Capítulo 3 - Cinema

"Não há ninguém como você, você me leva ao limite.Eu sei que a vida seria um saco sem você." - Pink e Lily Allen (True Love).

A semana tinha sido caótica.

Ela teve de remarcar diversas reuniões, pois Kurenai estava indisposta para trabalhar no escritório por alguns dias e teve de aturar a fúria de todos os fornecedores contra ela, pela mudança de planos e pela irresponsabilidade em realizar tais mudanças na agenda em cima da hora.

Em alguns pontos, Sakura precisou defender a honra de sua chefe, conhecendo-a como conhecia, sabia que nada derrubaria a Workaholic Kurenai tão facilmente e teve certeza disso, quando recebeu a ligação de Asuma (o marido da chefe), avisando que ela estava de repouso por recomendações médicas.

— Por favor Sakura, não transfira nenhuma ligação para ela. – Ele havia recomendado em um tom de voz baixo. – Vou tentar controla-la por aqui, mas preciso da sua ajuda.

— Sim senhor. – A assistente concordou prontamente, correndo para a própria mesa a fim de cancelar todos os compromissos daquela semana.

Bom, nem todas as reuniões foram canceladas e por isso, a Haruno precisou assumir o lugar de

Kurenai, fazendo o máximo de anotações possíveis para repassar para a chefe quando ela retornasse.

Ela também precisou assinar uma pilha de relatórios e documentos, deixando separado apenas aqueles que precisavam da análise minuciosa de Kurenai em uma pasta azul dentro do escritório.

Ao começar a lembrar da rotina conturbada, ela respirou fundo, afundando-se ainda mais contra as almofadas do sofá cinza. A bolsa tinha sido largada sobre a mesinha de vidro sem o menor cuidado, as luzes estavam apagadas e a pouca iluminação que provinha da rua, era o suficiente para que ela não esbarrasse nos próprios móveis.

Tudo o que precisava era de um banho quente e incontáveis horas de sono.

O barulho da porta do apartamento sendo aberta, despertou Sakura de um cochilo que ela sequer havia percebido que caia. A princípio, ela estranhou, cogitando a possibilidade de que algum bandido estava invadindo sua casa naquele momento, mas o barulho de chaves caindo no chão seguido de um resmungo inconformado chamaram sua atenção.

Ela conhecia aquela voz.

E haviam apenas duas pessoas que tinham a cópia de sua casa e uma delas era Sasuke, que a essa altura do campeonato, estava em sua própria casa.

— O que você está fazendo aqui, Naruto? – Perguntou a mulher cobrindo os olhos com o braço direito, no momento em que as luzes foram acesas.

— Como pode ter tanta certeza de que sou eu?

Ele perguntou indignado, apoiando seu corpo contra o sofá.

— Primeiro que você é barulhento. - Sakura resmungou retirando o braço dos olhos a tempo de ver a careta desgostosa de Naruto. - E silêncio é uma característica fundamental para ser o Sasuke ou um ladrão. - Ela acrescentou em um tom maldoso, enquanto sentava-se no sofá.

Naruto permaneceu com a careta desgostosa até o momento em que se jogou na poltrona vaga.

O cabelo loiro estava despenteado como sempre e se Sakura não soubesse o quanto era impossível manter os fios no lugar, ela acharia que Naruto era apenas relaxado.

Os olhos azuis demonstravam uma falsa irritação e ela notou que ele havia tirado a jaqueta azul, jogando-a no espaço ao lado dela logo em seguida. 

— Quais são seus planos pra hoje? - Naruto perguntou apoiando os pés na mesinha de vidro, o gesto foi acompanhado pelo olhar afiado de Sakura.

— Tire os pés daí, Naruto. 

— Mas Sakura...

— Tire ou eu vou te colocar pra fora da minha casa. - A mulher de cabelos roseos ameaçou, sendo prontamente obedecida pelo loiro inconformado. - O que foi?

— Você está particularmente cruel hoje. – O loiro resmungou retirando os pés de cima da mesinha.

— Estou cansada. – Sakura murmurou fechando os olhos por um momento. – Tive uma semana terrível no trabalho, só quero me deitar e dormir.

