A semana se passou lentamente. Carlisle se virou em mil para conseguir dar conta de seu trabalho e ao mesmo me ajudar com o assunto da escola. Por ser menor de idade, eu não podia fazer muito, e me sentia levemente culpada em deixar tudo em suas mãos, mas ele não reclamou nenhuma vez. 

Até que meu primeiro dia de aula chegou. Eu tremia levemente quando me olhei no espelho. Meus cabelos estavam presos em um coque alto, e usava calça jeans, tênis e uma regata. Simples. Queria passar despercebida, mas eu tinha consciência de que independente da roupa que eu usasse, isso seria bem impossível. 

No meio da semana, eu havia ido com Carlisle conhecer a escola. Incrivelmente, ele conhecia todos os professores e o diretor, mas então me lembrei que seus filhos haviam estudado lá também. Todos pareceram me olharem diferente quando Carlisle disse que eu estava sob o cuidado da família Cullen, foi aí que comecei a perceber que esse sobrenome não era qualquer um na cidade. 

— Bella? Está pronta? – Esme apareceu na porta, parecia apressada.  

Assenti, sentindo um bolo na garganta que me impediu de responder em palavras. Fazia muito tempo que eu não interagia com pessoas da minha idade, e adolescentes podiam ser mais cruéis do que um senhor velho e barrigudo doido por sexo. 

Esme aparentemente estava atrasada para o trabalho. Quando chegamos na cozinha, ela se apressou para engolir uma xícara de café preto. Eu não tive escolha se não fazer o mesmo, mesmo que estivesse morrendo de fome. 

— Droga, estou atrasada – Ela bateu no volante quando deixamos a garagem. Me encolhi. A culpa era minha? – Vou conversar com Carlisle, esse arranjo de eu te deixar na escola não vai dar certo. Suas aulas poderiam começar mais cedo, certo? – Ela sorriu, como se estivesse fazendo uma piada, mas eu ainda me sentia intimidada por Esme. 

Dez minutos depois em uma velocidade elevada, chegamos no colégio. O número de pessoas indo e vindo era incontável, me senti enjoada mesmo que não tivesse comido nada. 

— Vai dar tudo certo, querida – Esme sorriu e apertou minha mão em cima da coxa – Agora, poderia sair, por favor? Eu estou realmente muito atrasada – Seu tom não foi ofensivo, pelo contrário, ela parecia culpada por me deixar ir dessa forma. 

— Tudo bem, obrigada. 

Saí do carro, e antes que eu ajeitasse na mochila nos ombros, ela arrancou o veículo dali. Todos pareceram saber que eu cheguei, senti olhares curiosos em mim, minhas mãos soaram instantaneamente. Eu me sentia uma covarde. 

Isabella, você já foi mais corajosa para lidar com pessoas. Carlisle e sua família perfeitinha estava me transformando em uma molenga. 

Respirei fundo, e decidi ignorar todos. Ergui a cabeça e segui para a secretaria, que felizmente eu já conhecia o caminho por ter conhecido a escola antes. Seria desconfortável pedir informação para alguém. 

— Bom dia, eu gostaria dos meus horários – Eu disse para a jovem secretária ruiva. Ela não parecia muito interessada no trabalha e lixava as unhas despreocupadamente. Pigarrei, achando que ela não tinha me ouvido – Me chamo Isabella Swan e preciso dos... 

— Swan? – Ela levantou o olhar – Você é a garota dos Cullen? 

— Garota dos Cullen – Franzi o cenho. Que tipo de fofoca absurda estava correndo naquela escola?  

— Só um instante. 

Ela me ignorou completamente, novamente. Minutos depois voltou com uma caderneta e dois papeis, um era o mapa da escola, e o outro meus horários da semana. Esperava decorar logo isso. 

— Você precisa trazer a assinatura de todos os professores até o fim das aulas, e aqui está o mapa, para que não se perca. 

Assenti, não querendo trocar mais nenhuma palavra com ela. Guardei tudo na bolsa após me certificar de qual era a primeira aula e na onde ela ficava. 

O colégio era enorme e separado por três prédios que se ligavam por corredores abertos com uma pequena cobertura. Minha primeira aula era no prédio A, próximo a secretaria, o que foi ótimo. Rapidamente achei a sala. O professor de biologia era um senhor baixinho e magro, era careca e usava óculos redondos presos por uma cordinha. 

— Bom dia, eu sou a aluna nova, Isabella Swan – Me apresentei, e entreguei a caderneta para ele. O professor pegou e aproximou muito o papel do rosto, como se não enxergasse. 

— Ah, Isabella. Seja bem-vinda. Pode sentar-se ali. 

