Pieces Into Place escrita por éphémère


Capítulo 6
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Hélou

Não sei nem com que cara aparecer aqui depois de um mês sem atualizar, mas juro pra vocês que tenho um motivo convincente: minha faculdade retomou o calendário por meio de atividades remotas. Tive que deixar alguns hobbies de lado, e infelizmente, escrever foi um dos que ficou em pausa.
Ainda assim, lhes devo um pedido de desculpas. Ainda que nada do que eu diga possa compensar essa ausência, ME DESCULPEM ME DESCULPEM ME DESCULPEM. Me sinto mal porque ficar tanto tempo sem dar notícias é decepcionante, ainda mais pra quem têm acompanhado, apoiado... Me desculpem de verdade, me importo com vocês.

Desculpas a parteee, hora dos agradecimentos!!
Obrigada RoseLodge, Loucadosdrama e RosaDWeasley pelos favoritos, vocês são incríveis! Obrigada aos cinco comentários MARAVILHOSOS que recebi no capítulo passado, e obrigada (e muito bem-vindos) àqueles que começaram a acompanhar a fanfic nesse meio tempo. Vocês todos moram no meu coração, sem exceção ♥ ♥ ♥
Pra não perder o costume, vou agradecer a Lola Cricket de novo SIM!! Sem a insistência dela, esse capítulo não teria saído tão cedo, então obrigada amiga, de vdd.

Vamos ao capítulo?! Espero que gostemmm



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Apesar de desperto a um bom tempo, Scorpius não conseguia abrir os olhos. A claridade que batia contra as suas pálpebras fechadas já era suficientemente dolorosa para querer enfrentar diretamente os reflexos exagerados que aquelas fitas prateadas produziam sob a luz do dia. Isso, aliado ao calor das cobertas e ao cheiro agradável que puxava o canto dos seus lábios para cima, faziam-no querer afundar ainda mais contra o colchão.

Cheiro de Rose Weasley.

Ah, aquela mulher… Como se a última noite tivesse sido um sonho que poderia escapar pelas pontas de seus dedos assim que a consciência que sua existência requeria lhe fosse imposta, Scorpius se agarrava à ela com obstinação, repassando cada detalhe possível como uma criança reassistindo ao filme favorito.

Depois que ouviu daquela linda boca que também era amado, que exercia o mesmo efeito sobre Rose que ela nele e que os últimos anos se arrastaram tanto quanto para ele, não tinha resposta melhor para dar que a risada de genuína felicidade, seguida pelos minutos em que ficou com os pés plantados no lugar, levantando-a ao ar, beijando-a sem descanso. Hora com a pressa e a urgência ocasionadas pelo tempo, hora com a calma de quem não queria ver aquele momento acabar, Scorpius sentia diversas descargas elétricas percorrerem-no dos fios de cabelo até a ponta dos dedos dos pés. O calor da pele e do interior da boca dela, os dedos inquietos que passeavam entre a base dos cabelos dele, depois pela sua nuca, então pelos seus ombros e seus braços, apenas contribuíam para a condução de toda aquela carga elétrica.

Naturalmente, foram parar na cama uma hora ou outra. No entanto, apesar do desejo fervoroso despertado por mais e mais beijos, não fizeram nada além de conversar. Devia passar das três da manhã quando, deitados de costas para o colchão, os olhos fixos no teto, passaram a confidenciar mais segredos um ao outro; o último compartilhado, particularmente mais comprido que todos os outros, Scorpius duvidava que Rose tivesse ouvido até o final, uma vez que, olhando para o lado no meio de seu discurso, encontrou-a já de olhos fechados, envolta pelo sono.

