrente encher cada vez mais o espaço. O garoto despejou o que parecia ser uma essência dentro da banheira quase cheia e, com isso, Scorpius esboçou um sorriso muito contido, observando-o.

Scorpius aproximou-se de Albus, ajudando-o a tirar sua camisa, depois se afastou um pouco enquanto tirava sua calça. Albus esperou que Malfoy entrasse primeiro, aconchegando-se na água quente e, em seguida, entrou também, colocando-se entre as pernas de Scorpius e deitando sua cabeça no pescoço dele, que o abraçava.

O silêncio não era mais incômodo, não era mais desconfortável. Albus aceitava a presença de Scorpius, independente da situação, da crise ou o que quer que fosse. Ali, dentro daquela banheira, com a água quente em volta dos dois, ele sentia que estava protegido, seguro e, minimamente, conformado.

Era ainda mais reconfortante saber que, quando ele estivesse pronto para falar, seria ouvido.

— Eu não consegui responder. — Confessou Albus com a voz rouca devido ao tempo em que ficara em extremo silêncio. Scorpius manteve-se quieto. — Quando ouvi minha mãe chamando, eu não conseguia responder, era como estar paralisado. Eu sinto muito. Não queria preocupar vocês.

Scorpius abraçou Albus mais forte.

— Tive medo de do que poderia ter acontecido.

Albus soltou uma risada sem emoção.

— Eu sempre ouvi sobre... Sobre como as pessoas consideravam covardia isso que Lily fez. Covardia. — Ele soltou outro riso, demonstrando o desprezo que sentia por aquela palavra. — Lily é a pessoa mais corajosa que já conheci. Pense em quanta coragem é necessária para você, sozinho, você e a sua mente fodida decidir que chegou o momento de partir, que já teve o suficiente. — Scorpius sentiu um arrepio na espinha de ouvir aquilo, sentiu-se completamente mal. Como ele poderia entender? — Imagine a coragem, Scorp.

Albus voltara a chorar, aquilo partia o coração de Scorpius, principalmente quando pensava nas possibilidades. Ele tinha medo de perguntar, mas será que Albus já pensara naquilo? Naquela saída?

— Albus. — Scorpius chamou, da sua boca mal saía um ruído, quase não conhecia falar. — Albus, eu... Eu não sou especialista e não posso falar sobre isso assim, levianamente. Lily era sim uma pessoa muito corajosa, mas não pense nisso dessa forma... É preciso ainda mais coragem para continuar vivendo, para enfrentar o que está na nossa frente. Você é muito corajoso, Albus.

Albus remexeu-se na banheira com certa dificuldade e virou-se de frente para Scorpius. Ele colocou a ponta dos dedos nas bochechas de Scorpius que estavam demasiadamente vermelhas devido a água quente, sua pele era branca, extremamente pálida, que qualquer calor era suficiente para deixá-la vermelha. Albus achava aquilo fofo demais. Naquele instante, colocou de lado todos os pensamentos terríveis que vinha tendo desde mais cedo e focou seus olhos no rosto de Scorpius. Passeou com os dedos pela sua face e depois contornou seus lábios entreabertos com o polegar.

— Amo você. — Sussurrou Albus, olhando nos olhos de Scorpius e desejando que ele sentisse todo aquele amor, que ele soubesse e tivesse certeza e convicção que Albus dissera a verdade, mesmo depois de tudo, mesmo depois de fugir dele por meses. No fundo, Scorpius sabia que Albus tivera seus motivos. — Não quero te machucar.

— Você não vai me machucar, Albus. — Respondeu Scorpius convicto. Albus curvou os lábios num sorriso sem nenhuma emoção.

— Já machuquei antes.

— Não foi culpa sua. — Albus tentou se afastar, suspirando aflito, mas Scorpius o segurou, mantendo-o perto. — Você nunca me machucaria de propósito, Albus. Nunca. Quero estar com você, amo você. — Scorpius segurou o rosto de Albus entre as mãos e beijou-o nos lábios, lentamente. Afastou-se segundos depois, encarando Albus, que permanecia com os olhos fechados, seus longos cílios tocando sua pele. Era gracioso de se ver, de admirar. — E quero te ver bem, Al.

Albus abriu os olhos e voltou a ficar de costar para Scorpius na banheira, deitando-se em seu peito e ficando ali, sentindo seus batimentos e sentindo a sua pele nua sob a sua e a água que começava a ficar fria.

— Vou ficar.

 

Albus vestiu uma calça de moletom e entregou outra para Scorpius vestir, o que o garoto fez rapidamente. Ele não parava de encarar Albus, todo preocupado.

— Scorp, se você for ficar me olhando desse jeito, vou te mandar embora. – Ele disse sorrindo para demonstrar que não falava sério e sentando-se na beirada da cama.

— Eu estou pensando que agora seria um bom momento pra você conversar com sua mãe. — O garoto bufou, estressando-se. Scorpius esperava mesmo por aquela reação. — Al, ela estava preocupada com você, muito preocupada.

— Eu não quero falar sobre isso agora, Scorpius. Só... Fique aqui comigo, por favor? Não quero falar com ninguém que não seja você.

