Sono Eterno escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 9
O peso do arrependimento


Notas iniciais do capítulo

Oii, já prepararam os malões pra ir pra Hogwarts hoje?? eu juro q n desisti da história. Desculpa o tempo afastada, muita coisa aconteceu e eu nao conseguia escrever. Sou eternamente grata aos comentarios e incentivos! E percebi q a psicologia reversa do cap passado funcionou perfeitamente HUASHUAS Ninguém foi salvo, mas o assassino... Ele vai ser revelado. Boa leitura!



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Aviso: Pode conter gatilho emocional.

Claire já estava ficando impaciente. Quanto tempo mais precisaria ficar trancada na sala vazia do coral? O banco de madeira já estava deixando seu corpo dolorido, afinal, já fazia horas que estava ali, acompanhada de uma aurora que pouco falava ou se mexia, parecendo mais uma estátua do que uma pessoa. Achava injusto estar sendo tratada daquela forma, mesmo que isso fosse para protegê-la, como Minerva havia prometido. Parecia-lhe que os professores na verdade não tinham acreditado nas coisas que contou durante o depoimento e que ao invés de proteção, estavam oferecendo a ela uma prisão temporária. Mas Claire ainda era uma garota de 14 anos, assustada com tudo que estava acontecendo, sem digerir completamente as mortes e o luto que as acompanhavam, e com uma grande culpa sobre os ombros (mesmo sem a merecê-la, de fato). Pensar que o assassino ainda estava a solta e que a qualquer momento algum outro amigo seu poderia ser a próxima vítima, a dava calafrios. Desanimada, Claire se levantou e começou a observar, através das grades da janela, os campos de Hogwarts. Além do majestoso castelo, também conseguia ver uma parte pequena do campo de quadribol, que parecia brilhar com as cores das casas na arquibancada sendo refletidas pelos raios de sol, em contraste com o escuro trecho da Floresta Proibida. E foi ali, em pé, observando a paisagem pela janela, que Claire viu um grande clarão azul surgir por entre as árvores da Floresta Proibida. 

***

Alguns minutos antes…

Quando abriu os olhos, Fernanda não fazia ideia de onde estava. Seu corpo todo doía e a cabeça pesava com a perda de consciência recente. Seus músculos estavam tensos, como se tivesse passado a noite no relento, e não duvidava que era isso que acontecera, já que estava em cima de um amontoado de folhas e cercada por árvores. Estava com dificuldade de lembrar o que tinha acontecido, mas bastou focar seu olhar para sua esquerda, que entendeu: ali, deitado ao seu lado, dormindo, estava Anhangá em sua forma de veado branco. Apesar de estar dormindo, a criatura mágica exalava seu odor de sangue e seu calor ardente, que parecia estar numa linha tênue entre esquentar e queimar Fernanda. 

Não sabia que horas eram, nem quanto tempo havia se passado desde que perdeu a consciência. O medo em suas entranhas era tanto, que por cinco minutos ficou estática tentando controlar a respiração enquanto se perguntava se devia ou não tentar fugir dali enquanto a criatura dormia. Quando por fim decidiu tentar se levantar, o som das folhas abaixo de si foram suficientes para acordar Anhangá. Tentou, desesperadamente, correr para longe, mas seu corpo não obedecia direito seus comandos, resultando em uma queda. A passos lentos, Anhangá se colocou novamente a sua frente, mas desta vez desfez a sua figura de veado branco, e assumiu uma forma humana. Essa era mais uma de suas características: assumir a forma que bem entendesse. Seus traços no rosto eram semelhantes ao de Fernanda, como um nativo do Brasil; o nariz era largo e achatado, junto do rosto retangular, com a testa marcada com as linhas de expressão. Apesar de aparentar estar na faixa dos trinta anos, seus olhos eram marcados por sua ancestralidade. Seu corpo possuía os músculos definidos, como o de um guerreiro, e seu olhar mantinha o vermelho fogo, com uma linha de tinta escura cobrindo suas orbes. A tinta também estava presente em toda a extensão de seu corpo, com diferentes figuras e formas, que remetiam a Fernanda sua casa no Brasil, apesar das imagens pintadas serem diferentes das que sua tribo cultuava, devido a diversidade das culturas entre tribos. É como se, observando Anhangá, a frase que sempre ouvira sobre a pintura corporal fizesse sentido: “O corpo é uma tela humana que expõe a beleza de uma pintura bem desenhada”. Estar maravilhada com sua imagem, entretanto, não a fazia esquecer quem era a criatura a sua frente. Fernanda conhecia a lenda de Anhangá, e mesmo vivendo numa realidade em que a magia era possível, não sabia que a lenda era real até finalmente vê-lo. Anhangá sempre foi considerado um espírito de mau agouro, e ainda não havia entendido como e nem o porque ele estava ali, em Hogwarts, e muito menos o porque a sequestrou. Como estava caída no chão, Fernanda arrumou sua postura, e, mesmo com o corpo tremendo, ficou com um joelho apoiado no chão, dividindo o peso com a outra perna, como numa posição de pedido de casamento, e com a cabeça baixa, sem coragem de olhar novamente para as orbes flamejantes, e também porque temia faltar com respeito perante o espírito da floresta, perguntou: 

— O que deseja de mim?

