Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 71
Significado perdido


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥
*foto citada no capítulo.



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Arthur Narrando

Não consegui fechar os olhos durante a noite e assim que amanheceu estava na casa do Kevin. Cheguei e ele estava fazendo café.

— São seis horas da manhã. – me olhou enquanto envolvia a caneca com toda sua mão direita. – Entra. – entrei e coloquei as mãos no bolso do meu moletom.

— Como ela está?

— Já disse algumas vezes pelo celular que bem. – se sentou na poltrona da sala. Fui atrás dele. – Ela voltou a dormir, mas já deve ter acordado. Daqui a pouco ela desce. Com certeza iria se trocar primeiro e se arrumar, ela deitou com o cabelo molhado ontem. – sentei na outra poltrona que ficava de frente pra ele. – Eu não disse. Aí está ela. – se levantou me fazendo olhar pra escada. – Vou deixar vocês conversarem. – ela passou por ele o beijando e depois tomou seu lugar.

— Desculpe eu devo ter lhe deixado preocupado.

— Eu e a todos. – dei um sorriso. – Mas tá tudo bem, eu devo ter merecido. – ela olhou pra baixo sem conseguir olhar em meus olhos. – Então... O Kevin me disse que conversou com você.

— Não brigou com ele né? – dei um pequeno sorriso.

— Não. Sei que ele só queria ajudar. Todos querem que você melhore, só temos que nos unir eu acho.

— Arthur... Por que você mandou o Kevin vim atrás de mim e você não veio?

— Eu mandei porque ele ultimamente tem conseguido uma conexão com você que eu não consigo. – nos olhamos. – A gente só briga Alice. Mesmo quando eu não estou contribuindo pra isso. E... – não consegui falar.

— E? – a olhei e depois desviei o olhar.

— Você iria escuta-lo. Confia nele. Não confia mais em mim.

— Eu não queria que isso acontecesse. – ela parecia se sentir ao menos um pouquinho culpada.

— Ah Alice... Depois de tantas coisas que nós passamos, não é incomum que fatos desse tipo aconteçam.

— Quando voltamos você garantiu que seria forte e aguentaria o tranco... Essa é apenas mais uma turbulência. – fiquei olhando em seus olhos.

— Não chame de turbulência eu perceber que não consigo te ajudar em nada. E ver que as consequências disso fazem com que você perca a fé em mim e na gente.

— Não é assim. Você tá sempre me ajudando, sendo tão perfeito, lutando por mim, lutando para que eu volte a ser a garota que eu era antes de perder as minhas emoções. Eu te amo tanto por deixar Orlando ter esse espaço em minha vida e ser o caminho de uma cura. Porque o que eu mais quero é ser essa garota novamente. Você não sabe como é horrível ser alguém vazio e com flashs de sentimentos.

— Só que não há espaço para mim e ele Alice. E você sabe disso.

— Alguma coisa mudou entre você e eu... Não sei se é o fato dele me fazer bem e conseguir tirar a tensão da regressão de mim, mas... Mesmo sabendo que você é o certo e o meu ponto final, é como se tudo que eu sentisse por você antes de regredir perdesse o significado agora. – não aguentei ouvir aquilo e comecei a expulsar toda a dor pelos meus olhos. – Desculpa. Eu tenho que ser sincera, não quero mentir pra você.

— Sabe... Quando eu senti isso que você tá sentindo, eu preferi quase acabar com a minha vida recorrendo a recursos horríveis para esquecer que eu sentia atração por outra mulher. Então eu entendo porque não consegue evitar. E sendo como você é, é mais difícil pra você. Ainda mais que agindo como agi esses dias eu quase te empurrei pra cima dele. – olhei pra baixo e recuperei o ar. – Mas mesmo entendendo, mesmo sabendo que você não é culpada por isso, eu não aceito Alice... Não mais. Ver vocês dois juntos essas últimas semanas me destruiu. Só o que eu posso fazer é te deixar livre.

E foi assim que acabou. Por mais que dissessem que já era a terceira vez que terminávamos e iriamos voltar novamente, eu sentia que agora eu devia seguir em frente de verdade. Não procurando outra garota e nem me enganando. Apenas apostando em esquecer.