Albus se arrependeu de falar assim que as palavras saíram da sua boca. Depois de meses longe, não estava acostumado a demonstrar tudo aquilo de uma vez.

— Apenas... Apenas me prometa que vai falar com ela mais tarde.

— Certo.

— Albus...

— Ok, eu prometo. Podemos não falar disso agora?

Scorpius olhou pela janela que estava entreaberta, estava de dia, mas ainda assim o quarto parecia demasiado escuro, já que o tempo estava fechando para uma chuva que parecia chegar logo mais.

— Scorp? – Albus chamou, encostando-se na cabeceira da cama. Scorpius olhou para o garoto totalmente distraído. — Venha aqui.

 Scorpius franziu o cenho, olhou uma última vez pela janela e foi até onde Albus estava sentado, sentando-se de frente para ele e olhando-o com atenção. Pela expressão no rosto do garoto, Scorpius percebia que ele estava mais calmo, seus olhos tinham mais brilho.

Albus chegou o corpo mais perto de Scorpius até que estivessem a centímetros de distância, até pudesse sentir a respiração do outro na sua pele. Foi Scorpius quem se aproximou mais até que os lábios estivessem se tocando. Beijou-o suavemente, sentindo a pele da sua boca e lambendo-o ali. Albus suspirou profundamente e apertou Scorpius contra o seu corpo, abrindo mais a boca e aprofundando o beijo. O loiro conteve um sorriso diante do ato, lembrando-se que Albus nunca fora muito paciente.

Antes que as coisas ficassem mais intensas entre os dois garotos, eles ouviram uma batida na porta.

— Albus! – Chamou a Sra. Potter. Scorpius soltou-se de Albus, que bufou impacientemente sem se afastar totalmente do garoto. — Albus, precisamos conversar, querido.

— Estou indo. — Gritou Albus, apoiando a mão no peito de Scorpius e olhando-o desapontado. — Me espera aqui, tá?

Scorpius balançou a cabeça em concordância e afastou-se de Albus, que se levantou e vestiu uma camiseta azul escura antes de destrancar a porta. Ginny já tinha saído dali.

Albus estava descendo as escadas devagar, sem pressa nenhuma de conversar com sua mãe, já sabendo qual seria o tema daquela conversa — e ele não queria nenhum pouco ter aquela conversa. Sem prestar atenção por onde andava, ele esbarrou com seu irmão mais velho, James, que estava suado e vestindo sua roupa do treino de futebol.

— A mãe quer falar com você. — Ele avisou, encarando o irmão mais novo com uma feição preocupada. — Ela está na cozinha.

— Ela já me chamou.

— O Scorpius tá ai? — perguntou James, sem se mover. Albus virou-se, olhando para ele confuso. — Eu vi o carro do Malfoy lá fora.

— Ele está no meu quarto. A porta está aberta.

Sem mais palavras, ele virou-se e foi em direção à cozinha, onde conversaria com sua mãe sobre o que quer que fosse, contra a sua vontade.

James e Scorpius não se davam bem no começo. Na verdade, os dois praticamente se odiavam, simplesmente porque James conseguia ser insuportavelmente irritante o tempo todo com Scorpius — e sem motivo nenhum. Porém, com o passar do tempo, os dois se tornaram bons amigos.

Chegando ao cômodo, Albus encontrou seu pai encostado na bancada com uma caneca entre as mãos e sua mãe ao seu lado, terminando de lavar alguns copos.

Percebendo a presença do filho, que se sentara em uma das cadeiras mais afastadas, Ginny virou-se para ele secando as mãos num pano e respirou fundo. Albus notou, pela sua expressão, que ela estivera chorando. Seu pai, por outro lado, parecia apenas preocupado.

— Albus, eu estive...

— Eu sinto muito. — Disse Albus, abruptamente. Não planejara dizer aquilo de imediato, mas vendo a expressão da sua mãe, ele não pôde se conter. — Eu sinto muito por deixá-la preocupada, eu entrei em transe, não consegui responder. Parecia que eu não estava ouvindo nada. Eu sinto muito por isso.

— Albus, seu pai e eu conversamos agora pouco e achamos que essa situação toda chegou num limite. – Ginny agora não parecia mais tão triste, sua expressão era parecida com a que ela fazia quando estava chamando a atenção dos filhos depois de um comportamento inaceitável e sua postura estava rígida. – Nós tentamos relevar várias coisas durante esses meses, que foram extremamente difíceis para todos nós. Todos nós, Albus. Todos nós sofremos e todos nós estamos perdidos. Acho que precisamos de um recomeço. Você passou seis meses nos Estados Unidos, evitando nossas ligações, mal nos respondendo quando tentávamos contato. Chegou aqui há poucos dias e está nos distanciando cada vez mais. Entendo seu lado, realmente entendo, mas seria muita irresponsabilidade da nossa parte se permitíssemos que isso continuasse.

Albus continuou a olhá-la, não entendendo muito bem e sem ter prestado atenção em nada que não fosse essa situação chegou num limite.