Ele assinou e me entregou novamente. Agradeci mentalmente por ele não ter feite eu me apresentar em frente a sala inteira. Tomei seu conselho e me sentei ao lado de um garoto tão branco que era levemente vermelho, ele era loiro e não parava de me encarar. 

— Tem algo na minha cara? – Perguntei, incomodada com seu olhar.  

— N- não! – Ele ficou ainda mais vermelho, se é que isso é possível. Balançou a cabeça e sorriu tímido – Prazer, eu sou Mike Newton. 

— Isabella Swan – Sorri, por mais que fosse forçado. Mike era engraçado. Ele claramente me achava bonita e não sabia como agir, como qualquer adolescente com os hormônios a flor da pele. 

O professor começou a dar sua aula e eu me concentrei, resolvendo ignorar as olhadas nadas discretas de Mike e de outras pessoas na sala. 

As próximas quatro aulas passaram-se rapidamente. Meu momento de terror foi quando o professor de inglês fez eu me apresentar. Coloquei minha melhor expressão, e tentei me lembrar de todas as vezes em que eu dancei seminua na frente de muitos homens e não fui afetada por isso. 

No intervalo, peguei minha bandeja de comida e olhei ao redor, escolhendo algum lugar vazio para me sentar, mas Mike ergueu a mão e me chamava escandalosamente, me convidando para sentar com seus amigos. Não tive escolha, e aceitei, querendo evitar mais olhares curiosos. 

— Pessoal, essa é Isabella Swan – Ele me apresentou, tocando em meus ombros como se fossemos próximos. Me afastei, e sentei-me ao lado de uma garota asiática que eu lembrava ter tido alguma aula com ela. 

— É um prazer – Eu disse, tentando um sorriso convincente.  

— Bella, essa é Angela, Jessica, Eric, e Tyler – Mike os apresentou um por um, percebi então que estava na mesa dos populares. Os garotos usavam as jaquetas do time de futebol da escola, e as garotas os uniformes de lideres de torcida. O restante deles estavam em outra mesa mais afastados, mas olhavam em nossa direção. 

Angela era a garota que eu já havia visto, ela parecia legal, mas era tão introvertida quanto eu, então não conversamos. Eric era animado e falava sobre a partida que iriam ter daqui a alguns dias, Mike comentava com a mesma empolgação, e as vezes olhava para mim, como se certificasse que eu estava prestando atenção nele. Mas minha atenção estava completamente voltada para o sanduiche de presunto em minhas mãos. 

— Então, Isabella — Jessica sorriu abertamente, aproximando a cadeira da minha. Ela era muito bonita, magra com longos cabelos castanhos enrolados, quase loiros – Ouvi dizer que você está morando com os Cullen. Eles são bem famosos aqui na cidade. Onde você morava antes? 

Senti meus músculos tencionarem. Eu sabia que essa pergunta chegaria, mas não que seria tão cedo. Me sentia desconfortável, além do mais, Jessica não era confiável, ela claramente estava atrás de alguma fofoca. Resolvi dar uma meia verdade. 

— Em New Orleans, o Dr. Cullen apenas me acolheu como um favor – Dei de ombros, como se não fosse nada demais. 

Jessica sorriu forçadamente, e se afastou novamente, provavelmente frustrada por não ter conseguido muita informação. 

— Não ligue para ela – Angela disse ao meu lado. Ela estava atenta a um livro grosso, por um momento pensei que ela não combinava em nada com esse negocio de líder de torcida, invés disso, ela parecia mais alguém que se encarregaria do jornal da escola – Jessica pode ser... intrometida as vezes, mas ela é legal. 

— Tudo bem – Dei de ombros – O que está lendo? 

— Morro dos ventos uivantes – Angela ergueu o livro para me mostrar a capa – Já leu? 

— Não, mas parece interessante – Eu já ouvi falar dele muitas vezes na minha antiga escola, apesar de não ser um livro muito popular entre adolescentes. Infelizmente, eu nunca tive muito tempo livre para me dedicar a leitura. 

— Eu posso te emprestar, se você quiser – Angela sorriu. Percebi que eu já gostava dela, ela parecia muito sincera e doce.  

— Obrigada. 

O intervalo acabou rápido demais e logo fui para minha próxima aula. Fiquei esperançosa de ver Angela, mas ela não estava ali. Sentei-me no único lugar vago e esperei a aula começar. 

Um garoto moreno e forte se sentou ao meu lado. Ele parecia ter um olhar divertido sobre mim que começava a me incomodar. Aproveitei que o professor não havia chegado ainda e me virei para ele. 

