O Legado escrita por KayallaCullen, Miss Clarke


Capítulo 74
Cíntia


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindo a mais um capitulo de O Legado part. 2, que promete fortes emoções e aos leitores fantasmas, apareçam pois adoraria saber o que estão achando da fic.
Sem mais delongas, fiquem com o capitulo de hoje.
E lembrem-se: Fiquem em casa, lavem as mãos frequentemente, bebam água e mantenham pensamentos positivos.
Beijos e boa leitura.

Música do capitulo: https://www.youtube.com/watch?v=-uyXLU_MfyM&fbclid=IwAR12VBkKuaQGOKUNnpafdM-FIXoTBlssdeTuju7_dn-iq8mLzB8xRUpHkIk



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—Você não quer uma carona até a recepção? - Ethan questionou enquanto estávamos parados na porta da igreja após a saída dos noivos.

—Obrigado, mas não precisa Ethan...Vou com a Luiza. - disse assim que vi a jovem que trabalhava no setor de cópias da empresa, uma das poucas que não me julgava por causa do boato que Douglas espalhou, de longe e acenei para ela que retribui meu gesto.

—Tem certeza, Cíntia? - Ethan questionou me olhando nos olhos e fique tentada em aceitar o seu convite, mas neguei. Afinal, precisava ficar o mais longe possível dele, pois só assim conseguiria sufocar as sensações estranhas que ele despertava em mim.

—Tenho, não se preocupe. Nos vemos na recepção. - disse me despedindo dele antes de caminhar apressada em direção a Luiza lhe pedindo uma carona em seguida, uma gentileza que a mesma não negou.

Assim que chegamos à recepção fomos em direção ao quadro que estava na entrada, o qual possuía o mapa de lugares dos convidados, respirei aliviada ao ver que o erro de ontem à noite não havia se repetido hoje, pois ainda continuava na mesa de Luiza local  que Mel e eu havíamos escolhidos meses atrás, durante a organização do jantar e da recepção do casamento.

Quando os noivos chegaram à recepção foram aplaudidos de pé pelos convidados, que ansiosos formaram uma fila para lhes desejarem felicidades, por esse momento tão importante e único na vida dos recém-casados. Assim que chegou a minha vez, abracei meus amigos lhes desejando toda a felicidade do mundo naquela nova etapa de suas vidas.

—Obrigada Cíntia, não só pelas felicitações, mas por ter me ajudado a organizar tudo isso em tão pouco tempo, se não fosse a sua ajuda não teria conseguido. - Mel disse agradecida assim que nos separamos e sorri sem graça.

—Não precisa agradecer, Mel, você é a minha melhor amiga e fiz tudo de coração.

—Minha esposa tem razão, Cíntia. Obrigado por tudo, só esperamos poder retribuir tudo que fez por nós. - Benjamin disse suave abraçando a esposa pela cintura.

—Não precisam. Além do mais, você já fez muito por mim, depois que me indicou para ser a secretária da sua irmã. - disse agradecida e ele sorriu, assegurando que aquilo não havia sido nada, pois havia merecido tal cargo.

Conversei mais um pouco com meus amigos antes de nos despedirmos, permitindo que os outros convidados também parabenizassem o casal pelo enlace.

Esperei Luiza parabenizar os noivos antes de irmos em direção a nossa mesa, onde encontramos outros funcionários com quem almoçávamos todos os dias no Conglomerado.

Depois que o jantar foi servido e estávamos na sobremesa, a cerimonialista foi até o palco e agradeceu a presença de todos antes de informar que algumas pessoas iriam dizer algumas palavras aos noivos, uma surpresa que havíamos planejado para Mel.

Em seguida os pais de Melissa subiram até o palco para fazerem seu discurso, representando a família da noiva.

—Minha querida filha, desejo toda a felicidade do mundo para essa sua nova vida, ao lado do homem que escolheu. Que o amor e companheirismo, estejam sempre presentes no relacionamento de vocês. Viva aos noivos. - a mãe de Mel desejou sorrindo emocionada para a filha que agradeceu entre lágrimas antes de Will, pai de Melissa, tomar a palavra.