— Por isso, seu pai e eu decidimos que você não voltará para Nova York para o próximo semestre.

— Mas que m-

— Deixe sua mãe terminar, Albus. — Interrompeu seu pai, num tom de voz que ele geralmente não usava.

— Você ficará aqui em Hogsmeade até acharmos que é suficiente. Você irá ligar e trancar seu curso. É o melhor a se fazer.

— Vocês não podem fazer isso! — Trovejou Albus, levantando-se. — Eu não sou mais uma criança, mãe, não pode me trancar aqui, isso não é certo.

— Albus, nós somos seus pais e sustentamos você. — disse Harry, firme em suas palavras. – Pagamos pela sua faculdade, pagamos pelas suas despesas. Você não irá e pronto.

— Querido, tente entender nosso lado. — Ginny suspirou. — Você não está bem, está deprimido, não tem sido você. Foi para Nova York e não veio mais para Hogsmeade, não veio no Natal passado mesmo depois de suplicarmos para que viesse, não atendia nossas ligações, apenas mandava recados curtos...

— Eu andei ocupado.

— Você está magro, muito magro. Albus, você não tem sido você mesmo desde... — Ginny engoliu em seco e Harry encarou o chão. — Desde o que aconteceu. Nós amamos você e não queremos que aconteça o que...

— Eu não sou a Lily, mãe! — Albus bradou mais alto do que pretendia.

— Albus Potter! — gritou Harry. — Não use esse tom com sua mãe. E não faça pouco caso de sua irmã. Eu... — Harry cobriu o rosto com as mãos e depois encarou Albus, controlando-se. — Estamos preocupados com você, com a sua saúde. Não adianta discutir, você vai ficar aqui pelos próximos meses até acharmos que é necessário, irá fazer terapia, assim como James. Não estamos pedindo, estamos mandando. E como filho, você irá obedecer.

— Albus, queremos seu bem. Nós erramos com você, entendo isso. Deixamos você nos afastar, achamos que dar um tempo para você seria bom, ir para a faculdade, conhecer outras pessoas... Mas isso não pareceu te ajudar, por isso queremos que fique aqui. Precisamos superar juntos.

Albus riu, frustrado.

— Querem que eu supere a Lily? — Ele balançou a cabeça. — Jura?

— Albus...

— Estou indo pro meu quarto.

Albus subiu as escadas segurando as lágrimas — não queria que Scorpius o visse chorando novamente. Chorava de raiva e incompreensão e depois praguejava contra si mesmo, entendia ainda mais os motivos pelos quais não deveria ter voltado para Hogsmeade. Voltara para ficar preso ali? Com tudo que aquela casa carregava? Albus pensava que não poderia aguentar ficar o restante das várias, quem diria os próximos meses.

Aliás, o que ele faria ali? Iria tornar-se um inútil feito James, que apenas sabia sair com seus amigos e jogar futebol? Nem amigos Albus tinha.

Albus chegou ao seu quarto e encontrou Scorpius sentado na sua cama conversando com James, que contava alguma coisa provavelmente desinteressante, fazendo Scorpius rir, jogando a cabeça para trás. Albus sentiu um aperto no peito.

— Pode sair, James? — pediu ele, esforçando-se para ser educado.

— Albus, eu estava contando ao Scorpius que...

— Saia, pelo amor de Deus! — Ele abriu a porta por completo e indicou a saída para o irmão, que o olhou possesso, levantando-se e batendo a porta ao sair.

Scorpius levantou-se e foi em direção a Albus, que tinha as bochechas vermelhas de raiva — ou qualquer outro sentimento que estivesse dentro do seu peito. Albus fechou as mãos em punho e socou a porta do guarda-roupa com força, descontando o que sentia naquele móvel. Suas mãos ficaram vermelhas imediatamente e Scorpius viu o machucado que o acesso de fúria resultou, sentindo-se inútil e grogue.

— Albus, pare! — pediu Scorpius, segurando as mãos de Albus, olhando-o exasperado e sem saber como reagir ou o que dizer. — Por favor, não se machuque. Me diga o que foi que aconteceu, tudo bem?

— Você deveria ir embora. — Respondeu Albus, sentando-se na cama e esfregando o rosto com as palmas das mãos por um segundo antes de encarar Scorpius novamente. — Quero ficar sozinho, Scorp.

— Não antes de me dizer o que aconteceu para você ficar desse jeito. Estava tudo bem há...

— Não vou voltar para Nova York, para a faculdade. Vou ficar aqui em Hogsmeade feito uma criança. Foi isso que aconteceu. — Albus bufou, levantando-se e andando de um lado para o outro do quarto. — Querem que eu faça terapia e todas essas merdas.

— Isso não é algo ruim, sabe.

Albus revirou os olhos.

— Acho melhor você ir embora, Scorpius. Deveria passar mais tempo com sua família já que logo vai voltar para Edimburgo e, sei lá, viver a sua vida, certo?

