Amanhecer: Novos Começos escrita por Sarah Lee


Capítulo 8
Fogo


Notas iniciais do capítulo

Olar meus queridos, mais um cap saindo quentinho do forninho das fanfics!
Vocês queriam escritora? Pois tome escrita. Voltei com muita vontade de escrever, graças às minhas férias prolongas, e o resultado? O maior capitulo que eu já fiz. Sério mesmo, ele ficou tão grande e com tantas informações, que eu tive que dividi-lo em mais de uma parte (todos comemora).
Então aproveitem a leitura, e até as notas finais.



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Apesar do mau pressentimento que eu estava sentido, não meteria o nariz onde não sou chamada. Se Emily estava escondendo algo, provavelmente era importante, então eu fiz a sábia escolha de deixar assim por agora. Já tinha coisas demais para me concentrar no momento, e qualquer novo problema que aparecesse, com certeza me faria perder a cabeça.

Me foquei ao máximo em tudo que ainda precisava resolver até os exames finais na segunda, e fiz uma anotação mental de convidar Angela para um final de semana de estudos. Ela já tinha me confirmado que se tivessem doces gostosos ela iria, e eu não me importava de ficar uma tarde inteira cozinhando se isso fosse me ajudar a passar nas provas. E graças ao meu hábito constante de faltas, eu precisava muito ir bem nos testes. Deixei minha cabeça vagando pelo meu planejamento dos próximos dias, e só percebi que estávamos parados na frente da minha porta quando Jacob chamou minha atenção.

— Então… — Ele começou. —  Vai ter esse evento lá na reserva amanhã e...

— Evento? — Me sobressaltei com a informação. E logo em seguida, fiquei envergonhada ao perceber que tinha prestado pouca atenção na nossa conversa até aqui. — Como uma festa? — Apesar de ser uma brincadeira, meu estômago se comprimiu com a possibilidade. Eu tinha voltado a ser mais sociável com o passar do tempo, agora que não precisava passar mais boa parte do meu dia preocupada em proteger algum tipo de segredo mortal. Mas ainda não me agradava a ideia de atrair muita atenção por onde eu estivesse.

Ele riu, a risada grave ecoando de leve no silêncio. — Quase isso. É uma noite na fogueira, é quando os anciões da tribo se reúnem para passar as nossas lendas adiante. E dessa vez será mais especial, já que Leah, Quill e Seth vão ouvir pela primeira vez a história toda.

— Nossa, parece ser algo bem importante. — Eu fiquei um pouco envergonhada com o pedido. Já havia saído diversas vezes com Jacob e os outros membros da matilha, mas ouvir sobre a história dos seus antepassados parecia, de algum modo, muito mais íntimo. — Tem certeza que eu devo ir? Parece ser uma coisa especial dos lobos, eu não quero me intrometer...

— Você é importante. — Ele respondeu apressado, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E depois virou rapidamente o rosto, envergonhado por algum motivo. — E não são só os lobos que vão, Emily também estará lá, além da namorada de Quill.

— Quill tem uma namorada? — A informação me pegou de surpresa.

— O nome dela é Claire, ela é uma das primas do Embry. — Ele suspirou pesado por um momento. — Eles se conheceram antes de Quill se transformar e… Você sabe.

— Ela é o imprinting dele? — Estaria mentindo se não admitisse que a informação remexeu algo dentro de mim, mas acredito ter disfarçado bem a minha reação. Jacob apenas confirmou com a cabeça.

— Então, você sabe, seria legal se… — Ele segurou as palavras por um momento, mas não precisava.

"Se a minha namorada também fosse”, eu completei mentalmente. Apesar de ser óbvio o rumo que estávamos tomando, ainda havia esse certo desconforto de colocar as palavras na ordem certa. Se eu fosse continuar fazendo parte do futuro de Jacob como eu planejava, eu teria que ter mais contato com essa outra parte de sua vida. Percebi então que eu sabia muito pouco da história dos seus antepassados, mas eu já tinha uma ideia de que isso era muito importante para ele. Aquela coisa se remexeu dentro de mim novamente, quando eu notei o quão sério seria esse passo. Já que, quanto mais me aprofundasse no seu passado, pior seria se um dia eu tivesse que partir. Se conhecer conhecer a família e amigos do seu namorado já era uma etapa importante, ouvir sobre seus ancestrais me parecia ser algo ainda maior. E mais assustador.