— Como assim você não vai? – Lari questionou me abordando na academia, que era o local que eu mais ficava agora. Mesmo que eu tivesse que ver o pai do amor da minha vida. Mas eu teria que vê-lo sempre de qualquer forma. – Eu não preciso te lembrar que é a despedida do seu irmão!

— Kevin vai entender. Alice e eu terminarmos, então eu preciso evitar encontra-la por enquanto.

— Por enquanto? Sabe que ela vai ir pra capital com ele né? Não vai vê-la tão cedo.

— Não, ela não vai. Ela precisa estar em contato com Orlando.

— Nisso você se engana. A médica amou a ideia. Uma nova escola com novas pessoas que não a conheçam e não saibam do histórico médico dela é o melhor cenário.

— Mas ela... – lembrei nossa última conversa.

— Eu não sei o que tá rolando com os dois. Mas você tem que parar de agir dessa forma. É deprimente.

— Não estou deprimido. – dei um sorriso irônico. – Só quero esquecer os últimos anos da minha vida.

— Não dá. E como sua prima e amiga eu estou aqui pra te ajudar, sabe disso.

— Ela disse pra mim que quer o Orlando. – fiquei mais sério ainda. – Entende agora?

— Que? – ergueu as sobrancelhas bastante desacreditada. – Ela não faria isso. – dei uma risada anasalada. – Até porque você é... Você. Ele é só um carinha qualquer.

— Talvez eu não seja tão espetacular assim.

— Vou falar com ela e tentar colocar bom senso naquela cabecinha problemática.

— Não vai adiantar. Ela tá certa, são os impulsos dela. Não temos volta Larissa. Vou ir pra cobertura, boa festa pra vocês.

— Olha... – pegou meu braço. – Fica bem. E não se esqueça, nada que fizer vai te fazer esquecer. – fiquei intrigado.

— Como... Você sabe?

— Kevin conversou comigo. Ele tá muito preocupado.

— Já não basta ter deixado Rafael de guardião. – resmunguei suspirando. – Tchau Lari.

Mesmo não indo a festa fui despedir do meu irmão depois que tudo acabou. Eu o esperei perto da casa dos meus avós.

— Por onde andou? – perguntou saindo da casa após minha mensagem. – Esperei por você.

— Sabia que eu não viria.

— Tá todo arrumado, aonde vai?

— Por ai. – ele bufou.

— Estou vendo que o Arthur incomunicável voltou. – nos olhamos. – Por favor, não me diga que tá usando aquela merda.

— Se eu tivesse estaria falando demais, não? Alice e eu terminamos Kevin, queria que eu estivesse agindo como?

— Entendi.

— Só vim me despedir de você.

— Arthur... Eu nunca fui sensitivo ou algo do tipo, mas estou com um pressentimento muito ruim. Talvez... Não sei... Caleb tá quieto demais.

— Ele deve estar feliz. Você vai tá longe de Rafael, de uma forma ou de outra. – dei de ombros.

— Não. Eu fiz demais contra ele pra ele não revidar.

— Danilo disse que ele iria usar sua mãe contra você, inclusive você já falou com ele?

— Se o Rafael desgrudasse de mim um segundo. – vi o loiro pela janela. Kevin se virou vendo o mesmo que eu. – Tá vendo? Vigiando. Se eu demorar ele vem até aqui.

— Pensei que todos tivessem ido embora e você também estivesse indo.

— Não. Nossos amigos ainda estão aqui.

— Ele tá aí? – me referi a Orlando e ele sabia.

— Sim. – suspirou.

— Os dois ficaram, não ficaram? – ele desviou o olhar.

— Pode ter certeza que eu o fiz se arrepender disso. – sorri imaginando o garoto sendo atropelado pela estupidez e frieza do Kevin. – Ele só está aqui porque ela insistiu muito.

— Vou lá, boa viagem e bons estudos, a gente se vê quando você voltar.

— O que você acha da gente ir beber, nos divertirmos um pouco e quem sabe você até pegue uma bonitona que te faça se sentir menos derrotado. – dei uma risada.

