(Esse conto acontece logo que Victória é derrotada)

Eu a senti tremer levemente nos meus braços, então, por instinto, eu a abraçava cada vez mais forte.

— Assim você vai acabar me esmagando — Bella tentou brincar com a voz fraca. Mas eu não conseguia entrar na brincadeira dessa vez, então eu apenas afrouxei meus braços.

Estava muito silencioso fora da minha casa, o que dava a impressão de que a nossa respiração, mesmo que leve, estivesse alta demais. Eu não conseguia parar de sentir que algo estava errado, meus músculos não relaxavam por completo, como se a luta não tivesse acabado. E era ainda mais desconcertante pensar que talvez a floresta estivesse ciente de toda dor que provocamos essa tarde.

Bella tremeu novamente ao meu lado, e eu sabia que não conseguiríamos ter uma boa noite de sono tão cedo. Então ficamos assim, apenas existindo em conjunto. Eu sabia que ela também não estava dormindo, talvez digerindo todas as consequências do nosso plano idiota. Seu coração pulsava alto contra a minha pele, e eu me concentrava nas batidas para não perder o controle. Talvez ela ainda estivesse com medo, o que me cortava por dentro. — Eu só tinha que mantê-la segura, e até nisso eu falhei. Igual a ele. — Me arrependi de pensar nisso na mesma hora, a menção ao sanguessuga deixou um gosto amargo na boca. 

Victória estava morta, Sam tinha se certificado muito bem dessa parte, mas enquanto as feridas ainda resistirem na Bella, eu não conseguiria baixar a minha guarda. Eu provavelmente sentiria medo agora, se tudo, atualmente, não se resumisse ao ódio e calor. — Talvez eu estivesse mais longe da humanidade dela do que eu pensava. — E considerar isso me fez ficar ainda mais tenso. Também tinha Paul, que estava cada vez mais longe do nosso alcance. Tantas baixas em tão pouco tempo. Eu ainda repassava os acontecimentos continuamente na minha cabeça. Não que eu os conseguisse evitar, eles vinham como socos no estômago, espontâneos e dolorosos. Era só que não fazia sentido, como tudo deu tão errado em tão pouco tempo? Lembro de estarmos correndo o mais rápido que podíamos, mas não conseguimos chegar perto deles, era como se a floresta não fosse a mesma. Eu tenho certeza que não estávamos assim tão longe, e isso estava me deixando louco.

— Jacob? — Ela perguntou com a voz fraca, me tirando do torpor.

Eu dei um beijo no topo da sua cabeça. — Desculpe…— Tentei retomar o controle sobre o meu corpo, eu estava começando a tremer mais que o normal. — Deveria ter sido mais rápido — O pensamento saiu acidentalmente da minha boca. No fundo, eu só queria uma confirmação de que a culpa era toda minha, direcionar toda a raiva que estava sentindo, mesmo que para mim, me faria viver mais em paz. Pelo menos com Sam deu certo.

Mas é claro que Bella não me daria isso.

— Não… — Ela sussurrou no meu peito. A respiração dela mais fria que o meu corpo.

— Não deixarei que te machuquem mais —  Ela não respondeu, apenas se aconchegou ainda mais perto. — Prometo que ficar comigo será mais fácil a partir de agora — Eu cheirei seus cabelos. Ela ainda tinha o cheiro dela, e eu me agarrava nessa prova de que ela ainda estava viva. De que os vampiros não conseguiram tirar mais isso de mim. — Tão fácil quanto respirar...

O hálito dela fazia cócegas no meu peito, por impulso eu a segurei mais firme, e dei um beijo no seu pescoço. Bella não gostava quando eu fazia isso, mas eu amava a sensação de seus pelos arrepiando contra a minha pele, me deixava mais consciente do seu corpo junto ao meu. Ela arfou e me ajudou a encontrar o caminho até a sua boca. O seu coração ficou ainda mais alto, mais irregular, o que me deu coragem para continuar. Ela também me segurou mais forte, me prendendo mais perto. Bella queria que meu calor a inundasse, e eu estava ficando cada vez mais quente. Talvez o calor ajudasse a afastar os monstros que a rondam essa noite.

A urgência estava ali, e era sobre algo que já tínhamos conversado antes. talvez ela quisesse se assegurar que ainda estava viva, e se isso era tudo que eu poderia fazer para ajudá-la agora, não havia como negar. A minha pouca relutância foi embora rapidamente, e eu deixei que a urgência de Bella me inundasse por completo.

