Para Antares escrita por Dreamy Impossible


Capítulo 1
A Atitude


Notas iniciais do capítulo

?–? Boa Leitura!



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Hanako-kun, Hanako-kun, onde você está?

 

 Palpitações aceleradas, rosto enrubescido, mente conturbada. Hanako encarava seu reflexo no espelho do banheiro masculino enquanto ouvia Yashiro chamando seu nome no corredor.

 Ainda podia sentir a raiva e o incômodo em seu peito ao lembrar da cena daquele garoto, Hyuuga Natsuhiko, beijando a bochecha de sua assistente no meio do pátio. Tinha vontade de empurrá-lo e esfaqueá-lo para longe dela, mas seria inútil, já que ele também era humano. 

 

 Humano

 

 Não tenho direito de se meter entre os humanos, foi o que tentou se convencer entre seus pensamentos conflitantes. E esmurrou a parede ao lado do espelho. 

 

 Não podia ver ela agora. Não naquele estado de instabilidade. Eu devia ver o Tsuchigomori-sensei, decidiu o fantasma. Respirou fundo e bateu as palmas em suas bochechas como em um ato de acordar. 

 

— Você está aqui?

 

 A porta do banheiro masculino é aberta e Yashiro Nene aparece. Banheiro completamente vazio. Frustrada, apenas fecha a porta e continua buscando pelo amigo sobrenatural. 

 

 Flutuando pelos corredores até a sala dos professores, Hanako observa as pessoas interagindo. Uns riem, outros discutem, muitos conversam e poucos estão isolados com seus próprios afazeres. Observar os alunos por anos sempre foi o seu passatempo mais divertido. Afinal, era normal um garoto se interessar por passatempos de pessoas de sua idade.

 Tsk, eu não tenho idade deles…. Estou morto a muito tempo, ironizou dentro de si e balançou a cabeça para afastar aquilo. Tinha problemas maiores para resolver do que a reflexão sobre a vida. Ou a morte. 

 

Vou te chamar de Hanako-kun, assim parece que somos amigos, certo?

 

Apenas lembrar dessa frase era como se pudesse sentir seu peito queimando de novo. Apertou o uniforme na altura do peito enquanto mais frases vinham em sua memória.

 

Porque eu gosto de você, Hanako-kun.

 

 Ele teve que parar e respirar fundo mais uma vez antes de entrar na sala. Precisava pôr a cabeça no lugar pra conseguir ter uma conversa satisfatória com o Senhor Aranha.

 

— Uh, honroso número sete, o que faz aqui?

 

O professor que bebericava uma xícara de chá questiona assim que vê o fantasma. 

 

— Sensei… como eu faço pra ver a Yashiro como apenas como uma humana? 

 

— ...Claro, claro. Vamos, sente-se.

 

[...]

 

— Hanako-kun!

 

 Nene continuava procurando pelo amigo fantasma. Pelo jeito, seria como aqueles dias de desencontros. Procurou em todos os lugares, até mesmo nos banheiros masculinos - sentiu o rosto arder em vergonha- e em salas de aula dos senpais e nada. Hanako estava agindo muito estranho. No dia anterior, passou a tarde quieto, de cara fechada, nem mesmo tentou zoá-la quando ela escorregou e caiu durante a limpeza dos banheiros.

 

 Ele está me escondendo alguma coisa...bem, não que eu saiba muito sobre ele... mas ele ta me escondendo mais uma coisa!

 

— Senpai! Aí está você.

 

— Kou-kun! O que está fazendo aqui?

 

O jovem exorcista chega sorrindo e carregando uma pilha de papéis nas mãos. 

 

— Meu irmão pediu pra levar esses papéis até a sala do Conselho Estudantil. Aparentemente ele está em reunião e não pode ir buscar.

 

— Minamoto-senpai? A..ah! quer que eu te ajude?! Eu posso levar pra você, sou bem forte e…

 

— Não se preocupe, Senpai! Dou conta sozinho!

 

Ela tenta insistir, mas após perceber que não conseguiria convencer Kou, suspira conformada. Não era hoje que ela daria um passo em seu romance idealizado com Minamoto-senpai. 

 

“Minamoto-senpai! Vim trazer os documentos que pediu.”

“ Ah, muito obrigado.” Ele se aproxima e coloca os papéis na mesa. “Mas Nene-chan... eu já disse que pode me chamar de Teru-kun quando estivermos sozinhos…”

 "Ai, M-minamoto-senpai, aqui na escola nã…"

 

— Senpai?

 

 Nene acorda de seu pequeno devaneio e encara seu Kouhai observando-a confuso. 

 

— Desculpa, o que disse?

