Dinastia 1: O Sonho Real escrita por Isabelle Soares


Capítulo 21
Um vazio inexplicável


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que eu prometi vir só na segunda, mas em agradecimento a uma linda e inesperada recomendação que recebi, resolvi trazer esse capítulo mais cedo. Jo G Cullen você é demais! Esse capítulo é para você! Muito obrigada!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789242/chapter/21

O coro de crianças cantava a canção Ave Maria de uma maneira tão doce e bela. Olhei para Edward e não consegui segurar as lágrimas que teimosamente queriam escapar dos meus olhos. Ele beijou a minha mão e enxugou algumas delas, ciente em que estávamos em nossa bolha particular e não numa Igreja lotada com transmissão ao vivo da cerimônia. Peguei em seu braço e senti algo, era a pulseira que eu havia lhe dado no seu aniversário do ano passado. Sorri ainda mais emocionada por ele estar a usando.

— Achou que eu a jogaria num canto qualquer? – perguntou ele baixinho.

— Eu te amo. Obrigada por existir!

— Amor Vincit Omnia.

O amor tudo supera era a frase gravada na pulseira e realmente tinha se provado verdadeira. Me lembrei de quando eu o encontrei desacordado em seu quarto achando que ele havia morrido. Foi a pior cena que eu já presenciei em minha vida.

O meu subconsciente gritava para que eu fosse averiguá-lo por que eu não conseguia imaginar o fato de perdê-lo. Pelo um milésimo de segundo voltei a mim mesma e me ajoelhei ao seu lado. Toquei o seus pulsos e não consegui senti-los. Será que era o meu nervosismo? Eu não conseguia acreditar que o pior tinha acontecido. Coloquei o meu ouvido no seu peito e ouvi o coração dele batendo fraquinho. Respirei aliviada. Ele não estava morto!

Nesse ponto os seguranças que estavam na entrada já tinham adentrado o quarto a mando de Alice. Pedi-os que chamassem a ambulância urgentemente, por que Edward estava vivo, mas muito fraco. Alice chorava descontroladamente. Era a segunda vez que ela via o irmão naquele estado e devia ser muito difícil. Fui até ela e a abracei fortemente. Ela segurava em mim como se eu fosse o seu único ponto de apoio.

— Alice, você precisa avisar os seus pais. Eles também devem estar preocupados com Edward. – falei baixinho próximo ao ouvido dela.

— Você tem razão.

Ela se afastou pelo corredor e eu me abaixei para próximo de Edward. Ele já estava começando a ficar gelado e isso estava me preocupando. Peguei o pote do remédio que estava no chão e o verifiquei. Tinha um nome esquisito e definitivamente, eu não sabia para que servia. Lembrei o quanto Edward tinha se esforçado para que eu não visse esse remédio. Será que ele já tinha planos de se suicidar novamente? Mas por que? Estávamos tão felizes! Milhões de teorias passavam pela minha cabeça, porém nenhuma resposta convincente.

Me mantive abraçada a ele até o momento que a ambulância chegou. Pedi a eles para me deixarem o acompanhar e graças a Deus, eles não se opuseram, sabiam que eu era a namorada dele. Quando chegamos ao hospital, já tinha um médico a sua espera e ele logo foi logo conduzido ao atendimento especializado. Saí da ambulância e percebi que haviam alguns fotógrafos ali registrando o momento. Fiquei enfurecida por eles não terem um pingo de sentimento e não respeitarem a nossa privacidade.

Fiquei esperando ansiosa na sala de espera. Não entrava na minha cabeça o fato de Edward ter tentado se matar e que isso já estivesse nos planos dele antes. Certo, que ele já havia tido depressão e eu sabia que era uma doença que nunca era completamente curada. Me senti terrível por ter contribuído de alguma forma para que ela voltasse. Respirei fundo, mas o meu nervosismo não deixava.