Interrompendo a fala na mesma hora, Scorpius deitou de frente para ela. Sem toda a intensidade daqueles olhos selvagens, era possível ver toda a delicadeza de seus traços, desde a pacificidade das sobrancelhas sobre as pálpebras cerradas até o canto livre de tensões de seus lábios. Nem mesmo o nariz arrebitado parecia tão irritantemente presumido como de costume. Seus cabelos vivos, esparramados sobre o travesseiro, traziam contraste às sardas que pontilhavam seu nariz. Até perdera a conta de quantas vezes sentira o coração descompassar naquela noite, mas quanto mais a admirava ali, adormecida, mais saltos acometiam seu peito.

Convenceu-se a não levá-la ao quarto de visitas mais por egoísmo que qualquer outra coisa; era verdade que Rose estava mergulhada num sono tão bom que não pareciam haver motivos suficientemente bons para interromper, mas ele a queria ali, em seus braços — queria continuar desfrutando daquela sensação inebriante de plenitude. Portanto, enroscando-se nela como se nem a maior superfície de contato disponível fosse suficiente, os cobriu e dormiu.

Foi a melhor noite de sono que teve em eras.

Com músculos preguiçosos e protestantes, esticou o braço e vasculhou a cama em busca dela, mas não a encontrou. O desespero que sentiu fez com que seus olhos se arregalassem, sua visão afetada tentando se ajustar à repentina e cegante claridade. Não precisou esperar enxergar tudo com clareza para perceber que não havia ninguém ali.

Às pressas, Scorpius jogou as pernas para a direção contrária que jogou as cobertas; atravessando o quarto e o corredor voando, adentrou o quarto de visitas e espiou, entre os galhos que obstruíam a vista, o jardim de entrada. Apesar de murchas pela quantidade excessiva de água que receberam na noite anterior, as plantas ostentavam cores mais vibrantes que nunca. No caminho de terra que levava à estrada além do arco de entrada, restavam apenas as marcas de pneu do carro da Weasley.

Então ela tinha mesmo ido embora.

Dando de ombros como se não se importasse, tentou centrar-se no lado bom da coisa — teria mais tempo para revisar os novos contratos de jogadores que seu chefe repassara, e talvez enviar algumas corujas para resolver aquela situação com a Liga Irlandesa de Quadribol. No entanto, não havia nada que pudesse equilibrar aquela balança, e pelo resto da manhã, conseguia pensar apenas na figura mediana que o visitara, e em seus olhos muito azuis enquanto retribuía seus sentimentos.




— Entre, entre, Rosita! — Cuffe exclamava, gesticulando efusivamente; desacostumado com o peso adicional que ganhara no último ano, não conseguia manter o equilíbrio, e a cadeira de rodinhas girava em seu eixo, jogando-o de um lado para o outro enquanto, com as perninhas pequenas, aquele senhorzinho tentava alcançar o chão para se estabilizar. — Não repare a bagunça, ainda não tive tempo de ajeitar tudo, sabe.

Fazia muito tempo desde a última vez que Rose estivera naquela sala, e quando seu olhar passeou, analisando seus arredores, parecia estar em um lugar completamente desconhecido. Nas paredes desbotadas, rasgos e manchas abriam caminho através do papel de parede velho. Pilhas de papéis, alguns parecendo tão velhos que poderiam desfazer-se na ponta de seus dedos caso fossem tocados, ocupavam praticamente todo o espaço disponível para locomoção da sala, e alguns aviõezinhos transitavam acima de suas cabeças sem rumo, trombando no lustre extravagante que pendia do teto, nas paredes e até mesmo em algumas daquelas pilhas de papel. O cheiro de mofo e de antigo pareciam impregnar na pele dela.

A mesa de madeira maciça que ficava do outro lado da sala e a plaqueta dourada, ornamentada com o símbolo do jornal e os dizeres “Barnabas Cuffe, editor-chefe”, eram as únicas coisas que pareciam ter sido conservadas. Ali, numa cadeira giratória muito alta e muito estreita, estava o homem que Rose nunca mais conseguiria ver da mesma forma, em suas usuais vestes violetas.