— Pelo amor de Deus... — Scorpius bufou impacientemente. — Vai me afastar de novo? — Albus permaneceu em silêncio, sem olhá-lo, suspirou fundo novamente. — Al, você não está... Não está vivendo! Tem passado dia após dias sem nem mesmo ver, sem sentir nada, apenas deixando que o tempo passe até que seja...

Albus aproximou-se de Scorpius, segurando as mãos dele e olhando-o fixamente.

— Eu entendo sua preocupação, Scorpius, mas estou cansado dela. Por favor, vá embora.

Scorpius não viu outra alternativa que não fosse deixá-lo sozinho, conversar com ele estando nervoso daquela forma não iria resolver.

 

Albus não falou com Scorpius depois daquela conversa desastrosa, pelo menos não pessoalmente. Trocaram algumas mensagens no dia seguinte, Scorpius ofereceu-se para encontrar o garoto em algum momento antes das férias terminarem, mas ele negou relutantemente. Estava começando a acreditar que precisava mesmo de um tempo para si — não um tempo como o que passara isolado na faculdade, apenas existindo —, mas sim um tempo em que pudesse pensar sobre tudo que acontecera desde a morte de Lily. Precisava tirar um tempo para pensar em si mesmo e não nos trabalhos da faculdade, as provas e as pessoas.

Infelizmente, demorou um pouco para Albus notar isso. Os primeiros dias depois que as férias acabaram foram difíceis para ele. Junto de Harry, seu pai, ele foi até Nova York e trancou a faculdade por tempo indeterminado, passearam pela cidade e pelos pontos em que ele não se dera ao trabalho de andar durante sua estadia na cidade e depois foram embora, em silêncio. Albus fervia de raiva quando chegou em casa e finalmente se deu conta de que realmente não voltaria para a vida pacata — porém reservada ­— de Nova York. Não voltaria a poder ficar trancado dentro de casa ouvindo seus álbuns e lendo livros estranhos que achava na biblioteca, ou podendo apenas dormir sem se preocupar com nada que não fosse provas e trabalhos. De volta em Hogsmeade, com todos seus pertences e com a chave do seu dormitório entregue ao diretor da universidade, Albus estava preso a uma rotina também tediosa, porém ditada por seus pais e não por ele mesmo.

Vivera, durante os meses que passara no campus, com tão pouco dinheiro — não porque não podia pedir, mas porque não queria pedir aos pais ­— que nem se dera conta do luxo que poderia viver em Hogsmeade. Seu irmão, James, estava sempre esbravejando com suas roupas novas e aparelhos eletrônicos que ele logo jogaria fora ou encostaria-se a algum canto da casa. Toda a noite saía para comer com seus amigos em qualquer lugar que tivesse vontade, poderia comprar quantos ingressos quisesse para quais shows quisesse ir. Albus também poderia ter tudo aquilo, mas não tinha ânimo e nem vontade de gastar o dinheiro dos seus pais, exceto para comprar mais livros e mais álbuns. 

Passaram-se algumas semanas desde a volta de Nova York após trancar o curso até que Albus finalmente rendeu-se e deixou-se ser levado por Ginny para o shopping de Hogsmeade para passarem um tempo juntos e comprarem algumas roupas novas. De início, ele não estava nenhum pouco animado — ainda mais porque ele havia começado a terapia com a Dra. Ambrose, e estava muito chateado com aquela situação ­— mas foi mesmo assim, para evitar uma discussão.

Acabou que o passeio foi divertido, na medida do possível. Albus ficou feliz quando notou, depois de um tempo, que sua mãe parecia mais alegre. Não tinha mais olheiras marcando seu olhar e carregava até um sorriso nos lábios enquanto contava para Albus alguma coisa aleatória. Passaram na loja preferida de James — segundo sua mãe dissera — e compraram algumas camisetas e calças jeans novas, já que as antigas estavam em péssimas condições. Albus odiava comprar roupas, porque tinha que experimentar cada uma delas, mas fez mesmo assim. Passaram também numa loja de esportes, onde compraram um tênis e uma chuteira nova, juntamente de algumas roupas de futebol por insistência de sua mãe, que queria que ele fosse jogar bola com seu pai e seu irmão no próximo fim de semana.

Depois de uma sessão de exaustiva de compras de roupas, Albus comprou um novo tocador de vinil e alguns álbuns num sebo próximo ao shopping e em seguida voltaram para casa.

Um dia perfeitamente agradável ao lado de sua mãe. Quando fora a última vez que aquilo acontecera?

No final de semana, Albus deixou-se convencer a ir ao clube junto de seu pai e James para jogarem futebol. Não estava animado, pois sabia que era terrível com esportes, sempre fora horrível com esportes. Porém, descobriu que não era tão terrível assim. Depois de uma partida inteira, notou que, embora não fosse tão ágil quanto James e Harry, ainda era razoavelmente bom. Era melhor que seu tio Rony, pelo que pôde notar.

Quando a partida terminou, seu pai juntou-se a alguns amigos para conversar e beber alguma coisa nas mesas do lado de fora do clube, enquanto ele e James sentaram-se em outra mesa, mais afastada, e pediram petiscos e refrigerante.

— Tem falado com o Scorpius? — perguntou James descontraído.