— Aposto que não é assim que Rafael quer passar o seu último dia aqui. Eu estou bem, não precisa se preocupar.

— Não aguento mais a Alice! – Lari chegou de braços cruzados e com a cara fechada. – Tudo ela toma partido do Orlando, até as opiniões mais idiotas. A gente sabe que ela não pensa daquele jeito, mas por causa dele ela vai lá e opina. Já estou até brigando com Alexandre esses dias por causa disso.

— Não arruíne seu namorado por causa da Alice. – sugeri e dei um pequeno sorriso. – Vou lá. – toquei as mãos com meu irmão e o abracei. – Vá com cuidado e me liga assim que der.

Um pouco depois de sair de lá Murilo me ligou. Ele estava preocupado comigo e eu com ele. Desde aquela noite em que Alice foi para a casa do Kevin e deixou todos preocupados, ele tem tido pesadelos e disse que sempre acordava gritando que nunca machucaria a irmã dele. Ele realmente trouxe o fardo do sofrimento de Alice para suas costas. Isso era muito triste.

Se não bastasse isso tudo o meu novo irmãozinho resolveu causar problemas. Ele saiu com Sophia e parece que os dois se divertiram bastante. Já meu outro irmãozinho ficou machucado, e nesse instante ele procurava conforto comigo. Logo comigo que estava sofrendo tanto.

— Cadê o Fael? – questionou após seu longo desabafo.

— No quarto falando com o Kevin. – se levantou. – Eu não me atreveria a ir lá. – riu e se sentou de novo.

— O namoro a distância está funcionando?

— Tem apenas cinco dias que ele se foi, não dá pra termos nem ideia. Mas parece que sim.

— Você e Larissa tem estado bastante junto né? – o encarei sem entender a pergunta. – É que mesmo nunca admitindo, Alexandre anda com ciúme.

— Ela só se sente compadecida com o momento que estou passando. Talvez seja porque o Alexandre já a deixou, não é mesmo?

— É. Pode ser. Mas você não acha mesmo que há algum interesse dela por você por trás disso tudo?

— Não vai ser igual a você e Giovana Yuri. Uma ajuda que termina em algo... Não é o caso.

— Eu não disse isso. – Rafael saiu do quarto e se sentou no sofá. – O que foi? – nos olhou.

— Nada. – respondemos quase juntos.

— Vamos pedir alguma coisa pra comer Arthur, estou com fome.

— Já sinto saudade do Kevin. Ele te alimentava. – me fuzilou. – E por falar nele, como estão as coisas?

— Está chateado com você por evita-lo.

— Ele sabe muito bem que falar com ele é o mesmo que falar com Alice. Não posso.

— Tá tudo bem por lá. Alice viu uma lontra e está toda entusiasmada.

— Hãn? Eles foram pra faculdade ou um zoológico?

— O bairro do Kevin é bem afastado, tem muita mata e até um rio, por isso muitos animais.

— Isso é perigoso! – o olhei. – Tá, eu não tenho nada a ver com isso. O que vamos comer?

Não consegui evitar no risco que era Alice ser picada ou mordida por algum animal. E mesmo que eu quisesse não me preocupar, eu já estava preocupado. Agora as minhas mensagens com o meu irmão tinham outro teor, que era sempre o de alerta-lo a protege-la. Inocentemente pensei que eu conseguiria não fazer isso.

Kevin Narrando

Era o dia que eu iria embora para a capital. Estava com todo mundo em uma festa de despedida, quer dizer, todos menos Arthur. Isso me deixava bem triste, mas eu não iria obriga-lo a estar no mesmo lugar em que Alice estava com Orlando.

