Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 14
Viagem




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787573/chapter/14

POV KATNISS

Seu dedo toca minha bochecha, tira meu ar pensadora. 

—Eu não quero ir.- digo imaginando o quão difícil será essa viagem para a capital do nosso país. 

—Por que? Será legal.

—É a Capital.

—Exato. Você não quer saber como é? Deve ter coisas fantásticas lá!

—Ou não.- ele suspira deixando as costas escorregarem pelo encosto do sofá até seu corpo chocar com o meu, aceito de bom grado.

—É só uma comemoração aos 10 anos do fim da ditadura de Snow, do sucesso da evolução, da nossa liberdade. 

—Você leu o livro todo?- torço o nariz pra sua inteligência, aposto que enquanto eu estava lavando as muitas peças de roupas das crianças, Peeta lia o livro e descobria tudo que houve há 10 anos atrás. 

—Não, só um pedaço.

—Não mente pra mim, padeiro!

—Juro que não estou.- sua mão passa por trás das minhas costas, raspando no sofá até alcançar minha mão esquerda. Seus dedos brincam de rodar a superfície da aliança dourada.

A deixo quieta ali, gosto da nova imagem da minha mão enfeitada por esse aro cintilante.

—Então, vamos viajar amanhã? 

—Não. 

—Ah, Katniss.- sorrio de seu tom, indignado o bastante para sair engraçado. 

—São só alguns dias, quero conhecer aquele lugar.

Suspiro, pensando que serão desafios demais mas valerão a pena só por ver um sorriso no seu rosto bonito. 

Sua cabeça cai sobre meu ombro, 1 da madrugada e estamos sentados na sala.

Colocamos Willow e Rye na cama a algumas horas e depois voltamos pra cá, Peeta preparou um belo chocolate quente para tomarmos enquanto conversamos. 

—Só alguns dias, certo?

Assim que entende o que quero dizer, seu olhar ilumina.

Ele não me forçou a fazer nada, mas senti sua vontade de longe.

Nada mais justo que fazé-lo se sentir bem, assim como ele faz.

—Eles vão te homenagear...

—Nós. Pare de falar que só eu fiz algo de importante.- o azul da uma grande volta lentamente, cutuco sua barriga vendo-a reter com meu toque, um sorriso bobo aparece ao notar as sensações que provoco em seu corpo.

—Haverão festas, jantares.

—Me da dor de cabeça só de pensar nessas festas.

—Eu sei que você não gosta muito.

—Nem um pouco.- assusto ao sentir seus dentes entrando na pele de meu pescoço, belisco seu abdômen provocando uma onda de risadas abafadas.

—Se eu ver uma mancha vermelha...

—Sou seu marido, posso fazer o que quiser.

Um arrepio varre todos meus pêlos, engulo em seco viajando nas mais inimagináveis opções. 

Desperto com sua risada bem perto, perto demais.

—Estou brincando, Katniss. 

Um único sussurro e estou mordendo seus lábios, desfrutando do sabor de chocolate misturado ao de menta da pasta de dente que ficou em sua língua. 

Seus corpo empurra o meu, virando de frente em busca de mais acesso.

Permito que seus dedos trilhem um caminho na lateral de meu corpo, que brinquem com o tecido da blusa larga do pijama enquanto apertam pontos diferentes entre minhas costelas.

Seu cabelo é o lugar que mais gosto de ficar com as mãos enquanto o beijo, mas resolvo ousar quando desço a mão por seu tórax, sentindo seu coração quase quebrar sua caixa toráxica enquanto bate desorientado. 

O calor da bebida mais a do momento, faz minha pele ficar febril, proporciona ondas de choques que me impulsionam mais.

Meu corpo pede o dele. Preciso tocá-lo, beijá-lo, senti-lo.

Peeta está me fazendo descobrir meus desejos mais remotos e profundos, causa um certo pânico pois não tenho ideia do que fazer quando estou assim.

Parece que pequenas explosões ocorrem em meu interior.

Sugo seus lábios uma última vez antes de afastar em busca de ar, respiro fundo chocando meu peito com o dele enquanto flexiono os dedos capturando o tecido de sua camisa.

—Deus, isso é bom.

Concordo um balançar de cabeça, minha voz foi calada por seu estrondoso beijo.

Peeta Mellark está me deixando de ponta cabeça, virando minha vida e mente de cabeça pra baixo.