— Falei algumas vezes. Ele anda ocupado.

— Eu sinto muito que você tenha que ficar aqui, sei que queria voltar para Nova York. — Disse James, encarando Albus. — E sinto muito se isso separou vocês dois.

Albus pensou por um momento se realmente queria ter aquela conversa com seu irmão. Durante as últimas semanas, não havia tocado naquele assunto com ninguém da família, eles apenas viviam suas vidas ignorando tudo aquilo. A única pessoa com quem Albus conversava sobre aquela situação era a Dra. Ambrose.

— Teríamos nos separado de qualquer jeito. Scorpius mora em Edimburgo, não Nova York.

— Eu sei, mas só queria dizer que sinto de qualquer forma. Sei que você gosta dele. Ele também gosta muito de você.

— Ah, por favor, não quero ouvir sobre sua amizade com ele, James. Sobre suas... confidências.

James sorriu de lado, tomando um gole do seu refrigerante.

— Bem, eu andei falando com ele, sabe.

Albus o encarou, não esperava ouvir aquilo. Scorpius mal falava com Albus pelo celular, respondia as mensagens depois de horas e muitas vezes eram respostas curtas, mas conversava com James?

— Jura? — Tentou parecer tranquilo.

— Não muito. Como você disse, ele anda ocupado. Então nossas conversas se resumem a mandar uma mensagem de manhã e receber uma resposta de madrugada. — James esclareceu, fazendo Albus suspirar em alívio mesmo sem notar. — Ele apenas quer saber se você está bem, como estão indo as coisas.

— Ele pode muito bem perguntar isso para mim. — Albus respondeu, irritado. — Ele me pergunta isso várias vezes por dia, inclusive.

— Você não pode culpá-lo por se preocupar tanto com você. Eu conheço você tanto quanto ele, talvez mais do que ele, e sei como você pode se esquivar muito facilmente, você tem feito isso por mais de um ano.

— Isso não é da sua conta, é?

— Sim, é da minha conta. Sou seu irmão mais velho, é da minha conta, porra. Você não percebe como tudo isso afeta em, literalmente, tudo na nossa família? — Albus revirou os olhos e fez menção de se levantar, mas James segurou seu braço. — Eu não quero brigar com você, então apenas escute o que tenho pra dizer, certo? Eu sei que você ama Scorpius e que sente segurança com ele, sei que eram melhores amigos antes de namorarem. E sei também que ele é responsável por você ter vindo para Hogsmeade depois de meses ignorando sua família. Sei que você o vê como uma âncora que te mantém na superfície, que te mantém são para continuar.

James fez uma pausa, olhando Albus nos olhos muito seriamente, sem tirar a mão do seu braço.

— E o que você talvez não saiba, mas eu quero deixar claro, é que o motivo de você achar, durante todo esse tempo, que Scorpius é sua única âncora e seu único motivo pra continuar seguindo em frente, é porque você faz e fez de tudo para afastar nossos pais e eu de você. Nós estamos aqui, Albus, e nós vamos continuar aqui hoje, amanhã, sempre. Somos sua família e estamos te segurando mesmo que você diga não. Esse é o motivo de você estar aqui hoje e não em Nova York, se afundando. Não é Scorpius, somos nós. Então, por favor, segure a mão que estamos te estendendo.

James não disse mais nada e Albus tampouco. Ambos permanecem num silêncio cruel até que Harry os chamou para ir embora.

Recesso de Inverno.

Albus estava sentado na varanda da sua casa no espaço que sobrou e não estava coberto pela neve. O natal era dali a dois dias, ele estava terminando um desenho aleatório e pensando nos meses que passara ali. Havia conversado com seu pai e sua mãe na noite anterior, após uma consulta muito satisfatória com a Dra. Ambrose, para dizer que queria voltar para a universidade depois do recesso de Natal. Seus pais aceitaram com a condição de que ele iria para casa pelo menos uma vez a cada três meses — já que viajar de Nova York para Londres era demasiadamente caro — e que iria telefonar todos os dias. Albus aceitou sem discussão, obviamente.

Estava animado para começar o novo semestre, havia feito na mesma noite a sua rematrícula e enviado os documentos por e-mail, solicitando um dormitório no campus. Seu pai havia mencionado a possibilidade de alugarem uma casa ou um apartamento nos arredores do campus para que ele pudesse ficar, mas Albus negou, afirmando que um dormitório estava de bom tamanho.

Seu celular vibrou no chão ao seu lado e Albus sentiu seu coração bater mais forte instantaneamente. Era Scorpius.

Scorpius: Estou em casa.

Scorpius: Casa=Hogsmeade.

Scorpius: Posso ver você?

Albus levantou-se rapidamente e entrou em casa, colocando o desenho em cima do sofá e correndo para buscar um casaco mais grosso para enfrentar a neve lá fora.

— Mãe! Estou saindo. — Gritou ele enquanto subia as escadas em direção ao seu quarto.

— Onde vai? — perguntou ela, aparecendo embaixo da escada com um pano de prato nas mãos e um avental na cintura. Adorável, pensou Albus. — Por Deus, querido, está muito frio lá fora.

