Capitulo 3 – A despedida

PDV Bella

Jacob ainda permanecia calado, aquele silêncio já durava dois longos minutos. Ele tinha a expressão séria, sua respiração era difícil. Gotas de suor surgiram na sua testa mesmo estando no clima agradável. – Fala logo Jake, estou prestes a ter um troço.

- Bella, eu... – ele foi reticente.

- Fala Jacob – retirei minha mão das dele colocando-as na minha cintura.

- Bella... Está bem, eu vou falar logo. O Billy está abrindo um escritório em Forks, é uma pequena cidade que fica em Washington. Eu estava sem coragem de lhe dizer porque não sabia se você irá querer mudar comigo para lá depois que nos casarmos. Pronto falei.

- Jacob, você sabe que não posso. Minha vida está toda aqui, meus pais, minha carreira. Há quanto tempo você sabe disso? – reclamei.

- Desde o dia do nosso noivado. – ele respondeu e depois suspirou.

- E não me contou nada? Já faz 6 meses que decidimos que nos casaríamos e você só me diz isso agora? Quando pretendia me contar, depois que saíssemos da igreja?

 - Não achei que fosse fazer tanta diferença, afinal nós nos amamos. Você me ama, não ama? – ele cruzou os braços na frente do peito.

- É claro que o amo! Mas faz diferença sim, eu tenho o direito de escolher onde quero viver e definitivamente não quero viver numa cidade pequena do interior. Ao menos não nesse momento.

- Por que? – ele quis saber.

- Eu já disse Jake...

- Sua carreira... Sei... – ele olhou para o chão. Me aproximei devagar envolvendo sua cintura com meus braços. Ele não se moveu.

- Vamos lá Jake, você sabe que a minha vida é corrida. Não posso morar numa cidade do interior. Ao menos não agora... – encostei minha cabeça em seu peito, o cheiro do perfume amadeirado que ele exalava era entorpecente para mim. – por favor. – pedi. Ele me abraçou em retorno, mas eu sabia que não estava tudo bem, seu silêncio era uma prova de que eu estava certa.

Passei minhas mãos nas suas costas colocando-as por debaixo da camisa, ele gemeu ao sentir meu toque na sua pele, seus olhos se fixaram nos meus, ele envolveu minha cintura me colando meu corpo ao dele. Ficamos nos olhando por alguns segundos enquanto nossos lábios estavam próximos demais. Eu podia sentir sua respiração, molhei a boca passando a língua pelos meus lábios mordendo o inferior. Eu sentia que aquele seria um grande empecilho para mantermos nosso relacionamento de pé. Eu queria muito estar com ele. Queria poder ficar ao seu lado, no conforto do seu abraço protetor. Éramos amigos desde a infância quando ele me defendia dos meninos maiores, muitas vezes levando algumas surras no intuito de me defender. Na adolescência, quando comecei a trabalhar como modelo, ele sempre me apoiou. Foi meu amigo e confidente.

Quando ele me pediu em namoro para mim foi uma surpresa, eu sempre o admirei, mas nunca esperei que pudesse realmente gostar de mim. Sempre possessiva e ciumenta eu não admitia, que nenhuma outra mulher o olhasse com mais desejo e cobiça do que eu. Na nossa primeira e mágica noite, nos descobrimos mutuamente. Soube que ele havia esperado todo aquele tempo por mim. Ele sorriu como nunca no dia em que estapeei outra modelo que apalpou seu bumbum. Ele só podia ser acariciado por mim. Era meu, de mais ninguém. Um medo terrível de perdê-lo se apossou de mim. – Você não vai me deixar por isso não é? – perguntei com a voz embargada, as lembranças de nossa longa jornada juntos havia me emocionado.

- Eu não sei... Bella, eu estou tão confuso. – ele pensou antes de responder. Inconscientemente as lagrimas vieram aos meus olhos. Respirei fundo diversas vezes tentado controlar a dor que me atingiu naquele momento. Dúvida? – não fique assim – ele tocou sua boca na minha. Doce, macia, gentil... O beijo que seguiu foi quente, intenso, dolorido... Como um beijo de despedida. Eu não podia conceber Jacob me deixar. Como eu iria sobreviver sem seu carinho, sua amizade...

- Jake... Diga-me que me ama... Por favor. – supliquei.

- Eu te amo Bella, mas essa oportunidade é tudo que eu queria. Achei que você também, nós sempre falamos de mudar para uma cidade do interior.