Mas tentaria continuar positiva com as perspectivas. Quem sabe, conhecendo mais sobre as lendas, e fazendo ainda mais parte da sua história, nós não descobrimos um jeito do Lobo ficar satisfeito com a minha presença. Era uma esperança pequena, mas já é alguma coisa.

— Já que é tão importante para você, eu adoraria ir. — A felicidade que ele sentiu nesse momento transbordou por seus olhos, em uma luminosidade difícil de ignorar. Seu sorriso também se abriu, como que para aumentar o brilho na noite.

O ver assim, tão radiante, me lembrou do porque eu estar lutando com tanta persistência contra tudo. Talvez até contra algum tipo de destino estúpido e premeditado. Eu ainda não estava pronta para deixar de vê-lo sorrir. E apesar de ser um pouco egoísta, também queria ser eu o motivo de seus sorrisos.

— Certo. Tenho que ajudar a arrumar algumas coisas na reserva essa noite, para a fogueira e tudo mais. Então eu posso te buscar amanhã de tarde? — Eu poderia jurar que se ele tivesse uma cauda como humano, ela estaria balançando ferozmente agora.

— Estarei esperando.

— Ok! — Ele acenou e se afastou rápido em direção à floresta, cobrindo a distância com algumas poucas passadas. — Ah! Quase ia me esquecendo. — Ele fez um movimento rápido com a cabeça e voltou com a mesma velocidade que havia se afastado, mas diminuiu aos poucos até parar na minha frente. Jacob me puxou pela cintura com cuidado, e me deu um beijo que envolvia todo o meu ser no calor do seu corpo. Ele me segurava firme, e me derretia por dentro. — Boa noite... — Jake sussurrou, enquanto eu respirava ofegante pela surpresa. E nesse momento, eu podia jurar que vi seus olhos brilharem mais uma vez. Mas desta vez, eles pareciam muito mais com a Lua.

— Boa noite... — Quase consegui balbuciar a resposta. Mas ele já havia se afastado novamente.

 

Durante boa parte da noite, e quase toda minha manhã, eu tracei, com uma boa ajuda de Angela, meus planos pós escola. Eu finalmente tinha tomado coragem para parar e pensar no que eu queria, e o que eu gostaria de fazer por boa parte da minha vida pelo menos. E foi difícil, pois olhar para dentro e desistir de possibilidades é algo muito doloroso. Mas é sempre gratificante também.

Decidi aceitar a proposta da minha mãe, e ir estudar mais perto de sua casa. - E eu já podia imaginar a sua reação quando eu finalmente contasse -. Já estava óbvio que eu estudaria literatura, então foi de grande ajuda quando Angela me apresentou as melhores universidade no que eu procurava. E também formulei meu plano para continuar com Jacob, mesmo que a distância fosse algo ruim, eu imaginaria que seria algo superável para nós dois. Estava tudo se encaminhando, porém não era ele quem mais me preocupava agora.

Eu havia ignorado, não despropositadamente, que também teria que avisar à Charlie sobre o que faria até o final do ano. Mais uma vez, estava nervosa por uma conversa sobre algo que deveria ser previsível. Não ficaria em Forks, havia dor demais aqui, e muitas lembranças que me faziam querer fugir. O machucado já estava cicatrizado, mas olhar para a marca ainda era doloroso. Além de não existirem possibilidades o suficiente para mim aqui. Quando encontrei Charlie na hora do almoço, eu comecei meu discurso desajeitado, mas ensaiado, sobre finalmente sair de Forks. Sobre tudo que gostaria de fazer, e como não conseguiria alcançar meus sonhos aqui.

Ele permaneceu impassível, mastigando desajeitadamente o hambúrguer enquanto fitava o copo de suco na sua frente. Ele ouviu cada palavra sem dizer nada, e quando eu acabei o monólogo, quase ofegante, pois não tive o sangue frio de dizer calmamente o que eu queria, ele ainda não me encarava.

— Pai? — Eu disse assustada, quem sabe eu não tivesse finalmente provocado um ataque em seu coração? E esse pensamento quase me fez levantar da cadeira para chamar uma ambulância.