—Benjamin e Melissa, desejo toda felicidade do mundo aos dois. Que sempre se amem e se respeitem a cima de tudo, que possam construir uma família maravilhosa e feliz. Um brinde aos noivos. - Will desejou levantado a taça que possuía nas mãos em um brinde e todos os convidados repetiram o gesto, antes dos pais do noivo subiram até o palco.

—Mel, minha querida filha, seja bem-vinda a nossa família. Com você, Benjamin se tornou completo e feliz e você idem, desejo que sejam plenamente felizes e que possam ter uma vida longa, repleta de amor, companheirismo, sabedoria e felicidade. Um brinde aos noivos. - o doutor Thompson disse ao microfone levantando um brinde ao lado da esposa, enquanto olhava para a mesa em que seu filho e a nora estavam sentados visivelmente emocionados, antes dele entregar o microfone para a mãe de Benjamin.

—A partir de hoje, Benjamin e Melissa, vocês se tornaram um só e como tal, seguirão até o último dia de suas vidas, da qual desejo que seja longa e cheia de felicidade. Jamais se esqueçam que um precisa do outro, pois só assim conseguirão ser felizes porque o amor não sobrevive ao individualismo, ele precisa de companheirismo e confiança, para continuar existindo. Um brinde, aos mais novos senhor e senhora Thompson. -Leah brindou feliz os noivos antes de todos aplaudiram seu discurso, em seguida foi a vez de Benjamin subir ao palco.

—Em meu nome e no da minha esposa, gostaríamos de agradecer a todos por nos prestigiarem no dia mais importante de nossas vidas. - Benjamin disse sorrindo agradecido aos convidados antes de olhar para sua esposa, sentada em uma mesa que estava em frente ao palco. - Mel, obrigado por tudo que fez por mim. Obrigado por me amar e me aceitar. Obrigado por ficar ao meu lado, por me proteger quando mais precisei. Obrigado por me escolher, por me permitir ser o seu marido e o pai dos seus filhos. Melissa Thompson, prometo que a amarei mais do que tudo nesse mundo, que serei o melhor marido e pai que existi, que sempre estarei ao seu lado  protegendo-a e sendo o seu porto seguro, nas horas difíceis e me alegrarei, a cada conquista sua. Eu te amo, meu anjo.

Assim que Benjamin terminou seu discurso todos bateram palmas, enquanto ele ia até sua esposa oferecendo sua mão direita a ela que aceitou, antes de conduzi-la até a pista de dança para terem a sua primeira dança como marido e mulher.

—O amor deles é tão lindo e forte...Queria poder ter a chance de experimentar algo assim.- Luiza disse emocionada sentada ao meu lado e Felipe, que trabalhava no setor de RH e sempre teve uma quedinha por ela, se debruçou sobre a mesa para poder olhar em seus olhos.

 -Quem sabe a sua chance, não está na sua frente, Luiza? Você só precisa dar uma chance. - ele disse suave olhando nos olhos de Luiza que corou em resposta, fazendo todos da mesa sorrirem animados com a possibilidade de estarem presenciando o surgimento de um novo casal.

Depois que os noivos terminaram sua dança, a cerimonialista convidou todos para a pista de dança, que logo estava cheia de pessoas dançando animadas. Meus companheiros de mesa até tentaram me arrastar para a pista, mas neguei dando a desculpa de que meus pés estavam doendo por causa dos saltos.

Sorri feliz ao ver que todos estavam se divertido, principalmente meus amigos que estavam radiantes de tanta felicidade, o que me deu a certeza de que os dois iriam ser felizes.

—Bolo? - ouvi a voz de Ethan questionar e virei para o lado, vendo-o com um prato de bolo em uma mão e dois grafos na outra.

—Porque não, adoro doces. - disse sorrindo e indicando que ele se sentasse ao meu lado, algo que ele fez rapidamente, como se estivesse com medo de que desistisse de tê-lo convidado para se sentar, antes de me entregar um dos garfos que estavam em sua mão.

—Hum, esse bolo está uma delícia. - disse depois que saboreie a minha primeira garfada do bolo de casamento que Ethan havia trago.

—Cíntia, posso lhe fazer uma pergunta? - Ethan questionou sério enquanto olhava nos meus olhos e concordei antes de comer outro pedaço. - Percebi que você parece não ficar à vontade na minha presença, por acaso fiz ou disse algo, que a deixou desconfortável? Por favor, seja sincera comigo.