- Mas não agora, não enquanto estamos nos firmando em nossas vidas, nossas carreiras.

- Você tem que abrir mão de alguma coisa na sua vida Bella, descobrimos muita coisa juntos, mas nós somos mais amigos do que namorados. Às vezes é difícil para mim, ter que admitir que talvez você fique melhor sem mim. – então ele estava admitindo que iria me deixar? Uma onda de tristeza e insegurança me dominou. Respirei fundo para não chorar ali, na frente dele. Não queria que se sentisse culpado por estar sendo sincero, franco... Por estar sendo meu amigo. – Eu amo você desde que éramos crianças e sei que esse amor nunca vai morrer, meu coração sempre vai bater por você onde quer que eu esteja.

- Não viaje hoje, se temos que nos afastar. Dê-me a chance de poder estar com você ao menos dessa vez, sem que precisemos combinar agendas ou marcar com semanas de antecedência. – ele pensou por um minuto.

- E para onde nós iremos.

- Para algum lugar onde possamos estar a sós, vamos para o seu apartamento. – ele passou o braço por cima do meu ombro me abraçando ternamente. Voltamos para o carro estacionado do lado de fora do parque.  Jake morava no bairro do Greenwich Village, mesmo estando próximo a minha casa, nós mal conseguíamos nos ver. Entramos no carro e ele segurou minha mão durante todo o percurso. Ele a acariciava gentilmente.

Seguimos em silêncio, não era necessário dizer nada. Aquele momento estava sendo tão doloroso para ele quanto para mim. Eu sempre soube que Jacob me amava muito mais do que eu a ele, porém, eu não podia deixar de admitir que ele fosse à pessoa mais importante a qual já havia cruzado o meu caminho. Tudo o que eu sabia, era que aprendemos tudo juntos, inclusive a amar.

Entramos no prédio rapidamente, informei aos meus pais por telefone onde poderiam me encontrar. Ele sorriu com a minha atitude e se aproximou trazendo consigo uma garrafa de vinho tinto e duas taças. Sentou-se ao meu lado e pegou o controle ligando o som. Eu não queria beber, preferia estar lúcida para deixá-lo saber o quanto eu o desejava. O Cd tocava musicas românticas, nem me importei com o que estava tocando. Olhei-o com desejo, com luxúria... Ele percebeu a minha intenção. Com uma mão ele segurava a taça ainda intocada, com a outra ele me puxou pela cintura me mantendo perto dele, com o rosto colado.

Nada no mundo iria tirar meu foco daquele momento que poderia ser o ultimo. Desliguei celular e pedi que ele fizesse o mesmo, para minha surpresa ele tirou o telefone desligando-o e puxando com força o outro da tomada. Aquele momento era nosso, e ele sabia. Eu não queria mais esperar, Jake também não. Abri a sua camisa rapidamente, olhei para seu rosto limpo de sobrancelhas grossas, os cabelos agora curtos. O peito musculoso e bem definido, a pele quente... Seu toque macio e as mãos grandes. Segurando-me com força ele me trouxe para o seu colo colocando-me de frente para ele.

Suas mãos percorreram minhas coxas, minha cintura... Passando pelos meus seios, chegando ao meu pescoço segurando minha nuca. Rapidamente ele me puxou para mais perto me beijando com firmeza, devastando todo alto controle que eu pudesse possuir. Com a ponta dos dedos ele puxou a barra da minha camisa fazendo-a sair pela minha cabeça. Logo em seguida retirou a dele sem mais problemas. Mais uma vez ele acariciou meu abdômen agora nú. Parou as mãos em cima dos meus seios ainda cobertos, gentilmente ele desceu as alças da pequena peça que eu vestia observando-me com um brilho indecifrável no olhar.

Os dedos ágeis desabotoaram o fecho localizado na frente da peça retirando-o e jogando para longe. Rapidamente ele levantou me mantendo presa a sua cintura, caminhou para o quarto deitando-me na cama delicadamente. Ele abriu minha calça e a tirou ligeiramente parando de frente para mim observando todo meu corpo. Não senti vergonha, não me lembrei do que havia me levado ali. Não conseguia raciocinar direito quando observava aquele corpo perfeito próximo a mim. Ao longe ouvi a faixa do Cd mudar, uma musica simples e imensamente bela começou a tocar.