— Bem… — Ele respondeu, depois de uma pausa interminável. E dessa vez quase fui eu que desmaiei. Eu não havia matado meu pai ainda, graças aos céus. — Não posso dizer que estou surpreso Bella. Nunca imaginei que você continuaria aqui depois que se formasse. Bem, você sabe que eu cogitei te mandar de volta para sua mãe quando você...

Sabia, mas não conseguia dizer as palavras. Ver Charlie ser tão racional e centrado assim, tinha me desconcertado. Eu passei tanto tempo achando que ele me odiaria caso tentasse deixar Forks, e "abandoná-lo" como minha mãe havia feito anos atrás, que uma resposta sensata não se encaixava no contexto que eu havia criado.

— Você entende? — As palavras saíram mais acusatórias do que eu gostaria. Como ele ousava compreender os sentimentos da sua filha adolescente? E meio segundo após pensar nisso, percebi como era idiota o meu raciocínio.

— Entendo... — Ele disse, agora voltando a mastigar em uma velocidade normal. —  A cidade é ótima Bella, nossa família fez a vida aqui. Mas eu entendo que não conseguiria te manter aqui por muito tempo. — Agora que ele me encarava com os olhos chocolate, não havia remorso enquanto falava. — Escute, eu sempre senti que você era destinada a grandes coisas, mesmo quando era pequenininha. Eu lembro que toda semana você arranjava algo diferente para fazer uma coleção. Lembra das pedras da praia? Você ficou semanas nos arrastando para lá, e ficava horas e horas cavando por todo lugar. E quando finalmente achava que havia completado o que quer que fosse, já partia para a sua próxima coleção.

Eu parei por uns segundos para absorver a informação, eu lembro dessa minha mania de criança. Essa fome insaciável por conhecer e guardar as coisas. Eu havia parado de tentar colecionar objetos quando entrei no Ensino Médio, e percebi que ninguém achava legal uma garota que ficava o dia inteiro buscando tralhas para depois as amontoar em caixas de sapato no seu quarto. Lembro também de como chorei quando finalmente tomei coragem para jogar tudo que eu havia juntado na lata de lixo. Pelo menos mantive a maioria dos meus livros, essa é a única coisa que eu ainda tenho prazer em guardar.

— Eu sabia que essa cidade pequena não seria o bastante para você. Já que você é muito mais que tudo isso. Inclusive, acho que nunca vai existir algo que seja o bastante para a sua pessoa. — Ele tomou quase por inteiro o seu suco. E eu fiquei observando seu pomo de adão subir e descer enquanto bebia. — Então vá e conquiste o que for que você sinta vontade. — Ele limpou a garganta com um som ruidoso. — Mas não se esqueça de vir me visitar de vez em quando, certo?

Eu lutei contra uma vontade imensa de chorar nessa hora, pois não queria estragar o momento deixando Charlie desconfortável. Eu esperava uma certa relutância quando representasse a minha vontade, e não o mais completo apoio. Ele acreditava no meu potencial, então eu deveria acreditar mais em mim também. Essas palavras eram o estopim que eu precisava para saber que estava finalmente tomando as decisões certas. E foi com um movimento rápido que eu o abracei por cima da mesa.

— Desculpe. — Disse, limpando disfarçadamente uma lágrima dos olhos por trás da sua cabeça. Ele permanecia paralisado no meu abraço. — Acho que eu tinha alguns medos quanto a isso. Como você morrer de fome por exemplo.— E a piada quebrou o gelo que eu precisava.

— Eu sou um homem adulto Bella. — Ele riu e finalmente retribuiu o abraço. — Eu sobrevivi antes de você voltar, e vou sobreviver quando você se for.

— De qualquer maneira eu vou arranjar alguém para saber se você continua comendo comida de verdade às vezes. Sabe, só por precaução.

— Eu acho que ficarei bem. Sue disse que me ajudaria no que eu precisasse. Pode não parecer, mas eu estive me preparando para a sua partida faz um certo tempo. — Ele sorriu, e eu finalmente consegui me afastar. Por mérito meu, não derramei nenhuma lágrima durante tudo isso.