— A pergunta não devia ser o contrário? Foi você quem me invocou. - Anhangá respondeu, assustando Fernanda que levantou o olhar para ele. 

— Eu… Eu não saberia como invocá-lo. - Murmurou confusa. 

Anhangá segurava em sua mão uma lança, que prontamente apontou para o pescoço de Fernanda, fazendo a brasileira prender a respiração e ficar com o corpo todo alerta. Porém, apesar de parecer estar ameaçando-a, Anhangá apenas usou a ponta da lança para puxar o colar que Fernanda usava de dentro de suas vestes verde e prata da Sonserina. 

— Eu protejo as caças e as criaturas que são ligadas a natureza, levo desespero apenas aos que merecem. - Explicou com o timbre de voz carregado — Quando você nasceu, sua vitalidade e intimidade com a magia foi reconhecida; sua presença será importante para defender nossas terras. Por isso, concordei em ser seu patrono. Esse colar que carrega tem o amuleto símbolo da minha promessa. Você rezou por mim, e cá estou. 

— Eu não fazia ideia... - Fernanda agradeceu e cedeu, caindo sentada. Lembrava de quando tinha 11 anos e foi pegar a chave de portal que a traria para Inglaterra, e sua mãe entregou o colar dizendo que ela devia rezar e pedir proteção quando estivesse nas terras estrangeiras. Mas nunca imaginaria que essa proteção se tratava de Anhangá. 

— Sua feição demonstra isso. 

— Mas… Eu rezei diversas vezes. - Fernanda sempre usou o colar como uma lembrança de sua mãe e de sua casa no Brasil; incontáveis vezes rezava segurando o colar, como se estivesse conversando com sua própria mãe. — Porque apareceu só agora?

— Minha proteção não é garantia de poder - Anhangá respondeu achando engraçado a lógica da garota. — Um verdadeiro guerreiro luta as próprias batalhas. Estou aqui para garantir que cresça e volte em segurança, e essa é a primeira vez isso está sendo ameaçado. Seja quem for a criatura que está fazendo isso, deixou rastros e contaminou a floresta com restos de substâncias, então espalhei por toda a extensão armadilhas antigas que outros bruxos nojentos descartaram por entre as folhas. 

— Você sabe quem é o assassino? 

— Não. Só reconheço suas pegadas… O cheiro se camufla muito com a floresta, como se ele ficasse o tempo todo perto de plantas.

— Então ou o assassino fica muito tempo aqui, ou fica no castelo perto da estufa, ou mesmo… O salão comunal da Lufa-Lufa - Fernanda sentiu seu coração se comprimir. Lembrava-se de logo quando fez amizade com Natalie, perceber que a garota tinha um cheiro parecido com um campo, ao passo que a colega explicara que o salão comunal era cheio de plantas e iluminado grande parte do dia com o sol. — Nós precisamos voltar para a escola, mas se você aparecer, todos vão suspeitar ainda mais. 

— O castelo não é seguro. Devemos ficar aqui e achar a criatura asquerosa que perturba a ordem natural. - A feição de Anhangá não demonstrava estar aberto a discussões. 

Antes que Fernanda pudesse falar qualquer coisa, o espírito da natureza voltou a sua forma de veado e saiu entre as folhas, voltando em pouco tempo com algumas frutas e raízes para alimentar Fernanda. Depois que a sonserina terminou de comer, Anhangá se colocou a frente dela, abaixou o tronco e flexionou as patas, indicando que Fernanda deveria montar. Sem questionar e agradecendo, a garota reuniu as forças que tinha, e junto de Anhangá, começou avançar por entre as árvores. Não demorou muito para que os dois encontrassem o grupo de alunos numa situação inesperada.