Saber que Ethan se culpava por meu desconforto, fez com que me sentisse horrível, afinal, ele não tinha culpa de despertar sensações desconhecidas em mim. Mesmo que todos falassem sobre o quanto ele era galinha, o mesmo jamais me desrespeitou, o que me fez lembrar de minutos antes de nos conhecermos, quando prometi a mim mesma que lhe daria um voto de confiança e comprimiria a minha palavra, apesar de tudo que ele despertava em mim.

—Claro que não, Ethan, nas poucas horas em que nos conhecemos você jamais me deixou desconfortável. Porque está me perguntando isso? - questionei confusa e ele suspirou suave, como se estivesse organizando os pensamentos antes de falar, enquanto deixava o garfo de lado para lhe dar atenção.

—Porque parece que você está me evitando, desde que nos conhecemos. - ele apontou e sorri negando com a cabeça.

—Na verdade não estou lhe evitando desde que nos conhecemos, foi você que saiu correndo quando fomos apresentados, podia muito bem ficar ofendida com essa sua atitude. - brinquei e ele sorriu lindamente antes de voltar a comer outro pedaço de bolo.

—Você tem razão, me perdoe por ter saído daquele jeito grosseiro, mas tive que resolver uma emergência. - ele disse sem graça antes de passar a mão no cabelo escuro.

—Não se preocupe, não fiquei chateada com a sua saída rápida depois que fomos apresentados.

—Que bom, isso me deixa menos culpado. - ele disse suave antes de rimos.

 Como a risada de Ethan era linda e contagiante, sendo impossível alguém não sorrir com ele.

—Se você pretende comer o bolo que trouxe, acho melhor se apressar, se não vou acabar comendo tudo.

—Não mesmo, Cíntia. Nem que tenha que lutar pelo último pedaço. - ele brincou e sorrimos enquanto ele pegava seu grafo e tirava um pedaço do bolo, levando-o até a boca antes de gemer satisfeito.

Deus, deveria ser proibido um homem daqueles de gemer dessa forma, enquanto comia um pedaço de bolo. Ver uma cena dessas, era praticamente um atentado a sanidade mental de qualquer mulher.

—Você tem razão, esse bolo está delicia. - Ethan disse e concordei com a cabeça sem tirar os olhos dele, mas minha atenção foi desviada quando percebi que alguns funcionários do Conglomerado que estavam sentados em frente a nossa mesa, não tiravam os olhos de onde estávamos enquanto conversavam entre si.

Ótimo, agora iriam espalhar pelos corredores que estava tentando dar o golpe do baú, no último Thompson solteiro.

—Não ligue para o que eles dizem, são apenas pessoas infelizes que se satisfazem fazendo fofoca da vida dos outros. - Ethan disse encarando de forma severa nossos telespectadores, que logo desviaram os olhos de nós.

E suas palavras me deixaram preocupada, pois era a segunda vez que ele dava a entender que sabia sobre o boato que me envolvia. Resignada e triste, por ele provavelmente estar pensando o pior de mim, respirei fundo sabendo que devia deixar tudo às claras, evitando futuramente qualquer desconforto ou mal-entendido entre nós.

—Ethan, não sei o que andou ouvido pelos corredores do Conglomerado, mas não sou esse tipo de companhia que está procurando...Não serei uma aventura para mais ninguém. - disse séria e ele desviou os olhos da mesa a nossa frente para me ver, demonstrando estar surpreso e ofendido por minhas palavras.

—Espera, está sugerindo...Deus...Eu jamais me aproximaria de você ou de qualquer outra mulher, com intenções tão sórdidas, Cíntia. - Ethan disse ofendido e me senti horrível por tê-lo julgado com base em boatos, da mesma forma que os outros estavam fazendo comigo.

—Me perdoe, não quis ofendê-lo... Só que depois do que Douglas espalhou pela empresa, as pessoas acham que sou uma qualquer...Por favor, me perdoe. - implorei entre lágrimas enquanto olhava em seus olhos e Ethan colocou sua mão em cima da minha, sem desviar os olhos dos meus.