E fiquei relembrando quantas vezes tinha visto Sue vindo até a nossa casa nesses últimos meses, às vezes conversando com meu pai ou trazendo algo para comermos. Acredito que com Leah, e agora Seth, fora com os lobos, ela esteja mais solitária. Talvez ter uma boa amiga para fazer companhia ajudasse Charlie a sobreviver por mais alguns anos. E a visão desses fatos me animou um pouco.

E enquanto ele ria grave durante o almoço, eu me sentia ficando cada vez mais leve.

Depois da conversa, quando já tinha voltado para o meu quarto, eu estava realmente aliviada, pois acreditava que Charlie seria a pior pessoa para contar a novidade. E suspirei com esperança pensando que talvez não fosse tão difícil com Jacob afinal, e que muito provavelmente eu era uma tola por adiar isso até agora. Eu estava ocupada demais pensando que sabia exatamente o que se passava na cabeça deles, quando, na verdade, a pessoa previsível era eu. E por algum motivo estranho isso me deixou feliz agora. Parecia que todos à minha volta conseguiam ler facilmente meus pensamentos. Então, ao contrário do que eu pensei por muito tempo, não era bem a minha mente que não funcionava direito. Talvez o problema estivesse em outra pessoa afinal.

Conforme o dia ia passando, eu me animava cada vez mais para encontrar Jake, e conversar com ele sobre os meus sonhos. Tenho certeza que ele entenderia, o bom humor que ele carregava desde que começamos a namorar era algo difícil de ser perturbado. E de todas as formas, eu tinha certeza que ele seria ainda mais racional que Charlie. Quem sabe, talvez ele até já tivesse se planejado para uma possível partida há muito tempo atrás. Eu arrumava os mantimentos que havia decidido levar enquanto esperava o tempo passar. Apesar da seriedade do evento, Emily me havia garantido que de início seria como uma noite normal na fogueira, com muita conversa e uma grande quantidade de comida. O que não me surpreendeu nem um pouco. Quando estava quase anoitecendo, Jacob já estava me esperando na entrada de casa. Eu havia dito para Charlie que iria passar alguns marshmallows na fogueira com o pessoal hoje, o que nem chegava a ser uma mentira no final das contas. E esperava que o jantar que deixei preparado no microondas amenizasse qualquer ressentimento que ele talvez tivesse com a minha escapada. Não que ele desaprovasse totalmente quando eu estava com Jacob, mas até ele iria preferir que eu estivesse mais focada nos estudos agora. Fiz uma anotação mental de que estudaria como louca após essa noite. Encerraria de vez esse assunto, e trataria de ter a conversa com Jake logo após a fogueira.

Então, quando chegou o horário combinado, eu abri a porta da sala. E fui recebida pelo mais luminoso dos sorrisos.

— Tudo pronto? — Ele estava parado na entrada da casa. Convenientemente sem camisa, como sempre.

Eu apenas afirmei com a cabeça, vê-lo ali, me esperando, tornava tudo real demais. Apesar de eu ter me preparado para essa noite, ainda havia esse medo de estragar tudo de alguma forma. E experiências passadas estavam aí para comprovar o quanto eu posso estragar uma noite. A fogueira era o outro ponto que me assustava agora.

— Não precisa ficar nervosa. — Ele me disse, enquanto caminhávamos de mãos dadas pelo jardim. — Lembra? Será apenas uma noite normal com amigos.

— Está tão óbvio assim? — Eu engoli seco. 

— Se estivesse mais escuro, eu poderia jurar que você era um fantasma, de tão branca que você está.

— Desculpe… —  Foi o que eu consegui responder.

— Não tem problema Bells. — Ele me puxou para um abraço quente, seu queixo apoiado no topo da minha cabeça. — Eu estarei aqui caso precise de um apoio. Ok?

— Ok — Eu sussurrei de volta.

