Ela tornava o mundo dele melhor só com um sorriso.

Otani não gostava de pensar nisso – nunca levou jeito para baboseiras românticas –, contudo, não negava as mudanças que ocorreram em sua vida desde que conheceu Koizumi.

Não esperava que um dia fosse se tornar uma pessoa tão sentimental. Na realidade, não esperava por um monte de coisas. Chegava a ser inacreditável que alguém como Risa fosse gostar justamente dele, a personificação de um anão de jardim. Mais do que isso, para Otani, era inacreditável que um dia fosse retribuir tais sentimentos na mesma proporção.

As coisas mudaram desde o fim do colegial, há três anos. Havia financiado um carro – uma coisinha de nada para ajudá-lo com as idas e vindas da faculdade – e começara um estágio como professor substituto em uma escola primária. O salário era uma mixaria, porém, auxiliava com o financiamento e ainda sobrava um pouco para gastar atoa com baboseiras.

Achava estranho pensar nisso. Aos poucos, de forma quase imperceptível, estava se tornando adulto.

Ainda assim, as vezes se esbarrava na velha versão de si. E sempre se chocava ao perceber que já não era mais o mesmo.

Tudo mudou.

Por mais que ainda acompanhasse os sucessos do cantor, seu fanatismo pelo Umibozu havia cessado. Nakao continuava sendo seu melhor amigo, embora já não se vissem como antigamente. Nobu se mudou para Hokkaido e ela as vezes lhe mandava mensagens, até ligava para saber como iam as coisas. Quanto a Chiharu e Suzuki, também não os via com a mesma frequência – o tempo era escasso, ainda mais para um casal tão dedicado aos estudos.

Risa, porém, continuava sendo Risa. A garota de olhos alegres e sorriso largo. O mesmo coração grande. A mesma alegria diante das dificuldades. Continuava a mesma – o que era bom, afinal, Otani nunca se achegou a mudanças. 

Aquela era uma tarde quente de sábado. O quarto pequeno e amontoado do rapaz estava sendo parcialmente iluminado pela luz do sol, que atravessava a fresta da janela. Na cama, a sonolenta Risa acordou ao sentir os dedos gentis dele percorrerem suas costas.  

Apesar do namorado ser bem mais baixo, ela se sentia pequena nesses momentos, envolvida pelos braços que a apertavam de forma tão firme contra o peitoral. Levantou os olhos, vislumbrando o rosto cheio de ângulos bonitos. Não era a primeira vez que dormiam juntos – ainda assim, ela sentia como se fosse. Havia sempre aquela sensação boa das borboletas no estômago e do coração acelerado.

Otani parecia pensativo enquanto encarava o teto. Ela passeou os dedos pelo rosto dele e apertou seus corpos em um abraço meio torto, embora parecesse certo. Tudo neles parecia certo.

Ele desviou os olhos até os dela. Risa resolveu perguntar.

— O que foi? Teve um pesadelo?

Ele não respondeu de imediato, inebriado com o cheiro de sabonete que emanava da moça. Virou-se para ficarem de frente. O turbilhão de pensamentos ainda o assustavam.

Às vezes Otani sentia-se inseguro quanto aos sentimentos de Risa, embora ela nunca desse motivos. Acontece que as coisas mudam – e ele tinha medo de que um dia ela acordasse e percebesse que já não o amava.

— Você acha que as coisas entre nós podem mudar?  

Encararam-se longamente. Ela se aproximou com lentidão e, puxando-o gentilmente pelo pescoço, colou seus lábios. Ele a apertou com cuidado entre seus braços fortes, provando dos lábios róseos e doces de Risa. Quando terminaram, ofegantes, Koizumi o fitou com carinho, de um jeito que quase o fez se esquecer das preocupações.

Por fim, sorriu, sem deixar de acariciar o rosto do rapaz.

— Mudanças são inevitáveis. — respondeu em voz baixa, observando-o assentir. — Mas eu vou sempre estar do seu lado, independente de tudo.

Ele sorriu antes de selar seus lábios outra vez, pensando que ela tinha razão.

Mudanças são inevitáveis. As coisas entre ele e Risa até poderiam mudar, mas Otani tinha uma certeza dentro dele.

A certeza de que a amaria para sempre.