Bella adormeceu em meus braços enquanto ainda chorava. A ajeitei na cama, sentindo que seu corpo ainda tremia e seu sono não era tranquilo. Me sentei ao seu lado, acariciando seu cabelo e limpando seu rosto das lágrimas.

Sua história era surpreendente, de tirar o folego. Mas como eu poderia julga-la? Bella nunca teve ninguém, teve que se virar sozinha desde sempre. Eu nunca entenderia sua dor ou sua necessidade, sempre fui privilegiado tendo pais presentes e de boas condições. E mais do que isso, nunca teria a força que Bella teve para enfrentar as dificuldades.

A única coisa que eu sei, é que Bella merece o melhor de agora em diante. Deixar essa vida para trás e entender que seu futuro será completamente diferente, eu me certificarei disso.

De alguma forma, sou grato a Carlisle por tê-la encontrado e a tirado da vida que levava. Ele viu nela o mesmo que eu vi, provavelmente. A sombra escura em uma garota que tinha toda uma vida pela frente.

Oh, Bella! Seu olhar triste e sem esperanças quando me contou a verdade, como se eu fosse julga-la e xinga-la de todos os nomes possíveis. Quantas rejeições essa garota não sofreu por sempre esperar o pior?

A observei dormir, fazendo caricias em seu cabelo, e sussurrando palavras doces toda vez que ela parecia incomodada no sono, como se estivesse tendo algum pesadelo.

Algum tempo depois, a porta abriu. Era Carlisle entrando.

— Edward – Ele me encarou com os olhos arregalados. Papai também esperava uma reação negativa de mim? – Como ela está?

— Dormindo, acho que está tendo pesadelos – Murmurei, preocupado com seu estado.

Carlisle assentiu e se aproximou, a examinando novamente. Mediu sua temperatura e franziu o cenho. Me aproximei, olhando para o termômetro e percebendo que a temperatura corporal de Bella estava muito mais alta do que deveria.

— Ela está com febre ­– Constatei – Por que? Você disse que ela estava bem.

— Ela está bem – Ele bufou, irritado, mas não comigo – Acho que foi emoção demais para ela, seu corpo está frágil. Vou prescrever uma medicação.

Assenti, mordendo minha unha do polegar, nervoso. Os espasmos de Bella não eram apenas pesadelos, ela estava doente e eu não havia notado.

— Edward, podemos conversar?

Encarei Bella na cama, não queria deixa-la, mas acompanhei Carlisle para fora do quarto quando ele me certificou que logo uma enfermeira viria dar uma olhada nela.

Fomos até a lanchonete do hospital, onde ele pediu dois sanduiches naturais, mesmo que eu não estivesse com fome, e cafés.

Ficamos em silêncio por um tempo, sem realmente saber o que dizer um para o outro. Até que eu resolvi quebrar o silêncio.

— Bella me contou... tudo – Cocei meu queixo, sentindo que a barba começava a crescer.

Carlisle assentiu, se ajeitando na cadeira. Mordeu um pedaço do sanduiche, claramente não sentindo muita vontade por ele.

— E o que você acha de tudo isso?

— Bella teve uma vida muito difícil, mais do que eu jamais imaginaria – Suspirei – Pai, eu nunca poderia julga-la, eu só... porra, a vida que ela levava era tão cruel.

— Sim, era, filho. Bella despertou algo em mim, a vontade de cuidar de alguém, coisa que eu não tinha mais desde... Bree – Ele engoliu em seco – Achei que sua irmã tivesse levado tudo de bom de mim com ela, mas Bella me mostrou que ainda há muito aqui – Ele tocou o próprio coração – Não pude deixa-la a própria sorte. Bella é só uma garota, Edward... eu não pude.

— Eu sei, pai – Sorri, bebendo meu café – Acho que eu consigo entender o que você sentiu quando a conheceu.

Carlisle me encarou, o que parecia ser a primeira vez aquela noite, e ergueu uma sobrancelha para mim, sorrindo faceiro.

— Acho que o que você está sentindo é algo completamente diferente, filho – Deu tapinhas em minhas costas e riu.

— Pai... – O chamei, encarando meu copo descartável de café, o girando em minhas mãos. Senti os olhos de Carlisle sobre mim, mas não o olhei – Acho que... estou apaixonado por Bella.

Silêncio. Nenhum sermão ou palavras sábias vindas de meu pai. Ergui meu rosto, encontrando seu olhar compreensível e amoroso.

— Eu sei, Edward. Acho que eu soube que vocês dois estavam destinados no momento em que os apresentei. Mas você tem que entender algo, filho, Bella não é como qualquer garota que você já tenha namorado. Ela tem um passado conturbado, e traumas que lhe tiram o sono. Muitas vezes Esme e eu acordamos com seu choro no meio da noite, mas ela não gosta de falar sobre isso. Se escolher ficar com ela, Edward, tem que aceitar e saber lidar com sua bagagem com sabedoria.

Assenti, não sabendo até onde iam as magoas de Bella, mas eu estava disposto a fazê-la esquecer de tudo aquilo, e iniciar uma nova vida. Uma vida sem tristeza, sem dor... para nós dois.

— Obrigado, pai, por me apoiar – Eu sorri, me sentindo feliz como a anos não sentia.

— Sempre, meu filho. Conte comigo e com sua mãe.

— Você acha que... ela vai gostar de saber sobre isso?

— Esme gosta da Bella. No inicio foi difícil, mas elas acabaram se entendendo com o tempo. Esme sabe que Bella é uma boa garota, então vai ficar tudo bem. Se resolva com ela primeiro, depois pensamos em sua mãe.

Assenti, concordando que aquela era a melhor armação.

Carlisle me obrigou a ir para casa e tomar um banho, dizendo que ele mesmo ficaria com Bella. Entrei no quarto apenas para me despedir, mas a encontrei ainda dormindo, parecendo ter um sono mais tranquilo do que antes.

Me aproximei da cama, e beijei sua testa, acariciando seus cabelos, sentindo a maciez dos fios. Tão linda. Como era possível existir uma beleza tão genuína como a dela?

— Ed... ward? – Ela me encarava com olhos sonolentos, sua mão chegou até a minha com dificuldade e ela a apertou, fechando os olhos momentaneamente.

— Irei para casa um pouco, mas amanhã estarei de volta para estar com você – Sussurrei, vendo seus olhos castanhos novamente – Estou com você, Bella, para sempre.

Ela sorriu. Um sorriso fraco e cansado. Acariciei seu rosto, vendo-a fechar os olhos novamente e cair no sono. O aperto em minha mão afrouxou e eu a ajeitei. Olhei-a mais uma vez antes de sair do quarto, sentindo como se meu coração houvesse ficado lá.

Me despedi de Carlisle e fui para casa. O apartamento parecia vazio demais, causando-me estranheza. Bufei. O apartamento sempre foi vazio, Edward. A diferente era que duas noites atrás Bella estava ali, me fazendo companhia e me mostrando outro lado dela.

Sentei-me no sofá pensando que, de alguma forma, eu poderia ter impedido aquele acidente estupido. Não sei o que eu faria se algo grave tivesse acontecido com Bella... mesmo pensar na possibilidade era cruel demais.

Afastei esses pensamentos, logo Bella sairia do hospital e tudo ficaria bem.

Eu estava disposto a não perder tempo algum. A vida me ensinou que não há hora certa para nada e nem tempo ideal, as oportunidades você mesmo cria e lida com os acontecimentos de acordo com sua maturidade.

Eu não me arrependeria de mais nada, principalmente envolvendo Bella!