Cuffe, que ajudou o Ministério de Thicknesse na produção em massa daquela cartilha, Sangues-ruins e os Perigos que Oferecem a uma Sociedade Pacífica de Sangues-puros!”, a voz de Draco Malfoy ecoava em sua cabeça. A primeira imagem que tivera de Cuffe, de um senhor engraçado e receptivo, agora trazia um gosto amargo à sua boca. Percebia que aquela era a visão que ele queria que ela tivesse e, de quebra, sentia-se terrivelmente estúpida por precisar de algo tão explícito para enxergar o que seus pais — ou melhor, sua família inteira — sempre tentaram mostrar.

Barnabas Cuffe não passava de um senhorzinho de baixa estatura, muito gordo, com uma careca resplandecente. Um senhorzinho narcisista, oportunista, que não se importava com nada além de seu próprio bolso.

Um estalo alto fez Rose saltar para trás, suas costas chocando-se contra uma das pilhas de papéis, que oscilou perigosamente. Rita Skeeter se materializara à direita de Cuffe, seus lábios excessivamente vermelhos já repuxados em um sorriso convencido. Aquela mulher, naquele dia com vestes de um amarelo doentio, nunca enganou Rose, e não conseguiria nem se tentasse. Afinal, Rose crescera sendo protagonista de muitas de suas matérias desonestas e sensacionalistas, sem mencionar a biografia falaciosa sobre seu tio, Harry.

— Ouvi que queria conversar comigo, Sr. Cuffe — comentou, o tom de voz um pouco agudo, mas controlado.

— Sim, de fato! Sente-se, minha jovem, sirva-se de uma xícara de chá. De alguns biscoitinhos também, se quiser.

Rose andou sob o olhar perverso de Skeeter, que brilhava como dois besouros escuros, e o olhar tranquilizador do senhorzinho. No entanto, quando sentou-se, manteve a postura ereta, e não foi mais além que a beirada do assento.

— E ela está aqui por ser uma de minhas superiores, suponho — tinha ciência de que seu tom não era dos mais educados ou respeitosos, principalmente considerando que ainda não tinha sido efetivada, mas Rose nunca fora boa em fingir e manter aparências.

Certamente, muito esperta, Rosita — Rose não conseguiu conter a careta que repuxou seu rosto quando ouviu, novamente, aquele apelido forçado saindo dos lábios do editor-chefe. Ele, no entanto, não pareceu notar, uma vez que tinha os olhos fixos sobre dois papéis específicos, dispostos sobre o tampo da mesa, diante de si. Skeeter, por sua vez, mexeu as sobrancelhas tingidas, convencida até demais. — Veja bem, nossa querida Rita aqui me entregou algumas coisas que gostaria de repassar com você. No formulário de aplicação para a efetivação, você disse que, vejamos — apertando os olhos enquanto levantava um monóculo para tentar enxergar alguma coisa, Cuffe leu —, quer produzir um artigo sobre “as consequências da Segunda Guerra Bruxa”. Poderia nos explicar melhor a que “consequências” a senhorita se refere, por favor?

— Desculpe, senhor, mas não acho que compreendi — piscando vagarosamente, a única reação que ela teve foi blefar. Estava em território perigoso ali, e o nervosismo que começava a tomar conta, fizeram-na agarrar a barra da saia na tentativa disfarçar a tremedeira. Agora entendia toda a presunção que transbordava de Skeeter, mas fez questão de sequer direcionar-lhe o olhar.

— Veja bem — soltando o monóculo e o papel, Cuffe uniu as mãos diante de seu rosto, parecendo trabalhar minuciosamente na escolha de palavras —, muitas foram as consequências, afinal, é de uma guerra que estamos falando. Mas não vejo de que perspectiva esse artigo poderia interessar, ou melhor, render um lugar na primeira página. Entende? Tudo o que aconteceu já sabemos, está registrado nos livros, nas nossas edições anteriores... Por exemplo, vocês aprendem isso em Hogwarts, em História Bruxa, não?