Angel (John Secada)

Eu, eu não posso ler o futuro,

Mas eu ainda quero te ter por perto

Agora mesmo, eu preciso isso de você

Então me conceda a manhã,

Dividir outro dia com você

É tudo que eu quero saber

Naqueles pequenos versos estavam contidas as minhas palavras, Jake deitou-se sobre meu corpo apenas de cueca, aquela que eu havia trazido de Londres após o meu ultimo desfile. Eu havia dado e pedido que só a usasse quando tivesse a intenção de me seduzir. Se ele a estava usando, certamente já sabia onde iríamos chegar. Ele segurou meus braços acima da minha cabeça sugando meus lábios e minha língua com devassidão.

Ele estava ávido por aquele momento tanto quanto eu, suas mãos soltaram meus pulsos e deslizaram pelo meu dorso me fazendo arrepiar todo o corpo. Sua boca deixou a minha traçando um caminho de beijos até o meu pescoço, mordiscando o lóbulo da minha orelha. Gemi inconscientemente estimulando-o a continuar. Ao longe a musica continuava a tocar. 

E, baby, eu, eu tentei esquecer você,

Mas a luz dos seus olhos

Ainda brilha, você brilha como um anjo,

Um espírito que não me deixará partir...

Enquanto meu corpo pedia pelo dele, suas mãos continuavam passeando pelo meu corpo, ele se posicionou entre minhas pernas tocando minhas coxas. Sua boca tocou meus seios me fazendo gemer novamente, ele me olhou com um breve sorriso, suave e tentador. Sua língua percorreu minha cintura parando na fronteira entre minha virilha e meus quadris.  Em todas as vezes que ele fazia aquilo, meu coração parecia que iria parar, ele brincou comigo me levando ao céu quando tocou meu ponto mais sensível. – faça amor comigo Jake, agora. – pedi quase sem fôlego.

Eu, eu não queria te dizer

Coisas que eu mesmo não queria saber.

Eu tinha medo de mostrar,

Mas você, você me deu um motivo,

Um motivo para encarar a verdade (sim, você me deu)

Para encarar a verdade, encarar a verdade,

encarar a verdade..

Ele se posicionou sobre mim se encaixando, se moldando perfeitamente ao meu corpo. Ele era gentil, tranquilo, intenso... Não tínhamos pressa. Se aquela era a ultima vez que estaríamos juntos, tinha que ser mágico. Ele investia em mim se movimentando em sincronia com o meu corpo, suas mãos seguravam meu rosto mantendo a boca colada a minha num beijo sôfrego, como se necessitasse daquela confirmação de que eu era dele.

E, baby, eu, eu tentei esquecer você,

Mas a luz dos seus olhos

Ainda brilha, você brilha como um anjo,

Um espírito que não me deixará partir...

Não me deixe partir... Não desista do meu coração...

Eu era, eu queria ser...

E, baby, eu, eu tentei esquecer você,

Mas a luz dos seus olhos

Ainda brilha..., como um anjo

Um espírito que não me deixará partir...

Você sabe...

Não me deixe partir...

Juntos compartilhamos de mais um momento intimo, intenso... Chegamos ao ápice do prazer enquanto ele sussurrava meu nome – Bella!!! – cada vez que ele falava meu nome enquanto fazíamos amor, ele me fazia sentir um turbilhão de emoções.

- Jake!! – murmurei, quando ele me calou com outro beijo. Não sei quanto tempo durou aquilo tudo, não sei dizer o que me invadiu quando senti algumas lagrimas molhando meus olhos e percorrendo meu rosto. Gentilmente ele as secou com o polegar.

- Não sofra... Meu amor é seu, qualquer que seja sua decisão, estarei te esperando.

- E se você conhecer outra pessoa, e se deixar de me ver. Não posso deixar de sentir como se estivesse te perdendo... – ele deitou ao meu lado me trazendo para perto, aconcheguei minha cabeça em seu peito tentando não fazê-lo sentir culpado.

- Meu coração é seu, eu repito isso infinitas vezes. – eu o olhei. – Ainda não estou indo em definitivo para Forks Bella, a única coisa na minha vida que é definitiva, é o amor que sinto por você. – ficamos ali parados algum tempo calados... Cada um perdido em seus próprios pensamentos.  – você me pediu para não viajar hoje, perdi meu avião e com certeza Billy vai me matar. – ele sorriu.

- Você ficou todo esse tempo calado se lembrando disso? – levantei a cabeça olhando para ele sorrindo também.