—Eu entendo, Cíntia e não precisa me pedir perdão. É natural pensar isso, depois do que passou ou do que provavelmente ouviu ao meu respeito, mas quero que saiba, que nada do que estão dizendo por aí é verdade, são apenas boatos maldosos. Acredita em mim? - Ethan questionou e olhei no fundo dos seus olhos escuros, vendo a verdade neles.

— Eu acredito, Ethan, sinto muito que esteja passando por isso. - disse me lembrando de como estava sendo difícil para mim.

—Está tudo bem, não fico chateado com o que as pessoas comentam. Elas são livres para pensarem e falarem o que quiseram, desde que essa liberdade não prejudique ninguém. O que anda acontecendo conosco, mas falei com meu pai e minha irmã e eles estão investigando, para saber quem começou esses boatos. Assim que encontrarem os culpados, eles serem responsabilizados tanto internamente quanto legalmente. - Ethan explicou e segurei a respiração preocupada com o rumo dessa investigação, com medo que descobrissem tudo e Douglas usasse a sua influência no banco da sua família, para tomar a pensão da minha avó.

Sem ter o que dizer apenas concordei com a cabeça, antes de tomar um pouco da minha taça de champanhe que estava na minha frente, tentando sufocar as minhas preocupações.

—Está tudo bem, Cíntia? Você ficou pálida de repente.

—Estou bem. - assegurei antes de desviar a minha atenção para os noivos, que ainda dançavam felizes na pista de dança. -O Ben e a Mel estão realmente felizes juntos.

—Sim, eles se amam de verdade. Estou feliz por meu irmão e pela minha cunhada, mas vou sentir falta do Ben. Nunca nos separamos...E agora, meu irmão vai morar em outro país. - Ethan disse triste enquanto olhava para o irmão, automaticamente me lembrei de quando Susan casou e me senti da mesma forma que ele estava se sentindo agora.

Enquanto olhava para Ethan, que demonstrava estar perdido ao saber que não teria mais o irmão por perto, decidi que deveria ajuda-lo a passar por esse momento de separação, mesmo que ele despertasse reações desconhecidas em mim.

Nesse momento tudo que ele precisava era de um amigo, para ajudá-lo a passar por toda essa mudança, e nada melhor do que alguém que já havia passado pelo mesmo.

—Deus, você deve me achar um egoísta por ter dito isso. - ele disse envergonhado por suas palavras interrompendo meus pensamentos.

—Claro que não, Ethan, isso é normal. Vocês cresceram juntos e são muito unidos, sentir falta dele não o faz ser egoísta, faz de você humano. - disse compreensiva olhando em seus olhos escuros. - Sabe o que acho, Ethan? Que você está precisando de um amigo, para lhe ajudar a passar por esse momento de separação fraternal.

—E você seria essa amiga? - ele questionou com os olhos brilhando de esperança, como duas estrelas em uma noite escuro.

—Porque não?! Isso se não se importar em ser amigo de uma destruidora de lares, segundo os corredores do Conglomerado. -disse sarcástica e ele me olhou sério, se aproximando mais de mim, como se estivesse prestes a me contar um segredo e segurei a respiração diante da sua proximidade.

—Por favor, Cíntia, jamais se refira a si mesma dessa forma. Você é uma pessoa maravilhosa, gentil e doce, que teve a infelicidade de um idiota egoísta cruzar o seu caminho. -ele disse doce sem tirar os olhos dos meus segurando as minhas mãos nas suas. -Prometo a você, que as pessoas saberão toda a verdade e que todas as lágrimas que derramou, por causa desse idiota ou pelo boato maldoso que espalharam, serão transformadas em momentos de felicidade.

—Obrigada, Ethan e desejo que o mesmo aconteça para você. - disse sorrindo gentil e emocionada para ele, que retribui meu gesto com um sorriso doce.

—Não precisa agradecer, Cíntia, só estou sendo sincero. Além do mais, será uma honra tê-la como amiga.

—Que isso, também não é pra tanto. - disse sem graça e ele sorriu discordando.

—É sim, apenas não seja modéstia. Meu irmão, sempre falou bem de você e a Mel, nem se fala...Minha cunhada te ama, por isso me sinto um felizardo por você querer ser a minha amiga.