Fernanda reconheceu Elizabeth, Mary e Lisbeth que pertenciam a sua casa, além de Dara e Ian, os lufanos que haviam ficado para o interrogatório no outro dia. Não havia sinal de Claire, a corvina que também ficou sobre as maiores suspeitas, mas havia outra garota com as vestes azuis e cabelo loiro, com as pontas verdes, que Fernanda não conhecia. Tudo parecia uma grande bagunça, já que Ian estava desacordado com um curativo mal feito tentando estancar o sangue que escorria de sua perna (que estranhamente estava verde), e Elizabeth estava caída de joelhos à sua frente, com a varinha empunhada, de onde saia um fio cinza, parecido com fumaça, que envolvia a cabeça do lufano. Dara, Lisbeth, Mary e a corvina estavam de pé, tentando formar uma barreira para proteger os dois alunos caídos de um visitante inesperado: um lobisomem, que provavelmente havia sido atraído pelo cheiro de sangue. Rapidamente, Fernanda desceu de Anhangá, permitindo que o mesmo fosse defender seus colegas. Infelizmente, não foi rápido o bastante para impedir que o lobisomem acertasse com suas garras a lateral do corpo de Mary. 

— Mary! - Fernanda bradou desesperada. Os alunos que tentavam se proteger do lobisomem se assustaram com a presença de Anhangá, que tomou espaço e começou a afastar o licantropo dali. — O que está acontecendo? Porque estão aqui? 

— Depois explicamos. - Melanie respondeu. Com a ajuda de Lisbeth, levantaram Mary, afastando-a da confusão. 

— Você está bem? Temos que sair daqui! - Dara alertou Fernanda, puxando-a para próximo dos colegas. Agora, Anhangá e o lobisomem já estavam a uns 100 metros de distância. Fernanda duvidava muito que Anhangá fosse ferir a criatura de alguma forma, mas sabia pelos seus estudos também que lobisomens não atacavam outros animais, o que provavelmente acontecia era o espírito da floresta estar tentando acalmar e retirar o licantropo de perto dos alunos.

— De onde foi que você surgiu? - Mary murmurou com dificuldade. Melanie e Lisbeth haviam colocado-a sentada apoiada a um pinheiro. Sua camiseta branca estava rasgada, deixando a mostra a parte lateral de seu corpo que havia sido acertado pela garra, manchando suas roupas de sangue. 

— Você estava com a criatura?!?! - Lisbeth perguntou espantada. Nunca nos seus anos em Hogwarts se imaginou numa situação assim. 

— Pessoal! Temos que cuidar da Mary primeiro! - Melanie chamou a atenção. A saia da corvina já estava rasgada por ter feito uma atadura para Ian, e não sabia se apenas colocar o tecido ao redor do corpo da sonserina ajudaria a estancar o sangue. Os cortes pareciam profundos, e estavam muito longe do castelo para pedir ajuda. Além disso, agora dois alunos estavam feridos e incapacitados, e nada garantia que algum deles conseguiria sair vivo dali. 

— Anhangá irá nos ajudar. - Fernanda garantiu retirando sua capa e a estendendo no chão, para que pudessem cuidar de Mary. 

— Eu… Eu sabia que vo-você era poderosa. - Mary murmurou com dificuldade. Com um sorriso pequeno e lágrimas nos cantos dos olhos, observou as garotas ao seu redor tentando pensar em formas de mantê-la viva. Estava agradecida; agradecida e envergonhada. Sua vida nunca tinha sido fácil, sempre teve situações difíceis que a fizeram aprender desde cedo que jogar sujo era um dos caminhos mais rápidos até o poder, incluindo situações desgastantes e que a irritavam como ter formado uma aliança com Philip Tribiane. Mas estar no poder, ou no controle de algo, garantem mais segurança do que a imprevisibilidade ou humilhação de ser comandado por alguém. Lidar com as emoções de forma racional impedia que seu lado e jeito estranho viessem a tona, e por isso sempre demonstrou ter uma maturidade que não correspondia com sua idade -e foi por isso também que escondeu de todos que não era puro sangue. Não tinha vergonha de ser mestiça ou mesmo entendia essa obsessão por algo tão preconceituoso e segregador como a classificação sanguínea entre os bruxos, mas por crescer numa sociedade assim, ao invés de questionar, acabou se rendendo ao sistema. Toda a situação em Hogwarts havia mexido com algumas ideias que tinha como certeza; o fato de duas garotas “não-puras” terem sido mortas a fez pensar se era justo isso acontecer e a conclusão era que não, não era. Mas lutar contra isso parecia exaustivo e ineficiente, já que mesmo sem se manifestar propriamente já havia sido perseguida por seus colegas de casa. E agora estava ali, querendo salvar seus amigos, mas sendo salva por eles. 