Naruto escutou toda a reclamação de Sakura com paciência, soltando alguns comentários propícios em momentos oportunos. Como um bom amigo, o loiro em um momento ofereceu-se para fazer um chá para a amiga, recebendo um olhar agradecido dela como resposta.

— Vamos jantar fora. – Naruto decretou entregando a xícara quente para ela. – Eu, você e Sasuke, se ele quiser.

— Duvido que ele saia de casa hoje. – Sakura respondeu em um resmungo, logo após ingerir um pouco do chá que Naruto havia feito. – Sasuke foi massacrado durante todas as reuniões que participou hoje, ele estava tão destruído quanto eu.

— Melhor ainda. – Naruto falou com empolgação, fazendo com que Sakura desse um riso baixo. – Eu também tive um dia de cão, mas estou louco para ir ao cinema.

— A proposta não era só jantar?

— Ah, Sakura! – Ele retrucou frustrado. – Claro que nós não vamos só jantar.

A Haruno olhou para o amigo questionando-se mentalmente se ele possuía alguma bateria acoplada em suas costas. Não era possível que uma pessoa normal tivesse tanta empolgação depois de uma semana conturbada, mas ela conhecia Naruto bem o suficiente para saber que ele não desistiria tão fácil.

— Tem certeza disso?

— Tenho.

— Podemos pedir pizza e assistir filme aqui em casa.

— Não.

— Como você vai convencer o Sasuke a ir junto?

— Deixe isso comigo. – Naruto garantiu dando um sorriso, enquanto erguia o polegar apontando para si mesmo. – Esse é o meu jeito ninja de ser!

— Você anda assistindo aquele desenho de novo, Naruto? – Sakura perguntou em meio aos risos, erguendo-se do sofá. – Você é impossível. – Ela sacudiu a cabeça negativamente, entregando a xícara para ele. – Deixe a louça limpa, vou tomar banho. – Acrescentou seguindo em direção ao próprio quarto.

— Hei, eu sou visita aqui! – Naruto protestou em um falso tom indignado.

— Você tem as chaves da minha casa. – A Haruno gritou do quarto. – Devia ter vergonha na sua cara em dizer que é visita aqui.

A risada alta de Naruto foi a última coisa que Sakura ouviu antes de ir tomar banho.

X-X-X

— Ok, devíamos ter escolhido um filme de ação. – Naruto murmurou resignado, passando os braços sobre os ombros de Sakura enquanto eles saíam da sala do cinema.

A escolha do filme tinha sido feita às pressas, pois Naruto insistia a todo o custo que eles deviam comprar o combo de pipoca promocional da semana. Eram dois refrigerantes grandes, chips, um balde de pipoca tamanho supremo e alguns doces.

Acomodaram-se nas cadeiras do fundo e por muito pouco, Naruto não havia derrubado a bandeja que ele carregava em cima de um casal que não parava um minuto sequer em seus lugares.

No início do filme, ambos devoravam a pipoca e mantinham seus olhos fixos na tela, reagindo as cenas com pouco interesse. Em algum momento, Sakura deixou de comer, arregalando os olhos a medida em que as cenas passavam diante de seus olhos.

Era tudo tão triste.

Pouco tempo depois, Naruto também estava preso pela trama e logo depois disso, ambos os amigos choravam vidrados no filme que arrasava com seus pequenos corações. Sakura era mais discreta que o loiro, que murmurava a todo o momento que aquilo não podia acontecer.

— É, acho melhor mesmo. – Sakura concordou passando o braço pela cintura de Naruto. – Ou vamos ficar desidratados da próxima vez.

— Ainda bem que você estava aqui para me apoiar, Sakura-chan. – Naruto disse com satisfação. – Sasuke ia me zoar, no mínimo. – Ele acrescentou os guiando para a praça de alimentação.

— Falando em Sasuke, você mandou mensagem para ele?

Naruto parou de andar e sua expressão denunciou que ele havia esquecido do terceiro membro do time deles. Tateou os bolsos com a mão livre e puxou o celular, fazendo uma careta ao ver o horário.

