Amanhecer: Novos Começos escrita por Sarah Lee


Capítulo 10
Extra: O conto da lua cheia


Notas iniciais do capítulo

Desculpa o pequeno atraso amores, mas minha internet resolveu morrer ontem e só ressuscitou hoje.
Então sem mais delongas, tomem esse extra lindíssimo que explica um pouco mais sobre o meu universo, e tenham uma boa leitura.
(Por coincidência batemos os 30 comentários ontem. Você quer sincronia?)



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(Esse conto acontece alguns dias após a Bella chegar de viagem da Flórida)

 

Eu acordei essa noite no mesmo horário de sempre. Eu já sabia que isso iria acontecer, mas me irrita do mesmo jeito. É como se ela me chamasse. Não há vozes, não há som, mas eu sei que ela está me chamando. Mesmo lá do alto, ela sussurra nos meus ouvidos. É urgente a voz da Lua.

Os outros não conseguem entender isso, mesmo se eu tentar mostrar, eles não conseguem ouvi-la. Então eles não tem como entender como eu me sinto. Todos menos Sam, é claro. Ele diz que isso é porque somos alfas, o que me deixa ainda mais nervoso. Eu não queria essa coisa dentro de mim, muito menos liderar um bando de outras feras desenfreadas. Mas mesmo quando abri a mão da posição para ele, ela continua me chamando.

Eu me viro para ignorá-la o quanto eu conseguir, mas eu sei que daqui a pouco a vontade de me transformar irá tomar conta. É noite de lua cheia, e ela aguarda a minha presença.

Bella suspirou baixinho do meu lado, ela deve estar tendo outro sono inquieto. Eu imagino se é por causa dele. Como um fantasma, o sanguessuga continua assombrando nossas vidas, grudado em sua mente, como uma ferida aberta. Se eu pudesse arrancaria o pescoço dele ainda agora, mesmo depois de tanto tempo. Se isso não fosse machucá-la, é claro. Talvez se eu esperar mais um pouco para fazer isso, Bella não se importe tanto. - Como se isso fosse realmente possível -.

Eu tenho que aprender a lidar com o fato de que, provavelmente, esses sentimentos por ele nunca desapareçam por completo. Talvez diminuam com o passar do tempo, mas ela nunca vai esquecê-lo completamente. Não se esquece um grande amor da sua vida.

— Maldito vampiro... — Eu cuspo as palavras sem pensar, e Bella se remexe do meu lado. Ver o jeito que isso ainda a afeta, me deixa um gosto amargo na boca. 

Eu com certeza não esqueceria ela. Mesmo se fosse forçado a me conectar com outra pessoa. O imprinting tem se mostrado mais como uma maldição do que uma benção dos lobisomens. Não funcionou com Sam, e provavelmente não funcionará para mim. Mas eu não consigo deixá-la, eu tenho certeza que devemos ficar juntos. Mas também não consigo evitar o pensamento de que ele teria mais essa vantagem sobre mim. Eu posso não ter a escolha de ficar ao seu lado, mas ele teria. E isso me deixa ainda mais furioso, logo aquele tipo de monstro, sem alma, tem mais uma coisa que eu não tenho. A oportunidade de passar o resto da vida com ela. 

Eu bufo e tento buscar outra coisa para me concentrar, eu quero atrasar a minha transformação o máximo possível, e ficar sentindo raiva não me ajuda nesse aspecto. Então eu a observo mais atentamente, e olhando assim, ela é tão pequena encostada em mim. E eu tenho mais uma vez a certeza que abriria mão do mundo por ela.

— Eu lutaria por você. — Sussurro em seus cabelos, o seu cheiro me inundando por completo. — Até que seu coração pare de bater. — Completo, sombrio.

Pensar nela partindo, logo agora que finalmente estamos juntos, me entristece. E Bella parece sentir a minha tristeza, pois se vira e se agarra no meu peito. E é como se tudo que eu já senti deixasse o meu ser, eu estou finalmente vazio de emoções. A não ser pela felicidade, e eu não consigo evitar de sorrir. - Talvez até depois disso -, completo em pensamento. É incrível como ela tem o poder de espantar a raiva, mesmo a de um lobisomem.

Não imagino como ele foi tão imbecil de abandoná-la, mas eu não desperdiçaria essa chance que ele deu. Eu tenho certeza que consigo fazê-la feliz. E não seria um monstro que entraria novamente no caminho da minha felicidade. Ou da dela. Eu passo a mão pelos seus braços e não consigo me lembrar quando tínhamos a mesma temperatura corporal. Agora, para mim, ela sempre está muito mais fria, é uma sensação esquisita contra a minha pele. Como se ele ainda tivesse as garras presas em volta dela.

De maneira automática eu a abraço mais forte, para tentar manter o frio dele longe.

O cheiro dela é viciante, e eu só volto à realidade quando minhas mãos começam a tremer levemente. Então eu sei que, para deixá-la segura, é melhor eu me retirar agora. Eu não pego a minha camisa antes de pular a janela, o frio da noite me incomoda um pouco, mas não consegue penetrar tão fundo no meu calor.

Corro a passos largos e, antes de entrar na floresta, eu pulo. Não é necessário, mas eu prefiro quando me transformo no ar. Minhas patas macias caem no chão sem fazer nenhum barulho, e eu balanço todo o meu pelo enquanto já estou correndo pela mata. Eu me sinto melhor quando estou assim, e odeio me sentir desse jeito. É como a sensação de um animal enjaulado por muito tempo quando finalmente se liberta. Eu sinto o cheiro da liberdade no meu focinho, misturado com a terra úmida e caça fresca. Não há nada que eu não possa fazer agora. Estou mais rápido, mais forte, as sensações mais vivas do que nunca. Deixo a minha visão melhorada observar cada canto da floresta escura por um tempo, vendo além do que eu jamais conseguiria ver como humano. Mas é a voz de Sam na minha cabeça que me traz de volta à realidade.