— História da Magia — corrigiu a Weasley automaticamente — Sim, senhor, aprendemos isso em Hogwarts.

— Bem, e que informação relevante, que não se aprende na escola, esse artigo traria?

— Certo, Sr. Cuffe, vamos direto ao ponto — inclinando-se para a frente, Rose apoiou os cotovelos sobre a mesa, fixando o olhar no do senhorzinho —  Vinda de uma família que fez parte ativa da referida guerra, as percepções que tenho sobre o assunto foram fundadas em algo, digamos, com mais profundidade do que aquilo que consta nos livros. Notei, também, que a história repassada para a minha geração não contava com a versão de uma parcela muito importante da população bruxa, parcela essa que também fez parte ativa da guerra. Quis dar voz à essa parcela da população, iluminar o que ficou tempo demais no escuro.

— Ah, eu vejo — os olhinhos enrugados dele brilharam com os de Skeeter, que agora tinha o maior dos sorrisos que Rose já vira — Você tem razão, Rita, não houve mal entendido algum! Bem, Rosita, gostaria de te apresentar as coisas de outro ângulo então, para que você veja uma problemática que talvez não tenha enxergado com as suas intenções. Intenções muito nobres e corajosas, devo ressaltar. Como é revigorante o espírito grifinório!

— Acredito saber a que problemática o senhor se refere, Sr. Cuffe — o cheiro da sala começava a deixar Rose um pouco tonta; devagar, ela se afastou da mesa, voltando a portar a postura endurecida do começo — E acredito que não seja de forma alguma uma problemática relevante. Afinal, se o jornal tomava parte na exclusão e segregação social de ex-comensais e sangues-puros na época, não vejo outro motivo para não expor isso ao nosso público que não seja o fato das coisas permanecerem as mesmas.

Cuffe engoliu em seco, seu rosto sendo tomado por uma tom terrivelmente escarlate enquanto seus olhos eram tomados por um desespero claustrofóbico ao perceber quão encurralado estava. Ao seu lado, Rita Skeeter bateu os calcanhares no chão, soltando um guincho agudo e incrédulo.

— Ora, sua insolente… Como ousa fazer uma acusação dessas? Pois saiba que sou contra não apenas à sua efetivação, mas também à sua permanência aqui! Este é um jornal sério, de família…

Skeeter — Cuffe interrompeu a loira, a voz um pouco instável enquanto puxava a fronte de suas vestes, como se estivesse, subitamente, com muito calor; uma risada sem graça, nada convincente, escapou de seus lábios — Assim você levanta suspeitas, não acha?! Rosita, querida, veja…

Um bater suave na porta interrompeu as proporções que a situação toda começava a tomar. Rose, entorpecida demais pelo nervosismo, não conseguia sentir nada além das batidas irrefreadas de seu próprio coração, mas Cuffe pareceu ficar aliviado em ter uma desculpa para cortar aquilo.

— Entre, por favor! — exclamou, girando mais uma vez no próprio eixo; a porta se abriu, e ninguém mais que a tia de Rosa, Ginevra, adentrou a saleta. Trazia consigo um punhado de pergaminhos abertos, e parecia atônita enquanto passeava o olhar pelas linhas escritas. — Ah, Gina! Muito bom te ver por aqui, nem de longe o maior número de ruivos que vi reunidos, mas bem perto disso, se é que me entende! Suponho que esteja aqui para tratar da cobertura da próxima Copa de Quadribol, não é? Rosita, se nos dá licença, continuamos esse assunto mais tar…

— Não, não é por isso que estou aqui, Cuffe. O proprietário do Profeta passou por aqui, e me mandou entregar esses pergaminhos aqui. Que história é essa de querer demitir minha sobrinha por “justa causa”?

