Rinite escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Se você também sofre com rinite sinta-se abraçado, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790426/chapter/1

Entrei na farmácia e soltei três espirros em sequência, uma senhora que estava saindo olhou de cara feia para mim. Eu não disse nada, apenas abaixei o olhar e esfreguei meu nariz com o lencinho que tinha em mão.

 

Era muito chato como todo mundo me julgava quando eu espirrava sem parar daquele jeito, mas não dava pra conter. Rinite era um tormento na minha vida, quando ela resolvia aparecer só me restava chorar e buscar por meu antialérgico favorito.

 

Caminhei até o balcão nos fundos da farmácia, o lugar estava relativamente cheio. Parei atrás de uma mulher na fila da esquerda, ficando ao lado de um cara que na fila da direita também espirrou.

 

Ele era bem mais alto que eu, tinha cabelos ruivos e olhos claros, apostava em verdes. Seu nariz estava vermelho — como o meu também deveria estar —, sua expressão era cansada e impaciente. Mesmo assim, o carinha era lindo.

 

Espirrei outra vez, o que fez com que ele  olhasse para mim. Seus olhos eram mesmo verdes, o cara deu um pequeno sorriso e perguntou:

 

— Rinite também?

 

— Sim — confirmei e funguei, minha garganta estava horrível e minha voz saiu rouca. A dele também estava rouca, mas ele parecia sexy com aquilo.

 

— Tenho alergia a poeira e você? — questionou ainda sorrindo. Eu não conseguia acreditar que aquele cara bonito estava puxando papo comigo, principalmente para falar sobre rinite.

 

— Também, mexi em uns livros velhos na biblioteca da faculdade hoje e isso aconteceu.

 

— Você estuda na Universidade de Washington? — Franziu o cenho, com certeza percebendo que eu não tinha mais idade para ser estudante.

 

— Ah não. — Eu ri. — Sou professora lá, de literatura inglesa. Com certeza não tenho mais idade pra ser aluna, já tenho trinta e dois.

 

Ok, eu estava falando muito sobre mim para um desconhecido.

 

— Você não é velha, poderia ser uma estudante — afirmou. — Enfim, se formou lá? Tenho trinta e dois também, talvez tenhamos nos esbarrado.

 

— Não, estudei na Flórida, me mudei pra cá com a proposta de emprego ano passado. Você trabalha no que?

 

Não queria ser a única dando todas as informações ali.

 

— Sou engenheiro. Estava numa obra hoje, foi assim que acabei no meio dessa crise de rinite chata.

 

— Deve acontecer com frequência — observei.

 

— Mais do que eu gostaria. — Suspirou.

 

— Qual seu antialérgico favorito? — indaguei e ele riu baixo, mas foi interrompido por outro espirro.

 

— Ebastel — respondeu e fungou. — E o seu?

 

— O mesmo! — Sorri. 

 

— Ele é maravilhoso, né? O que faz efeito mais rápido em mim.

 

— Em mim também, olha que já experimentei todos que devem existir. Eu deveria ter ele na bolsa pra crises, mas acabou e nem percebi.

 

— Eu sou relapso — admitiu. — Só compro quando já estou assim. — Tossiu.

 

As duas filas andaram juntas, nos movemos e percebi que eu não sabia de algo dele.

 

— Qual seu nome?

 

— Edward Cullen. O seu é…

 

— Isabella Swan, mas prefiro que me chamem só de Bella.

 

— Swan como Emmett Swan o jogador de futebol americano famoso?

 

Assenti e dei um sorriso pequeno.

 

— É meu irmão mais novo.

 

— Você tá brincando? — Me encarou em choque.

 

— Não tô. — Eu ri e balancei a cabeça. — Apesar de que ele se saiu melhor, não tem rinite.

 

Edward riu.

 

— Minha irmã caçula também não tem e ela é muito fã do seu irmão, aliás. Rosalie é louca por futebol americano, vai ficar surtada quando descobrir que te conheci.

 

— Ela mora aqui?

 

— Não, New York. Nossa família é de lá, mas Rose sempre torceu pelo New Englad Patriots mesmo eles sendo de Massachusetts. Meu pai e ela vivem brigando por isso, ele torce pro New York Giants, é divertido ver eles discutindo.

 

— Pra qual você torce?

 

— Nenhum. — A fila andou mais um pouco. — Nunca tive paciência pra esportes. Você torce para o time do seu irmão?