— Você precisa saber de uma coisa. – cheguei perto dele enquanto voltava do banheiro. Ele me olhou assustado, por mais que eu fosse irmão do seu rival eu era seu ex chefe e fruto de sua admiração. E ele sabia do que eu era capaz. – Eu já fiquei com Alice quando eu tentava me vingar de tudo e de todos. – continuou com os olhos presos em mim. – E mesmo com a alma podre e sem escrúpulos nenhum, nem mesmo eu fui capaz de tirar a inocência dela e olha que eu tive oportunidades. Então eu vou deixar claro uma coisa, ela te escolheu e eu não vou me meter nisso, mas se você agir como um filho da puta vai ter consequências graves. E pra não dizer que eu só ameaço... – seu celular começou a tocar. – Como eu sou bom nessa coisa de tempo. – sorri. – É do RH do hotel te convocando pra estar lá agora, se eu fosse você atendia. – bati em seu ombro e dei um passo. Depois voltei dando um passo ainda de costas. – Comece a achar um plano B, vai ser triste não ter como levar sua garota pra tomar nem um sorvete. – pisquei e sai.

Ele não iria ter Alice e eu ficaria quieto sem tirar nada dele. Foda-se se a escolha foi dela e que o certo era não me meter. Estava fazendo o papel que o irmão dela devia estar fazendo. Ás vezes eu odiava o Murilo.

— Oi. Parece pensativo. – Rafael chegou perto de mim e já começou a investigação habitual.

— Só contando os segundos para me ver livre de ter que dar satisfação até dos meus pensamentos. – respondi em tom de brincadeira e ri.

— Ainda vai sentir falta Kevin. – se fez de ofendido.

— Tá, agora podem contar como vocês estão planejando manter o relacionamento há essa distância toda? – Soph a enxerida perguntou rindo. Yuri tirou o copo de bebida da mão dela.

— Vídeos chamadas e mensagens por vinte e quatro horas. – ele respondeu e eu o olhei.

— Acho que estudar e mandar mensagens o tempo todo não combinam!

— Eu não estou perguntando disso... – ela continuou com sua maldade.

— Ele está levando uns presentinhos... – Rafael respondeu e sorriu. – Sou um bom namorado.

— Presente erótico? – Giovana perguntou e colocou a mão na boca. – Desculpem. Foi espontâneo.

— Sempre é. – Soph implicou. Como as duas começariam a discutir decidi mudar o foco.

— Eu já disse e vou dizer de novo... – olhei para todos eles. – Quero que vocês se comportem. Mesmo que eu venha de quinze em quinze dias, não façam nenhuma bobagem.

— Quem você vai deixar no seu lugar? – Alice perguntou e deu uma risadinha. – Não pode dizer que é aquele que não pode ser mencionado, já que nem aqui ele está.

— Ele não está aqui por sua causa. – Lari alfinetou com raiva. – Quando você for embora tudo voltará ao normal e vamos todos nos juntar.

— Ele é o mais velho e mais sábio, é certo que tome as decisões. – conclui.

— Eu não concordo. – Ryan opinou. – Mas você e a sua amiguinha estão no comando, vou ficar só olhando mesmo. – apontou a cabeça pra mim e Lari.

— Isso não é uma ditadura, é uma democracia. Pode opinar ue. – Larissa retrucou.

— Talvez eu saia da equipe e vire um renegado. Estou meio cansado disso tudo.

— Vou falar com ele. – avisei após Ryan sair.

— Nem vem Kevin. Os papinhos possíveis nesse momento não combinam com você.

— Só quero saber o que tá pegando. É Otávia ainda?

— Você não percebe que tá tudo errado? Alice com esse cara, seu novo irmão roubando a mina do seu outro irmão, Arthur se isolando da gente, Larissa crucificando Alice, até Aline tá apaixonada pela Alícia! O que tá acontecendo com o mundo?

— Ryan nem tudo é uma linha reta. As coisas saem fora do lugar mesmo.

— E sem falar no Murilo que parece que simplesmente DELETOU o fato que tem família e amigos. Ele não vem aqui há praticamente oito meses! O aniversário da Alice nem conta.

— Não fala sobre isso... Eu me sinto culpado.

— Não é culpa sua. É do seu pai! E que merda estamos fazendo que ainda não o colocamos atrás das grades? Sabe... Eu não suporto mais isso tudo.

— Então... Acho que você tem motivação de sobra. Arthur está em um momento bem ruim e além do mais, ele tem os problemas dele. Você fica no comando, vou avisar ao resto.