Resolvi andar pelos corredores adentro e fui até a ala infantil. Fiquei imaginando Edward criança e como possivelmente ele tenha adquirido essa personalidade tão frágil. Como os pais dele não foram capazes de ajudá-lo a superar os seus medos de uma forma efetiva? Me enraiveci com a monarquia e suas fortes e rígidas regras que não permitia um contato mais profundo com a família, que os sentimentos fossem demonstrados. Fiquei enfurecida com a mídia por arruinar a vida daquelas pessoas.

Voltei a pensar como toda aquela situação era estranha. A cena de Edward me impedindo de ler o vidro do pote do remédio vinha e voltava na minha cabeça. Eu tentava juntar as peças do quebra cabeça, mas elas não se uniam. Uma teoria começou a surgir na minha mente... Será que alguém tinha induzido ele a tomar o remédio? Será que alguém o tinha envenenado e colocado os remédios ali para dizer que ele havia tentado suicídio? Era uma teoria absurda! Balancei a cabeça para tentar afastar aqueles pensamentos de CSI e voltei para a sala de espera. Ao chegar lá vi que o médico estava na presença do rei, da rainha e de Alice. Me aproximei deles, mas mantendo uma certa distancia, pois no fundo eu estava ofendida com eles. Isso era uma bobagem? Claro que era, mas eu não pensava assim na hora.

— Edward está bem. Na verdade, ele estava dormindo quando chegou aqui. Fizemos uma lavagem gástrica nele e percebemos que ele ingeriu em excesso um medicamento que é um antidepressivo. A alta dosagem dele provocou um diminuição na pressão cardíaca e causou moleza no corpo, mas não era o suficiente para causar o óbito como pensamos a princípio.

Respirei aliviada. Edward estava bem. Esme abraçou Carlisle e ele beijou a testa dela. Alice sentou-se na poltrona também mais tranquila.

— Doutor, o que podemos fazer? – perguntou Carlisle.

— Eu não sei quais foram às intenções dele ao tomar esse remédio que só pode ser ingerido com recomendação médica, mas aconselho vocês a prestarem mais atenção nele e conversarem com ele. Por que se de fato estiver com depressão, ele pode tentar o suicídio pra valer.

Esme fechou os olhos com força como se tivesse sentindo uma dor profunda. Carlisle a apertou com mais força contra o seu corpo.

— Quando ele vai ganhar alta, doutor? – perguntou ele.

— Amanhã. Vamos mantê-lo em observação hoje.

— Muito obrigada Doutor. – agradeceu Esme apertando a mão do médico com força. – Nós podemos vê-lo?

— Ele está dormindo no momento, mas acho que não fará mal algum vocês vê-lo.

Os três passaram por mim apressados sem me dirigirem a palavra. Não me importei, eu entendia o sofrimento deles. Resolvi ir em casa tomar um banho e pegar umas roupas para passar a noite ali. Não importava o que eles dissessem, eu não sairia do lado dele nem um minuto se quer.

Atravessei a porta de entrada do hospital e uma enxurrada de fotógrafos me abordaram e eu nada disse. Não queria ser palco para o teatro que eles amavam fazer. Eles me acompanharam até o meu carro e segui o caminho até o campus com cuidado para não acontecer um acidente, pois os flashs das câmeras quase me cegavam.

No percurso fiquei pensando como era sério o caso de Edward. Eu havia ouvido falar sobre depressão, mas nunca eu tinha presenciado na minha frente alguém com essa doença antes. Eu mesma já tinha me sentindo triste, meio desanimada e sem perspectivas, mas nunca tinha pensado em por um fim na minha vida e saber que alguém que eu amava passava por isso, partia o meu coração.