— Deve ter algum feitiço para cortes… Eu sei que tem. - Dara falou enquanto andava de um lado para o outro, se sentindo frustrada. — Ou alguma planta que ajuda a fechar o ferimento… - Continuou, mexendo nos arbustos ao redor.

Melanie e Fernanda permaneceram ao lado de Mary, cuidando das feridas com os tecidos que tinham, mas parecia ser um trabalho falho já que a cada segundo que se passava, o rosto da sonserina ia ficando mais pálido. Já Lisbeth estava de pé, com a respiração desregularizada, sem saber muito bem o que fazer. As informações de que Anhangá era um espírito de mau agouro repetiam-se em sua mente, junto do medo latente de ser a próxima vítima a ficar incapacitada. Ter enfrentado um lobisomem a pouco só a fazia pensar o quanto queria estar na França, com seus pais e longe de toda essa confusão. Observava seu entorno aflita, percebendo que já não havia mais rastros de nenhuma das duas criaturas; em contrapartida, suas colegas se juntavam para manter Mary a salvo e Elizabeth e Ian permaneciam na mesma posição desde que a sonserina empunhou a varinha e gritou “Legilimens”. Não conhecia esse feitiço, mas esperava que fosse algo que ajudasse a parar o processo de decomposição que parecia acontecer na perna do lufano, para salvá-lo. 

Mas Lisbeth estava enganada; o feitiço nada tinha a ver com o bem estar de Ian. Na verdade, nesse momento, Elizabeth estava invadindo memórias, pensamentos e sentimentos do lufano. Por não ter a maestria necessária para efetuar o feitiço corretamente, Elizabeth sentia dificuldade de mantê-lo e por vários momentos, parecia viver as situações como se fosse ela mesma ali, no lugar do garoto. Flashes de uma infância com pais amorosos e irmãos mais novos que, mesmo sem entender, Elizabeth sentia que precisava proteger do mundo. O momento de euforia quando chegou a Hogwarts, mas que foi quebrado em seguida, quando discriminações começaram a acontecer. Era diferente e confuso, mas andar pelos corredores de Hogwarts traziam raiva e conforto. Flashes no salão comunal da lufa-lufa eram os momentos em que ela mais se sentia querida e bem. Mais de uma vez, as salas de aula transpassaram frustração e quase sempre Elizabeth queria falar ou mostrar sua opinião, mas não se sentia à vontade diante dos olhares julgadores, então se mantinha quieta. Foi estranho e revoltante quando em uma das memórias, foi acertada por duas bombas de bosta seguida de ofensas sobre sua origem, mandando-a voltar de onde viera e quando foi tomar iniciativa, um professor passou pelo local e rendeu-lhe uma detenção pela bagunça no corredor, ignorando a fala de que não era sua culpa. 

Era injusto e cruel. 

Mas, apesar de toda a raiva, os momentos com os colegas trazia alívio. Foi alívio também que perpassou por Elizabeth na memória em que Ian foi nomeado monitor chefe, seguido de situações em que o lufano usava da autoridade para defender os colegas de casa. E, em uma dessas memórias, Elizabeth reconheceu Natalie Primus. Não sabia dizer de que ano se tratava, já que a lembrança não era tão nítida assim, mas a lufana parecia pequena e frágil, sendo provocada por outros alunos. Elizabeth se aproximou, pronta para pôr fim a situação e distribuir detenções, quando o garoto da grifinória e um garoto da sonserina cuspiram na menina; não ficou claro para Elizabeth o que acontecia e o que os garotos falavam, mas sentiu em seu coração fúria que a situação causou ao lufano. E também, como essa fúria parecia machucá-lo, com a ambiguidade de não querer causar mal a ninguém e ao mesmo tempo desejar acabar com todos que provocavam os outros por sua origem. Elizabeth sentia lágrimas manchando seu rosto, mas não sabia se era uma memória ou ela mesma que chorava. Os sentimentos se intensificaram, quando por mais de uma vez situações como a que aconteceram com Natalie Primus se repetiram com outros alunos e com ele mesmo, acompanhado de frustração por parecer não fazer diferença todos seus esforços. Era como se o ódio estivesse sendo alimentado a cada nova memória, e ações que antes ajudavam a acalmar, não tinham mais efeito. Alguma coisa extrema precisava acontecer para que tudo isso tivesse fim, ou ao menos abalasse a maldita sociedade bruxa. A lembrança de Ian explicando todo o plano que tinha elaborado para Natalie se fez presente; Elizabeth, envolvida nos sentimentos e sem conseguir se diferenciar do garoto, entendia tudo que ele falava e achava justificável que situações drásticas necessitasse de atitudes drásticas também. Combater violência com justiça não era efetivo já que sempre quem se machucava, afastava e era atingido era o seu lado, afinal, a “justiça” é ditada por quem detinha o poder, então estava na hora de tomá-lo para si. 

