Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 6
Um Novo Sentimento




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787573/chapter/6

POV KATNISS

 

—O que você acha que eles estão falando?- cutuco o braço de Peeta, consigo sua atenção.

 

Rye está em seus braços e Willow segura minha mão, ambos concentrados em admirar a evolução de nosso Distrito.

 

—Vocês brigaram?- Willow pergunta adiantando seus passos até ficar em nossa frente, sua mão ainda na minha.

 

—Não, filha. Por que?

 

—Vocês sempre andam de mãos dadas.

 

Comprimo os lábios prevendo o que vem a seguir, no minuto seguinte Peeta pega minha mão, a viro dando liberdade para nossos dedos se entrelaçarem.

 

 

Willow sorri voltando a ficar do meu lado, caminhamos pela praça até chegar na padaria.

 

—Uau.

 

Peeta não consegue disfarçar a surpresa, realmente está bem diferente.

Não há aquele aspecto de mal cuidado igual ao resto do distrito, tudo está novo e exala vida.

 

Entramos ouvindo o clássico sino tocar, no segundo depois uma porta atrás do balcão abre revelando Delly.

 

Até aqui ela aparece.

 

—Delly?

 

—Bom dia, Peeta. 

Achei que não viria hoje.

 

Ele fica meio bobo olhando tudo.

As paredes pintadas num tom pastel com detalhes laranjas, mesas decoradas com toalhas, as janelas dando uma ampliada e bela visão da praça do distrito, o balcão em madeira com vidros que exibem as guloseimas, pães em cestas protegidas com uma tela contra insetos e sujeiras.

E o cheiro, é o mesmo que fazia meu estômago afundar de tanta fome e desejo.

 

—Eu atrasei.

 

—Percebemos.- ela sorri, arruma o cabelo num impecável rabo de cavalo.

—Bob está aprontando os doces, os pães saíram mas não são como os seus.

 

As bochechas do loiro ficam vermelhas, o aspecto é de homem mas o jeito é de menino.

 

—Já vou aprontar uma boa massa.

 

Ela sorri pra nós antes de voltar a passar um pano nas mesas e arrumar os sacos pardos para embalar os produtos.

 

—Venham.

 

Ele abre a divisória do balcão para nós, a gentileza em pequenos atos me surpreende e fascina.

 

A parte da produção é novidade pra mim, nunca cheguei a ver os fornos, as máquinas, a preparação.

O calor é gostoso e nos obriga a tirar os casacos.

 

—Olá, chefe!

 

Um homem de meia idade, uns 30 anos mais ou menos, abre um galanteador sorriso ao sair de trás de um grande forno e nos ver.

 

—Bom dia, Bob.

 

—Trouxe sua família. É um prazer vê-los!

 

Rye e Willow correm até estarem grudados na perna do homem, mudo o olhar para Peeta, parece tão perplexo quanto eu.

 

—Quelo bicoito!

 

Rye força suas pernas até chegar no pai, Peeta o joga pro ar pegando em seguida fazendo gargalhadas ecoarem.

 

 

—Pode pegar, filho.

 

Assim que ele o coloca no chão, o pequeno corre até um armário. Sobe no banco pequeno e com a ajuda da irmã acha uma lata cheia de biscoitos.

 

—Seus biscoitos de nata são irresistíveis!

 

Bob parece ser um bom homem, trabalha duro pois logo está pondo mais uma massa na grande batedeira.

 

Peeta me puxa até um canto perto da prateleira que comporta as sacas de farinha, açúcar, fermento.

 

—Não sei o que fazer.

 

A agonia está como um límpido reflexo no azul, seguro em seu antebraço, controlando seu olhar no meu.

 

—Você faz isso a vida toda.

 

—Mas meu pai sempre estava do meu lado.- insegurança o domina.

 

—Pelo que percebi você é um padeiro tão bom quanto ele.

 

O sorriso é lindo, não posso mentir.

Tão contente e satisfeito, acaba por reforçar as raízes que Peeta tem dentro de mim.

 

—Obrigado.- sua mão toca minha bochecha, deixa um terno carinho até minha mandíbula.

—Vai ficar comigo?

 

—Sim, duvido que essas crianças sairão daqui tão cedo.

 

                           

 

Estou acomodada num banco ao lado da janela observando-o, a poucos minutos percebi que tenho um tara em ver Peeta cozinhando.

 

O avental sobre a roupa, a pele colorida do branco da farinha quando faz a massa, o movimento de seus músculos quando seus braços sovam o pão.

 

Detalhes de Peeta Mellark que nunca havia percebido antes.

 

Apoio o queixo na mão, adorando a cena. Os raios de sol, que ultrapassaram as nuvens sombrias de chuva, batem diretamente em seu cabelo.

As cicatrizes não são mais evidentes que sua beleza.

 

—É lindo, não é?

 

No susto meu cotovelo cai da mesa quase levando meu corpo junto, irritada encaro Delly.

 

—O que disse?

 

—Oh nada, me desculpe. Pensei muito alto aqui.

 

Estreito os olhos.

Não gostei de seu pensamento.

 

Sei que é burrice achar que outras pessoas não acham Peeta bonito, e me recrimino por estar tão aborrecida.

 

—Anelise chegou, Peeta.

 

Minha raiva piora quando a garota tira o loiro de seu momento, é rara as vezes que gosto de admirar algo por tanto tempo.

 

Ele sai de sua concentração, sorri assentindo.

 

Cruzo os braços disfarçando meu descontentamento.

 

O loiro se aproxima, ergo o braço impedindo sua proximidade.

