Momento proibido escrita por Aislyn


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Urokodaki havia surgindo com outra criança no campo de treinamento. Certamente mais uma que havia perdido sua família e quase sua vida para os onis. O menino não parecia ferido além de alguns arranhões, mas estava abatido, seus olhos sem brilho fixos no chão.

 

O lugar lhe foi apresentado, assim como algumas regras que tinham por ali. Ele parecia ouvir, respondendo com acenos de cabeça quando alguma pergunta lhe era dirigida, mas se negou a tirar qualquer dúvida.

 

Com certeza haveriam muitas questões a serem feitas, contudo, quem estaria com cabeça para pensar após um massacre?

 

Ainda mais uma criança. Tão jovem e já tendo que passar por tanto… E ainda haveria muito mais a enfrentar pois, se estava ali, era para fazer parte do treinamento de caçadores.

 

Enquanto caminhava pelos campos atrás da casa, Urokodaki acenou para uma outra criança, pedindo que se aproximasse dos dois, abaixando-se para ficar na altura dos meninos.

 

— Esse é Sabito. Ele chegou aqui tem alguns meses. – o homem apontou para o menino que se aproximava, de cabelos repicados num tom pêssego e olhos cinzentos gentis – Se quiser saber alguma coisa, pode falar com ele também. – depois, se virando para o outro menino, continuou as apresentações – Esse é Tomioka Gyuu. Seja gentil com ele.

 

Urokodaki os deixou sozinhos e, mesmo se não lhe fosse pedido, Sabito não o trataria mal. Entendia o que ele tinha passado, conhecia sua dor, pois também já foi a sua. Sabito tentou lhe explicar aquilo; que haviam passado pelas mesmas dificuldades, mas o menino não parecia estar com a mente naquele lugar. Só conseguia imaginar o que e quem ele havia perdido. Pais, irmãos, um lar amoroso…

 

Mesmo assim, Sabito não quis desistir. Estendeu-lhe a mão pequena, já calejada pelo começo dos treinos, chamando-o para conhecer mais alguém e também para brincar, o que foi aceito após um longo momento de indecisão.

 

Gyuu parecia um bichinho assustado, se encolhendo de medo com qualquer ruído, usando Sabito como escudo e se escondendo às suas costas quando algo o amedrontava. Parecia ter confiado no menino graças à apresentação de Urokodaki, algo como acreditar no que um adulto forte lhe disse que podia fazer, mas sua aproximação com qualquer outro levou um bom tempo. Mesmo com Makomo, uma menina que treinava para ser caçadora e era da mesma idade que eles e também tendo passado pelo mesmo, não foi vista com confiança num primeiro encontro.

 

Conforme foi se adaptando à rotina e ao lugar, o treinamento de caçadores de onis foi inserido na vida de Gyuu. Por mais apático que parecesse, uma certeza era visível: não queria deixar ninguém mais passar pelo que ele sofreu. Ninguém que treinava para ser um caçador queria aquilo. Era o tipo de destino que não se desejava nem mesmo para a pior pessoa.

 

Quanto mais obtinha sucesso nos treinos, mais seu olhar ganhava vida. Os calos doloridos nas mãos, obtidos devido ao treino árduo, eram esquecidos durante as brincadeiras, repletas de sorrisos e gargalhadas. Os ferimentos já não doíam como antes e as cicatrizes começaram a ser vistas com bons olhos, pois Sabito certa noite disse que era aquilo que os faziam grandes homens. Makomo não se importou nem um pouco com o comentário que claramente a excluía, deixando que os meninos contassem vantagem, já que atualmente ela era mais forte que os dois.

 

Sabito mal havia completado treze quando se tornou o preferido para ser o próximo pilar. Era sério, forte e decidido, com um grande senso de justiça e, acima de tudo, não havia perdido o olhar bondoso. Makomo por sua vez, era rápida e, apesar de parecer desligada, conhecia bem as técnicas e as repetia com perfeição. Gyuu achava que precisava treinar mais, contudo, nem de longe era a criança pequena e chorosa que chegou ali poucos anos atrás. Ainda era tímido e calado, sempre observador, mas inegavelmente forte.

 

Assim como a força dos três, a amizade também cresceu, a ponto de nunca serem vistos sozinhos. Estavam juntos em todos os momentos, fosse durante os treinos, nas horas de lazer ou nas refeições. Sempre rindo, conversando ou trocando informações. Sabito e Makomo não tinha relação sanguínea, mas claramente podiam ser tomados como irmãos devido a forma carinhosa e respeitosa que se tratavam. Tomioka, aos olhos da menina, seria aquele primo fofo e pequeno que você quer brincar, mas também está sempre pronta para ajudar a vencer algum jogo. Ela gostava de vê-lo se esforçando, gostava de sua voz, por vezes baixa e insegura, mas muito bonita. Sabito, pela visão de Gyuu, era o irmão mais velho e protetor, aquele a quem sempre podia procurar nos momentos difíceis.

 

A única diferença com o passar do tempo foi como a imagem que Sabito tinha de Tomioka mudou drasticamente.