- Você nunca viu o Billy de mau humor – ele gargalhou e depois ficou sério mais uma vez. – mas dessa vez o carão vale a pena. Dessa vez você não sai daqui antes do dia amanhecer, é minha prisioneira, meu objeto... Minha mulher. – ele me agarrou sorrindo. – eu posso ir para Forks amanhã, mas quero que pense com carinho na proposta que te fiz.  

- Quanto tempo você vai ficar lá? – eu quis saber.

- Há principio alguns meses...

- Então você mentiu quando disse que iria para a festa comigo na próxima semana, como você ia fazer?

- Eu iria te ligar.

- Ah! – foi tudo que consegui dizer quando ele me virou rapidamente e se jogou em cima de mim. Ele estava disposto novamente, aquele dia, de fato, iria ser bem aproveitado.

O sol apontou no horizonte, já era hora de voltar ao mundo real. Jacob dormia sem preocupação, olhei para o rosto do homem que era meu. Senti não meu coração aliviado, Jacob não era como um prêmio, ou uma ultima opção como Ang havia colocado. Ele era alguém que eu amava de uma forma ou de outra, eu o desejava. Não podia forçá-lo a conviver comigo sabendo que ele era parte de uma fascinação da adolescência, quando suas espinhas sumiram e seu corpo começou a modificar. Antes disso Jake era o amigo, o irmão. Uma vez me disseram que um amor verdadeiro nasce de uma verdadeira amizade. Seria verdade?

Nós éramos verdadeiros amigos, verdadeiros amantes. Mas aquele sentimento não era verdadeiramente amor e eu sabia. Eu sabia que iria sofrer quando ele partisse, eu sabia que se ele acabasse conhecendo alguém eu iria sofrer, mas como privá-lo de algo maior somente por egoísmo? Eu não queria, eu não queria esquecê-lo, eu não podia tê-lo... Um soluço incontrolável fez com que minhas lagrimas viessem, só então me dei conta de que eu o havia perdido. Meu Jake, havia deixado de ser meu. Eu chorava copiosamente quando ele acariciou meus cabelos. Eu o havia acordado. – o que houve Bella? – perguntou preocupado.

Olhei para ele como se fosse a ultima vez que o estava vendo, como se aquele fosse realmente nosso ultimo momento. Eu queria prolongá-lo ao máximo, queria que a gente nunca tivesse começado a namorar, queria que o mundo caísse sobre a minha cabeça. Não era arrependimento, eu sabia que por mais forte que ele fosse, eu nunca deixaria de magoá-lo. – O que é que eu vou fazer agora?

- Bella – ele deu um leve sorriso. – você está agindo como se eu não fosse voltar. – ele sentou e me colocou entre suas pernas encostando-me no seu peito. – eu vou voltar. Não me olhe desse jeito ou eu mudo meus planos, mas você sabe que não seria justo. Não seria justo com nenhum de nós dois...

- Eu vejo o que eu fiz, eu estraguei tudo... – ele limpou meus olhos e me forçou a olhá-lo.

- Não Bella, você não estragou tudo. No inicio você deixou bem claro para mim que me amava como um grande amigo, um grande irmão e isso nunca vai se perder. Nós temos uma grande atração física, mas você sabe tão bem quanto eu que isso não seria suficiente para mantermos uma vida. Logo nós sentiríamos falta de algo maior, um sentimento maior. Do amor entre homem e mulher.

- Eu te entendo...

- Não é culpa de ninguém que isso esteja acontecendo, não é culpa dos seus fãs tarados que querem te apalpar nos desfiles. Ou das minhas colegas de faculdade quando me chamavam para trocar beijos na sala do zelador... - ele gargalhou, fiz careta.

- Dessa parte eu não sabia. – reclamei.

- Nenhuma das vezes aconteceu enquanto estávamos juntos, sei que fomos leais, que fomos fieis... Quando você viajava e deixava de participar das festas, quantas vezes nos pegamos falando de madrugada pelo MSN somente porque não podíamos viver sem a companhia um do outro. Contudo, entre todas essas coisas, em todas as conversas éramos e sempre fomos amigos. Fazer amor com você é sempre mágico, nos descobrimos juntos... E você sabe disso, para mim, fazer amor com você é sempre a 1ª vez.

- Você tem classe para dar o fora numa mulher... – disse cabisbaixa.