Rose pareceu despertar de seus devaneios só então. Sobressaltada, andou a passos largos até a tia, que lhe repassou os pergaminhos sem cerimônias e seguiu resoluta até a mesa do editor-chefe, cobrando satisfações. Cuffe caiu para trás, e enquanto suas perninhas se agitavam ao ar junto com as rodinhas da cadeira, Gina exigia que ele não tentasse fugir do assunto. Rita guinchava, tentando socorrer seu superior. Enquanto lia, porém, Rose só conseguia atentar-se ao ar que parecia entrar em maior quantidade em seus pulmões do que queria sair.

Não leu o documento completo; passou reto dos cumprimentos do proprietário e pulou as partes que não lhes dizia respeito, como as que davam dicas para o combate da crise de furúnculos que Chuffe tinha desenvolvido depois que alguma criatura mágica, nas praias da Austrália, andou pela sua pele. A passagem que capturou sua atenção dizia:

“No que diz respeito às suas preocupações sobre a srta. Rose Weasley, espero de coração que não passem de uma brincadeira, Cuffe. Demissão por justa causa? A ideia da jovem me parece bastante válida, até mesmo original. Veja bem, a efeméride de 30 anos da Segunda Guerra Bruxa está aí, bem na esquina, e seria interessante apresentar os fatos de uma perspectiva desconhecida por nós, que fomos beneficiados em momentos tão difíceis. Temos que reconhecer e pontuar nossos erros do passado, no final das contas. De forma alguma que isso poderia nos prejudicar! Arrisco dizer até que nos renderiam uns galeões a mais, se é essa a sua principal preocupação. Bom, suas palavras não me apresentaram outra interpretação que não fosse essa, peço desculpas se me equivoquei.

Rose Weasley, huh? Farei questão de guardar esse nome em um lugar de maior prestígio na minha cabeça. Gostaria inclusive de pontuar que ela seria a nova aposta para a temporada de primavera… Filha de quem é, não duvido nada da capacidade que essa jovenzinha tem para realizar grandes feitos! É um nome muito poderoso, fico, inclusive, muito honrado que ela tenha escolhido o nosso jornal!”

— ...ou até levar esse caso para a Corte Suprema, você bem sabe. — Gina ainda cobrava respostas de Cuffe, que tinha as vestes um pouco desalinhadas agora que já tinha se levantado do chão. — Isso é corrupção, abuso de poder! Graças a Merlim que o bom e velho Belby ainda tem alguns parafusos no lugar, coisa que você nunca teve, não é, Cuffe? E não tente nem começar, Skeeter, porque também tenho muito a falar sobre você.

Enquanto lia e relia aquele trecho da carta, a Weasley experimentava um misto de sensações parecido com o que tivera no dia anterior. Ah, velho Belby, se ao menos ele soubesse que a honra era toda dela! Imagine só, ser notada e guardada por ninguém mais, ninguém menos que o proprietário do Profeta Diário! Nunca, em todos os anos que sonhou com aquela profissão, pensara que seria apontada como a aposta da estação com tão pouca idade.

O peso sobre seus ombros, no entanto, parecia ter triplicado de tamanho. Não só seus pais — ex-ministra e auror —, mas também os Malfoy e Belby em pessoa declararam as grandes expectativas que tinham dela. Isso, aliado ao cheiro que já não facilitava muito as coisas, fazia a cabeça de Rose rodar, e rodar, e rodar...

Não que houvesse qualquer relação com o que acabara de acontecer, mas também lembrou que ela e Scorpius Malfoy tinham dado uns bons amassos ainda aquela madrugada. Era sequer certo que as coisas pudessem dar tão certo, de uma vez só? Com bochechas coradas, decidiu não pensar naquilo, pelo menos não em um cenário tão sufocante.

Cuffe e Skeeter foram deixados com a carta de Belby, e a última coisa que Rose viu quando deixou a sala com a tia lhe tirou um sorriso: Rita Skeeter, que abanava o diretor-chefe com as longas unhas, levava um golpe inesperado de um aviãozinho sem rumo.