 

— Eu também não curto esportes — contei. — Mas toda minha família torce para o time do Emm, somos de Massachusetts. Quando ele entrou no time foi uma puta comemoração. — Sorri ao me lembrar. — Ei, por que não me passa o Instagram da sua irmã? Posso pedir para Emmett mandar um oi para ela depois, ele ama gravar stories para os fãs.

 

Ok, eu não estava só pensando em ajudar uma fã a ser notada por seu ídolo, se tivesse o Instagram dela acabaria conseguindo o do seu irmão. Ninguém poderia me julgar, Edward Cullen era lindo e eu poderia gastar umas horas stalkeando sua rede social.

 

— Claro — Edward concordou e tirou seu celular do bolso, eu peguei o meu da minha bolsa e entrei no Instagram. — O user dela é cullen underline rosalie.

 

Localizei facilmente e a segui, ela não tinha a conta trancada, também tinha muitos seguidores e vi uma garota loira muito bonita. 

 

— Posso te seguir? — Edward perguntou me pegando de surpresa.

 

— Sim — murmurei. — O meu é bellswan. 

 

Lhe lancei um olhar rápido, ele assentiu e digitou em seu celular, logo apareceu para mim sua solicitação. Eu aceitei e o segui de volta, ele também precisava aprovar, mas fez isso rapidamente.

 

Guardei o celular de volta no bolso, não queria stalkear o Instagram dele bem na sua frente. Olhei para ele e vi Edward sorrindo, mas eu logo fui distraída por um espirro e como se estivessemos em sincronia o Cullen também espirrou.

 

— Maldição — reclamou.

 

Então, ao mesmo tempo, chegou a hora de sermos atendidos. Eu fui atendida por um garoto que deveria ter vinte anos, Edward por uma mulher que aparentava estar quase na casa dos cinquenta.

 

— Oi, vou querer uma caixa de Ebastel — pedi, ouvi Edward pedir pela mesma coisa.

 

— Desculpe, estamos sem — a atendente dele falou, depois o menino me atendendo confirmou. 

 

— Vendi o último ainda agora.

 

— Ah não — choraminguei.

 

— Temos outros antialérgicos — o garoto disse de mim para Edward, ele estava com uma cara nada boa também.

 

— Ebastel é o melhor! — exclamamos juntos. — Vamos procurar em outra farmácia? — Edward sugeriu e eu me vi concordando.

 

Deixamos a loja juntos, eu disse que meu carro estava na oficina, ele me contou que tinha ido trabalhar de táxi aquela manhã. Sendo assim, saímos andando buscando a farmácia mais próxima.

 

— Toma. — Tirei um lencinho da bolsa e entreguei para ele quando o engenheiro espirrou e tossiu.

 

— Valeu, Bella.

 

— Estou exausta — reclamei e apertei a jaqueta que usava ao redor de mim, já era pouco mais de oito da noite, tudo que queria era ir para casa, tomar um banho e dormir.

 

— Eu também. Amanhã tenho que tá cedo no trabalho pra completar.

 

— Mas é sábado.

 

— Tô participando de um projeto importante, construção de um shopping, todo dia é dia de trabalho — resmungou.

 

— Imagino, esses empresários sempre querem rapidez.

 

— Você também deve trabalhar de sábado em casa, né?

 

— Sim, sempre corrigindo algo ou preparando aula, mas é bem mais tranquilo e posso fazer isso de pijamas.

 

— Sempre fui péssimo em inglês — confessou dando um sorriso saudoso. 

 

— Sempre fui péssima em exatas, sua profissão para mim é um mistério.

 

Ele riu e indicou uma farmácia mais a frente.

 

— Espero que encontremos nossa salvação lá. 

 

— Eu também. — Apressei o passo e ele me acompanhou. Entramos na farmácia e seguimos para o balcão, Edward assumiu a posição de porta voz.

 

— Olá, queremos duas caixas de Ebastel — pediu a atendente, ela verificou primeiro no sistema pelo computador e depois entrou no estoque para pegar. — Nem acredito que vou tomar meu remédio e dormir logo mais — disse aliviado.

 

— Eu também, sorte que não moro muito longe.

 

— Onde você mora? Posso perguntar isso?

 

— No prédio ao lado da primeira farmácia — confidenciei. — Estava voltando do trabalho e fui logo lá. Você mora na região?