Ele volta a encostar no sofá, parece refletir sobre os minutos passados, ignoro o calor que se instalou em minhas bochechas e encosto a orelha em seu peito.

Pensando se realmente é possível seu coração bater nessa velocidade ou se é o meu juntando ao seu e fazendo essa sinfonia tão fora de ritmo.

Muitos minutos passam quando acho minha voz, esfrego o nariz em sua pele antes de recomeçar a conversa. 

—Amanhã avisaremos as crianças. Como vai fazer com a padaria? 

—Posso deixar Delly vigiando, Bob pode abrir quando for fazer a primeira fornada.- assinto vendo-o planejar tudo, Peeta se tornou um homem de família do dia pra noite, literalmente. 

—Terei que dar um extra pra ele no final do mês, o cara vai trabalhar bem mais.

—Será que Effie e Haymitch também irão? 

—Com certeza.

—Ah claro, você já sabe toda a história. 

—Só um pedaço, deixei pra ler tudo com você. Assim sabemos o que aconteceu juntos.

Solto um sorriso, achando meigo seu pensamento. Ele quer nos unir, fazer o máximo de coisas junto comigo.

Ir a padaria, ler o livro de memórias, fazer um bolo ao fim do dia, colher flores para enfeitar a mesa pro café da manhã, irmos a casa de Haymitch e Effie, levarmos as crianças ao parque, passearmos pelo distrito.

Quer deixar momentos e memórias especiais, deixo pois cada um está bem guardado aqui dentro.

Peeta me mostra como amar.

Me ensina como ser alguém completamente diferente, me soltar e permitir amar e ser amada. 

Gosto disso, me faz bem não segurar tudo sozinha.

—Como iremos fazer com Buttercup?

—Você se preocupando com ele?

—É sei, mas não é como se eu amasse aquele gato imprestável. 

Ele só é parte de Prim, a única viva.

—Ele vai ficar bem, posso pedir para Delly alimentá-lo.- reviro os olhos, não gostando de Peeta estar colocando-a em tudo.

—O que? Ah, não faz essa cara.

—Bob não pode fazer isso?- ele sorri, prefere não contestar.

—Pedirei a ele.- sua boca encosta na minha, fecho os olhos esperando o beijo que não vem.- Katniss está ficando ciumenta?

—O que?- abro rapidamente os olhos, encontrando suas orbes azuis muito perto, admiro o tom e a profundidade dele.

—Sem chance, só não quero que ocupe sua amiga com coisas demais.

—É, sei.- sua risada baixa mostra o  quão minto mal, dou um peteleco em seu braço antes de sentir a maciez de seus lábios nos meus.

—Delly é uma boa pessoa.

—Você continua falando isso enquanto continuo falando que não confio nela.

—Ela lhe fez algo?

—Não, mas...

Esquece, é coisa da minha cabeça. - justifico, não querendo entrar num assunto perigoso demais.

—Vamos subir? Meus olhos estão ficando pesados.

—Certo, vou levar isso pra cozinha e  vamos.

                         

 

—Não será maravilhoso? -Effie entra em minha casa no maior ânimo,  observo quando a lama de seus sapatos impregna o tapete na soleira da porta.

—Elisabeth está ansiosa para voltar lá, preciso renovar seu estoque de...Katniss, está me ouvindo?

Pisco desviando meu olhar de Peeta, a imagem estava bela demais para Effie conseguir minha atenção. 

—Desculpa, estava distraída. 

Ela abandona a expressão de braveza e sorri me olhando travessa.

—É bom estar apaixonada. 

É isso que estou sentindo? Paixão? 

Tinha a impressão de ser algo maior.

—O que estava dizendo? 

—Ah, preciso renovar o estoque de vestidos de Elisabeth. Ela não para de crescer!

—Willow também, muito mais rápido do que pensei.

Peeta e eu estamos nessa realidade a poucas semanas e ja consigo ver o quanto Willow e Rye estão crescendo.

Dá uma sensação de perda, saber que essas crianças não estão mais pequenas, vão crescer e se tornar adultos. 

—O que tanto pensa?- Peeta surpreende chegando por trás da poltrona, rodeia meu busto com seus braços deixando um beijo em minha bochecha. 

A viagem de trem já é uma descoberta. Sei que provavelmente andamos muito em um desses, mas não é como se eu lembrasse. 