— Esses dois, sinceramente... — Gina bufava, andando pelos corredores do Profeta Diário lentamente. — Ainda bem que Belby tirou um pouco da autoridade de Cuffe quando a pobrezinha da Hyslop foi mandada embora sem maiores explicações. Seguimos dando passos bem pequenos, mas aos poucos conseguiremos dar um jeito nessa espelunca.

— Ainda bem que você chegou, tia, eles estavam tentando me chantagear lá dentro. Dumbleodore me livre de escrever fofocas pelo resto da minha carreira!

— Ah, mas não precisa ter preocupação alguma, Rosie, a baderna desses dois termina por aqui, te garanto!

Rose ia perguntar, mas antes que qualquer palavra saísse de sua boca, Gina olhou para a sobrinha por sobre o ombro e, com um sorriso travesso, bastante parecido com o de tio George, direcionou-lhe uma piscadela cúmplice, como se aquela motivação fosse ser o segredinho delas.

A mais nova ruborizou um pouco, sorrindo de volta enquanto acenava em concordância. Apesar da idade bastante próxima à de Hermione, Gina ainda parecia muito jovem, e muito bonita. Não era à toa que os amigos de James Sirius pareciam sempre ter uma piadinha recheada de trocadilhos sexuais para fazer sobre a Sra. Potter. Mas era engraçado, porque nenhum deles ousava reproduzir essas piadinhas diante dela, e James usava daquele artifício para rir da cara constrangida que seus amigos faziam.

Rose, então, lembrou de Albus, e de como o primo já estaria bem acordado, exigindo maiores explicações, nas mensagens do seu celular, daquela foto de Scorpius que ela mandara. E sua mãe, então! De fato, ela pensou, suspirando pesarosamente, não tem como tudo dar tão certo.




Era estranho, para Scorpius, voltar a transitar tão livremente pelos corredores de Hogwarts, no auge de seus 22 anos. Fora muito bem recebido pelo professor Longbottom, que ajeitava a papelada para assumir a diretoria da escola no próximo ano letivo, e pôde dar algumas boas risadas com a professora McGonagall, que parecia estar muito menos rígida agora que estava prestes a se aposentar.

Era claro que aquilo não fazia parte dos planos que tinha para o final de semana. No entanto, ao receber uma carta de Albus — bastante séria, onde o moreno ressaltava a cada três linhas ser questão de vida ou morte —, se viu obrigado a deixar o trabalho que tinha para fazer de lado e visitar sua antiga escola. 

Agora, zanzando pelos corredores do segundo andar, tentava lembrar onde é que ficava a sala dos professores, mas até o momento, não tivera sorte. Sabia que ficava em algum lugar perto da ponte suspensa, mas ele sequer sabia onde a ponte suspensa se encontrava. Decidiu cessar seu jogo de adivinha depois de bons trinta minutos, parando para pedir algumas direções a um grupo de meninas de diferentes anos, pelo que aparentavam.

Conseguira as informações que procurava, mas a custo de sua tranquilidade; sentia-se profundamente consternado com as risadinhas que as garotas ficaram dando de sua cara, trocando olhares que ele não fora capaz de compreender. Na minha época os adolescentes pelo menos fingiam ter um pouco de educação, refletiu, irritado.

— Aí está você! — Scorpius parou no meio da ponte suspensa quando ouviu a voz de Albus, e ao olhar naquela direção, viu o amigo andando rapidamente até ele, com as vestes de cores discretas, como sempre, esvoaçando ao seu redor. — Merlim, já esqueceu como andar por aqui?

— Faz cinco anos, dá um tempo — retrucou o rapaz, abrindo um enorme sorriso enquanto eles se cumprimentavam com um abraço.

— Não estou surpreso, nem naquela época você era capaz de se orientar — Albus brincava, parecendo radiante.

— Tive que parar para pedir umas direções, além de ter conversado com o professor Longbottom e com a professora McGonagall.