Albus voltou vestindo o casaco pesado e colocando luvas. Assim que entrou no foco da visão de sua mãe, ela aproximou-se para arrumar as golas.

— Vou até a casa de Scorpius, ele veio para o Natal. — Esclareceu Albus, terminando de vestir as luvas e escondendo um sorriso que tentava escapar seus lábios.

— Por que não espera seu pai chegar para te levar de carro?

— São cinco minutos a pé, mãe.

— Eu sei, querido, mas olhe o tempo. Está muito frio.

— Não se preocupe com isso, ok? É uma caminhada rápida. Aliás, deve ser mais difícil andar de carro na neve do que a pé. Volto antes do jantar, tudo bem?

Albus bateu na porta dos Malfoy cerca de vinte minutos depois que saiu da sua casa. Foi difícil andar no meio de tanta neve, seus pés ficavam afundando toda hora, mas conseguiu chegar, mesmo que tremendo um pouco com o frio e com as botas molhadas.

A porta se abriu revelando Scorpius num amontoado de tecido, usando luvas e uma touca preta, sem contar a touca do casaco levantada também. Albus não pôde deixar de sorrir com a imagem extremamente adorável.

— Eu pensei em fazer uma visita surpresa. — Declarou. Scorpius o encarava metade perplexo e metade admirado. — Posso entrar? Está realmente frio aqui fora.

Scorpius sorriu e deu espaço para que ele passasse.

— Tire as botas, seus pés devem estar congelando. — Pediu Scorp, fechando a porta. — Hmmm, venha até meu quarto, vou dar meias para você colocar. Meu pai saiu para buscar alguma coisa para comermos, chegou numa boa hora.

Os dois garotos subiram as escadas em direção ao quarto e entraram, em silêncio, enquanto Albus ainda tremia um pouco de frio.  Scorpius abriu o guarda-roupa e entregou a Albus um par de meias extremamente grossas, que provavelmente usava para dormir.

— Obrigado.

Scorpius sentou-se na cama e bateu no colchão ao seu lado para que Albus sentasse ao seu lado.

— Eu estava terminando um livro quando você chegou. — Contou ele, puxando um grosso cobertor e colocando em cima das pernas de ambos. — Está muito frio.

— Desde quando você senta para ler um livro? — Albus indagou, segurando uma risada. — Uau, você está diferente.

— Droga, desculpa desapontar você, mas não é o tipo de livro que você está pensando. É uma leitura obrigatória da faculdade.

— Claro que é. — Albus riu, junto de Scorpius, que ajeitou o corpo para ficar de frente para ele. — Vou voltar para a faculdade no próximo semestre, já fiz minha rematrícula.

— Fico feliz por você, Al. — Scorpius abriu um largo sorriso. — Me conte mais sobre isso. Aliás, me conte tudo sobre esses meses que ficou em Hogsmeade, quero ouvir tudo.

— Bem, começando do início, eu comecei a ir numa terapeuta, entrei para o time de futebol da cidade junto com o James, o que é bem desastroso já que a) todos os jogadores são da idade dele e b) eu não sou tão bom quanto gostaria, mas estou aprendendo. Eu conversei com meus pais ontem sobre voltar para Nova York, o que eles concordaram sem hesitar, isso me deixou muito contente, porque mostra que eles confiam em mim novamente.

Albus fez uma pausa, suspirando fundo. Scorpius sentiu seu coração se aquecendo gradativamente, porque, olhando para aquele garoto sorridente na sua frente, falando com tanta facilidade sobre sua vida, fazia Scorpius se lembrar de quem Albus era antes do que acontecera com Lily. Era seu Albus.

— Eu mudei de curso. — Revelou, mordendo o lábio inferior. Scorpius quis beijá-lo, mas se deteve pela informação.

— Oi?

— Eu mudei de curso, me inscrevi para Literatura, que é basicamente o mesmo preço de Jornalismo. Ainda não contei para os meus pais, mas quis contar para você.

— Uau, isso é... Incrível, né? É bem a sua cara, é algo que imagino você fazendo, definitivamente. Seus pais vão te apoiar, acredite.

— É, eu imagino que sim. Na verdade, não sei porque ainda mencionei isso para eles. Só... Não sei.

Scorpius sorriu novamente, era quase inevitável não sorrir para aquela imagem maravilhosa que estava na sua frente, também sorrindo, alegremente. Sentiu vontade de beijá-lo novamente, era só nisso que pensava, em como queria beijá-lo depois daqueles meses longe, depois de mais de um ano e meio sentindo-o longe de si, mesmo quando estavam perto. Sentia vontade de beijar este Albus Potter, que sorria a todo o momento.

Aproximou-se dele, tentou olhá-lo nos olhos, tentou mesmo, mas seus olhos não conseguiam deixar de encarar seus lábios. Então o beijou. Albus suspirou fundo quando sentiu os lábios de Scorpius nos seus, tocando-os carinhosamente. Provavelmente não deveria, mas sentiu-se surpreso com a atitude repentina de Scorpius.