 

—Ah, não me diga que está com nojo de mim.

 

—Não. Só quero permanecer limpa.

 

Num lampejo vislumbro uma terrível ideia passar por seus olhos.

 

—Peeta. Não!

 

É tarde demais.

No meu segundo passo saio do chão, o loiro envolve minha cintura com seus braços imundos. Conforme mexo, toda a farinha de seu cabelo vai caindo em mim, não me importo de ficar suja. 

O bom sentimento de nosso contato está além de preocupações.

 

—Vai ter volta, Peeta Mellark.

 

Firmo minhas pernas no chão em passos vacilantes, ouso colocar meus braços sobre os seus, acomodando as mãos nas suas.

Não sou experiente no assunto, mas essa me parece uma situação bem romântica.

 

Nunca me encontrei em uma, mas aqui e agora com Peeta, eu adoro.

 

—Sempre quis fazer isso.- confessa em voz baixa, acomodando seu queixo no meu ombro.

 

A porta abre para três crianças passarem correndo.

 

—Sem correr. Cuidado com os fornos!

 

Peeta se separa de mim ao ser atingido pelos três, reconheço meus filhos, mas a garotinha loira é novidade.

 

—Tio Peeta!

 

— Anelise.- ele improvisa tão bem que as vezes fico envergonhada por disfarçar tão mal.

 

O que a filha de Delly faz aqui?

 

Um pensamento perigoso causa uma grande tormenta em mim. Será que Peeta é pai da menina?

 

Tento respirar fundo, mas o tamanho da confusão é tanta que só saio indo pro banheiro me limpar. 

 

Antes de lavar o rosto encontro a marca dos dedos dele em minha bochecha, a farinha mostra claramente porque minha pele continua quente.

Lavo tudo, jogo meus cabelos pro lado deixando o pó branco cair, terei que lavar quando chegar em casa.

 

Mesmo que a chuva fina tenha dado uma trégua, o frio é constante.

 

Ao sair mais apresentável, dou de cara com três pessoas passando pela porta da frente, o sino faz Delly aparecer rapidamente.

 

—Olá!

 

—Viemos ver a Katniss.- Haymitch faz um gesto com as mãos a dispensando, sorrio aprovando.

—O Peeta andou te agarrando.- é uma afirmação que fica óbvia pela farinha que ainda tem nas minhas costas, o avental dele encostou em minha blusa, já que fui abraçada por trás.

 

—É, fez o favor de me sujar.

 

Effie Trinket, a mulher mais colorida que já vi, anda até mim se apressando em dar-me um gostoso abraço. Retribuo achando que é o mínimo que devo fazer.

 

—Oh, Katniss.- forço um sorriso, ela me parece mais uma pessoa da Capital, não tão colorida quanto me lembro, mas o sotaque e timbre de voz.

 

—Olá, Effie.

 

—Elisabeth, venha dar um beijo na sua madrinha!

 

Madrinha da filha deles. Certo, muita coisa mudou.

 

—Olá, pequena.- beijo sua bochecha. 

 

Ela é uma boneca. Olhos num azul escuro, cabelos loiros como os de Effie, bochechas brancas e boca bem desenhada.

 

Aposto que o vestido rosa, as pulserias, sapato de boneca e cachos no cabelo, foram obra da mãe.

 

—Cadê a Wi e o Rye?

 

—Estão lá dentro com o tio Peeta, vou chamá-los.

 

A deixo sentada na cadeira ao lado de Effie, ao chegar na parte de trás prendo a respiração.

 

Uma bola de chumbo parece levar meu bem estar e todo o bom clima que nos rondava.

 

A cena é a seguinte:

 

As crianças sentadas nos bancos comendo alguma guloseima enquanto Peeta e Delly estão apoiados bem juntos. Fico estática enquanto a garota se atreve a levar seus dedos até o lábio inferior dele e limpar resquícios de glacê azul.

 

—Rye e Willow, Elisabeth quer ver vocês.- saio sem olhar para Peeta, mas sei que ele percebeu.

 

Prevejo uma conversa esclarecedora. 

 

Não aconteceu nada demais, mas para minha mente foi o suficiente. 

 

                               

 

—Podemos conversar agora?

 

—Não.

 

Peeta encolhe os ombros antes de trancar as portas da padaria, os trovões anunciam o começo de uma chuva mais forte.

 

—Mamãe estou com medo.- Rye puxa minha camiseta, ergo seu corpo o prendendo no meu.

 

—Já vamos pra casa.

 

Willow segura a mão do pai, conta sobre Elisabeth e Anelise.

 

A garota é uma graça, tão diferente da mãe. Delly não me desce, pode passar milhares de anos, isso não mudará.

 

—A tia Delly falou que eu posso ir na casa dela brin...

 

—Não.

 

Willow me olha assustada, assim como o pai.

 

—Por que não, mamãe?

 

—Porque não, Willow. - sua boca abre pra contestar novamente, friso os lábios desaprovando. -Não insista.

 

Volto a caminhar apertando meu filho, os pingos começam a aparecer.

 

Passo Rye pro braços de Peeta, cobrindo sua cabeça com o capuz.

 

—Vá pra casa. Preciso ir a um lugar antes.

 

O azul me prende, não gosta nem um pouco. Mas não preciso de sua permissão.

 

—A chuva irá piorar, Katniss.

 

—Mamãe, vem pra casa.

 

—Eu não demoro.- beijo sua testa antes de virar as costas e esperar até vê-los virar o quarteirão.

 

Em passos apressados e sob uma forte chuva, caminho até meu destino.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ao Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.