— Deixa eu adivinhar, está irritado assim porque pediu direções para um bando de meninas que não pararam de dar risadinhas? — Scorpius entreabriu os lábios, descrente de que o amigo tinha acertado com tanta precisão, mas Albus o interrompeu antes de obter uma resposta. — Continua perdido em outros assuntos também, suponho.

Scorpius não entendeu, mas não era mais naquilo que pensava.

— Então, qual é a situação de vida ou morte que você mencionou? Deixei meu trabalho pra vir te ver, é melhor que seja importante.

— Me siga.

E com isso, Albus deu as costas de forma dramática, adentrando o castelo. Se encontravam, agora, no corredor das tapeçarias, e Scorpius sentia o rosto preencher-se de calor, passando pelos pontos em que a parede atrás das peças penduradas era oca. Pontos em que, graças ao mapa do maroto e à boa vontade de seu melhor amigo, ele pôde trocar vários beijos com uma garota ou outra.

Logo estavam na comprida sala dos professores, que se encontrava completamente vazia. Fazendo o amigo sentar-se em um dos sofás gastos que havia mais ao fundo, Albus procurou algo no meio de suas vestes, e quando encontrou o objeto, grudou-o contra o nariz do loiro.

Piscando os olhos com força enquanto afastava o rosto daquela claridade esquisita, Scorpius precisou de um certo tempo para conseguir enxergar de novo. O moreno apontava um daqueles aparelhos trouxas que chamava de celular na sua direção, e ali, naquela pequena telinha, Scorpius via… a cozinha de sua casa? E as suas próprias costas!

— Ei! Como é que você faz isso?! Eu nem estou na minha casa!

— É uma foto — Albus respondeu, um pouco impaciente, sentando-se ao lado do rapaz — Rose tirou essa foto ontem à noite, bastante tarde, se quer saber minha opinião. Ela me mandou, e agora não me responde!

Scorpius sentiu o rosto esquentar mais uma vez enquanto engolia em seco. No entanto, usaria todas as oportunidades que tinha para se esquivar.

— Pensei que esses troços fossem proibidos no território da escola.

— Só os que não tem a permissão do diretor para operar. Você tem energia mesmo pra ficar enrolando, Scorp? Pois até a tarde de segunda feira, tenho todo o tempo do mundo.

— Enrolar no que, cara? Esse sou eu, cozinhando, na cozinha da minha casa.

— Não sou burro, seu… — soltando um grunhido impaciente, Albus continuou — Depois que você se torna professor de primeiranistas, perde a habilidade de xingar, você deu sorte. Eu sei que esse é você, cozinhando na sua casa. E eu sei que Rose provavelmente foi parar na sua casa porque não conseguiu entrevistar mais ninguém, a garota se enchia de ódio só de ouvir seu nome ser mencionado. Quero saber o que exatamente aconteceu pra que ela terminasse tirando uma foto sua, mané.

Cauteloso, mais vermelho do que imaginava que a sala comunal da Grifinória seria, Scorpius começou a contar, sabendo que não conseguiria manter segredo algum do melhor amigo, ainda mais quando ele podia simplesmente ir até a casa de Rose e ouvir todos os detalhes mais sórdidos.

— Quando cheguei do trabalho com o meu pai, ela já estava em casa, conversando com a minha mãe. Ela explicou o que pretendia escrever, fez a entrevista com todos nós. Mas bem, ‘tava chovendo pra caramba ontem, e o carro dela atolou no meu jardim, então eu a levei pra dentro e…

Vocês transaram, não é?

Albus! Pelas barbas de Merlim, não! Fomos pra cozinha, e ela não tinha comido, então eu preparei uma refeição pra ela enquanto meus pais arrumavam o quarto de visitas. Esperei ela comer, fomos pro andar de cima, mostrei o quarto e o banheiro pra ela, e quando saí do meu banho, ouvi uma batida na porta, e era ela, então…

Vocês transaram! — o moreno tinha a voz incrédula, mas seu rosto era pura animação enquanto encarava o amigo, como se não conseguisse acreditar que ele fosse tão safado.