Geralmente, as pessoas não levavam a sério essa doença que é muito grave. Dizem que é frescura e não são capazes de entender a dor e o sofrimento do depressivo. Muitos até poderiam dizer que Edward tinha tudo e não tinha motivos para ter depressão. Mas eu o entendia, sabia que a insegurança e os medos interiores dele o impediam de se enxergar direito. Na cabeça dele tudo era obscuro demais e nunca alguém conseguiu o compreender de verdade, nem a família dele por sinal que negligenciou esse problema esse tempo todo. E não só esse, mas o de Emmett também. Aquela família estava quebrada!

Resolvi dar a volta e procurar uma pessoa que poderia me ajudar a compreende-lo. Alguém que já tinha o ajudado antes, Joseph Mathews, o escritor que Edward havia me apresentado no início. Sai em direção a casa dele com um pouco mais de velocidade. Eu estava ansiosa para ter uma conversa com ele e rezei para que eu o encontrasse em casa.

Ao chegar lá logo fui recebida por ele. Ao ver a minha expressão de preocupação não fez rodeios e me convidou a entrar. Lembrei de quando tinha vindo aqui ao lado de Edward quando ainda estávamos nos conhecendo. Tinha sido tão fantástico! Eu era tão boba e ingênua na época, parecia que eu tinha crescido tanto daquele tempo para cá e nem parecia que faziam apenas cinco meses da minha última visita. Joseph me pediu para sentar e eu o fiz sem cerimônias. Minhas pernas balançavam devido à ansiedade.

— Você deseja alguma coisa para beber?

— Não, muito obrigada.

Ele sentou numa poltrona ao lado da minha e esperou que eu falasse o motivo da minha visita inesperada. Eu abri a boca várias vezes, mas eu nem sabia por onde começar.

— Então não foi apendicite, não é? – perguntou ele.

— Como? – perguntei a ele sem entender.

Joseph pegou o tablet que estava ao lado dele e fez uma busca na internet e em seguida me mostrou uma matéria de um jornal local que dizia que Edward havia sido internado nessa tarde com urgência com um caso sério de apendicite inflamada. Não pude deixar de rir daquilo. É claro que eles jamais poderiam expor a fragilidade de Edward. Jamais poderiam revelar o verdadeiro motivo da internação dele.

— Não.

Ele pegou o tablet das minhas mãos e devolveu ao lugar onde estava. Me olhou sério e cruzou os braços aguardando que eu falasse, mas eu sabia que no fundo ele já sabia.

— Eu encontrei Edward desacordado no chão do quarto dele nessa tarde. Por isso foi internado... Pensamos que ele havia tentado suicídio.

Abaixei a cabeça ainda aterrorizada com a cena que eu tinha visto. Joseph foi até o bar e encheu o copo de uísque e devagar voltou à poltrona onde estava sentado. Entendi que a conversa seria longa.

— Você soube que Edward tentou suicídio antes?

— Sim... Quando era adolescente.

— Ele tinha dezessete anos. A irmã dele o encontrou em seu quarto com os pulsos cortados. Imagine como isso deve ter abalado a todos.

— Eu imagino. Mas como? Por que?

— Não há explicações para a depressão. Só quem sente é quem sabe os motivos.

— Edward me contou que sofreu bastante depois que o irmão dele abdicou do trono.

— Sim, foi muito complicado na época, especialmente para os pais deles. Emmett tinha muitos problemas e isso eclipsava a atenção do rei e da rainha que tentavam resolver o problema sem saber como, mas esqueciam de Edward que parecia um menino tranquilo, porém com um problema que talvez fosse ainda maior.

— E o que eles fizeram quando perceberam que Edward não estava bem?

Joseph bebeu mais um gole de uísque e olhou para mim com seriedade.

— Nada muito concreto. Mas eu não os culpo, ninguém ainda conseguiu realmente lidar com os problemas da mente. Edward era muito jovem e eles pensavam que fosse uma fase e que se colocassem ele para fazer alguma coisa a sua cabeça ficaria ocupada e não pensaria em bobagens. Tentaram matriculá-lo na Universidade de Belgonia, mas ele ainda não tinha idade, nem concluído o Ensino Médio ainda e foi nesse período que eu o conheci.