—Eles que são gentis, mas que tal se começássemos a nossa amizade da maneira correta? - questionei e Ethan concordou sorrindo e lhe ofereci minha mão direita para que ele a apertasse. - Sou Cíntia Lopes e é um prazer conhecê-lo.

—O prazer é meu Cíntia, sou Ethan Thompson e estou encantado em conhecê-la. - ele disse sorrindo enquanto segurava minha mão e sorri em resposta.

Logo começamos a conversar sobre vários assuntos, surpresos percebemos que tínhamos muito em comum, como por exemplo, falávamos português de maneira fluente, sabíamos dançar samba e pagode, mas a maior coincidência de todas foi saber que havíamos nascido no mesmo mês, sendo Ethan um dia e um ano mais velho do que eu.

—É muita coincidência, você ter nascido no dia dezoito de abril e eu dia dezenove. - disse ainda chocada por essa revelação e ele concordou sorrindo.

—Nada na vida acontece por acaso, Cíntia. Tudo tem um proposito. - ele disse sério sem desviar dos meus olhos e concordei, pois estava começando a acreditar nisso. - E a propósito, feliz aniversário atrasado.

—Obrigada, feliz aniversário atrasado para você também. Sabe faz anos que não danço. - disse me lembrando que parei de dançar depois que comecei a namorar com Douglas, pois ele não gostava, foi quando percebi o quanto havia me anulando por alguém que nunca valeu a pena.

—Se quiser posso te levar para dançar no Brasileiro, como uma espécie de comemoração atrasada do nosso aniversário. - ele ofereceu e fiquei surpresa por ouvir o nome do local que frequentava com a minha irmã quando éramos adolescentes.

—O Brasileiro ainda existe? Achei que tivesse fechado as portas. - questionei surpresa, pois havia ouvido falar que o local havia falido.

—O Brasileiro quase fechou, mas o dono me conhecia desde a adolescência por frequentar o lugar, quando lhe fiz a proposta ele aceitou sem ao menos hesitar. Passamos um ano fechado em reforma, antes de abrimos ano passado, aos poucos o lugar está voltando a gloria do passado.

—Não acredito, que você é dono do Brasileiro...E ainda frequentou o lugar na adolescência...Aquele lugar era praticamente a minha segunda casa quando adolescente, eu e minha irmã vivíamos lá...Como é que nunca nos esbaramos por lá? - questionei confusa mergulhado no passado e ele suspirou resignado.

—Talvez, não fosse o nosso momento ainda, Cíntia. -ele disse suave me olhando nos olhos ainda segurando minhas mãos na suas, algo que não me incomodava, apesar dos leves arrepios que meu corpo sentia por causa daquele contato. -E então, podemos marcar um dia para comemorarmos o nosso aniversário atrasado, no Brasileiro?

—Porque não. Iria adorar rever o Brasileiro novamente. - disse me lembrando de todos os momentos em que passei naquele local. -Mas como vamos marcar algo, se não tenho o seu número?

—Não seja por isso...Você está com seu telefone? - Ethan questionou e concordei antes soltar suas mãos, sentindo uma sensação esquisita ao fazê-lo.

Respirei fundo espantando essa sensação, antes de tirar o meu telefone da bolsa, desbloqueá-lo e entrega-lo a ele para que salvasse seu número, em seguida Ethan me entregou o seu para que fizesse o mesmo.

—Você pode ligar ou mandar mensagem, sempre que quiser. - disse devolvendo o seu celular depois que salvei meu número na sua agenda.

—Tem certeza? Porque sou extremamente carente e adoro conversar, mando mensagens e ligo todos os dias para as pessoas que amo. A prova disso é que meus parentes, estão quase me expulsando do grupo da família no aplicativo de mensagens. -Ethan brincou e começamos a rir.

Era engraçado como no início tinha receio de me aproximar dele, por causa das sensações desconhecidas que despertava em mim, mas ali sentada ao seu lado sorrindo e me divertido como nunca enquanto jogávamos conversa fora tudo aquilo havia passado, ficando apenas em seu lugar a vontade de conhecê-lo ainda mais, pois senti que poderíamos ser grandes amigos, afinal, possuíamos tantas coisas em comum.