O caminho até o ponto de encontro foi rápido, rápido até demais. Jacob havia me explicado que iríamos nos reunir perto da casa de Emily, para depois seguirmos para um outro lugar. Seria em alguma clareira, mais a fundo na floresta, perto do penhasco que a matilha usava para fazer seus saltos mortais para o oceano. As lembranças da última vez que eu estive lá subiram como um arrepio pelas minhas costas. Quando finalmente encontramos os outros, a noite já estava se agravando na reserva, e um vento gelado soprava em minhas bochechas. Perguntei por um momento se conseguimos achar o caminho correto até a clareira se ficasse muito escuro, mas é claro que os lobisomens não teriam qualquer dificuldade com a escuridão. Os lobos, bem vestidos e espalhados pelo gramado, davam um ar inesperadamente sério para tudo isso. O que fez meu estômago reclamar antecipadamente. Na verdade, eles só estavam com as suas camisetas postas, mas isso já era algo tão incomum, que eu não conseguia me deixar de sentir inapropriada para a ocasião. Jake também havia colocado a sua no caminho, mas felizmente ele parecia tão despojado quanto eu, o que me fazia recobrar parte da minha confiança.

 Em uma olhada rápida eu consegui encontrar Emily, o que foi extremamente fácil, já que Sam estava prontamente ao seu lado como sempre. Eles conversavam com Sue e Billy em um canto mais afastado dos outros membros da matilha, o que de início me pareceu estranho, já que eu imaginei que estariam todos juntos em um certo clima de irmandade. O que, obviamente, não estava acontecendo. Em outro canto, Jared e Embry riam alto e se empurravam ocasionalmente. E não muito longe do grupo, Paul se recostava em uma grande árvore, em silêncio. De maneira instintiva, desviei rapidamente o olhar para outra dupla mais ao centro, quando nossos olhos se encontraram. Leah conversava com um garoto de rosto redondo e feições amáveis, que lembravam vagamente o rosto dela mesma. Talvez eles seriam mais parecidos se ela não estivesse sempre parecendo que estava prestes a matar alguém. Quando Seth finalmente me avistou, ele abriu um grande sorriso e veio correndo diretamente para nós.

Ele com certeza não era o mesmo menino que eu me lembrava no funeral de Harry. Apesar de não ser tão musculoso e enorme como os outros lobos, já se via que ele estava seguindo esse caminho. Seus músculos eram um pouco menores do que os da sua irmã, mais definidos, mas ele já estava prestes a vencer na altura. Se não fossem por suas bochechas de bebê, eu diria que Sath já teria a minha idade.

— Quando anos você disse que ele tinha mesmo? — Perguntei  a Jake, um pouco atônita pelo garoto que vinha em minha direção.

— Quatorze. — Ele suspirou, uma mistura de preocupação com desânimo. — O mais jovem até agora. — E a informação me deixou ainda mais chocada.

— Bella! — Seth gritou quando já estava mais próximo. — Finalmente nos conhecemos. Digo, pessoalmente.

Provavelmente ele já sabia o bastante sobre mim das memórias dos outros lobisomens, o que de certa forma me fazia sentir constrangida. — Seth eu… Como você está? — Foi o que eu consegui perguntar.

— Agora? Me sentindo ótimo. — Ele sorriu, e os dentes brancos se abrindo com a luminosidade costumeira dos lobisomens. — Quer dizer, os primeiros dias foram loucos. Mas não posso dizer que fiquei muito surpreso. Foi tudo tão rápido depois que Leah se transformou! Mas, quero dizer… Eu meio que fui alertado que algo assim poderia acontecer comigo… Sam me ajudou muito.

— Você realmente não se parece nada com o que eu me lembrava.

— É verdade, agora eu tenho muito mais disso! — Ele flexionou os músculos de uma maneira forçada, o que acabou arrancando sorrisos de todos, até de Leah.

Se mais alguma coisa pudesse me chocar nessa vida, seria ver Leah sorrindo, tão descontraidamente quanto agora. Eu fiquei tão surpresa que não consegui deixar de olhar assustada para Jacob. Ele a encarava também, bem menos surpreso do que eu. Suas sobrancelhas levantadas em arco mostravam que talvez ele já tivesse visto isso antes, porém ainda não estava acostumado. E se a ela percebeu as nossas expressões, Leah fingiu que não. Mas ao prestar mais atenção, eu pude perceber que algo estava mudado. A constante aura de irritação que emanava dela - aquela sensação que você deveria manter distância para não perder um pedaço do seu corpo - tinha se amenizado. Ela estava visivelmente mais relaxada, e eu tenho certeza que a causa disso é o irmão

— Sim, bobalhão. — Ela disse enquanto continha o sorriso. — Você pode estar forte, mas ainda é um frangote daqueles! — E agarrou a cabeça do irmão em uma chave de braço, enquanto ele ria e pedia por perdão.