 

— Perguntei o que estava fazendo aqui também.

 

— AH! - Ela uniu as mãos lembrando de seu propósito original.— Estou procurando Hanako, você ele viu por aí?

 

— Hm.. não, desculpe Yashiro-senpai. Mas assim que eu entregar os papéis, eu te ajudo a procurar!

 

Ambos sorriem e se despedem depois. E então, a garota meio peixe prossegue com sua busca ao tesouro. Minamoto-senpai quase a tirou de seu foco. O que farei agora? Talvez eu deva perguntar para algum dos mistérios… talvez a Fox-san possa saber de algo. Ela segue então para as escadas Misaki. Ela sentia uma pequena pontada de medo enquanto se perguntava o porquê de Hanako ter sumido do nada. 

 

[...]

 

— Hm, isso é bem interessante.

Hanako olhava para baixo enquanto o professor aranha apoiava o queixo em umas das mãos. O mistério número sete tinha acabado de contar suas confusões internas. 

 

— Sensei. Eu não sou mais humano. Esses sentimentos, esses impulsos… eu nunca me senti incomodado com relações humanas antes, sempre fui indiferente. Preciso resolver imediatamente isso...

 

— Hmmm.

 

O professor começa sorrir. Como professor e um dos mistérios da escola por anos, já tinha visto e ouvido muitos adolescentes e jovens com esse mesmo sentimento aflorado. Mas ouvir isso da boca de Amane era algo excepcional. Por muito tempo, tinha pensado que o garoto havia se tornado a um sobrenatural completamente indiferente e sem emoções. Mas estava errado. Os sentimentos dele, como amizade e o amor, permaneciam ali dentro. Prontos para serem cativados.



— Não vai me dizer nada, Tsuchigomori-sensei?

 

— Hm...você realmente não sabe nada da vida. 

 

 Hanako levanta o rosto contrariado. É claro que não sabia, ele havia morrido cedo e não conhecia a maior parte das coisas confusas. Sentiu-se idiota por tentar falar com o professor. Ainda mais depois de ouvir risada ácida daquela Aranha velha.

 

— Ai, ai. Jovens sempre são jovens no final de contas. Hanako, não acha que está com ciúmes?

 

— ….Por que eu teria ciúmes de humanos? Isso é irracional.

 

— Então porque está incomodado com outros caras se aproximando da sua Yashiro? 

 

— … Argh, ela não é minha Yashiro. Ela… é só minha assistente. Nosso laço é estritamente por causa da escama de sereia.

 

—  Talvez da parte dela sim, mas da sua, sabemos que é bem diferente. 

 

— Não me provoque, aranha-sensei, ou então...

 

— Yugi Amane, admita, você está apaixonado.

 

 Hanako permanecia com o olhar desviado e o rosto vermelho. Ele cerra o punho e fica em silêncio após ouvir aquelas palavras. Não queria pensar naquilo, não daquele jeito. Não era certo. 

 

— ... Yugi Amane está morto. E não tem como eu estar...apaixonado.

 

— Uh, sim, concordo sobre sua primeira afirmação - O professor coloca a xícara na mesa e se levanta indo até um dos livros. — Mas minha segunda afirmação é 100% verdadeira.

 

 Ele volta pra mesa e joga um livro na frente de Hanako. O garoto não olha para o livro, apenas se levanta e arruma o chapéu preto. 

 

— 100% ou não, isso não tem a menor importância. Eu sou um dos mistérios dessa escola e estou morto. Yashiro deve… deve seguir sua vida e sair dessa escola.

 

— Uh, tem toda razão…

 

[...]

— Ai, ai, ai minha cabeça!

 

Nene massageia a cabeça que, anteriormente na conversa com Fox-san, tinha sido mordida. Além da raposa não responder nenhuma pergunta, ainda ficou irritada pela presença de dela. Mais uma vez ela estava na estaca zero. E dessa forma, decide voltar ao banheiro feminino com esperança que o amigo estivesse lá. 

Ele está me evitando? Será que ficou com raiva de algo?

Era muito incômodo para ela não ver Hanako, principalmente quando ele estava agindo tão estranho. Tinha decidido bater nele caso continuasse escondendo as coisas.

— Olá, Yashiro.

Assim que abre a porta, ela dá de cara com Hanako. Fica paralisada por uns instantes, sem crer no que via. Não esperava que voltar no banheiro feminino daria realmente certo.

 

— Yashiro, saio por um tempinho e você foge do seu trabalho…

 

Ele é interrompido quando Nene agarra sua roupa e o coloca prensado na parede disparando:

 

— Onde você estava esse tempo todo?! Eu te procurei por todo lado, fiquei preocupada! Acha que ficar agindo estranho e depois sumir é uma boa forma de tratar sua assistente?!