- Você pode vir comigo se quiser, nosso relacionamento não é uma imposição, algo tipo: se você for nós ficamos juntos, se não for nos separamos. Não é isso e você sabe. Ainda somos jovens e temos muito tempo para decidir nosso futuro. Não estamos terminando, estamos dando um tempo para definirmos qual a real importância que temos um para o outro. Cedo ou tarde aconteceria, ainda existe o mesmo MSN ou os encontros de fim de semana para matar a saudade dos nossos corpos insaciáveis, você acabou comigo esta noite. – ele sorriu e tinha razão, nós nos acabamos aquela noite, duas, três vezes não foram suficiente para esmagar o desejo que sentíamos um pelo outro -  Se depois desse tempo que terei que ficar fora nós percebermos que a saudade foi maior do que nós esperávamos, vamos tentar de novo, se percebermos que podemos viver apenas como amigos ... Vai restar a mesma amizade, que pode ser bem colorida se você desejar... – ele gargalhou mais uma vez.

- Está bem... Eu aceito desde que antes de ir embora você mate minhas saudades.

- Você não cansa nunca? Desse jeito vai acabar comigo... Preciso viajar... – ele me beijou suavemente – remarcar as passagens – beijou outra vez – preciso reorganizar minhas coisas, mas isso fica pra daqui a pouco. – ele me agarrou de novo, jogando-me em cima da cama.

PDV Jacob

Deixar Bella não seria tão fácil quanto eu havia descrito, ela estava sofrendo e eu sabia. Eu também sofreria, embora fossemos duas partes de um, sabia que o que nos unia era muito mais físico e fraterno do que ela entendia. Eu havia passado toda aquela semana que não nos encontramos pensando. Eu sabia que com a minha partida, ela entenderia o que eu já havia visto. Combinamos no inicio do nosso namoro que nunca mentiríamos um para o outro, e eu não o faria naquele momento.

Depois que fizemos amor à noite toda e naquela manhã, percebi que sofreria uma terrível abstinência dela. Mas eu também sabia que precisaria deixar que ela decidisse se ficaríamos juntos. Remarquei minha passagem para o primeiro horário da noite. Arrumei minhas malas e pedimos comida chinesa.  Prometi que tentaria voltar para a festa da próxima quarta feira embora soubesse que não o faria. Bella era para mim uma enorme distração. Não no sentido ruim da palavra, distração nesse caso significava não conseguir me focar no meu trabalho, na minha própria vida. O que eu queria realmente era não depender tanto da presença dela para ser feliz.

Eu sabia que voltaríamos a nos encontrar em algum tempo, em algum instante. O dia passou mais rápido do que eu queria, muito mais rápido do que eu esperava. Ainda nos amamos mais umas duas vezes até que ela finalmente foi me levar até o aeroporto. Prometemos nos ligar todos os dias, prometemos nos falar todos os dias, prometemos não nos esquecer da importância que tínhamos um para o outro. No portão de embarque nos olhamos com saudade, vi seus olhos cheios de lagrimas e precisei me conter para que elas não descessem dos meus olhos também, antes que isso acontecesse, eu parti.

No avião, uma musica tocava traduzindo todo meu sentimento. O artista era brasileiro e a música era o meu reflexo, cada palavra cantada me fazia lembrar os momentos que passamos juntos. Os momentos que poderíamos ter tido e aqueles que nunca mais iríamos ter.

Deve Ser Jorge Vercilo

Deve ser
uma ilha descoberta em mim
um sinal de que seria assim
começar gostar de ti

Deve ser
um princípio de fascinação
o poder de uma revolução
ser tocado por você

Porque foi assim
como a primavera
para quem dorme do seu lado

Porque foi para mim
Toda fantasia
faz espelho nos seus lábios

Deve ser
como de repente
o céu se abrir
Como ver o que eu
não percebi
começar gostar de ti

Deve ser
ser agraciado e não saber
Nem imaginava merecer
ser amado por você

Quando a musica acabou, olhei para os lados e me vi sozinho, o avião estava vazio, não havia muitas pessoas ao redor. Meu coração estava apertado, eu estava deixando minha família, minha amiga... Meu amor e foi então que deixei minha tristeza fluir, deixei as lágrimas molharem meu rosto. Eu a amava, mas deixaria que a escolha de estar comigo fosse feita por ela, sempre que ela me chamasse, eu estaria pronto para atender. E foi com o rosto banhado pelas lamentações da minha tristeza, que eu adormeci.