— Por que aquele maluco tá olhando para cá? – Jacob perguntou ao meu lado, não parecendo muito feliz.

Suspirei, sabendo que amanhã haveriam inúmeras fofocas com o meu nome. Comecei a andar em direção a Edward, mas percebi que Jacob não saia do meu lado.

— Caralho, Black, me larga! Eu tenho cara de grude, por acaso? – Ele se afastou alguns centímetros e chutei sua bunda, assim como eu estava querendo.

— Ai, Swan! – Ele fez um bico fofo.

Fofo? Fofo, Isabella? Não tenho culpa, Jacob parecia aqueles filhotes carentes, estava começando a crescer em mim.

— Pra você aprender a parar de ser trouxa, babaca – Resmunguei e o deixei sozinho, correndo até Edward – Oi!

— Quem é esse garoto? – Ele tirou os óculos, olhando raivosamente na direção de Jacob.

— Jacob? – Franzi o cenho – Ninguém – Dei de ombros, pronta para entrar no carro e ir embora, mas Edward me impediu.

— Ele está te incomodando? Quer que eu cuide dele?

— E você vai fazer o que, gênio? Bater nele? Tenho que te lembrar que você é um adulto, advogado, com uma reputação a zelar, e Jacob é só um adolescente que consome muitos esteroides? – É incrível que eu esteja sendo a sensata aqui – Não gaste seu réu primário com ele.

— Ele consome esteroides? – Edward parecia chocado, pelo menos não estava mais com o olhar assassino.

— Sei lá. Mas que cara de dezessete anos é tão bombado assim? – Ponderei. Essa é uma questão que realmente está na minha cabeça.

Edward não parecia muito feliz quando deixou a pose de macho alfa e entrou no carro. Talvez ele tenha tido uma péssima manhã no trabalho, felizmente a minha foi muito boa.

— Aconteceu alguma coisa no trabalho? – Perguntei após colocar o cinto.

— Não – Respondeu seco. Eu ein, cara estranho. Virei a cara, chateada por seu mal humor – Como foi na escola hoje? – Perguntou depois de alguns minutos, parecia incomodado com o silêncio que ele mesmo causou.

— Muito divertido, talvez eu entre para o time de lideres de torcida – Sorri largo, lembrando-me da expressão azeda de Jessica.

— Líder de torcida? – Edward me olhou por alguns segundos com uma expressão estranha. Não parecia ter gostado da noticia – Você vai ter tempo para isso? Achei que fosse trabalhar com a minha mãe.

— Claro, eu sou uma ótima dançarina – Dei de ombros. Conseguiria alcançar as meninas mesmo ensaiando apenas uma vez por semana – Tenho que conversar com Esme sobre isso, combinamos que eu iria trabalhar na empresa dela, mas ela não comentou nada mais.

— Ela deve estar muito ocupada. Mas ainda acho que você não deveria entrar no time, além do trabalho você tem que se esforçar para tirar notas boas.

O encarei com o cenho franzido.

— Você acha que eu não sou capaz de conciliar essas coisas? – Ergui uma sobrancelha. Não queria admitir, mas saber que Edward não tinha confiança em mim, me magoava um pouco.

Porra, Isabella, desde quando você precisa da aprovação de alguém? Edward pode ser o papa, eu não me importo. Durante toda minha vida, eu mesma tomei minhas próprias decisões, sozinha e sem interferência de ninguém, não é agora que isso mudaria.

— Não estou dizendo isso – Ele balançou a cabeça – Só não quero que você se perca em um amontoado de coisas.

— Não se preocupe, não vou me perder.

Terminamos o assunto. O único som vinha da música de rock que tocava baixinho. Aumentei o volume, percebendo que estava começando a gostar desse estilo de música.

Ele parou o carro em frente a casa do Cullen. Tirei o cinto e agarrei minha mochila, mas antes que eu saísse, Edward me chamou. Voltei e o encarei, esperando que ele dissesse algo.

— Não fique com raiva de mim, eu não disse aquilo por mal.

— Eu sei, mas você tem que entender que eu tomo minhas próprias decisões e sei o que é melhor para mim.

— Bella, você tem dezessete anos – Seu tom me desdenhou. O encarei friamente.

— Eu tive que crescer muito cedo, Edward, pode ter certeza que eu não sou como nenhuma adolescente de dezessete anos que você conheceu – O deixei para trás e entrei na casa.

Meu coração estava acelerado e com um peso estranho. Acho que brigar com Edward não me fazia bem. Tentei afastar esse pensamento da minha mente, afinal Edward é só mais uma pessoa que entrou na minha vida recentemente.

Sentei-me em minha cama, jogando a mochila e os tênis longe.

Às vezes eu sentia como se outra Isabella tivesse me possuído. Fazia apenas alguns dias que eu havia deixado New Orleans, mas tanta coisa havia acontecido, que era até difícil acreditar.

Não me entenda mal, eu sei ser grata e reconhecer que tirei a sorte grande. Mas quanto vale essa sorte? Minha personalidade? Meus princípios?

Rá. Eu quis rir. Que princípios uma garota de programa tem? Tive que joga-los na lama para conseguir entregar meu corpo em troca de dinheiro. Cada noite e madrugada no bar, eu esperava que outra personalidade me possuísse. Uma personalidade que era capaz de vestir uma roupa minúscula e rebolar no colo de homens.

Quis chorar, de repente. Essas memórias me atormentam, sempre fizeram, mas agora que conheço outra realidade, sinto que a vida foi injusta comigo.

Parei de questionar o motivo de ter sido abandonada quando ainda era muito nova, mas agora, pensando bem, não posso entender meus pais, principalmente depois de presenciar o amor da família Cullen.

Carlisle e Esme nunca abandonariam filho algum, independente do motivo. Então como meus pais puderam? Decidi que eu não os perdoaria, nunca, nem se me dessem um motivo muito bom. Eu fui largada a minha própria sorte, tive que fazer escolhas difíceis que doeriam em mim pelo resto da minha vida.

Eu não me culparia por isso, e sim a quem me abandonou sem pensar no meu futuro.

Quero um dia encontrar meu pai ou minha mãe e saber o motivo, e deixa-los carregar essa culpa. Quero dividir o fardo, e quero ver a dor deles.

Por mais terrível que isso pareça!