Em seguida, as lembranças envolviam a Floresta Proibida, e uma espécie de laboratório secreto atrás de um amontoado de rochas que se pareciam com um punho, em que Ian e Natalie passavam o tempo ali estudando e combinando substâncias, até que então houve uma discussão. Era tudo tão confuso que Elizabeth não conseguia acompanhar o diálogo em si, mas percebeu que seja qual fosse o plano, Natalie não queria seguir adiante.

— Não posso matar alguém por um ideal! — a voz da lufana ressoou três repetidas vezes, fazendo Elizabeth sentir toda a tristeza e arrependimento que essa lembrança carregava, ao mesmo tempo que sentia também a convicção que Ian demonstrou, indo contra a aparente amiga de casa. Isso fez uma avalanche de sentimentos percorrerem Elizabeth, que sentia sua cabeça doer -mas, novamente, não sabia se era a sua própria cabeça que doía ou a do lufano. 

O conflito era quase palpável, e pareceu se resolver, quando, em um dos lapsos de memória, Ian retira as lembranças de Natalie, e dá continuação ao plano sozinho. Dessa vez a lembrança levou Elizabeth para uma casa estreita e velha, que a sonserina não fazia ideia de onde era. Segurava na mão esquerda um vidro com o que parecia ser uma poção e na direita empunhava a varinha em direção a porta, como se estivesse esperando um invasor, entretanto, quem passou por aquela porta foi Natalie Primus. 

Na… Natalie, o que faz aqui?— se viu perguntando. Medo e tristeza tomaram seu coração. 

Ian, não posso deixar que você faça isso.— Natalie disse tão baixo que Elizabeth quase não ouviu. 

Você… Você tinha que ter esquecido!— Perdeu a paciência, gritando. Elizabeth sentiu todo o pavor de Ian. Colocou o vidro com poção em cima de uma mesa velha e abaixou a varinha, enquanto que a lufana se aproximou e segurou uma de suas mãos.

Não vale a pena fazer dessa forma. Você não é um assassino.— Disse com o olhar firme para Ian. Um pensamento diferente se fez presente e Elizabeth entendeu que outra pessoa seria morta naquele dia, mas Natalie atrapalhou os planos de Ian.

Eu te envenenei…— Discordou. A dualidade entre querer fazer o plano dar certo e o arrependimento de não preservar a vida da amiga ocuparam o momento. 

Nós dois sabemos que só ele não basta para matar. É preciso da poção morto-vivo.— Natalie argumenta olhando para o frasco. — Nós podemos nos juntar a outros aluno, e sei lá, criar um coletivo! Nos mobilizar e ser a voz daqueles que não conseguem se impor, há tantas possibilidades… 

Eu já tentei! Já tentei!— Bradou e Elizabeth sentiu a cabeça latejar. Novas lágrimas surgiram, mas desta vez sabia que tanto ela quanto o Ian e a Natalie de suas lembranças também choravam. — Eu estou cansado de ser pacífico. Enquanto sangue não for derramado, nós seremos sempre invisíveis! 

Você não é invisível para mim.— Natalie respondeu. — Nenhum de nós é. 

Novamente, as falas da lufana refletiram como em eco, acompanhado do remorso.

Você é muito nova para entender. TUDO é por causa de sangue!— pregou virando de costas inconformado. Dentre tantos erros, esse era um dos que Ian mais se arrependia. 

Então que seja o meu a cair.— Natalie respondeu, bebendo o poção. O sentimento de horror que Ian sentiu foi tão forte que Elizabeth não conseguiu mais manter o feitiço, se desligando da mente do garoto. 

A carga emocional era tão pesada que parecia ter se passado dias. Seu corpo estava fraco, ao ponto da sonserina não conseguir se colocar de pé; sua cabeça doía e latejava como se alguém estivesse acertando-a continuamente com um martelo, e seus sentimentos estavam tão embaralhados que não sabia dizer ainda o que era uma memória sua ou de Ian. Mas de algo ela sabia: ali, diante dela, estava quem planejava os assassinatos de Hogwarts. E ele se arrependia amargamente disso.    


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Notas finais do capítulo

Pois é, esperavam? Combinou com suas teorias?
Muita coisa ainda tem que ser resolvida, e o destino deles ainda corre solto hehe
Desculpa se alguma coisa ficou confusa, eu enferrujei um pouco, mas qualquer duvida q tiverem e tiver spoiler é só mandar comentario q eu respondo! Beijão ♥



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