Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 21
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POV KATNISS

—Vamos voltar para o Distrito 12, você vai conosco?

Quero ficar sentada nessa cadeira até Peeta sair por aquela porta ja me amando, mas não é isso que irá acontecer. Não por um longo tempo.

—Sim. Não posso ficar com as crianças num hospital.

—Nós podemos ficar com eles, não é nenhum incômodo. 

—Obrigada, mas eles já ficaram tempo demais longe de mim. Fora que não é seguro deixá-los aqui com esse homem ainda a solta.

Ele feriu Peeta, mas e se quiser machucar um de meus filhos?

Eu sabia que essa realidade estava boa demais, nada é tão fácil.

—Vamos pra mansão arrumar nossas malas e pegar Elisabeth.

—Eu vou junto, não tenho muita coisa pra fazer aqui.

Ficar ao lado do Peeta que me ama é uma coisa. Ficar com seu lado que me odeia é insano. 

—Aposto que dessa vez ele não irá tentar te matar.

Paro antes de sair pelas portas duplas de vidro, tropeço no receio antes de conseguir dar algum passo.

Então esse telessequestro foi pior do que pensei.

—Haymitch!- Effie ralha travando os lábios. -Olha a sutileza!

—Esse não é meu forte, mulher. 

Fico alheia a conversa, a palavras "matar" martela na minha mente.

A família perfeita irá acabar se ele não se recuperar. 

Duas crianças com um pai louco não é aceitável. Será que estou segura agora?

—Preciso ir pro hotel.

Pego minhas crianças e peço um carro, ao chegar no quarto me deparo com tudo do mesmo jeito. A única exceção é a cama arrumada com um pacote de presente.

Desconfiada, deixo meus filhos vendo um desenhos antes de abrir a pequena caixa.

Como se não pudesse piorar encontro uma boneca, a mesma que jogaram em mim quando cheguei na festa, a boneca que representa minha irmã. 

Largo jogando a maldita boneca na caixa, fecho arremeçando pela janela. Vai parar na copa de alguma árvore, bem distante de nós. 

É como uma ameaça, onde a primeira fase foi concluída. Peeta.

Arrumo tudo, fecho as malas depois de trocar a roupa de Wi e Rye. 

—Papai.- Rye caminha até em choramingando, a saudade ruge em nós. 

—Ele está dormindo.

—Pra casa?- nego beijando sua testa, inalo o cheiro gostoso de seu cabelo.

—Depois, pequeno.

Na hora marcada Effie e Haymitch passam aqui, eles seguem pra plataforma.

—Preciso ir a um lugar antes.

—Vai pro hospital de novo?- assinto, sentindo falta do loiro. Voltar pra casa sem ele é dolorido, estamos unidos nessa.

—Vou. 

—Olha a hora ou vai perder o trem.

Dou de ombros saltando pra fora do carro assim que o motorista para na porta, sigo o caminho conhecido. 

A vontade de querer ficar é maior do que a de ir.

Chego ao quarto e dou de cara com um Peeta sedado, aparentemente é a única forma de ficar perto. 

—Olá, padeiro.- toco sua bochecha, na expectativa de ver o azul aparecer. -Preciso ir embora, as crianças estão em perigo. - reparo na barba rala que começa a aparecer em seu queixo e bochecha. 

—Quero ficar aqui, te ajudar. Prometemos ficar juntos, verdadeiro?

Rio, mordendo o lábio inferior. É ironia demais, isso acontecer bem quando estávamos bem e aprendendo a viver nessa vida.

Estou assustada, sozinha e desesperada, por sua atenção e apoio.

Tenho o peso do meu mundo nos ombros.

—Fica bom logo.- rodo o aro dourado preso em meu dedo, tão certo. -Não me odeie, Peeta. Não saberei lidar com isso agora.

A garganta trava, quero proteger meus filhos mas ele também. E infelizmente não posso ter todos sob meus cuidados.

—Cuidarei da padaria, manterei as crianças distraídas enquanto você não volta pra casa.- rio, colocando um tom de ironia. -Me odeie, mas continue amando Willow e Rye.

Pensar que a realidade que eles conhecem está prestes a desmoronar,  me deixa em total desespero. 

Como darei apoio se estou tão perdida quanto eles?

Levanto, aceitando o término do tempo disponível. Suspiro deixando um demorado beijo em sua testa, resisto aos seus lábios tão tentadores.

—Mesmo tão longe, ainda estarei cuidando de você, padeiro.

Reviro seus cabelos uma última vez, encontro um táxi e pego até a estação. Chego no exato minuto, corro pra dentro vendo as portas se fecharem.

Sou bombardeada pela sensação de esquecimento, mas sei que é por estar deixando Peeta pra trás. Não, nunca será a mesma coisa sem ele.