— Estamos esperando, venha. — Foi uma ordem, e como qualquer ordem que venha na forma desse timbre duplo estranho, eu sou incapaz de desobedecer.

Minhas garras entram mais fundo no chão da floresta, e a corrente no meu tornozelo tilinta levemente na noite. Pode parecer tolice, mas eu sinto que Bella está comigo também, e isso acaba melhorando muito o meu humor. Por que eu sempre me sinto mais eu mesmo quando ela está por perto, mesmo que agora eu não passe de um lobo.

Eu já tive essa conversa com os outros antes, de como seria se deixássemos o instinto puro tomar conta e, como nas lendas, nos tornássemos o animal. Se talvez a simplicidade de apenas fazer o que tivermos vontade, quando tivermos vontade, não nos fizesse esquecer do nosso lado humano. E agora, quanto mais tempo eu permaneço lobo, mais medo eu tenho de me esquecer de como ser humano.

Em questão de segundos eu chego ao local destinado, uma clareira escondida em uma parte distante da reserva. Sam já está lá, seu pelo negro se misturando na noite da floresta. Mas eu também consigo vê-lo perfeitamente. Principalmente seus grandes olhos amarelados, como se fosse a própria lua cheia me encarando.

Ele não precisa mais falar nada, eu apenas sento ao seu lado, um pouco atrás como sempre, e encaro a entrada na rocha à nossa frente. É uma fenda pequena, encoberta por troncos cheios de musgos e uma videira que cai como se fosse uma cortina. Eu sei o que tem lá dentro, é um altar, tão antigo quanto a nossa aldeia. Ele é cheio de escrituras e com uma estátua personificada da Lua. Os ritos que lá acontecem também não foram explicados, Emily não dá muitos detalhes. A fenda é tão pequena que eu dificilmente conseguiria entrar lá, mesmo em minha forma humana. Mas eu não seria permitido nesse lugar sagrado de qualquer maneira. Então eu apenas espero. 

Os passos acabam aumentando e eu e Sam ficamos a postos, o ar elétrico com a expectativa. Quando saem de lá, acompanhadas de uma luz fraca de vela, eu consigo ver finalmente Emily e Sue.

Emily parece diferente, mais madura nas suas vestes cerimoniais, agora definitivamente ela não é mais a Emily que eu conheço. Sue me vê e sorri para mim, o que me deixa constrangido. Eu não preciso de estar aqui, mas Emily e Sam insistem na minha presença toda maldita vez. Eles dizem que, como eu escuto o chamado de qualquer maneira, seria melhor estar presente do que talvez ficar vagando por aí. Nós não sabemos o que aconteceria, mas eles acreditam que é melhor não arriscar. Sue já me disse que eu provavelmente acabaria aqui de qualquer maneira, então não há muito o que discutir. Mas isso não diminui o meu desconforto. 

Sue era a antiga mensageira da tribo, e por algum motivo que eu não sei direito, ela passou a função para Emily, então ela vem sendo preparada nos últimos anos. O que é uma tarefa complicada, já que os ritos são complexos e exigem muito trabalho. Eu quase sinto pena por ela, mas acredito que seria fácil se livrar dessa função se ela quisesse. Como o alfa escolhido por Emily, Sam também tem um papel importante na cerimônia, por isso temos que estar sempre presentes.

Emily dá alguns passos em nossa direção, e Sam fica tenso ao meu lado. Eu também fico, já que o que vai acontecer agora me incomoda por sentir a dor dele. Ela se aproxima do lobo, e institivamente Sam abaixa a cabeça. Emily sorri e o afaga, terminando com um beijo leve em sua testa. Ela encosta a sua testa na dele, e quando ela levanta o olhar de novo, parece que seus olhos estão nublados. Não são mais pretos, e sim, um cinza espesso como metal pesado. Mas é a próxima parte que é realmente desagradável. Sam não resiste quando ela pega a sua grande pata com delicadeza, e cria um corte fundo com uma lâmina prata-azulada, fazendo o sangue grosso escorrer para um prato do mesmo material. Rapidamente a tigela fica cheia, e Sue corre para fazer um curativo na ferida. Eu não tenho certeza do que essa lâmina é feita, mas as feridas causadas por ela em nós demoram muito mais tempo para cicatrizarem. Sam estará com a mão cortada por pelo menos uma semana.

Emily então se retira novamente para dentro da caverna, e sinto o cheiro de fumaça e sangue impregnar o meu focinho. Agora a vela foi deixada de fora, mas eu tenho certeza que ela não precisa mais de luz para enxergar o caminho. As horas vão se passar lentamente, mas nós não deixamos nosso posto, meio de proteção, meio de aguardo. Sam lambe algumas vezes o curativo que agora já está encharcado de sangue, mas sabemos que ele não vai morrer por isso. E em algum momento tarde da noite, quando o som da floresta se cala por um segundo, é quando sai rasgando de nossas gargantas, o uivo do Lobo para a Lua. Como um chamado.

Quando eu acordo de manhã, de volta ao lado de Bella, eu penso se tudo não foi um sonho. Mas quando eu vejo a mão cortada de Sam tarde nesse dia, eu me lembro que, apesar de parecer surreal agora, como um pesadelo estranho e repetitivo, era tudo verdade. Nas noites de lua cheia, é quando o instinto toma conta de mim, e isso me assusta até o meu interior. Pois me lembra que eu estou mais para animal do que humano.


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Notas finais do capítulo

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