Movement escrita por Honora


Capítulo 1
when you move, I'm put to mind of all that I wanna be


Notas iniciais do capítulo

Tava muito entediada e decidi escrever uma inosaku porque to com saudades de ler algo das duas ♥

espero que gostem!



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Sempre lidou bem em passar dias presa dentro da própria casa, sem desgrudar o olhar das quatro paredes que a cercavam, era como atingir o nirvana; livre de problemas, provavelmente de férias, comendo como se os neurônios do hipotálamo de seu cérebro fossem desligados e sem se importar com que dia seria amanhã. O prazer de fazer coisas simplórias como essa era porque podia. Normalmente, as férias eram o alvo desses afazeres enfadonhos.

 

Agora, porém, a quarentena lhe proporcionava isso sem uma data prévia para a normalidade. Talvez fosse isso que tanto lhe incomodava, o fato de que não havia um fim previsto para suas acomodações banais. 

 

Sentia que o cabelo rosado havia perdido o brilho das caminhadas matinais com o cachorro de sua vizinha idosa e indisposta. Da mesma forma que havia perdido o prazer em olhar para as paredes vazias. Embora adore o silêncio e aprecie a solitude, Sakura Haruno não mora sozinha.

 

Dividia o apartamento mundano com sua colega de faculdade, Ino Yamanaka. A loira de olhos azulados não estava habituada a passar mais de três horas no cubículo que alugavam, era frequente freguesa de um pub no centro da cidade, além dos casarões em que anoitecia. Sakura entendia que para Ino, lar não era um conceito de grande importância.

 

A quarentena vinha mostrando um lado defeituoso do qual desconhecia em Ino, mas que não julgava. As manias da outra eram sempre notadas pela Haruno entediada, como, por exemplo; o costume de enrolar as mechas no dedo quando estava pensativa, ou quando acordava de madrugada apenas para dar uma garfada em algum doce que a Haruno havia preparado. Também gostava quando ela de repente adentrava a sala, curiosa com o filme que Sakura assistia e, segundos depois, fazendo uma careta e virando as costas, pronta para passar horas dentro do quarto. Frequentemente fumava na sala de estar, sem ao menos perguntar se Sakura se importava — e ela era asmática!

 

Para a Haruno, o mais engraçado de toda a convivência com Ino era que mal trocavam uma dúzia de palavras. Costumavam a conversar na faculdade, mas sempre sobre as aulas. A ideia de dividirem apartamento veio de uma necessidade única das duas em ter mais liberdade, e um anúncio de um apartamento bem situado, embora minúsculo.

 

Às vezes Sakura flagrava Ino chorando no parapeito da janela, enquanto fumava algum cigarro caro. Nunca soube o que fazer nessas situações, visto que não eram próximas o suficiente. No começo, apenas fingia não ver, caminhando até a cozinha num silêncio absoluto. Depois, percebeu que Ino não se importava com sua presença e nem se sentia incomodada ao ponto de parar de chorar, então não se importou também em sentar ao sofá e fazer companhia a ela, num mutismo tranquilo.



Também mudou o catálogo dos filmes que assistia corriqueiramente, tentou gêneros diferentes, até que um deles prendesse a atenção de Ino ao ponto da garota sentar ao seu lado para assistir até o final. Descobriu que seus favoritos eram musicais, animações e qualquer filme que houvesse um casal de lésbicas — Sakura lembra vividamente de rir da última observação. Essa busca por aproximação foi bem aceita por Ino, agora conversavam não só sobre a faculdade, como também filmes e todas as suas técnicas artísticas. 

 

Com isso, Ino também exibiu seus dons artísticos, lhe contando que havia aprendido com um ex-namorado na adolescência. Quando a Yamanaka lhe mostrou um esboço do rosto felicito de Sakura, a Haruno sentiu que iria desmaiar. Lembrava-se de sentir as bochechas queimarem e a voz falhar, enquanto Ino parecia calma e confusa. Observou que os desenhos com o semblante de Sakura eram mais comuns do que esperava, Ino afirmava que era um ótimo passatempo desenhar o rosto repleto de expressões emotivas.

 

Sakura se perguntava o que Ino acharia se soubesse que todos os movimentos dela são seu passatempo favorito. Se lhe perguntasse, diria simplesmente que era a monotonia da quarentena, embora isso lhe soasse ridículo. Afinal, estava apaixonada pela colega. Havia começado como uma obsessão boba, como se ter a atenção ou conversa com Ino fosse meramente um luxo do qual queria. Quando passou a conhecê-la, mesmo que nos pequenos atos, percebeu que Ino não tinha nada de exclusivo, era tão humana e errante quanto Sakura. Talvez tenha sido esse pequeno detalhe que tenha atentado o coração de Sakura subitamente. De qualquer forma, sabia que Ino por si só era o suficiente para deixá-la arfando.

 

Visto que era uma pessoa muito emotiva e inquieta, Sakura não conseguiu segurar aquela ansiedade dentro de si. Precisava falar! Sentia que seu coração ia explodir a qualquer momento, fazendo com que Sakura seja impulsiva o suficiente para beijá-la inesperadamente. A possível rejeição provavelmente causaria lágrimas na Haruno, coisa que não gostaria que Ino soubesse.