— Nada no mundo tira o Sasuke de casa agora. – Sakura murmurou inclinando-se para poder ver o que Naruto tentava digitar no celular. – O que vai fazer?

— Existe uma coisa que vai fazer o Teme aparecer aqui rapidinho. – O loiro confidenciou em um tom de quem estava aprontando. – Sasuke, cara que bom que você me atendeu. – O tom urgente de Naruto havia feito com que Sakura o encarasse assustada. – Ah, não reclame pelo horário, eu sei que você não estava dormindo. – Ele reclamou revirando os orbes azulados. – Sakura-chan, é esse o problema. Ah, eu to falando sério. – Naruto afastou o braço dos ombros de Sakura e sorriu travesso. – Estamos no Plaza, acho que ela comeu alguma coisa estragada e tá passando muito mal.

— Não acredito no que você está fazendo. – Sakura falou em um múrmurio, tentando conter o riso. – Ele vai matar você, Naruto.

— Carro? Não, eu estou sem carro hoje. – Naruto respondeu abanando a mão para que a Haruno ficasse quieta. – Viemos de táxi, mas não tem nenhum por aqui, acho que vai demorar muito. – Ele continuou ainda indicando que Sakura devia ficar quieta. – Consegue trazer dinheiro? Ah Sasuke, nós vamos esperar a Sakura fazer uma lavagem estomacal, vai demorar muito e nós vamos ficar com fome!

Sakura encarava o amigo com perplexidade. Ela sabia que Naruto era insistente e que tinha feito aulas de teatro quando criança para aprender a expressar-se melhor durante as apresentações, mas agora tinha de acrescentar mentiroso a lista de adjetivos do amigo.

— Sasuke chegará em quinze minutos. – Naruto anunciou com um sorriso satisfeito, enfiando o celular no bolso da calça. – Tenho certeza de que ele vai tomar uma ou duas multas no caminho, mas faz parte. – Ergueu os ombros com descaso.

— Você sabe que ele vai te matar, não é?

— A gente pode tomar sorvete enquanto isso, não é? – O loiro ignorou a fala da amiga, puxando-a pelo braço em direção à um quiosque de sorvete. – Teme não fará nada comigo, aquele cara me ama.

— Vou pensar em um discurso bonito para o seu funeral. – Sakura avisou e como resposta, Naruto deu uma de suas gargalhadas altas. – Quero um de chocolate. – Ela apontou para a casquinha de sorvete que uma garota tomava e Naruto, prontamente fez o pedido para a atendente.

Os dois caminharam pelo shopping, sentando em bancos próximos da entrada, onde Naruto havia dito para Sasuke que aguardaria com uma Sakura – quase inconsciente, de tamanha dor que ela estava sentindo.

— Acho que vou precisar de um terno novo. – O loiro murmurou olhando para uma das vitrines. – O que você acha?

— Acho que aquele terno preto vai ficar lindo em você. – Sakura falou apontando para o terno que Naruto estava observando. – Mas por que um terno novo?

— Um homem precisa de muitos ternos, Sakura-chan. – Ele falou com falsa seriedade e Sakura ignorou o fato de que ele estava a chamando como os personagens do tal anime que ele assistia costumavam se chamar. – É uma peça essencial no guarda roupa.

— Você odeia ternos.

— Isso é verdade.

— Então? – A Haruno arqueou as sobrancelhas, mordendo a casquinha do sorvete enquanto aguardava que Naruto prosseguisse. – Por que vai comprar um terno novo?

— A festa do colégio. – Naruto resmungou e Sakura riu do embaraço dele. – Acho que um terno preto fica muito mais bonito do que aquele azul marinho que eu tenho.

— Você é uma graça, Naruto. – A amiga elogiou e ele desviou os olhos com vergonha. – Se Hinata não se apaixonar por você, faço questão de leva-la em um oftalmo.

A risada de Naruto foi interrompida no momento em que ele viu o amigo atravessando a entrada do shopping com velocidade. No mesmo instante, o Uzumaki cutucou Sakura, que revezou seu olhar entre os amigos, temendo pelo momento em que Sasuke percebesse a grande mentira que Naruto tinha contado.

