Assassin's Creed: Elementary escrita por BadWolf


Capítulo 4
O Pedido De Um Marajá




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Quando Jacob e Evie Frye chegaram ao esconderijo do trem, já era madrugada alta. Sentado à poltrona de Evie, estava ninguém menos que Duleep Sigh, o último Marajá do Império Sikh, e grande colaborador dos irmãos Frye. A julgar por seu semblante, o nobre parecia preocupado. Trêmulo, com o olhar perdido, como se tivesse testemunhado uma aparição há pouco tempo. Henry Green estava próximo de si, e tinha na mão uma xícara.

—Sua Alteza, beba, por favor. Irá ajudar a aliviar sua tensão.

Silêncio. Por fim, Jacob decidiu interrompe-lo.

—O que houve com ele? – perguntou Evie à Henry.

—Estou sendo chantageado. – disse o Marajá, saindo de seu absorto estado de nervos. – Um homem veio até mim, e mostrou que tem em sua posse documentos que... Oh, eu não sei mais o que fazer! – disse, voltando mais uma vez a ficar nervoso.

—Sua Alteza, beba este chá. Irá te acalmar... – pediu Henry, até finalmente ser atendido pelo pobre homem.

—Que tipo de documentos eles têm em mãos?

—Não são eles, Mr. Frye, mas um único homem. Ele atende por CAM, o Diabo.

—“CAM, o Diabo”. Nunca ouvi falar. – disse Jacob, dando de ombros.

—Seu codinome sussurra pelos salões da alta sociedade como um dos maiores mestres chantagistas. Nobres tremem ao ouvir seu nome, que foi o responsável por arruinar famílias inteiras, destruir fortunas. Nem mesmo a realeza de alguns países escapou de suas garras. E agora, ele me alcançou... – choramingava o Marajá, bebendo seu chá mais uma vez, com as mãos trêmulas.

—O que ele tem em mãos? – perguntou Evie.

—Cartas, de conteúdo confidencial. Comunicações minhas com a Índia, com certas pessoas que... Que eu não deveria me comunicar. Entendem?

Os irmãos suspiraram ao mesmo tempo.

—Parece que a questão é complicada. O que ele pediu em troca?

Um silêncio prolongado se seguiu, até que o Marajá finalmente cedeu.

—Ele pediu... Todas as jóias de minha família. Todas. Nem uma a mais, nem uma a menos.

Jacob assobiou. – Provavelmente, é uma fortuna considerável.

—Inestimável. Não só pelo valor monetário, mas sentimental. Esta é uma das poucas lembranças de que tenho de minhas origens indianas, especialmente de minha mãe. Não posso deixar que este monstro leve o que possuo de mais precioso.

—Não vamos permitir que isso aconteça, Sua Alteza. – disse Evie, determinada.

—É, não vamos permitir. – acrescentou Jacob, apenas para reafirmar a decisão da irmã.

—Há alguma coisa sobre este homem que saiba? Seu nome verdadeiro, por exemplo?

—Não. Eu apenas recebi um cartão com o nome CAM, pedindo para marcar uma visita. Logo percebi do que se tratava, e aceitei. Era um homem gordo, de posses. Vestia roupas elegantes, tinha uma carruagem luxuosa. Não se apresentou devidamente. Apenas mostrou-me uma das cartas, disse que a Rainha ficaria mui desgostosa se soubesse de minha “ingratidão para com o Império Britânico” e fez questão de recitar o conteúdo das demais. Não tive dúvidas de que minhas cartas foram interceptadas. Ele, então, disse que eu receberia as cartas apenas se entregasse todas as jóias de minha família. “Um Marajá como você deve ter belíssimos exemplares de pedras preciosas”, foi o que disse.

—Mas que filho da mãe! – deixou escapar Jacob, recebendo um cutuco de Evie, sua irmã.

—Perdoe a falta de modos de meu irmão, Sua Alteza. – pediu Evie.

            -Não precisa se preocupar com xingamentos àquele sujeito. Acho que usar a palavra “filho da mãe” para uma ratazana daquelas é pouco.

            -Ele te deu algum prazo?

            O Marajá suspirou. – Aleguei que as Jóias ficam em possessão no Tesouro Real, e que a burocracia para movê-las é alta. Ele me deu o prazo de um mês para entrega-las. Já se passaram dez dias, no entanto.

            -Tempo o bastante para darmos um fim no sujeito e recuperarmos suas cartas. – disse Jacob, recebendo um assentimento de Evie.

            O Marajá sorriu, mais aliviado. Levantou-se pesadamente da cadeira.

            -Sabia que poderia contar convosco. Obrigado pela ajuda, eu serei eternamente grato se conseguirem recuperar estas cartas. Se me deem licença, acho que é tarde e preciso partir. – disse, sendo acompanhado por Henry para a Estação Vitória.