— Qual é Leah! Deixa o garoto em paz! — Jacob também tentava conter o riso agora.

— Então Bella — Seth levantou o olhar para mim, enquanto tentava sair do aperto da outra — Tem tantas coisas que eu queria saber sobre os vampiros, eu…

Leah apertou forte o garoto para fazê-lo se calar, e ao mesmo tempo, senti Jacob se enrijecer do meu lado. Eu sei que os Cullen já se foram há muito tempo, e que eu já havia superado quase que totalmente a sua partida, mas isso ainda era um assunto delicado, e pelo jeito, não só para mim. Falar deles ainda me machucava um pouco, e não é novidade que Jacob ainda os odiava, principalmente um membro muito particular do clã. Um pensamento estranho se formou na minha cabeça, e eu imaginei se eu não seria a única que ainda tinha que superar Edward. E a resposta parecia ser um sonoro “não”.

Leah percebeu rápido a mudança de humor do amigo. — Seth, por que você não vai chatear Jared novamente sobre a sua função na matilha?

O outro finalmente conseguiu se livrar do aperto, e entendendo a deixa que lhe foi dada, saiu correndo pelo gramado, com a irmã o seguindo calmamente. Ambos pareciam ser apenas adolescentes nesse momento, mas eu tinha que me lembrar da capacidade que os fazia serem tão diferentes dos demais.

— Você vai descobrir que a Leah não é tão um “pé no saco” quando o irmão está por perto. — Jacob disse, chamando a minha atenção novamente. Ele parecia ter recobrado rapidamente o seu humor anterior, provavelmente tentando disfarçar o quanto aquele assunto sobre os Cullen o incomodava. — Talvez até seja bom ter ele no bando. Apesar das perguntas indiscretas.

— Ela realmente está com uma cara bem melhor. — E continuei levando a conversa para essa direção, pois já tinha um assunto delicado a tratar por hoje, e não queria provocar ainda mais estresse.

— Ela não é a única que muda totalmente quando há outra pessoa por perto. — Ele me apontou com a cabeça duas figuras em uma área não tão longe de nós, perto das árvores, mas que eu havia ignorado a presença totalmente até agora. Eu tive que apertar um pouco meus olhos por causa da escuridão que se criava, até perceber que eram Quill e uma garota, que deveria ser a namorada dele. Quando eu finalmente consegui distinguir as suas formas, eu pude perceber o quanto ela era linda, mesmo nessa distância. A pele caramelo e os longos cabelos negros combinavam perfeitamente com os do namorado. Seu sorriso também era brilhante, mas o que a fazia mais especial, era o jeito que Quill a olhava. Era um momento deslumbrante, como se a única luz do mundo estivesse em sua frente, emanando diretamente da garota. Algo precioso, e eu me sentia constrangida os observando, como se estivesse interrompendo um momento único de adoração. Mas também, mesmo com a vergonha me subindo pela garganta, eu não conseguia deixar de olhá-los.

— Parece incrível... — Eu consegui balbuciar.

— Como ele olha para ela? — Jacob me disse, mas sem humor na voz. — É sim. Com o tempo o fascínio se perde, mas a reverência permanece para sempre. — Eu o olhei com dúvida, como se algo assim realmente pudesse deixar de existir. — Aconteceu com Sam e Emily — Ele me explicou. E uma sensação ruim começou a se formar na boca do meu estômago, pelo jeito que Jacob olhava os dois. Não precisou de muito para que eu entendesse que ele não via a situação do mesmo jeito que eu. Provavelmente, ele só conseguia sentir ciúmes pelo o que queria, e talvez não pudesse ter.

— Como aconteceu? — Perguntei rápido, para voltar a atenção para mim novamente. Por sorte, os dois que nem tinham percebido os nossos olhares indiscretos. Mas ao mesmo tempo, eu queria saber mais sobre isso, e talvez, até conseguisse uma pista do que eu própria poderia fazer.

