A Cesta Perfeita escrita por PJOdasfic


Capítulo 4
Capítulo 4




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Quinta-feira - 7 dias

Quando saiu da casa de Dakota, Piper estava gratíssima pela existência de Octavian. Se não fosse por ele, ela não teria ido até a casa de Dakota, e se não fosse por isso, não teria conseguido obter todas as estratégias do jogo anterior e mais um rascunho da do jogo final. Seu coração acelerou quando o garoto entregou o papel, uma folha branca com uns rabiscos que representavam a quadra e os jogadores. Discretamente, Piper pegou o celular no bolso e ligou o gravador de áudio, pedindo em seguida para que Dakota explicasse todas as estratégias minuciosamente, "para que ela pudesse ensinar tudo direito para Octavian". 

Agora, já no quarto alugado que tinha conseguido com um excesso de pechincha e um sorriso simpático, Piper tirava foto de tudo e as enviava para os garotos do time. Mandou também o áudio, e depois ficou escutando as coordenadas de Dakota e assimilando tudo com os desenhos. Ela esperava estar tendo dificuldade de entender algumas coisas por não ser jogadora de basquete, e não pela falta de talento de quem tinha feito os desenhos. Os garotos da Half-Blood entenderam tudo, e conseguiram formar um rascunho quase exato de como seria a estratégia da final, mas quase exata ainda não era o suficiente. 

Em quatro dias, Piper já tinha conquistado a confiança de boa parte dos alunos do primeiro ano, exceto, claro, de Reyna, mas ninguém além de Jason tinha a sua confiança. 

Piper ainda pensava no que tinha acontecido no vestiário. Não tinha sido Reyna quem trancou a porta, mas ela estava lá quando sabia que ninguém mais estaria. A garota não sabia o porquê daquilo, mas desconfiava de que Reyna sabia bem mais do que deixava a perceber, e tinha que tomar cuidado com isso. Reyna era presidente do grêmio estudantil, representante de sala, capitã da equipe de handebol e ainda, por baixo dos panos, a estrategista do time de basquete. Além de tudo isso, Piper desconfiava que ela gostava de Jason, não só como amigo, e mesmo se não demonstrasse isso em nenhum momento de sua vida, Reyna não queria que outra pessoa demonstrasse. Por tudo isso, ela tinha motivos suficientes para ficar em cima de Piper, porque dependendo da decisão que a garota tomasse, Reyna poderia perder todas essas coisas. Se quisesse se livrar da vigilância de dela, Piper teria que conquistar a confiança dela, e isso parecia ser pior do que os  doze trabalhos de Hércules. 

Piper virou a noite mexendo no celular. Primeiro matou a saudade das piadas idiotas de Leo, depois contou a Annabeth sobre os milhares de livro da biblioteca.

Annabeth: quantos você pode alugar por vez? 

Piper: quantos eu quiser, por quê? 

Annabeth: você aluga uns para mim? Aí no próximo fim de semana eu vou aí te visitar e já aproveito para pegar os livros. 

Piper: vou alugar agora só por conta da visita. Mas você vai ter que devolver em uma semana, consegue? 

Annabeth: claro que sim.

Annabeth mandou a "pequena" lista de livros, fazendo Piper duvidar que alguém podia ler tudo aquilo em uma semana, mas, afinal, era Annabeth. Alguns minutos depois, Piper estava se preparando para ir dormir quando o celular vibrou. Esperava uma mensagem vinda de um de seus amigos, mas não. Era uma mensagem de Jason. 

Jason: Oii, Piper, é o Jason. Tudo bem? 

Piper: Tudo sim, e com você? 

Jason: Também. Ei, a Reyna me disse que você vai fazer o seletivo de handebol sábado, não é? 

Piper: Vou sim. Por quê? Aconteceu alguma coisa? 

Jason: Não, não, é que eu quero muito que você passe, faria bem para a equipe, mas a Reyna tem um jeito de avaliar bem... duro. 

Piper: logo imaginei. A Reyna é a Reyna kk. Mas por que você está me dizendo tudo isso? 

Jason: eu conheço o jeito dela avaliar, e se você quiser estar mais preparada para sábado, pode vir aqui na minha casa depois da aula amanhã. O que acha? 

Piper: pode ser, obrigada. Não sabia que você também era bom no handebol. Jason, o garoto mil e uma utilidades. 