— Você vai morrer. – Ela cantarolou, jogando a casquinha de sorvete no lixo.

— Ao menos finja que está mal até ele chegar aqui. – Naruto ralhou.

O cabelo de Sasuke estava revolto como nunca antes, exatamente como ficava quando ele lavava e deixava que os fios secassem naturalmente. Os olhos negros demonstravam preocupação, bem como seus passos apressados na direção dos dois amigos que permaneciam sentados como duas estátuas.

Quem fosse mais atento, conseguia notar os detalhes que deixavam claro o quão apressado Sasuke havia saído de casa. A camisa xadrez azul estava abotoada errada, as meias estavam visíveis e não faziam par – sendo uma delas preta e a outra cinza.

Enquanto se aproximava, a expressão preocupada de Sasuke transformou-se em confusa, logo sendo substituída por uma de raiva.

— Ele parece um anjo da morte. – Naruto murmurou com calma, sendo apoiado por Sakura. – Quando você acha que vai ser a hora certa de correr?

— Devia ter ido há três segundos. – Ela falou vendo que Sasuke estava muito perto deles agora. Tinha certeza de que ele não estava correndo para não chamar atenção. – Olá Sasuke! – Acenou para o moreno.

— O que é isso no seu rosto? – Ele parou em frente aos amigos, olhando fixamente para uma mancha marrom que estava na bochecha de Sakura. – Bem aqui. – Ele indicou no próprio rosto e revirou os olhos ao saber que era sorvete. – Que merda de ideia foi essa? – Sasuke rosnou virando para Naruto, que tinha um sorriso amarelo nos lábios.

— Por que você acha que a ideia foi minha?

— Porque a ideia foi sua! – Sasuke e Sakura responderam em uníssono. Naruto se sentiu traído, mas tentou disfarçar a emoção a todo custo. – Eu vou te mandar pro hospital, Naruto. – Sasuke deu um passo na direção do loiro, mas Sakura ergueu-se nesse momento, colocando as mãos nos ombros do moreno.

Sasuke olhou para as mãos da Haruno com irritação e o gesto fez com que ela o soltasse, dando um sorriso nervoso. Talvez ela devesse correr. Não havia esperanças para Naruto, mas ela poderia se safar se tivesse sorte.

— Naruto queria que nós tivéssemos uma noite juntos. – Ela falou, omitindo todas as outras coisas que eles tinham feito antes que Sasuke chegasse.

— Vamos ficar juntos no leito de morte dele.

— Que coisa mórbida, Teme! – Naruto reclamou ainda sentado. – Podemos ir jantar e pedir kookaburra wings*. – Sugeriu com empolgação, ignorando os olhares irritados do Uchiha.

— Com pimenta e molho extra. – Sasuke falou com seriedade, o urro de comemoração que Naruto proferiu fez com que ele revirasse os olhos. – Você vai pagar. – Avisou ele apontando para o loiro.

— Eu não gosto de pimenta. – Sakura protestou ao notar que os amigos haviam começado a caminhar sem esperar por ela. – Hei, vocês dois! Eu não gosto de pimenta!

— Eu não gosto de sair de casa correndo. – Sasuke falou no momento em que ela os alcançou. – Mas estou aqui, não é?

Sakura cruzou os braços e revirou os olhos, acompanhando a discussão dos dois amigos sobre o que deviam pedir para comer. Apesar da falsa irritação, ela não podia discordar de que aquela era o tipo de noite que ela gostava de ter.

— Por que está sorrindo? – Sasuke questionou repentinamente, atraindo a atenção dos olhos verdes para si. Naruto estava mais a frente, falando com um atendente que verificava a disponibilidade das mesas. – Hein?

— Estou feliz por estar aqui com dois homens bonitos. – Sakura replicou com brincadeira e Sasuke estreitou os olhos para o comentário que ela havia feito. – E que eu amo também.

— Tsc, eu sou muito mais bonito.

— Não com essas roupas. – O comentário afiado de Sakura, fez com que o sorriso convencido de Sasuke se transformasse em uma careta de irritação.