— Dá pra focar no que eu digo, por favor?! Bem, então a gente conversou um pouco, e acabou me escapando que eu sempre gostei dela — uma interjeição escapou do Potter, mas o loiro continuou antes que fosse atingido por outra insinuação —, daí eu vi que tinha sido uma má ideia, mas já que eu tinha mostrado a ponta do iceberg — “hihih, ponta do iceberg”, riu-se Albus, malicioso —, continuei falando todo o esquema que você já conhece. Chegamos no assunto do baile, daí também me escapou que ainda amava ela, e tive certeza disso porque quando vi ela na sala da minha casa, não conseguia nem me mexer. Daí ela ficou em silêncio, eu fiquei com vergonha e levantei da cama…

Espera, esse tempo todo vocês estavam na cama?!

—… mas ela levantou logo depois de mim, e disse que correspondia aos meus  sentimentos, então não aguentei e beijei ela, tirei todo o atraso desses anos.

— Então vocês de fato transaram!

— Não, Albus, pelo amor, não transamos! Era a primeira vez que nos víamos depois do baile, e isso faz anos! Fiquei surpreso até por rolar alguns beijos, não estava esperando.

— Opa, ouvi um plural aí!

Frustrado, Scorpius esfregou o rosto e, com o olhar cansado, fixou a atenção no rapaz à sua frente. Não conseguia acreditar que aquele seria o professor de Feitiços de Hogwarts.

— O assunto de vida ou morte era esse, então? Me humilhar?!

— Ah, não seja dramático, cara, eu não te humilhei. Na realidade, você não sabe o alívio que me proporcionou; estive tão preocupado desde que vi essa bendita foto, sequer consegui dormir! E esperei tanto quanto vocês por esse momento, sabe.

Uma leve batida na porta interrompeu qualquer afeto que os dois poderiam ter demonstrado depois daqueles poucos segundos. Com a permissão de Albus, a porta foi aberta, revelando o rosto de uma garota muito bonita, parecendo estar na casa dos dezessete anos. Tinha cabelos cor de areia, olhos preguiçosos e um rosto redondo que lembrava muito o do professor Longbottom.

— Vim trazer o tônico enérgico que o senhor solicitou ao meu pai, professor.

— Ah, absolutamente perfeito, Alice, muito obrigado — a forma como o Potter se desconcertou não passou despercebida por Scorpius, que agora olhava para o amigo tentando segurar a risada. 

Pegando o frasco enquanto trocava sorrisos um pouco tortos com a garota, quem estava escarlate, naquele momento, era Albus.

— Eu sei o que você quer falar, e eu te proíbo — disse mal humorado ao fechar a porta, sem olhar diretamente para o Malfoy.

— Ela é bem bonita, mas pensei que a política de integridade da escola não permitisse romances com alunas, sabe…

Alice não é aluna! Se formou ano retrasado, e vem aos finais de semana para ajudar o professor Longbottom na manutenção das estufas.

— Ah, não deixa de ser mais nova, poxa. Parece que não fui só eu quem não mudou nesses anos todos… Se meus cálculos estão certos ela deve ter o que agora, dezenove? Só três anos de diferença... Bom, considerando que seu recorde é de quatro anos de diferença, estamos bem.

— A falta de convivência me fez esquecer como eu te odeio — praguejou baixinho, virando o frasco de uma vez.


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Notas finais do capítulo

E então meus xuxus, gostaram??

Foi um capítulo bem gostosinho de escrever, espero que tenha sido divertido de ler também!! Não esqueçam de deixar seus comentários, é um prazer falar com vocês!!

Também gostaria de deixar avisado com antecedência que posso voltar a demorar para postar, justamente por causa da faculdade... Ainda assim, não percam as fanfics do Junho Scorose, que estão sendo postadas todos os dias!!!

Beijões de luz, amo vocês, obrigada por TUDO ♥ ♥ ♥ ♥



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