Lucy sempre gostou do silêncio, algo que era difícil de se conseguir quando se tinha uma família grande e barulhenta. Apesar da Slytherin não ter um Salão Comunal tão barulhento quanto A Toca aos finais de semana, às vezes sentia falta de ter um canto só para si.

Sempre teve dificuldades para se adaptar, para interagir com outras pessoas. Mesmo depois de tantas tentativas, era como se não gostassem de nenhuma versão que ela criou para si mesma. Ela não era engraçada. Não era boa de contar histórias. Não era bonita o suficiente. Se mantinha segredos sobre si mesma, não dava certo. Se ela se abria demais com a pessoa, também não dava certo. A única máscara que lhe servia era a da inteligência, mas então entrou em Hogwarts e, além de cair em outra casa, não era mais a única. Não era o destaque da turma, era como qualquer outro estudante.

Interagir com as pessoas era frustrante e exaustivo. Por isso passava a maior parte do seu tempo lendo. Ela queria ser boa em Trato das Criaturas Mágicas ou Herbologia para que fosse justificada sua inaptidão nas relações humanas, mas as criaturas também pareciam não gostar dela, não importava o que fizesse. Era um desastre com as plantas, e particularmente não se interessava nem um pouco por elas.

Fingir gostar das mesmas coisas que as outras pessoas para ter assunto também não tinha funcionado.

Pensava que nada de interessante acontecia na sua vida.

E então logo no seu primeiro ano, encontrou como seu hobby passear pelos corredores de Hogwarts e observar as pinturas. Conversava com elas — ou tentava, já que muitas não lhe prestavam a atenção. E foi assim que percebeu uma pintura que não era bruxa, já que não se movia. E foi por total acidente que descobriu aquele corredor sem saída que era um excelente esconderijo para si.

Enquanto seus colegas passavam tardes próximos ao Lago Negro, ela se sentava naquele corredor abandonado e iluminado apenas pela sua varinha, já que não tinha iluminação. Talvez fosse um depósito quando foi criado, talvez uma passagem que se fechou, ela saberia disso se o quadro falasse.

Foi só no ano seguinte que ela sentiu que uma das pedras do chão estava solta. Isso era bem estranho, já que em todo o castelo nunca tinha presenciado algo assim. E quando tirou a pedra, encontrou uma pilha de cartas.

Era como uma sociedade secreta em que nenhuma das estudantes se conhecia. Eram de diferentes épocas. Escreviam e enterravam os seus segredos sob aquela pedra.

Andrômeda Black.

Dorcas Meadowes.

Badeea Ali.

Astoria Greengrass.

Talvez fosse errado ler aquelas palavras, talvez fosse o que elas quisessem, talvez fosse como uma tradição não estabelecida.

Escreveu uma carta em um pergaminho e o enterrou junto com as outras, procurando sentir-se parte de alguma coisa.

E mesmo assim sentiu que não era suficiente.

Estaria mentindo se dissesse que Hogwarts foi a sua melhor época e que aquele sentimento de inutilidade tinha passado. Só quando se formou e decidiu que precisava de um pouco de aventura na sua vida — escolhendo tornar-se dragonologista como o seu tio Charlie, do qual sempre se sentiu mais próxima — as coisas melhoraram.

E foi durante um natal aos 31 anos que a sua "sobrinha", Flora Lupin, lhe deu uma piscadela e uma carta envelhecida pelo tempo. A mesma que escreveu aos 12 anos de idade, com um rabisco no verso escrito "seu segredo está guardado comigo".

Vendo o quanto a sua vida tinha mudado, só podia concluir que:

É, a vida não tinha graça sem alguns dragões.