—Não se preocupe, acho que posso lidar com um amigo extremamente carente e conversador, em troca prometo enchê-lo de mensagens e ligações todos os dias. -disse sorrindo e os olhos de Ethan brilharam após ter ouvido o que disse.

—Sim, por favor. - ele pediu ansioso e sorri da sua animação, ao saber que receberia uma ligação ou mensagem minha. -Se não atender na hora, é porque estou de plantão no hospital, mas prometo que retornarei assim que estiver no horário de descanso.

—Está tudo bem, Ethan. Não precisa se preocupar em me retornar com urgência, sei que você é ocupado demais. - disse me lembrando que ele não era só responsável pela administração da sede do hospital, mas de todas as filiais espalhadas pelo mundo.

—Não pra você...Sempre que precisar, pode contar comigo. - ele jurou olhando nos meus olhos.

—É bom saber. - brinquei e logo uma música suave e lenta começou a tocar, atraindo alguns casais para a pista.

—Você quer dançar? - Ethan questionou de repente e fiquei surpresa com o seu convite.

—Acho melhor não. - disse nervosa, fazia anos que não dançava e tinha medo de cometer alguma gafe na frente de tantas pessoas ou pior, acabar pisando o pé do meu recém conquistado amigo.

—Que isso, Cíntia, você mesma me disse que faz anos que não dança. Prometo, que não irei pisar no seu pé. - ele prometeu me olhando com seus olhos escuros suplicantes, sendo praticamente impossível lhe dizer não. -Por favor, dança comigo.

—Tudo bem, mas não me responsabilizo se no final você sair com o pé machucado.

—Não me importo com isso. - ele disse sorrindo enquanto me oferecia a sua mão direita da qual aceitei, antes de levantarmos e seguirmos em direção a pista de dança.

Fiquei nervosa por perceber que todos voltaram sua atenção para nós, o que me fez querer desistir da ideia de querer dançar, mas como se adivinhasse o rumo dos meus pensamentos Ethan sorriu de maneira tranquilizadora para mim.

—Não se preocupe com eles, se concentre apenas em mim...Não existi ninguém além de nós dois aqui. Pode fazer isso por mim, Ci? - ele questionou enquanto estávamos parados frente a frente na pista de dança.

—Eu posso. - assegurei e ele sorriu feliz por minha resposta, antes de entrelaçar a sua mão direita a minha e colocar sua mão esquerda no meio das minhas costas, em seguida começamos a dançar de forma lenta pela pista sem desviar os olhos do outro.

Estar nos braços de Ethan, sentir o seu calor e o seu perfume de madeira e hortelã, me proporcionou a melhor sensação da vida, como se tivesse encontrado o meu lugar no mundo.

O local pelo qual tanto procurei durante anos, deixando de acreditar que o mesmo pudesse existir, mas estava enganada.

Meu lugar no mundo existia, mesmo que fosse nos braços de alguém que nunca imaginei, e ele era muito melhor do que um dia imaginei o que me deixou fascinada.

Pela primeira vez na vida, não me importei com os comentários maldosos ou os olhares recriminadores das pessoas, só me importei em aproveitar aquele momento ao lado do meu mais novo melhor amigo.

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Depois que os noivos foram embora para a lua de mel, comecei a me despedir dos meus amigos que ficaram surpresos por não ficar mais na festa, mas expliquei que estava cansada e queria ver como minha avó estava, mesmo Susan me atualizando sobre o seu estado por mensagem de meia em meia hora.

Foi quando Ethan se ofereceu para me deixar em casa e ainda examinar a minha avó, me deixando extremamente agradecida, pois sabia que mesmo minha irmã insistindo para que nosso avó fosse para o hospital ela se negaria, já que a mesma tinha horror a qualquer coisa relacionada ao local, depois que passou meses internada se recuperando do transplante de coração.

—Obrigada, Ethan, ultimamente você está se tornando meu anjo da guarda. - disse agradecida depois que descemos do carro na calçada oposta à pensão, já que a calçada da frente estava cheia de carros, em seguida Ethan foi até o porta malas e tirou uma maleta preta de lá.

