A noite se tornava cada vez mais escura e fria, de forma que as estrelas paulatinamente ficavam mais evidentes. O casal estava sentado na orla do lago, em completo silêncio, aproveitando juntos aquele momento tão especial. Pacifica descansava sua cabeça sobre o ombro do rapaz e eles seguravam a mão um do outro carinhosamente. A alguns quilômetros dali um forte clarão dominou a escuridão por uma fração de segundo e, logo sem seguida, uma luz amarela se dissipou pelo céu em vários fragmentos brilhantes como fogos de artifício.

— O que foi isso? - Se assustou a garota.

— Eu não sei, mas acho melhor irmos embora agora... Se for algo ruim logo descobriremos - Ele respondeu enquanto se levantava. Retirou seu casaco e o colocou sobre os ombros da loira. - Vamos até a Cabana. Lá eu pego o carro e te deixo em casa.

Eles seguiram até a entrada da floresta de mãos dadas e então Pacifica hesitou, fazendo um tranco repentino parar os passos de Dipper. Ela o encarou com pesar nos olhos.

— Eu... Não quero que essa noite acabe. Já ficamos longe tantos anos. Não quero me separar de você agora. Ainda tem tanta coisa que quero te contar.

— Eu também não... Mas ainda teremos o resto do verão.

— O resto do verão?

— Sim. Quando acabar o verão terei que voltar para a Califórnia.

Ela fitou o chão, aparentando estar ainda mais triste. Talvez ela não tivesse percebido ainda que o tempo que eles tinham era limitado. Dipper apoiou sua mão no queixo dela, carinhosamente trazendo o olhar dela de encontro ao seu. Ele estava com um sorriso melancólico estampado em seu rosto.

— Eu sei como você está se sentindo agora, mas... Não quero desperdiçar nosso tempo juntos pensando nisso agora, tudo bem? Quando a hora chegar poderemos ficar tristes ou pensar em alguma coisa, mas por enquanto vamos só aproveitar o tempo que temos.

Ela retribuiu o sorriso. Entendia o que lhe era dito, mas seu coração já doía pensando no futuro.  Os dois seguiram até a Cabana do Mistério e, chegando lá, Dipper tirou as chaves do carro do bolso, destravou seu Opala 91 bege e abriu a porta do passageiro com uma reverência exagerada.

— Senhorita.

Pacifica riu. Sabia que ele mais brincava com ela  do que se arriscava em um gesto de cavalheirismo. Ela respondeu com uma reverência performática, participando da brincadeira, e entrou no carro.

— Quanta gentileza.

— Para onde, senhorita? - Perguntou ao tomar seu lugar de frente ao volante.

— Para as estrelas - Respondeu após lhe dar um beijo na bochecha. Ele virou o rosto para a garota e tocou timidamente os lábios dela com os seus, respondendo ao gesto carinhoso que acabara de receber com outro. O rapa sentiu suas bochechas queimarem. Esse era apenas o segundo momento de carinho que tinham então ainda se sentia um pouco envergonhado.

— Isso é uma fala de um filme, não é? - Ele deu partida no carro, ainda envergonhado, e seguiu até o Solário Northwest.

Seguiram conversando o caminho inteiro. Pacifica falou a respeito de algumas mudanças que aconteceram em Gravity Falls desde que eles foram embora, mas mencionou poucos aspectos pessoais. Ela apenas explicou que não podia sair tanto por causa de seus pais, sem dar muitos detalhes. Isso era uma preocupação já que o jovem casal tinha um tempo tão curto juntos. Ela lhe contou que seus pais viajaram a negócios e retornariam em dois dias, e então poderiam ter dificuldades para se encontrarem. Dipper estacionou em frente ao enorme portão da mansão.

— Então... Podemos ter algumas dificuldades daqui para frente, não é?

— Sim. Eu sinto muito por isso.

— Então vamos aproveitar bem os nossos dias. Amanhã às 13:00 podemos nos encontrar na piscina pública?

— Na piscina? Você está querendo me ver em trajes de banho, Dipper? Ou por acaso... Está querendo exibir seu corpo para mim? - Ela o encarou com um sorriso malicioso, fazendo o rosto do rapaz fica completamente vermelho.

— N-n-não era isso. E-e-eu só achei q-que seria um lugar legal para nos encontrarmos. Pensando agora parece ter sido um convite muito ruim mesmo.

— Você ficou tão vermelho, o que você estava imaginando, hm?

— N-n-n-nada, esquece isso! Vamos nos encontrar no shopping então, pode ser?! - Ele puxou a aba do boné para cobrir o rosto.

— Combinado! - Ela riu e se despediu com um simples aceno ao sair do carro. Dipper correspondeu ao aceno e retornou à cabana do mistério.

***

A manhã veio logo e a Cabana do Mistério estava estranhamente agitada, acordando Dipper. Ele desceu as escadas e percebeu que o motivo de toda agitação e barulho eram responsabilidade de uma única pessoa. Mabel corria de um lado para o outro com ingredientes, derrubava coisas no caminho e depois voltava para pegar, a cozinha parecia um enorme caos.

— B-bom dia Mabel... O que é tudo isso?

— Bom diaaaa Dippeeer - Ela o encarou maliciosamente - Como foi ontem? Quero saber todos os detalhes.