Jason: quem dera kkk. Nos vemos amanhã, então? 

Piper: combinando, até amanhã. 

Piper ficou encarando o teto, confusa. Jason a tinha convidado para ir em sua casa para treinarem handebol? Estranho, mas útil. Se a estratégia oficial da final estivesse com Jason, era provável  que estivesse em sua casa. Isso deixou Piper ansiosa, mas o calafrio em seu estômago denunciava que aquela não era a sua única preocupação com o encontro. 

Sexta-feira -  6 dias 

Depois da aula, Jason levou Piper até sua casa. Era uma casa grande e branca, com um extenso gramado verde e bem podado. A casa inteira estava fechada, e ainda não tinha anoitecido totalmente. 

— Os seus pais estão em casa? – perguntou ela colocando a mochila no chão da varanda  ao lado da de Jason. 

— Não. Meu pai está viajando e minha mãe saiu com umas amigas. – falou ele. Por um momento, sua voz pareceu triste ao dizer aquilo. 

Um silêncio constrangedor se formou, mas Piper logo o cortou perguntando sobre o treino. 

— Vamos ir lá nos fundos, tem duas traves. A gente começa treinado um passes, depois uns arremessos e assim por diante. Tudo bem por você? 

Os fundos do terreno tinham uma marcação branca no chão, como num campo de futebol. Aquilo estava quase entediante durante os passes, mas então, na hora de arremessar a bola ao gol, o treinamento começou a ficar divertido. Jason era um goleiro ótimo, mas Piper era uma jogadora excelente. 

No meio do treinamento, começou a chover. Jason praguejou. 

— Vamos ter que ir para dentro agora. 

— E a gente é feito de açúcar por acaso? - perguntou Piper rindo. Algumas mexas do cabelo de soltarem do rabo de cavalo e ela as pôs atrás das orelhas. Quando fez isso, Jason a olhou de um jeito que a fez corar. 

— Tem razão. – falou ele se aproximando — Não somos feitos de açúcar. Mas agora o jogo vai ficar difícil de verdade. 

— O que você vai... 

Com um sorriso malandro no rosto, Jason a interrompeu arrancando a bola de suas mãos e saindo correndo. Piper saiu correndo atrás dele e conseguiu roubar a bola. Permaneceram assim, nesse pega-pega, por bastante tempo. A chuva estava mais forte. Piper corria de Jason, segurando a bola nas mãos. O gramado, antes verde e radiante, estava lamacento e escorregadio. Piper parou por uma fração de segundos, apenas para ver onde Jason estava, mas o garoto já estava bem atrás dela, e os dois se esbarram com força, caindo com tudo na lama. Piper abriu a boca para falar algo engraçado, mas então parou ao notar o quão próximos ela e Jason estavam, isso sem contar que ele estava caído sobre ela. O garoto também estava com a boca entreaberta, respirando rápido por toda aquela correria, mas não disse nada. Seus olhos, sempre sóbrios e calmos, estavam agitados e elétricos, causando um arrepio em Piper. Desde que conheceu ele, Jason sempre agira da maneira mais esperada possível: certo, educado e profissional da maneira que um representante escolar seria, mas então, ali, caído sobre ela, com a chuva açoitando seus corpos, ele fez algo  que surpreendeu Piper em todas as escalas possível. Ele a beijou. Primeiro, foi só um beijo simples, um beijo técnico. O garoto afastou o rosto alguns centímetros do de Piper. 

— Isso faz parte do treinamento? - perguntou ela abrindo um sorriso atraente.

— Agora faz. – falou ele. Sua voz não tinha o mesmo tom de malícia e divertimento que a da garota; estava séria e fria. Mas suas ações seguintes não foram assim. Jason a beijou de novo, um beijo de verdade dessa vez. Piper sempre pensou que Jason seria o tipo de cara que beijasse lento e com carinho, pondo a uma mão na cintura e a outra segurando o rosto, mas não foi bem assim que aconteceu. O verdadeiro beijo de Jason era rápido e selvagem, de um jeito bom, - o tipo de beijo que leva a querer outras coisas - e suas mãos não estavam postas carinhosamente sobre o rosto ou a cintura de Piper, mas sim em sua coxa e em sua nuca. 