Algum tempo depois, estávamos finalmente arrumando a casa de Sue, para compensar os dias que passamos lá. Agora teríamos que estar mais próximos para vigiar Paul, então a melhor escolha foi nos movermos para a casa de Emily. O clima não estava muito agradável, mas o sorrisinho que Embry carregava deixava tudo pior. Me fazia querer socá-lo até não ter mais nenhum dente.

— Jake, carregue aquelas camas ali para fora — Sam ordenou.

— Ele deve estar cansado Sam, deixa que eu faço — Embry saiu para os quartos ainda sorrindo.

— Que nada, nosso garotão aqui aguenta qualquer coisa — E Jared deu um tapa nas minhas costas. Dessa vez eu senti realmente que poderia matar os dois.

— Chega vocês. — A voz de Sam os calou, mas isso não diminuiu a minha raiva. — Ainda estamos em alerta, então podem pegar a primeira vigia — Os dois saíram ainda alegres, e eu pensei em qual seria a melhor maneira de esconder os corpos deles. — Uma hora eles param. Mas se eu fosse você, tomaria mais cuidado com os seus pensamentos quando estivermos ligados — Essa troca involuntária de pensamentos me dava nos nervos, era só ter um momento de descuido que tudo vinha a tona.

— Entendo, mas nada disso seria necessário se eles não estiverem mais respirando — A imagem me fazendo ficar mais relaxado.

— Sem brincadeiras desse tipo, Jake — Ele me censurou, o que me fez sentir como um garotinho. Eu odiava essa sensação que só ele me proporcionava, como se ele fosse meu pai também. Imagino se isso se deve ao fato dele ser o alfa. — Desculpe, é que… Você sabe.

— Tudo bem… — Ele tinha toda razão, apesar de termos conseguido matar a última vampira da área, Paul poderia estar perdido para sempre. Estávamos tentando levar a vida normalmente de novo, mas eu acho que nunca mais ela será a mesma.

— Então, como está indo com a Bella? — Ele tentou mudar de assunto.

— Estamos cada vez melhor — Eu fiquei mais animado pelo assunto ter se voltado para ela, o que me fez sentir um pouco de vergonha.

— É ótimo que vocês estejam se dando tão bem. Mas... Você já contou para ela? Quer dizer, você sabe que ela não...

— Não vai acontecer — O cortei, ríspido.

— Você sabe que não funciona assim, não é como se você conseguisse controlar. — Ele suspirou pesado. Abriu uma caixa grande e colocou algumas roupas dentro. — A Bella é uma garota incrível.

— Eu sei — Fiquei irritado novamente, eu não precisava de um sermão agora.

— Eu só não quero que ela se machuque. E você sabe que ela vai — Ele terminou de arrumar as caixas. — Só não seja egoísta Jacob, pelo menos abra o jogo para ela. 

— Que nem você fez com a Leah? — A raiva tinha me dominado por completo. Ele deveria ser a última pessoa da terra a me aconselhar sobre machucar pessoas.

Mas Sam não comprou a briga, apenas me olhou decepcionado, me fazendo sentir uma criança de novo. Teria sido melhor levar um soco. Quando Sam saiu pela porta, o gosto amargo continuou comigo.

Eu também não queria machucá-la, então eu teria que achar um jeito de contornar essa situação. Eu sei que Bella é a pessoa ideal pra mim, eu só preciso fazer o Lobo aceitar isso também. Não há a mínima chance de eu deixar ele me separar dela, isso eu sei.

Enquanto eu terminava de arrumar a minha mochila, encontrei uma caixinha pequena, ao qual eu tinha me esquecido completamente da existência. Dentro dela estavam duas alianças. Eu apertei forte o pacote, pensando em alguns dias atrás, quando eu não tinha a certeza se poderia dar isso para ela. Foi então que eu senti, algo tão familiar e que por isso eu tinha enterrado tão fundo. Ele vinha explodindo pela minha garganta, lançando ondas de calor pelo meu corpo. Depois de tantos anos escondendo isso dentro de mim, eu estava com medo novamente. Medo de perder Bella. 

Mas dessa vez eu já sabia como lidar com ele, e não ficaria paralisado de novo. Eu lutaria para manter ela a salvo, e ninguém, nem mesmo o Lobo, ficaria no meu caminho.