 

Por isso, decidiu agir de forma discreta e silenciosa. Escreveu algumas palavras num papel qualquer, jogando-o embaixo da porta de madeira da Yamanaka. Correu para o fim do corredor, com medo de que ela abrisse a porta a qualquer momento, parecia uma criança aflita. Ino deu fim a seus pensamentos inseguros jogando o papel pela fresta novamente. Sakura voltou a correr ansiosa.

 

“Está ocupada para um jantar com velas hoje à noite?”, a letra cursiva de Sakura estava acompanhada de um beijo de batom e um singelo “adoraria”. Naquele momento, não sabia como respirar devidamente.  Deu alguns pulinhos alegres, sem desgrudar os olhos da marca de batom que Ino deixara.

 

De repente, olhar para as paredes parecia um prazer distante que Sakura já não mais possuía. Aquelas quatro semanas de quarentena pareciam tê-la deixado louca o suficiente para se apaixonar. Se as circunstâncias não fossem as mesmas, duvidaria muito que tudo aquilo estaria acontecendo. Nunca agradeceu tanto por todos os comércios permanecerem de portas fechadas.

 

Preparou todo o cenário com cuidado. Sabia que o lugar que Ino mais apreciava era a janela, tinha uma linda vista da noite estrelada. Moveu uma mesa pequena até a janela, cobrindo-a com uma seda vermelha. Levou as velas e os pisca-pisca de Natal, enfeitando toda a sala. Procurou um vídeo de lareira no youtube e deixou na televisão, sorrindo ao imaginar a gargalhada de Ino aos detalhes. 

 

Focou-se em preparar o jantar; massa com almôndegas parecia o favorito de Ino, ao menos era o prato em que ela sempre comia duas vezes com os olhos brilhando. Estava tão dedicada em preparar um jantar digno que mal notou os olhos azulados lhe fitando com divertimento. Eram em momentos da distração de Sakura que Ino aproveitava para desenhá-la, embora no tempo presente estivesse mais interessada em apenas observá-la.

 

Quando Sakura virou-se para trás, segurando a panela quente, sentiu-se paralisada. Ino estava estonteante como sempre; seus cabelos longos estavam esparramados pelo ombro direito, o batom vermelho marcava os lábios carnudos, enquanto seus olhos tinham um brilho natural que Sakura nunca havia visto. 

 

Passou tanto tempo encarando-a, tanto pela surpresa quanto pela beleza estarrecedora, que mal percebeu a mão queimar e soltar a panela automaticamente. Pulou para trás com o susto, observando a comida se dispersar pelo chão, enquanto uma tristeza fúnebre pairava ao notar o estrago de seu desastre.

 

— Você é tão descuidada às vezes — murmurou Ino, pegando um pano e limpando as pernas sujas de molho da Haruno.

 

Sakura sentiu novamente as bochechas queimarem como nunca. Estava se amaldiçoando internamente, mas também culpava Ino pelo efeito que ela causava.

 

— Não tenho culpa se você fica aí parada sendo… linda — Sakura revirou os olhos e fez um biquinho infantil, enquanto Ino se divertia com sua situação.

 

Ino levantou-se após limpar os resquícios da sujeira, ajudando Sakura a arrumar aquela bagunça. 

 

Após passarem um bocado de minutos ocupadas em silêncio, decidiram pedir pizza. Rumaram para a sala, enquanto começavam alguma conversa aleatória.

 

Naquela noite, Sakura descobriu muito mais sobre Ino do que todas as semanas em que passou a observá-la. Sentiu-se arrependida de nunca ter tentado conversar antes, mas sabia que precisava daquele tempo para processar a timidez que ambas sentiam. Desvendou os motivos de seus choros constantes, compartilhou segredos e inseguranças, além de medos internos que nunca havia revelado nem mesmo para sua psicóloga.

 

Sentia total liberdade para conversar sobre qualquer coisa com Ino e descobriu que era mútuo. Quanto mais conversavam, mais o sentimento por ela se intensificava. Algo que sentiria depois de meses, passou a sentir depois de minutos na presença diária dela. 

 

Mas nada nessa história havia surpreendido mais a Haruno do que o beijo que Ino dava em sua boca naquele momento. Impulsivo da maneira que Sakura era, o colar de lábios chegou tão de repente que sentiu-se paralisada por longos segundos. Quando a mão segurou seu cabelo com delicadeza, conseguiu movimentar os lábios, sentindo o gosto do vinho e cigarro. 

 

Enquanto desfrutavam da sensação nova, as mãos brincavam no corpo uma da outra. Sakura passava as unhas pelas costas desnudas, enquanto Ino puxava seu cabelo róseo com certa dominância. Sentiu a mão colar em sua bunda, puxando-a para o colo. Nada a prepararia para aquela noite carnal e instigante.

 

A agonia de uma quarentena tediosa e lamuriante havia acabado e Sakura não poderia agradecer mais.


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