Tentei imaginar Edward ainda um jovem rapaz, todo quebrado e cabisbaixo, sem entender todo aquele furacão que o rodeava. Ele não estava pronto para receber tantas atenções e obrigações de adulto tudo de uma vez. Não havia sido preparado para isso.

— Eu conhecia a família já há um tempo e estava prestes a lançar um novo livro e vinha presentea-lo a Carlisle quando eu vi aquele jovem rapaz tão triste e perdido que esqueci o que tinha vindo fazer ali e resolvi ajudá-lo. Passamos meses conversando. Eu tentando de algum modo compreende-lo e assim poder passar alguma confiança a ele. Por que esse sempre foi um dos seus grandes problemas, a falta de segurança em si mesmo.

— E funcionou?

— Ele melhorou na época. Até conseguiu ir até aquela Abadia e receber a coroa de príncipe herdeiro que era algo que ele se recusava terminantemente por que não se sentia apto a ela. Mas eu sabia que ele não estava curado. Lhe faltava alguma coisa que eu nunca fui capaz de entender, era um vazio inexplicável... Porém, esse tempo com ele foi interessante até me inspirou no enredo de um livro meu.

Ele levantou-se e foi até a estante e pegou um de seus livros e me entregou. Eu o reconhecia. Eu tinha lido O Desalento do Menino quando comecei a entrar em contato com a literatura de Belgonia e me lembro de gostar muito, apesar de achá-lo um pouco complexo. Agora eu entendia o porquê.

— Joseph... Como eu posso ajudá-lo?

— Quando Edward lhe trouxe aqui, eu vi uma luz diferente nele. Era algo interessante, ele parecia muito mais forte do que jamais eu tinha visto antes. Acho que a resposta pode ser você. Eu sabia que ele estava apaixonado desde o momento que eu o vi interagindo com você. Acredite, eu nunca tinha visto assim com as outras namoradas dele. Ele podia gostar delas, mas não confiava nelas o suficiente.

Mais uma vez me senti culpada por tê-lo deixado, por ter acreditado naquela história absurda que no fundo eu sabia que era um mal entendido absurdo.

— Edward precisa de amor, precisa encontrar a segurança que está escondida dentro dele. Acho que você pode ajudá-lo a ganhar mais confiança e ficar mais forte definitivamente.

— Como eu posso fazer isso?

— Converse com ele. O incentive a se abrir, a não guardar os problemas só para ele. Mostre o as qualidades que ele tem e não vê e o ame.

— Farei isso. Edward será agora a minha responsabilidade.

— Também o incentive a procurar um psicólogo. Edward nunca teve uma ajuda especializada e isso pode ser bom para ele.

— Acho que isso pode ajudar. Mas tem o problema da imprensa. Acho que não seria bom se eles descobrissem que Edward está procurando um psicólogo.

— Eu entendo, mas acho que sei como posso ajudar. Eu vou conversar com um amigo meu que é psicólogo e posso ceder a minha casa para os encontros.

— Ele é de confiança?

— Absolutamente. Falarei para ele que o paciente precisa de máxima discrição.

— Então estamos acertados. Conversarei com Edward e tentarei convencê-lo a se tratar.

— Ótimo! Você não sabe a ajuda que dará a ele.

Apertei a mão de Joseph e respirei fundo. Nada mais me tiraria do caminho de Edward. Eu estava confiante que o ajudaria a se levantar e curar as suas feridas antigas reabertas. Essa será a minha função daqui para frente em nome do amor que eu sinto por ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaria de agradecer também a lelinhacullen, TamyLever, Aika e Diana Gouveia pelos comentários e teorias incríveis. Inclusive algumas delas chegaram bem próximo e me deixaram impressionada! Sério! Valeu Mesmo! Continuem comentando e colocando o que pensam.