Scorpius puxou Albus para mais perto de si e o garoto nem mesmo pensou antes de se deixar levar por cima do loiro, que não parecia tentado a deixá-lo sair dali tão cedo. O livro, que anteriormente estava deixando de lado na cama que ambos ocupavam, caiu no chão causando um som alto, que nenhum dos dois se preocupou.

As bocas se separaram por menos de dois segundos, apenas para puxar o ar que lhes faltava rapidamente antes de atacarem-se um ao outro novamente. Eram demasiados os sentimentos que pairavam na aura que os cercava. Saudade. Desejo. Ansiedade.

Scorpius sonhara com aquele momento por meses quando estivera longe, todas as noites pensando em como seria quando retornasse e pudesse finalmente reencontrar Albus. Não esperava que fosse assim, certamente. Tinha medo e receio de que quando chegasse a hora, ele encontrasse o mesmo Albus de antes, ou talvez um Albus mudado e que ele próprio não fosse mais suficientemente bom para essa nova versão.

Estava enganado, é claro. Albus ainda era o mesmo e nunca esqueceria do carinho e comprometimento de Scorpius para com ele.  Sua gratidão era palpável principalmente no momento em que estavam vivendo ali, a vontade e urgência de estarem cada vez mais perto.

Ouviram então uma batida suave na porta e, com a respiração entrecortada, separaram-se imediatamente e sentaram-se eretos.

— Pode entrar — gritou Scorpius, arrumando os cabelos. Albus não ousou olhá-lo, com as bochechas vermelhas.

Era Draco, o pai de Scorpius. Albus sentiu as bochechas queimarem ainda mais.

— Albus! Que surpresa ver você aqui. — Exclamou Draco, sorrindo bondosamente. Por dentro, Albus não sabia se estava sendo sincero. Ele ouvira coisas bizarras sobre o pai de Scorpius, que seu pai contara, mas deixando claro que ele era um novo homem. — Andou sumido.

— É um prazer revê-lo, Sr. Malfoy. — Albus disse quase num sussurro. Sabia que estava com o cabelo bagunçado e com a cara de quem estava quase transando com o seu filho há poucos segundos.

— Igualmente. Scorp, trouxe as coisas que você pediu. Tenho que ir correndo para o hospital, um dos meus pacientes se agravou nessa manhã.

— Tudo bem, já vamos descer. Obrigado, pai. Boa sorte no hospital.

— É, boa sorte Sr. Malfoy.

— Obrigado meninos. — Draco sorriu perversamente para os dois, deixando Albus ainda mais envergonhado. Ele havia percebido, é claro. — Juízo, vocês dois.

Assim que Draco saiu pela porta, Albus enterrou o rosto entre as mãos, grunhindo. Scorpius riu na mesma hora, puxando-o para se aninhar entre seus braços.

— Albus, tem uma coisa que não mencionei antes. Eu estava... hmm. — Ele respirou fundo. Albus apertou uma de suas mãos. — Eu não queria que você me achasse obcecado, ou algo assim. Beleza, eu só queria contar que estou pensando em me transferir para Nova York, também.

Albus levantou-se de prontidão, com os olhos arregalados. Encarou Scorpius sem acreditar, seu coração parecia errar as batidas.

— O quê?! — Exclamou, perplexo e sentindo-se feliz demais para expressar em palavras. — Scorpius! Quando você ia em contar?

— Eu pretendia contar assim que te visse, mas aí você chegou e eu perdi a coragem. Quer dizer, não queria parecer um louco ou coisa do tipo.

— Essa é a melhor notícia que você poderia me dar, Scorp. Nossa, eu vou amar ficar perto de você, meu Deus. — Ele fez uma pausa, analisando as afeições de Scorpius. — Você já falou com seu pai?

— Sim, ele não gostou muito quando eu comentei com ele pela primeira vez, alguns meses atrás. Sabe, estudando em Edimburgo, eu posso vir sempre para casa, são 7h de viagem de carro, mas mesmo assim é bem mais perto do que Nova York. Porém — ele fez uma pausa dramática, rindo em seguida da impaciência de Albus. — Meu pai ganhou uma bolsa para fazer doutorado em Connecticut, são duas horas de carro.

Albus abafou um grito exasperado e abraçou Scorpius, que ria-se sem parar da expressão do moreno.

— Meu Deus, Scorpius! Isso é incrível. Porra, eu to surtando.

— Não vou ficar no campus, vou morar com meu pai em Connecticut e ir todos os dias de carro. Vai ficar mais caro e trabalhoso, mas não quero deixá-lo sozinho.

Albus não soube mais o que dizer, apenas voltou a abraçá-lo e sentiu imensamente feliz. Não se lembrava de sentir algo parecido há algum tempo. Já estava feliz de ter Scorpius, ter seu apoio, seu amor, seu beijo mesmo que apenas por alguns dias. Porém nada se comparava com aquilo. Estariam juntos como há anos antes, poderiam construir muitas coisas um ao lado do outro.

Dizem que a faculdade é a melhor fase de nossas vidas, é claro que Albus estava imensamente contente em compartilhar essa fase com Scorpius Malfoy.