É rápido, quase não consigo observar a paisagem que passa através dos vidros.

—Em Willow e Rye, como estão crescendo.

Apoio minha nuca em seu corpo, vendo Effie abrir uma revista tentando não parecer deslocada. 

—Só queria voltar no tempo e vê-los desde o início. 

Sei o que quer dizer, já imaginei como seria ter uma barriga, sentir um bebê revirando dentro de mim, amamentá-lo e fazer dormir, ver os primeiros passos, o nascimento.

Effie parece distraída então resolvo arriscar.

—Você me imagina grávida?- pergunto percebendo seu olhar perdido, logo vejo-o descer o olhar pro meu abdômen. 

—Sim, você sabe, com aquele barrigão.- seu sorriso começa pequeno para logo alargar, fazendo o azul ficar miúdo. 

—Nunca me imaginei sendo mãe. Parecia maluco demais já que na época tinha os Jogos Vorazes e eu jamais iria entregar meu filho para a Capital.

—Assim como não deixou que Prim fosse.

Sacudo a cabeça confirmando, sua mão procura a minha para começar a brincar com meus dedos.

—Acho que por isso você decidiu tê-los, os jogos acabaram.- Peeta e suas palavras, tem o poder de me fazer refletir. 

Não tenho ideia de como decidi, e só de olhar para o lado e encontrar o loiro fuzilando seu azul em mim, quero saber como foi o momento. 

Quando me entreguei a ele.

O coração dispara, suas mãos não ajudam minha mente a esquecer e parar de nos imaginar.

—Você está ficando corada. Aposto que pensa o mesmo que eu.- como se fosse possível fico mais quente, esquecendo que tem pessoas ao nosso redor.

—Aposto que o garoto está falando besteiras no ouvindo dela!

Haymitch surge com sua filha nos braços, quando o vi a primeira vez na colheita parecia um cara desprezível, um filho não era o ideial.

Mas o mundo mudou bastante.

—Quieto.- ralho vendo-o rir deixando a menina no colo da mãe. 

—Onde você foi? Está toda amarrotada! 

—Papai me mostrou o último vagão, mamãe. O que tem uma porta e podemos sair.

—Por isso seu cabelo está horrível. 

—Deixa disso, mulher.- Peeta sorri deixando sua barba rala raspar por minha clavícula, provocando cócegas. 

—Eles ainda não acordaram?- ele nega, estou sentindo falta dos gritos e risadas.

Propus a mim mesma que agiria da melhor forma possível, só não esperava que iria me afeiçoar tanto a eles.

E começar algo com Peeta.

—Você está bem com tudo isso, querida?

Effie torna a falar, interrompendo meu momento de reflexão. 

Não entendo sua pergunta, mas preciso olhar o outro lado da história. Aquele que não lembro, onde lutei e perdi Prim na Capital.

—É suportável. 

—Espero que não te de um ataque igual da última vez.- Haymitch solta recebendo uma cotovelada da mulher. - O que? Até Paylor ficou assustada com ela!

Peeta recolhe seus braços saindo de trás da poltrona, senta ao meu lado.

O olho em busca de ajuda, não sei como agir quando estou no escuro.

É como dar um tiro sendo cego, você não tem ideia do que está fazendo. 

—Eu não vou.

—Sabemos que ainda é difícil pra você. 

Como será ir ao lugar que perdi Prim pela primeira vez?

Me deparar com pessoas que nunca vi, mas gostam de mim?

Viver a história a primeira vez, mesmo ja tendo participado dela antes?

                         

 

—Peeta? Está acordado?- esfrego a mão em seu peito, sentindo minha garganta pedir litros de água. 

—Hum...- ele resmunga virando o corpo enquanto me aperta mais, suspiro sentindo o incomodo aumentar.

—Preciso de água.  

Não faço ideia de como consigo, é tudo novo demais. 

—Amanhã.

Fico impaciente com sua demora, não posso culpá-lo por estar cansado, passou a tarde toda correndo entre os vagões com Willow e Rye.

Me livro de seu aperto, mesmo com seus murmúros de protesto.

Coloco um robe e abro a porta dando uma última olhada nas crianças antes de sair em busca de uma garrafa de água. 

Aperto o botão esperando a porta abrir, bato os dedos na madeira bem polida sentindo um frio lamber meus pêlos do braço.

Ao dar de cara com o vagão da sala, me choco com um novo passageiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ao Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.