Piper estava acostumada a beijar desconhecidos nas baladas que ia de vez em quando com seus amigos, e sempre, independente do beijo ou da pegada, sentia a mesma coisa, mas, conforme o beijo dos dois avançava, Piper sentia uma inquietação dentro de si, não um desejo de esquentar mais o clima, mas sim uma espécie de receio. Talvez seja porque você nunca beijou um cara querendo passar a perna nele para que o time de basquete dele perca o campeonato, pensou ela. Quando os lábios do garoto desceram da sua boca para seu pescoço, ela parou de pensar. 

— Vamos lá para dentro. – o tom de Jason deixava claro que aquilo não era uma oferta, mas sim uma ordem. 

Ele ficou de pé e estendeu uma mão para ela. Os dois correram para dentro de casa, e Piper sentiu uma pontada de culpa ao ver a lama de suas roupas sujar o piso luminoso da casa. Como Jason, que estava tão sujo quanto ela, não parecia se importar, Piper apenas o seguiu até o segundo andar, onde entraram no quarto do garoto, uma suíte. O garoto a pegou pela mão e a levou para o banheiro, fechando a porta atrás de si. Piper estava meio confusa (quem era aquele cara e o que tinha jeito com o Jason?). Ela concluiu que apenas tinha conversado com o Jason Presidente do Grêmio e o Jason Representante de Classe, e era por isso que tinha uma imagem séria dele. Aquele Jason ali, que a beijava sem pudor e a tocava com menor pudor ainda, ele sim era o Jason verdadeiro, ou uma de suas características. 

— Não se importa em dividir o banho comigo, não é? - perguntou ele, embora os dois já estivessem dentro do box do chuveiro, a água quente escorrendo por seus corpos. 

Piper não respondeu com palavras. Pegou o sabonete e começou a passá-lo pelo corpo dele, como um tipo de massagem erótica, e ele correspondeu com mais intensidade. A chuva fria tinha aumentado e fazia o banheiro ficar cada vez mais abafado, mas apesar disso, o ambiente nublado apenas servia para atiçar os dois. Dali, foram para a cama do garoto, quase escorregando no piso por causa da água que pingava de seus corpos. Os dois trocaram carícias quentes, que se intensificava cada vez mais, até que chegaram no seu máximo e paravam por alguns minutos, deitados de bruços um ao lado do outro, olhando o céu tempestuosos pela janela, e depois faziam tudo de novo. Ficaram nesse ciclo por horas a fio, até que finalmente nenhum dos dois tinha mais energia para aquilo. 

Apesar de não querer, Piper tinha que voltar para casa. Quando se virou na cama para olhar para ele, Piper surpreendeu-se ao ver uma expressão de culpa em seu rosto. Quando seus olhos azuis encontraram o dela, a culpa se misturou a algo mais sereno, fazendo  aqueles olhos sempre tão limpos parecerem mais nublados agora.

— Você é um ótimo treinador. - falou ela, dando um sorriso malicioso.

Dessa vez, ele respondeu no mesmo tom.

—E você é uma ótima aluna. Vai dormir aqui, não vai? 

— Não posso, tenho que estar cedo amanhã na escola por causa do seletivo de handebol, mas vou considerar o convite para um próximo dia.

— Eu te levo na escola amanhã. - falou ele enrolando uma mecha do cabelo de Piper nos dedos — Além disso, já é de madrugada, e eu não estou nem um pouco disposto a te levar em casa agora,  mas também não seria canalha o suficiente para dizer para você ir embora de táxi. Dorme aqui. – pediu ele, curvando um pouco os lábios num sorriso gentil, mas seu olhar não era gentil. Era... necessitado? 

Piper queria perguntar se estava acontecendo alguma coisa, mas não o fez. Jason não era o primeiro garoto com quem dormia. Desde que perdera o avô e o pai no ano passado, Piper passara a frequentar baladas baratas cada vez mais e mais. Não tinha o menor orgulho disso, mas pelo menos quando estava deitada com alguém sua mente estava ocupada demais para pensar naquelas perdas. Nesses momentos, Piper sentia o que qualquer um sentiria: excitação. E só. Nunca passava de algo físico. Mas ali, deitada com o garoto que deveria manipular para garantir a existência de sua escola, Piper sentia algo a mais. Não sabia o que era, mas isso estava a preocupando. Já era difícil fazer aquele plano por uma simples questão de humanidade, mas começar a gostar de Jason pioraria bem mais as coisas.


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