—Não precisa agradecer Cíntia, ainda bem que meu pai sempre deixa a maleta dele no porta malas do carro. Não se preocupe, posso não conhecer o histórico da sua avó, mas vou examiná-la minunciosamente, se perceber qualquer coisa diferente entrarei pessoalmente em contato com o cardiologista dela. - ele me assegurou e sorri agradecida por sua preocupação para com a minha avó, alguém que ele nem conhecia.

Enquanto caminhávamos em direção a pensão, Ethan me questionou sobre o histórico médico da minha avó e lhe expliquei tirando a minha chave de dentro da bolsa que usava, abrindo a porta e convidando-o para entrar.

—Vó? Su? Cheguei. -chamei por elas assim que entrei em casa acompanhada de Ethan e me ofereci para guardar o seu casaco, no armário que havia ali no hall de entrada.

—Estamos na sala, Cíntia Aurora. -ouvi minha avó dizer da sala e Ethan sorriu pra mim, me deixando confusa.

—Aurora? - ele questionou sorrindo e corei sem graça.

—É o meu segundo nome, o recebi em homenagem a uma deusa romana, mas isso é uma longa história e não quero ocupa-lo a noite toda. - disse suave indicando que fossemos para a sala.

—Tudo bem, mas algum dia vou ouvir a história toda? -ele questionou curioso e dei de ombros.

—Quem sabe. - disse e ele concordou enquanto seguíamos em direção a sala, assim que vi o homem de cabelos pretos e olhos castanhos cor de chocolate, sentado ao lado da minha avó no sofá da sala, meu coração acelerou enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas diante da emoção.

Não podia ser verdade.

Ele não poderia estar aqui.

Isso era um sonho ou melhor uma alucinação vinda direto do passado, resultada da falta que sentia dele.

—Cintia...- ele disse feliz ao me ver enquanto se levantava do sofá.

Sem me importar com as pessoas ao redor ou se estava tendo uma alucinação, simplesmente corri em sua direção antes de ser abraçada por ele, da mesma forma que antes.

Automaticamente fechei meus olhos, me perdendo no cheiro da sua loção pós barba, sendo transportada para a minha adolescência, mas especificamente para os vários momentos em que vivemos juntos.

Deus, não podia acreditar que Pedro estava aqui.

Mesmo após o nosso termino, quando Pedro foi morar com o pai nos Estados Unidos para fazer faculdade de jornalismo, ainda nós falávamos regularmente nos transformando em grandes amigos. Desesperada, depois de ter descoberto toda a mentira de Douglas e ser chantageada pelo mesmo, liguei desesperada para Pedro em busca dos seus conselhos e palavras de conforto, mas tudo que recebi foi o silêncio o que me deixou sentida, acho que meu amigo havia me esquecido.

—Não acredito que você está aqui. - sussurrei entre lágrimas ainda abraçada a ele, que se afastou de leve para enxugar as minhas lágrimas com a ponta dos seus dedos. -Isso só pode ser um sonho.

—Não, Ci, isso é real... Estou aqui com você. Fiquei preocupado quando ouvi a sua mensagem, após chegar em casa depois de uma viagem de trabalho, não pensei em mais nada simplesmente peguei outro taxi e voltei para o aeroporto, pegando o primeiro voo para Londres. - ele explicou suave olhando nos meus olhos. - Me desculpe não ter respondido suas mensagens, mas estava fora do país cobrindo uma notícia e o sinal de celular era péssimo... Você está bem?

—Sim. - disse olhando em seus olhos deixando claro que conversaríamos depois, quando não tivesse tantas pessoas ao nosso redor e ele balançou a cabeça concordando, o que me fez sorrir por ainda conseguirmos nos comunicar pelo olhar. -Deus, não acredito que você está aqui... Achei que não quisesse mais ser o meu amigo, depois que passou meses sem me responder.

—Isso jamais aconteceria, Ci. Temos um passado lindo juntos além de uma amizade incrível, mesmo que a distância...Não importa o que aconteça, jamais vamos nos separar. - Pedro jurou sem desviar os olhos dos meus e senti que suas palavras e seus olhos, dizem muito mais do que ele estava dando a entender.

Fazendo todo aquele sentimento da adolescência que senti por ele, acelerar o meu coração, me deixando confusa.

Afinal, Pedro era apenas o meu amigo...Ou será que ele não era só isso?


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