 

— Ahn...ah… Yashiro…

 

— Hunf, e tem mais uma coisa! Eu já limpei esse banheiro. Eu cumpri com minhas obrigações, agora, você me deve explicações!

 

 Acuado na parede, Hanako pensava no que dizer enquanto encarava o rosto irritado de Yashiro. Ele tinha fugido, era fato, mas não pensou que ela ficaria tão irritada.

 

— Senpai! Encontrou ele?!

 

Kou abre a porta do banheiro feminino de supetão e vê a cena de Hanako na parede prensado por Yashiro irritada. 

 

— Oi, garoto. Estava me procurando também?

 

— Seu…! O que você fez com a Senpai dessa vez?!

 

E assim recomeçou a confusão e algazarra. Após apenas 10 minutos, os três finalmente pararam de discutir ofegantes. Hanako explica então que estava em uma reunião e se desculpou pela ausência. Levou alguns soquinhos no peitoral vindo de Yashiro, mas nada de mais. Graças ao horário, não tardou para Kou e Nene irem embora. 

 Ao sair do banheiro feminino, a menina encontra sua amiga de classe. 

 

— Eii, Nene-chaaan! ♥

 

— Aoi-chan! não sabia que ainda estava aqui.

 

— Hihi, estava ocupada com umas coisas do clube. Vamos embora juntas?

 

— Vamos sim!

 

[...]

 

— Uhn? Que carta é essa?

 

Nene tinha chegado em casa e ido direto para o banho. O dia tinha sido muito cansativo e estressante. Não conseguiu descobrir porquê Hanako estava tão distante, mas perguntaria para ele decentemente amanhã. Enquanto se trocava, observou que no bolso lateral de sua bolsa, havia uma cartinha. Secou suas escamas das mãos até elas sumirem e pegou a cartinha.

 

— ahh...AHH! EU NÃO ACREDITO!!

 

E começou a saltitar pelo quarto alegremente enquanto segurava a carta. 

 

[...]

 

 Hanako estava sentado no corrimão da escadaria principal, da escola, agora vazia. Balançava os pés e olhava para o teto distraído. Entre suspiros e pensamentos, o fantasma lembrava-se do final da conversa com o professor.

 

— Uh, tem toda razão… mas não significa que não deva fazer algo.

 

— O que quer dizer?

 

 Hanako volta a encarar o professor. Este, por sua vez, apenas aponta para o livro que outrora tinha jogado na mesa. Hanako volta até o livro e lê a capa : Os Melhores Modelos para Carta de Amor! 1° Edição. O garoto começa a folhear o livro e de fato, encontra vários modelos de cartinhas românticas. Desde as mais clássicas até as mais criativas. Ainda confuso, nota que nas últimas páginas, são folhas vazias com linhas. 

 

— Tsuchigomori-sensei, eu disse que não vou tentar.

 

— Não estou dizendo pra fazer algo.

 

 O bibliotecário se serve de outra xícara de chá e encara o ex aluno.

 

Escolha é sua, porém, tenho certeza que em breve sua impulsividade e esses sentimentos acumulados vão te pôr em apuros mais cedo ou mais tarde. Você precisa extravasar isso tudo. 

 

Ele cora e encolhe os ombros. Era uma dedução completamente plausível. 

 

— ...E..como isso pode me ajudar? - Questiona referindo-se ao livro.

 

— Ponha seus sentimentos nessa folha em branco e entregue. Tem alguns modelos ridículos pra te ajudar, mas talvez você não precise. Escreva e entregue sem assinatura. Você vai ter se declarado, ela vai receber em anonimato e a história morre por aí sem maiores problemas.

 

O sétimo mistério coloca a mão no peito. O professor tinha lhe dito para pôr tudo para fora, que assim seria mais fácil voltar agir normalmente, que a história morreria sem maiores problemas. Mas ele se sentia muito ansioso.

 

 — Que decadência… um sobrenatural que está ansioso para receber a resposta de sua declaração. Que sentimento terrível. Uma resposta que nunca vai chegar.

 

 Ele sai do corrimão e desce as escadas calmamente enquanto sorria. Yashiro receberia a carta, mas como não há remetente, ela simplesmente iria se gabar disso com as amigas e esquecer.

 

Pelo menos, era isso que Hanako-kun pensava.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Se possível, comente e/ou acompanhe o andamento dessa história ♥
Espero te tenha gostado e estou ansiosa para te encontrar no próximo capítulo.
Respeite a quarentena, fique em casa, beba água!

Até mais!



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