— Kevin – me chamou me impedindo de seguir. – Eu não fiz isso pra que isso acontecesse.

— Eu sei. Mas você tá certo. Estamos acomodados demais. E você é o único que é inteligente o suficiente para ganhar destaque.

— Acho que agora devo agradecer.

— Que seja. – dei de ombros. – Ryan... Só não se distraia com as coroas no caminho. – ele riu me fazendo revirar os olhos.

Assim que aquela noite acabou fui para a minha casa com Rafael. Eu precisava acabar de arrumar algumas malas. Quando entrei em meu quarto fui surpreendido. Havia fotos de nós dois espalhadas por todo o cômodo. Eu o olhei vendo o seu sorriso.

— Queria que você fosse lembrando da gente.

— A surpresa foi linda, mas eu não precisaria dela pra isso. – o beijei. – Vou levar todas comigo e deixa-las pelo meu quarto, faço um vídeo te mostrando assim que chegar.

— Vai ser difícil levar algum cara pra lá, até juntar isso tudo.

— Você só pensa em traição, inacreditável. – balancei a cabeça negativamente.

— O meu aniversário tá chegando, você vai vim né? - tentou me distrair.

— Não no dia, estarei estudando e você trabalhando e estudando, mas venho no fim de semana seguinte.

— Tá bom. – concordou um pouco triste. Só que eu o fiz esquecer qualquer aborrecimento. E aquela noite tive menos tempo que planejei para arrumar tudo, saindo um pouco atrasado no outro dia.

— Sua despedida do Rafa foi linda. – Alice comentou enquanto eu dirigia a caminho da capital. Eu a olhei sem acreditar.

— Chama aquilo de lindo? Mil ameaças e avisos? – bufei.

— Ele é muito ciumento. – riu e pegou seu celular.

— Não tem área na estrada. Já quer falar com o seu amorzinho?

— Não seja irônico. E não é isso. Patrícia havia me dito mais cedo que ela tá preocupada com o meu irmão.

— O que houve? – a olhei na hora.

— Nada demais. Mas ela diz que ele tá se isolado e fugindo dela e ela acha que isso pode ser sintomas de algo mais sério.

— Talvez ele só não queira mais estar com ela.

— Até outro dia ele estava se apaixonando Kevin.

— O Murilo se agarra a possibilidades de... – parei de falar.

— De te esquecer. – concluiu e suspirou.

— Talvez ele acabe confundindo as coisas, só isso.

— De qualquer forma vou conversar com ele mais tarde. – concordei encerrando o assunto. Falar de Murilo era complicado demais. O resto da viagem passou sem mais nenhum papo relevante.

Ao chegarmos notei que o lugar que escolhi era praticamente ao lado do campus, mas bem afastado da cidade. A universidade já era um pouco afastada, e eu ainda fiz questão de alugar uma casa que fosse ainda mais distante. Alice amou a ideia, ela já veio no carro dizendo que faria aquele trajeto de caminhada todos os dias... Queria até ver. Amanhã teríamos que ir cedo até a sua escola. E eu já começaria as minhas aulas.

— Quem era na ligação? – ela perguntou após eu desligar o celular. Já era noite e havíamos acabado de colocar as coisas no lugar. Estávamos mortos de cansaço.

— O renegado.

— Ryan?

— Ah, não. O meu pai. Esse é outro apelido pra ele, dessa vez meio bíblico. – sorri. – Ele disse que Pedro vai embora amanhã. O pai dele precisa dele lá na cidade dele e como ele não está mais trabalhando comigo...

— E o que te preocupa? Vai sentir falta dele?

— Não é isso. Nicolas vai ficar lá naquela casa sozinho. E ele foi conhecer o pai melhor.

— Sozinho não. Ele vai ficar com Arthur e Yuri. Também foi para conhecer os irmãos.

— Arthur está se fechando em uma redoma de sofrimento e Yuri tá puto com Nic por causa de Sophia. Não acho que será muito possível a aproximação com nenhum dos dois.