 

— Não tão perto assim, moro perto da universidade para ser franco, ainda no mesmo apartamento desde meu último ano como universitário. Um amigo mora lá perto do seu prédio, eu fui levar o presente de casamento dele, vai se casar no próximo fim de semana.

 

— Espero que você não esteja mais doente até lá.

 

— Eu também espero.

 

A atendente voltou com o remédio, uma caixa para cada. Agradecemos e seguimos para pagar.

 

Edward me deixou pagar primeiro, mas eu o esperei pagar e saímos juntos da farmácia.

 

— Posso te acompanhar até seu prédio? Pego um táxi de lá.

 

Eu sorri, animada com a proposta. Respondi positivamente e seguimos pelo caminho de volta, falamos sobre a cidade no curto trajeto, ele estava surpreso que eu ainda não tinha conhecido o Space Needle.

 

— Hum, você pode me achar louco por dizer isso — começou a falar quando paramos na frente do meu prédio. — Mas que tal eu te levar para conhecer o Space Needle amanhã?

 

Aquilo com certeza me pegou de surpresa, mas eu adorei a ideia.

 

— Às cinco da tarde? — sugeri.

 

— É um bom horário, de lá podemos sair para jantar, o que me diz? — Ele estava perto de mim e seu perfume me incomodou, mas por sorte não espirrei.

 

— Conheço um restaurante francês muito bom.

 

— Comida francesa é o que teremos. — Piscou. — Falo com você no Instagram quando eu estiver em casa, para combinarmos tudo direito.

 

— Ótimo.

 

— Ótimo. — Edward se aproximou mais e colocou seus lábios sobre minha bocecha direita, foi impossível não espirrar ao sentir seu perfume tão mais de perto.

 

— Droga, desculpa — pedi.

 

Ele se afastou rindo.

 

— Tudo bem. Foi meu perfume, né? Já tô acostumado e não me incomoda mais, mas sei que é meio forte.

 

— É, mas é um bom perfume. — Eu corei, diminui a distância entre a gente, fiquei na ponta dos pés e beijei seu rosto de volta, ele tossiu.

 

— Okay, chega de beijos até pararmos de tossir e espirrar na cara do outro.

 

Rimos e nos afastamos, estendi uma mão e ele apertou delicadamente.

 

— Foi bom te conhecer, Edward.

 

— Também foi bom te conhecer, Bella. Espero que amanhã a gente realmente consiga sair.

 

— Vamos sim, Ebastel é tudo, o melhor remédio do mundo.

 

***

 

Eu espirrei, três vezes seguidas. Mamãe afagou minhas costas em solidariedade, ela sabia como era sofrer com rinite.

 

Nós duas estávamos em um camarote, era noite de Superbowl e o time do meu irmão estaria jogando. Além de mamãe o meu pai também estava ali, assim como Esme, Carlisle e Rosalie Cullen.

 

De fã Rosalie tinha virado noiva de Emmett, ele a pediu em casamento dois meses antes no Natal. Foi lindo, eu chorei e me declarei a madrinha na hora, assim como Edward se declarou o padrinho. Afinal, sem nós dois eles não teriam se conhecido.

 

Pensar em Edward me fez olhar para a entrada do camarote, para meu alívio vi meu marido caminhar até mim. E para minha extrema felicidade carregava a sacola da farmácia em sua mão, eu fui logo abrindo minha garrafinha de água.

 

— Não tinha Ebastel — Edward falou quando sentou ao meu lado, eu já estava quase choramingando quando ele riu. — É brincadeira, babe. Tinha sim. — Tirou o remédio da caixa e o abriu, pegando um comprimido e colocando na minha mão.

 

— Não brinca com coisa séria, amor — pedi e engoli a pílula com ajuda de um pouco de água.

 

— Você vai melhorar. — Afagou meu braço, eu sorri para ele, amava aquele homem.

 

Nós nos conhecíamos há quase três anos, começamos a namorar depois do nosso terceiro encontro, ficamos noivos em julho de 2018 e casamos no último verão, em julho de 2019. Ainda morávamos em Seattle, no meu antigo prédio perto da farmácia, só pra garantir acesso rápido a antialérgicos.

 

Edward se inclinou para me beijar, mas eu não aguentei e espirrei na cara dele.

 

— Opa, a culpa é da rinite, amor.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Beijos!

Lola Royal.

11.05.20



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rinite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.