Nova York.

Scorpius colocou as últimas duas caixas de papelão sobre o chão de madeira no alojamento de Albus. Uma das camas estavam repletas de livros e, a outra, com mais alguma caixas de tamanhos variados. Albus estava concentrado em uma das partes do guarda-roupa grande e velho que cobria uma parede toda. Alguns papéis estavam espalhados pelo chão, causando uma grande bagunça.

— Onde é que você vai colocar todos esses livros? — perguntou Scorpius, sentando-se na beirada de uma das camas e respirando pausadamente. — Tenho certeza que esse quarto estava muito mais vazio da última vez que vim aqui.

— Vou colocar do outro lado do guarda-roupa. — Respondeu Albus, ainda concentrado no que estava fazendo. — Eu me matriculei para um curso de escrita, trouxe alguns livros sobre o assunto. E comprei alguns novos também, sabe.

Desde o dia na casa de Scorpius, o garota vira Albus ficando cada vez mais feliz a cada dia. Começando com os preparativos para a ida de Scorpius para Nova York, até a mudança de seu pai também. Albus ajudara em tudo, ficando muito contente em poder ajudar e participar. Olhando-o tão entusiasmado a respeito da faculdade, Scorpius jurava que estava assistindo a melhor versão de seu namorado.

Sim, namorado.  Tinham oficializado novamente após meses questionando e sem saberem exatamente o que eram. Não que precisassem verbalizar algo, apenas sabiam, e estavam felizes assim.

Albus sentara-se na ponta da cama e encarou Scorpius, que levantava-se para sentar-se perto dele. Colocou-se entre seus braços e respirou fundo.

— Posso te fazer uma pergunta? — Albus sentou-se ereto, olhando para Scorpius.

— Claro que sim.

— Bem, eu estive pensando... — Ele fez uma pausa, desviando o olhar. — Não realmente pensando no assunto, só me ocorreu isso agora e...

— Seja direto, Potter.

— Você chegou a sair com alguém enquanto estávamos separados? — Ele perguntou rapidamente. Scorpius pareceu muito surpreso com a pergunta, visto pela sua expressão um pouco confusa. — É só curiosidade, não precisamos ter uma DR por causa disso.

— Nós estávamos separados?

— Bem... Tecnicamente sim.

— Bom, eu não sabia. Quer dizer, tá, estávamos meio que separados, mas eu não tinha desistido de você, Al. Eu não via a hora do semestre acabar para eu poder vê-lo.

— Isso é um “não”?

Scorpius sorriu, envergonhado. É claro que não saíra com ninguém por todos aqueles meses. Como poderia quando seu único pensamento todos os dias era Albus? Não conseguiria e nem teria vontade de estar com outro alguém.

— É. Eu não saí com ninguém. A não ser amigos, sabe. Mas não saí com ninguém romanticamente.

Albus sorriu, presunçoso. Ele jamais culparia Scorpius caso ele tivesse se envolvido com alguém, é claro, mas ficara aliviado com a resposta.

— Scorp, eu já disse isso antes, mas sinto muito por tudo isso. Afastar você dessa forma...

— Pare. Já superamos isso. Venha aqui.

Puxou Albus para mais perto de si, colocando suas mãos por baixo de sua camisa e beijando-o no alto do pescoço, depois no queixo, maxilar, até chegar em seus lábios. Albus enterrou uma das mãos nos cabelos macios de Scorpius, deixando-se levar pelos seus toques e beijos. Scorpius, por sua vez, parecia ainda mais exasperado. Enquanto um estivera tempo demais absorto em sentimentos que não compreendia o suficiente, o outro esteve esperando e tentando trazê-lo de volta para si, ansiando cada segundo para que finalmente pudesse tê-lo novamente. Dessa forma, Scorpius não conseguia conter a vontade que sentia do corpo de Albus.

O celular de Scorpius vibrou incisivamente sobre a cama, tirando dele uma exclamação um tanto quanto nervosa. Era Draco, seu pai.

— Porra.

Albus riu, saindo de cima de Scorpius e sentando-se novamente ao seu lado. Ouviu-o responder curtamente, e revirar os olhos em seguida antes de desligar o celular.

— Meu pai está do lado de fora me esperando. — Contou Scorpius desanimado. — Vamos ao mercado abastecer a casa.

— Tudo bem, amor.

Amor. Scorpius não conseguiu manter a cara fechada diante daquilo, abriu um sorriso enorme e verdadeiro antes de beijar Albus mais uma vez.

—  Vamos nos ver mais tarde, ok? Estou morrendo de saudade de você. — Disse ele, mordendo o lábio inferior de Albus. — Estamos sendo constantemente atrapalhados.

Albus soltou uma risada, levantando-se da cama e obrigando o namorado a fazer o mesmo. Beijaram-se mais uma vez parados na porta do quarto, depois novamente abaixo das escadas, na porta do dormitório masculino, e depois finalmente despediram-se quando Scorpius correu até o carro do pai, que acenava alegremente para Albus.

 


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Notas finais do capítulo

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