— Q-que detalhes?

— Vocês se beijaaaaaram?

— Mabel eu não vou ficar contando esse tipo de coisa para você! - Ele afundou o rosto corado nos braços à mesa, escondendo-se da irmã.

— Uhhhhhhhh eu sabia! Sabia que esse um dia chegaria e meu irmão finalmente arrumaria uma namorada.

— Mabel! Você ainda não me respondeu por que é que isso aqui está uma bagunça assim. E onde você estava ontem à noite? Não estava aqui quando eu cheguei.

— Ah isso é... Eu tive que sair para ajudar a Grenda com umas coisas hahahaha e hoje ahn bom.. Eu vou ter que sair cedo e estou preparando algumas coisinhas para viagem, só isso - Mabel pareceu estranhamente agitada ao responder a pergunta e Dipper achou muito estranho, mas não queria a irmã perguntando maiores detalhes sobre a noite passada então preferiu não perguntar mais nada também. Ele tomou um copo de leite, comeu uma porção de ovos mexidos e voltou para o quarto para aproveitar a manhã e ler um pouco, enquanto esperava o horário do seu encontro. Mabel continuou desajeitada na cozinha mas logo foi embora, carregando uma cesta enorme com algumas das coisas que tinha preparado.

Pacifica também acordou cedo aquela manhã. Os dias sem seus pais em casa eram mais tranquilos, porém ela ainda precisava seguir sua rotina para não perder essa pequena liberdade. Todas as manhãs tinha aulas chatas de etiqueta, a maior exigência da alta sociedade. Sua aula terminaria mais cedo a pedido dela, para que pudesse se encontrar com Dipper. Ela se preparou para a aula e desceu as escadas para encontrar-se com a Sra. Dunham, porém ao chegar no hall de entrada não encontrou sua professora, mas sim seus pais.

— P-papai, mamãe. Achei que vocês retornariam apenas amanhã.

— Tivemos um imprevisto hoje e já retornamos. Inclusive sua aula de hoje está cancelada, temos um compromisso urgente e você virá conosco. Se arrume e vista suas melhores roupas, iremos almoçar com a família Walton hoje. Você conhecerá uma pessoa muito importante lá, tenha certeza de manter os modos.

***

Eram 12:00 em ponto quando a família Northwest recebeu a família Walton em sua mansão. Pacifica usava um vestido em renda bordada verde-água com decote coração e finas alças para sustentação. Em sua cintura se prendia um cinto forrado com o mesmo tecido do vestido. Era de uma leveza e delicadeza impressionantes, ideal para a ocasião.

— Priscilla, ela é perfeita como você disse! - O Sr. e a Sra. Walton cumprimentaram a jovem loira, encantados e muito felizes em vê-la - Venha, Philip.

Philip Walton aproximou-se. Era um jovem de 18 anos muito bonito. Seus cabelos eram negros e os olhos reluziam um verde esmeralda de tirar o fôlego. Ele se vestia e se portava como um príncipe, mas não era nada impressionante para Pacifica. Ela já estava acostumada a conhecer pessoas ricas e todas pareciam sempre as mesmas: bonitas por fora e vazias por dentro. Mas ela tinha regras a seguir. Sorriu para o jovem à sua frente e fez uma reverência. O jovem correspondeu e segurou a mão dela, beijando-a.

— É um prazer, senhorita Northwest. Agradeço pelo convite à sua adorável casa Sra. Northwest.

— Ora como ele é educado, Sally! - Respondeu Priscilla, encantada. Pacifica revirou os olhos sem que ninguém percebesse. Seria só mais um almoço chato com outra família rica. Ela pegou seu celular, que escondia por entre as camadas rendadas do vestido, e enviou uma mensagem a Dipper.

"Tive um imprevisto, meus pais chegaram a Gravity Falls essa manhã. Terei um almoço com outra família agora. Te aviso quando conseguir escapar daqui. - PACIFICA"

O almoço corria como sempre. Diversos garçons hábeis servindo pratos e pratos inacabáveis, uma fileira de empregadas prontas para qualquer necessidade de limpeza ou serviço, música clássica ao vivo no enorme salão que abrigava apenas as duas famílias e dezenas de funcionários. As conversas eram sempre sobre política e dinheiro e o senhor herdeiro Walton não tirava os olhos de Pacifica, sempre tentando puxar algum assunto com ela, porém ela respondia apenas o necessário para manter a educação e nunca o suficiente para prolongar nenhum assunto. Não estava interessada no que o jovem tinha para lhe dizer. Ela olhava seu celular a cada minuto, desesperada para que tudo aquilo acabasse logo. Durante uma de suas olhadas ao celular, distraída, Pacifica foi trazida de volta à conversa na mesa quando seu nome fora mencionado.

— Acredito que será magnífico termos Pacifica conosco depois do verão - Disse a Sra. Walton, uma mulher muito magra de cabelos negros e curtos.

— O que? - Pacifica olhou seus pais, assustada.

— Pacifica minha querida - a Sra. Northwest segurou a mão da filha - Esse ano você completou 18 anos e seu pai e eu decidimos que já estava na hora. Você irá se casar com Philip e, até lá, ficará com eles para receber a educação necessária para carregar os nomes Northwest e Walton.