Deito num sofá no último vagão, o teto de vidro cristalino me deixa com uma ótima visão do lado exterior. Willow e Rye dormem repousados sobre mim, vez ou outra acaricio suas peles e cabelos. 

—Mamãe cuidará de vocês.- sussurro virando o rosto, o Sol da tarde ilumina o vagão, me sinto estranha e culpada.

Deixá-lo não foi uma boa escolha, o loiro é fundamental nas nossas vidas.

Não quero pensar em como será cuidar de duas crianças sozinha.

Rye, com seus quase 2 anos, está sendo um desafio. Suas palavras estão saindo, mesmo que de maneira errada, mas seu vocabulário está consideravelmente grande. Os passos que suas pernas gorduchas estão aprendendo andar com mais firmeza. As perguntas espertas demais, a curiosidade, o aprendizado, as vontades e personalidade difícil. 

E Willow, com quase 4 anos. ~ preciso lembrar de seu aniversário depois de amanhã~ está falante e grudada a mim, quer aprender coisas novas e começa a ter suas próprias vontades. Tem muita energia, quer brincar de tudo um pouco. Ama cozinhar com o pai e desenhar, as vezes implica na hora de tomar banho e pentear o cabelo. 

Farei algo especial pra ela, mesmo que Peeta não esteja presente. Essa garotinha terá uma festa, com algumas pessoas e nada muito glamuroso. 

Mas não são esses pequenos momentos que mais lembramos?

—Dinda?- Elisabeth chega tímida, sorri enfiando as mãos nos bolsos da saia. A chamo com a mão, preciso lembrar de várias coisas, mas é inevitável não esquecer.

—Olá, querida.- digo baixo, com medo de acordar as crianças. -Você está linda.

—Obrigada, mamãe acabou de me dar banho.- ela olha pra Willow, depois parece procurar por Rye, indico o meu lado, já que o corpo do menino está metade caído pro lado do sofá. 

—Quero brincar. Eles já vão acordar?

—Quase. Te aviso assim que despertarem, pode ser?- ela chacoalha concordando, depois começa a brincar com meu cabelo curto.

—Cadê o tio Peeta?

—Ele irá ficar um pouco mais na Capital, mas logo estará voltando ao 12.

Effie surge, corre pegando a filha nos braços. 

—Ela acordou eles?

—Não.- a mulher joga uma coberta sobre nós, sorri se acomodando na poltrona a frente, Lize corre pro colo da mãe.

—Eles estão num sono profundo, duvido que acordem antes de anoitecer.

—Estão cansados, foram dias difíceis.  Você deveria fazer o mesmo.

—Não é tão fácil.- minha cabeça borbulha, num estalo penso na pessoa perfeita que pode me ajudar com a festa de Wi.

—Vou precisar de você, o aniversário de Willow está chegando.

Omito a parte de não imaginar como faz um aniversário, como se comemora?

Meu pai caçava e economizava, depois ia ate o Prego e trocava por alguns ingredientes e um belo par de sapatos novos. Lembro de quando eu tinha 5 anos e ganhei uma boneca, a única que tive. 

Era tão delicada, com um vestido vermelho e duas tranças nos cabelos de lã preto. Foi por causa dela que fui vestida assim na aula que cantei, a mesma que Peeta me notou.

Queria revê-la, mas com o incêndio e todos os anos passados. Não acho que seja possível. 

—O que está pensando em fazer?

—Algo íntimo, so não quero deixar passar em branco.

—Jamais.- sua animação surge. -Posso ver algums enfeites, fazer convites e...

—Pequeno, Effie. Algo bem pequeno.- fico quieta ao perceber uma movimentação em minha barriga, Rye troca sua cabeça de lugar, mas continua adormecido. 

—Não sei como fazer isso sem ele.- suspiro derrotada, de nada adiantou o esforço para mascarar minhas dores. 

—Peeta vai voltar pra você. Os melhores médicos estão cuidando dele, Paylor disponibilizou uma equipe para dar segurança à ele 24 horas por dia.

—Eu so não quero que ela fique triste por ele não estar lá. 

—Apesar de serem poucos dias, ele podia voltar ou...

—Não na previsão dos médicos.

Lize deita no pescoço da mãe, fungo evitando chorar na frente delas. Não aceito extender essa dor para as outras pessoas.

Isso já aconteceu no passado e Peeta venceu, agora só preciso me lembrar de como o ajudei.

—Effie, lembra de quando Peeta ficou telessequestrado?

—Oh, querida. Foi tão horrível!

Vocês sofreram tanto!

—Mas eu o ajudei, certo?

—Claro!- ela sorri, toca a bochecha da filha. -Você o ajudava a lembrar, faziam o jogo e ele voltava a ficar bem.

Perfeito, consegui algumas pistas, agora é só descobrir o resto e trazer Peeta de volta pra nós. 


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