— Bem, resumidamente… — Jacob limpou a garganta, e eu pude perceber que ele tinha ficado desconfortável por algum motivo. O que, é claro, me fez querer saber ainda mais sobre a história. — Quill, eu e Embry éramos inseparáveis na escola. Tipo, melhores amigos mesmo. Sempre estávamos juntos nas coisas que fazíamos, e é claro, adorávamos tirar sarro de Sam e seu até então desconhecido bando. — Ele suspirou pesado, e agora pude perceber que o que ele sentia, era na verdade vergonha. — Quando Embry se transformou e se juntou à Sam, nós não sabíamos bem o motivo. Mas é claro que isso nos abalou um pouco. Não entendemos o que estava acontecendo, mas seja lá o que fosse, nós prometemos que não faríamos parte daquilo, e que não viraremos as costas um para o outro. Éramos praticamente irmãos, fomos criados juntos e tudo mais. Se não poderíamos contar um com o outro, então com quem contaríamos? Mas é claro… — Ele deu uma risada sem humor.

— Você se transformou também. — Eu completei automaticamente, e ele abaixou o olhar.

— Não podia continuar saindo com Quill, porque era perigoso demais para nós dois, mas principalmente para ele. Eu tinha que afastá-lo definitivamente, e um dia ele simplesmente me irritou demais, indo até a minha casa e exigindo respostas, me acusando de ser um traidor. De tê-lo abandonado. Eu não queria ter pego tão pesado, mas eu estava ainda mais explosivo naquela época, eu tinha acabado de me transformar, e precisava lidar com tanta coisa, que não queria que Quill fosse uma delas. — Ele finalmente me encarou, o olhar pesado de tristeza. E eu senti o impulso de apertar mais forte a sua mão. — Eu acabei dizendo algumas coisas bem cruéis para ele, e sabe, Quill já tinha um histórico de tristeza, por causa do que aconteceu com seus pais quando era criança. Eu já tentei me desculpar por tudo que falei, mas ele continua dizendo que está tudo bem agora. Mas a verdade é, que provavelmente ele não estaria mais aqui se não fosse por Claire ter entrado novamente na sua vida. — Nós voltamos a nos mover agora, o olhar de Jacob ainda escuro pela tristeza do amigo. Pergunto se ele conseguiu ter algum vislumbre desses dias por alguma memória compartilhada, mas é claro que a resposta parecia ser “sim”. — Antes ela era só a prima chatinha de Embry, um ano mais nova que nós, e que nos importunava quando era criança. Depois passou para a adolescente que nos ignorava, e dessa parte eu gostava. Mas a verdade é que Quill estava em um buraco bem fundo quando sumimos, e não sei como, mas agradeço a Claire por ter ressurgido e o tirado de lá. Ela passou a andar mais com ele, e fazê-lo companhia quando nós nem sequer nos importamos em olhar para trás. E no fim, não foi surpresa nenhuma que ele sofreu um imprinting por ela no dia seguinte de ter se transformado. Não havia nenhuma outra que poderia ocupar o lugar dela desde o início, e até o Lobo sabia disso. — Ele riu, a luz voltando um pouco para seu semblante. — Eles provavelmente teriam ficado juntos mesmo que Quill não tivesse se transformado, foram feitos um para o outro, e isso é indiscutível.

Eu levei um tempo para conseguir digerir a história toda, realmente era impressionante. E contada desse jeito, também ficou óbvio para mim do por que o Lobo ter escolhido ela como par ideal. Eu só não conseguia entender como essa história se relacionava com o caso de Sam e Emily, que foi tão diferente, mas que acabou do mesmo jeito. 

— Às vezes o destino prega peças nas pessoas. — Ele completou. E eu não soube como interpretar essa sua fala.

Eu estava prestes a questionar Jacob, quando senti um arrepio gelado subir pela minha espinha.

 


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Notas finais do capítulo

Vamos fazer o seguinte? Se esse cap bombar e vocês pedirem muito, eu faço um esforço para adiantar a próxima parte ♥ (Mas já vou avisando, exagerei na dose de fofura propositalmente agora, pois a partir da próxima postagem, vai ser só tapão na cara). (Todos comemora? (‘∀ `*))
Dúvidas, elogios ou críticas construtitivas, escrevam nos coments que eu vou adorar responder.
Até a prox ;D



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