 

Desde o começo, quando Gyuu chegou ali, sua relação com Sabito era diferente. Podiam se entender com olhares e pequenos acenos. Confiavam um no outro, se apoiavam e se tornaram confidentes. Não havia brigas ou ciúmes entre os três, mas havia mais cumplicidade entre os dois.

 

Eram o que podia ser chamado de melhores amigos.

 

Foi graças à essa relação que Gyuu começou a ter mais confiança, em si e nos outros. Voltou a acreditar na vida e achar que podia ter um futuro. Um futuro que não estava próximo e talvez não fosse muito feliz mas, se ele se esforçasse e ajudasse a eliminar os onis, também não seria um futuro impossível de existir, disso tinha certeza.

 

Sabito se sentia orgulhoso por fazer parte daquela mudança. Agradecia a Urokodaki por tê-los apresentado e por Gyuu lhe dar o voto de confiança. Contudo, não foi só isso que viu mudar no amigo. Não foi sua vontade de viver ou sua força que chamaram sua atenção. Havia algo mais que ele não sabia nomear.

 

A cada dia que passava conseguia notar com clareza o quanto o amigo de infância caminhava para se tornar um homem excepcional.

 

* * *

 

Glicínias por todos os lados. A paisagem era linda e, por trás de todas aquelas árvores floridas se escondia a floresta com os onis que deviam derrotar. Aquele era o teste final. Foi por aquilo que treinaram todos aqueles anos. Agora, só precisam sobreviver. Lutar e vencer.

 

Era fácil falar. Estavam com os ensinamentos de Urokodaki frescos na memória. Estavam mais do que prontos. Deixaram há muito de ser aquelas crianças inocentes, medrosas e que tiveram suas vidas destruídas.

 

Sabito ajeitou a máscara no rosto, encarando os dois amigos através dela, recebendo acenos idênticos. Se encontrariam novamente, dentro da floresta ou ao fim do teste. E vitoriosos. Era uma promessa.

 

Contudo, nem sempre o treinamento os preparava para a situação real. Alguns onis eram fracos e facilmente degolados, mas outros superaram suas expectativas, dando-lhes algum trabalho para vencer.

 

Tomioka havia perdido a conta de quantos dias se passaram. Assim que entrou na floresta foi separado dos amigos e obrigado a se virar sozinho. Estava sempre em alerta, sem pausa em momento algum. Algumas vezes topou com outros caçadores, se ajudavam e logo partiam por caminhos distintos. Ficar algumas noites sem dormir não era um problema, mas nunca havia encarado aquela tensão. Se vacilasse um momento que fosse, estaria morto.

 

Cinco ou cinquenta… não sabia dizer quantos havia eliminado, mas sabia que levaria um bom tempo para tirar o sangue de suas roupas e de suas mãos e mais tempo ainda para esquecer o cheiro.

 

Não, ele nunca ficaria livre do cheiro. Não enquanto houvessem onis matando humanos para se alimentar.

 

E então ele viu o que parecia ser o maior oni da floresta, lutando contra dois caçadores. Ele os havia encontrado, seus amigos. Sabito lutava com o oni, ganhando tempo para Makomo se erguer. A menina estava ferida, mas Gyuu não sabia dizer onde, visto a quantidade de sangue que manchava sua roupa.

 

Respirando fundo, Tomioka ergueu a espada à sua frente, mas suas pernas não se mexeram. Não era possível que houvesse chegado ao seu limite. Não agora! Não quando aqueles dois lutavam com tanto afinco.

 

Mais uma inspiração e então ele conseguiu agir, se impulsionando na direção do oni. Atacando por um dos lados, os três conseguiram várias investidas sincronizadas. Se conheciam bem o suficiente para não se atingirem por engano, pois sabiam onde o outro iria surgir. Um cobria qualquer brecha que o outro pudesse deixar passar. Não estavam livres de sofrerem lesões, mas estavam dando tudo de si. Quando um era atingido, os outros se adiantavam no próximo golpe até que aquele se recuperasse e então pudessem voltar a atacar juntos.

 

Mas Gyuu não conseguiu se erguer daquela vez. Sua visão se cobriu de vermelho e suas pernas tremiam, impedindo-o de levantar. A espada havia caído há alguns passos, mas longe o bastante para que não alcançasse apenas esticando a mão.

 

Sabito elaborou um plano rápido e ditou as ordens para Makomo. Ele ia distrair o oni, ela ia tirar Tomioka de perto e depois iam se reunir. As investidas, por mais bem elaboradas que fossem, não estavam surtindo efeito. Precisavam se reorganizar antes de tentarem de novo. A menina, contudo, não teve chance de agir. Foi jogada contra uma árvore e então esmagada entre os dedos do oni, que ria satisfeito.

 

Tomioka, sem poder se mover, sem poder ajudar, viu tudo acontecer à sua frente, em câmera lenta, sentindo-se inútil. Viu Sabito abrir a boca, mas seus ouvidos pareciam anestesiados ao grito. Sabito, que cravou sua espada no demônio, a pele tão forte e dura ao ponto de quebrar a arma ao meio.

 

Vermelho. Sua visão voltou a se manchar com aquela cor antes de tudo escurecer.


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Notas finais do capítulo

Continua!
Não deixem de me contar o que acharam!



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