— Perdeu alguma coisa em mim? – Perguntei irritada. Aquela atenção exagerada de todo mundo estava me dando nos nervos, o olhar desse cara apenas foi a ponta do iceberg. 

Diferente do que eu pensei, ele riu. Ele riu. Nossa, senti que minha moral havia realmente se acabado. 

— Eu sou Jacob Black, prazer – Ele ergueu a mão. A encarei, e bufei, ignorando-o completamente – Ok, me desculpe. Eu não ri por mal, mas é que ouvi sobre você a manhã inteira, eu não esperava que você fosse tão... 

O encarei novamente, e ergui uma sobrancelha, o desafiando a continuar sua frase. 

— Que merda machista você iria dizer? – Perguntei. 

— Me desculpe – Ele deu de ombros. Percebi que ele também vestia a jaqueta do time de futebol, o que fazia muito sentido. Ele era forte e alto, diferente de Mike – Podemos começar de novo? 

— Depende muito – Sorri, achando divertido discutir com ele. Pelo menos alguma emoção neste dia chato. 

— Olha, eu conheço muita gente, posso ser um amigo muito útil para você. 

— E quando que conhecer muitas pessoas é útil? Aparentemente, todo mundo aqui quer me conhecer também. 

— Você argumenta muito bem – Jacob bateu palmas teatralmente. Ele tinha um jeito engraçado e debochado. 

Nossa conversa foi interrompida pelo professor, que mais uma vez fez eu me apresentar, mesmo que todos já soubessem quem eu era. O professor anunciou um trabalho em dupla, e antes que eu pudesse negar, Jacob se auto intitulou minha dupla. Eu me sentia completamente derrotada. 

— Então, parceira, quando iremos nos encontrar para fazer esse trabalho? – Jacob perguntou ao fim da aula, ele parecia realmente interessado nisso.  

Ponderei. Esme não havia me dito nada ainda sobre o trabalho de meio período que eu faria em sua empresa, mas provavelmente eu começaria semana que vem. 

— Tem que ser essa semana, estou livre de tarde – Respondi enquanto caminhávamos para a próxima aula, que descobri que faríamos juntos também. 

— Perfeito! Então me passa seu número para podermos falar melhor. 

Mesmo não querendo, acabei anotando seu número em meu celular. Ele parecia que havia acabado de vencer alguma guerra. Entrou na sala com um sorriso radiante que eu escolhi ignorar.  

Nessa aula, para minha felicidade, Angela também estava. Ela acenou timidamente e me convidou para sentar com ela. Jacob pareceu incomodado, mas não disse nada. A presença pacífica de Angela me agradava muito mais do que Jacob. O professor também foi muito gentil ao simplesmente assinar minha caderneta e mandar-me de volta para meu lugar. 

No fim do dia escolar, levei as assinaturas de volta para a secretaria. Diferente da manhã, a moça ruiva foi muito prestativa e sorridente. O nome Cullen havia chegado até ela, provavelmente. Revirei os olhos para suas intenções óbvios e saí. 

Quando cheguei no estacionamento quase vazio de alunos e carros, a realidade caiu sobre mim. Esme não havia comentado nada sobre me buscar no colégio, ela provavelmente estaria muito ocupada no trabalho, assim como Carlisle. Nem mesmo o endereço da casa eu possuía, e tenho certeza que o pouco dinheiro em minha bolsa não é suficiente para uma corrida de uber. 

Olhei a lista de contatos em meu celular. O nome de Edward piscou para mim em neon. Eu poderia chamar ele? Provavelmente, ele está muito ocupado nesse momento com seu trabalho de advogado. Mas e se ele possuir uma folga? Ele mesmo disse que não havia muitos casos para ele cuidar. Claro que, para pedir sua ajuda, eu teria que engolir meu orgulho profundamente, mas isso é melhor do que ficar o dia inteiro no estacionamento da escola. 

Respirei fundo e cliquei sobre seu nome, iniciando a chamada. Sentei-me na calçada e deixei a mochila no chão. 

— Alô? – Sua voz soou suave e confusa, percebi que ele não possuía meu número. Fazia sentido, foi Carlisle quem me passou o contato de seu filho em caso de alguma emergência. 

— Edward, é a Bella – Minha voz era extremamente baixa, e eu encarava as pedrinhas do chão. É, meu orgulho estava completamente quebrado. 

— Bella? Está tudo bem? 

— Sim... Bem... Na verdade, eu estou meio que presa na escola. Seus pais estão ocupados com o trabalho e eu... 

— Espere um pouco, eu vou te buscar. 

E desligou. 

Meu coração batia aceleradamente, como se eu tivesse feito algum exercício, mas eu apenas ligara para Edward.