            -“CAM, o Diabo”... Quando penso que já vi de tudo em Londres... – assinalou Jacob, bocejando, quando o Marajá já estava longe. – Acho que vou dormir.

            -Não! – exclamou Henry, ao dar-se conta de que Violet estava usando os aposentos de Jacob para se banhar. Tarde demais, pois assim que o rapaz adentrou ao seu quarto, um grito feminino se seguiu. Jacob reapareceu rapidamente, com o semblante corado e abobado.

            -Corrijam-me se eu estiver errado, mas... Eu juro que vi uma mulher nua no meu quarto. O que seria isto, meu presente de aniversário, Greenie?

            Boquiaberta, Evie voltou-se para Henry, que o semblante bastante confuso, procurou se explicar.

            -Ela queria se banhar, então ofereci a banheira, que fica...

            -... No quarto de Jacob. – completou Evie, compreendendo agora o que havia acontecido. – Não sei porquê Jacob insistiu tanto para ficar com o quarto com banheira quando compramos um vagão extra para o trem. Ele mal toma banho.

            -Bom, se você escolhesse o quarto com banheira, teria de dormir soterrada por seus livros, então dê-se por satisfeita! – resmungou Jacob. Rolando os olhos para mais um começo de briga infantil entre os dois irmãos, Henry Green pôs-se no meio dos dois.

            -Acalmem-se. – pediu o mais sensato dos Assassinos. – Jacob, enquanto esteve fora comemorando seu aniversário, recebemos uma visita de uma Assassina da Irmandade. O nome dela é Violet e está aqui em uma missão especial.

            Henry tentou evitar naquele momento de exaltações todos os detalhes da presença de Violet ali, mas apesar de Jacob estar longe de ser tenaz e esperto como Evie, o Assassino não era completamente tolo e sabia unir os pontos.

            -Mesmo? Será que não é o nosso querido e estimado Conselho tentando dizer quem é que manda?

—Como assim? – perguntou Evie, apesar de saber onde seu irmão estava querendo chegar. Sentando-se no sofá e esticando as pernas, Jacob voltou a falar.

—Ora, minha irmã, nós sabemos que nossa tomada de Londres pelos Templários foi algo que o Conselho simplesmente engoliu. Nada mais natural que eles tentem agora estender seu controle burocrático por aqui. Esses bastardos, cretinos preguiçosos...

Evie não sabia o que dizer. Tinha uma opinião parecida com a de seu irmão, porém a expressava de modo mais “educado” que Jacob. Ainda assim, aquele não era momento de incentivar sua hostilidade quanto às atitudes cada vez mais questionáveis do Conselho. Afinal, Violet pagaria por isso, e desnecessariamente.

Por fim, eis que uma constrangida Violet apareceu.

—Mil perdões, eu não imaginava que... Que...

—Está tudo bem, Violet. – cortou Evie. – Meu irmão costuma ter um comportamento um tanto grosseiro diante de damas, terá de se acostumar com isto.

—Grosseiro?! – questionou Jacob, irritado. – Pois pelo que me lembre, até poucos dias atrás este era o meu quarto! Portanto não há grosseria alguma em entrar em meu próprio quarto sem bater!

—Bom, o tom de voz alterado de Jacob sem dúvida corrobora o meu argumento. Aliás, Jacob, esta é Violet Fitzgerald. Violet, meu irmão Jacob.

Ainda resoluto com a presença da Assassina ali, Jacob concentrou o máximo de sua educação e trocou um aperto de mão rápido com Violet. Ambos não trocaram nenhuma palavra depois disso.

—Bom, agora que todos aqui foram devidamente apresentados, creio que é hora de conversamos sobre CAM.

 

 

§§§§§§§§

 

 

            -Então, é isto? – disse o rapaz, levantando-se do sofá, caminhando em direção à Henry e Evie, atentos às suas palavras. – Uma carta chega, com o timbre do Conselho, dizendo que ela é uma Assassina e que está aqui para nos ajudar, e vocês simplesmente acatam? Já cogitaram que esta carta pode ser falsa?

—Tem a caligrafia do próprio Westhouse, Jacob. Se fosse mais atento a detalhes, teria notado isso. E nós não estaríamos tão no escuro sobre as decisões do Conselho se você não tivesse descartado as cartas vindas de Crawley.

Jacob emburrou a cara, tentando ignorar a repreensão de Evie.

—Se quer que eu peça perdão por isso, pode esquecer. Não precisamos do Conselho nem nos momentos mais difíceis. Não será agora que iremos precisar.

—Será mesmo? Acaso se esqueceu dos números e cálculos que fiz hoje de tarde? Os Rooks estão falidos! – esbravejou Evie, arrancando uma exclamação de pasmo de Henry. Antes que seu noivo perguntasse mais sobre o assunto, a Assassina continuou. – Estamos sem capital para financiar nossas atividades. Querendo ou não, iremos precisar de ajuda agora.