— Tá bom, mas não acho que deva se preocupar com isso agora. Tem muita coisa já pra você cuidar aqui.

Repassamos tudo que tínhamos que fazer e quando a semana começou no outro dia começamos a cumprir. Viver com Alice estava sendo até certo ponto razoável. Ela era obediente e quietinha, pelo menos por enquanto. Não me perturbava e até que me ajudava bastante.

— Vamos sair. É sexta. – se sentou no sofá e me olhou na cadeira.

— Não dá. Tenho que estudar. Acabei de desligar com Rafael por isso.

— Com o tempo ele vai se cansar. – avisou parecendo preocupada. – Você mal fala com ele.

— Se dependesse dele eu falaria o dia inteiro. Não é assim que funciona Alice. Eu não vim aqui pra brincar.

— Ok. – bufou. – Vou ligar para o Orlando então. – deu um sorriso provocativo e eu revirei os olhos. Não entendia como ela ainda podia levar aquilo adiante.

Pouco tempo depois ela voltou para me perturbar. Ignorei até ouvir o nome do Murilo. E então ela me mostrou uma foto dele com a tal Patrícia.

— Meu irmão não tá bem. – comentou com tristeza.

— É só fase. Vai passar. Ele acha que é culpa dele aquele dia. – a encarei. – Vai ser difícil pra ele superar isso. Sabemos como Murilo é. – ela voltou a olhar o celular.

— Que bom que eles estão bem de novo. Pelo visto ele parou de evita-la.

— Sorte a dela. Ele é muito carinhoso, além de lindo e fofo. – continuei as minhas anotações e percebi que ela não tirou os olhos de mim. – O que foi?

— Quem ouve isso até pensa que você ainda o ama.

— Não preciso ama-lo para reconhecer as qualidades que ele tem. – fiquei pensando naquilo. – Mesmo com todo o jeito devasso que o Murilo tinha antes eu acho que em um relacionamento ele seria o cara mais fiel e leal do mundo, sabia?

— Talvez seja porque nossos pais nos ensinaram desde cedo que a gente não deve fazer com o outro o que não queremos pra nós. Eles só não nos ensinaram a nos reprimir... – ela se afundou no sofá. – Acho que tá aí a explicação do jeito dele. E também da minha atitude de... Tentar com Orlando. – nos olhamos.

— Não preciso nem ser o mestre que sou pra saber que tá arrependida.

— Ele nunca vai me perdoar. Não é? Não estou querendo dizer que eu quero voltar, só que mesmo que eu fique sozinha ele não vai se aproximar de mim.

— É o Arthur Alice. Ele se reaproximaria de você até mesmo se tivesse o traído.

— Acha que eu devo dizer a Orlando que é melhor não tentarmos?

— O que o importa o que eu acho? Se importasse você nunca teria arriscado.

— Era pra você ter tomado as dores do seu irmão e ter se afastado de mim.

— Você tem o mesmo nível de importância que o Arthur pra mim. É como se fosse a minha irmã e a gente não abandona uma irmã só por vê-la errando.

— Eu te amo tanto. – veio até mim e se sentou em meu colo. – Éramos cunhados em dobro e hoje não somos mais nem uma vez.

— Talvez um dia vocês se acertem. – olhou em meus olhos e sorriu.

— Talvez um dia vocês se acertem. – desviei o olhar.

— Posso estudar? Daqui a pouco Rafael me liga de novo e eu não li nem metade do que precisava.

— Acho mesmo que um dia ainda vamos voltar a ser cunhados. Duplamente. – beijou meu rosto e se levantou. Queria retrucar dizendo que eu não afirmei nada, mas isso iniciaria um debate que eu não estava disposto a ter. O melhor mesmo era deixar essas dúvidas no ar e para um futuro bem distante, se um dia ele chegar a existir. O meu presente era outro e nesse momento ele me chamava. Havia trocado meu primeiro amor de um homem para uma profissão e se isso faria mal ao meu relacionamento eu não sabia, mas eu estava cada vez mais satisfeito comigo e com as minhas escolhas.


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Notas finais do capítulo

Vou postar amanhã com certeza (se não der nada errado) ♥



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