—Não deles, Evie! Nós podemos... Podemos...

Evie parecia irredutível.

—Pare de tentar encontrar uma solução mirabolante, Jacob! Você não é Harry para armar mais um plano infalível e questionável de ficar rico com um piscar de olhos. Viu só o que esse plano custou ao seu amigo. Anos de detenção no pior presídio da Inglaterra. Sonhos não irão salvar os Rooks, mas sim ação. Responsabilidade, principalmente. Algo que você não teria esquecido se não permanecesse tão ocupado com os Rooks e a cada dia menos com a Irmandade.

Jacob sacudiu a cabeça negativamente.

—O que propõe então? – perguntou, cruzando os braços.

—Pedir ajuda aos Assassinos. Aceitar seus reforços.

A resposta de Evie desgostou Jacob profundamente.

—Os Rooks já são úteis, minha irmã. Eles trabalham para nós, estão por todo canto da cidade. São mais do que nossos olhos e ouvidos. Não precisamos de mais Assassinos como essa... Essa tal de Violet.

Henry interveio.

—Mas eles não são Assassinos, Jacob. Eles trabalham motivados por dinheiro. Um dia, poderão se voltar contra nós, e mesmo contra você, em prol daquele que pagar melhor por seus serviços sujos.

—Está acusando os Rooks de serem mercenários, Greenie? – irritou-se Jacob.

Henry Green sacudiu a cabeça, em discordância.

—O que quero dizer é que eles não têm a nossa convicção, Jacob. São movidos por princípios que não correspondem aos nossos, e até o momento estes princípios estão alinhados conosco, mas amanhã poderão não mais estar.

—Henry está certo, Jacob. – interveio Evie. – Precisamos consolidar a Irmandade agora. E toda a ajuda do Conselho nesta etapa será bem-vinda.

—Não precisamos da ajuda daquele Conselho de velhos cansados e covardes, minha irmã.

—Mais respeito, Jacob! – pediu Evie, irritada.

—Não dá para respeitá-los, Evie. Se o tivéssemos respeitado há mais de um ano atrás, sequer estaríamos aqui, neste trem, conversando enquanto Londres está livre dos Templários de Crawford Starrick.

            -Jacob... – pediu Evie, em vão. Ele estava claramente transtornado.

Ela não poderia culpar seu inconformismo. Por muitos anos, ela também o tinha. Lembrou-se dos tempos de Crawley, onde matavam um punhado de templários sem fazer a diferença propriamente. Lembrou-se também de um Jacob pobretão e sonhador, que a convenceu a ir até Londres com praticamente nenhum recurso, enquanto o Conselho se contentava com migalhas que caíam de Londres.

            -Será que eu sou o único aqui que tem memória? Será que sou o único que se lembra que o Conselho jamais se mostrou disposto a conquistar Londres? Quantos “não” nós ouvimos, minha irmã, até embarcamos naquele trem escondidos? Muitos. Fizemos todo o trabalho pesado por eles, não recebemos um xelim sequer para montar os Rooks, e agora você quer que eu entregue os Rooks de mão beijada para eles? JAMAIS!

            Jacob estava irredutível, notou Evie. Era inútil discutir com ele em tal estado. Antes que a conversa pudesse ser interrompida pela Assassina, o próprio Jacob pôs fim à ela, saltando do trem em movimento por meio de uma janela qualquer. Aquela sempre foi sua maneira de dar um ponto final em discussões onde ele não queria ceder – estando certo ou errado.

            -Seu irmão está furioso. – disse Henry, após um longo silêncio tomar conta do trem-esconderijo. Evie suspirou pesadamente.

            -Jacob precisa absorver o impacto da notícia, Henry. Precisamos deixa-lo em paz agora, com seus próprios pensamentos.

—Evie. – interferiu Henry Green. – O que você disse, sobre os Rooks estarem falidos... Era verdade?

—Sim, Henry. Gostaria de te contar maiores detalhes, mas não estou com cabeça para isso. Amanhã conversamos, está bem?

—Está bem. Tenha uma boa noite. – despediu-se educadamente Henry.

—Boa noite.

Estando as duas Assassinas sozinhas na sala, Evie suspirou de modo cansado.

—Bom, acho que a noite agora não nos reserva mais que uma noite de sono. Venha, Violet. Irei preparar uma cama para que você descanse.

            A jovem Assassina assentiu, colocando sua bolsa em um canto, onde pôde desfazer-se de seus pertences.

            -Não queria provocar brigas entre você e seu irmão. – ela disse.

            Evie riu. – Acredite, brigas entre mim e Jacob não precisam de absolutamente nada para acontecer. Jacob irá entender, cedo ou tarde. E se não entender, eu o controlo.

            As duas mulheres trocaram um sorriso cúmplice.


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