Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 10
Como matar


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o desaparecimento :/ fui algumas vezes de férias e não pude levar o portátil. Perdoem-me ♥ em compensação, fiz o capitulo maiorzinho do que o costume então espero que gostem♥



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Flashback

Os patos bravos levantam voo, mal a seta de Voughan atinge um alvo de treino improvisado. Os seus brilhantes olhos castanhos fitam os patos com alguma inveja. Eles são livres, podem ver o mundo e Voughan não.

Frustrado, ele quebra a seta ao meio com a ajuda da perna e atira-a para o meio dos arbustos. Um “Autch” ecoa e Peach sai de dentro dos mesmo com a mão na cabeça.

—Peach! – diz ele aflito_ desculpa eu não sabia que estavas aí.

—Eu estou bem, não foi nada de mais – apressa-se ela a dizer.

Peach retira a mão e uma mancha vermelha ensanguenta a palma da mesma.

 De imediato, Voughan rasga um pedaço da velha e suja camisa, e pressiona sobre o topo da cabeça da loirinha de olhos verde-água. Ela olha para ele um pouco surpresa.

—Estás a olhar para onde? – pergunta ele num tom de brincadeira. Ela morde o lábio e olha para o Lago Moraine, apenas a uns metros deles.

—Os teus pequenos cachos parecem feitos de ouro quando o pôr do sol embate neles – ela acaba por sussurrar, envergonhada.

Agora quem ficou envergonhado foi Voughan.

—Desculpa, eu não devia de dizer estas coisas…. – Ela dá um passo atrás_ toma, pensei que talvez tivesses fome…

Com as mãos bem abertas, Peach estende um pão com doce.

—Fui eu que fiz – continua_ o doce. Não o pão. Tu sabes, o Seth é que faz o pão na Vila e…

—Peach – ele trava-a_ eu percebi – ri.

Voughan dá uma trinca e delicia-se com o doce de frutos vermelhos. Tanto dedos como cantos da boca estão sujos assim que termina de comer.

Algo a remexer nos arbustos chama a atenção dos dois jovens. Voughan inspira o ar e cerra os dentes, mal identifica o cheiro.

—Temos companhia – diz sério.

Nesse momento, Katt, a puma da montanha, sai da vegetação. Ela rosna enquanto caminha lentamente em direção a eles. Peach coloca-se atrás de Voughan e puxa-o levemente pelo antebraço.

—Se corrermos agora, temos chance de lhe escapar – sussurra ela com medo. Voughan nega.

—Se corrermos, estamos mortos.

Voughan dá alguns passos atrás para pegar o arco e a bolsa de flechas. Katt fica ainda mais agressiva.

—Voughan, não a podes matar… – diz Peach_ ela faz parte dos espíritos da montanha.

—Preferes que ela nos mate a nós…? – devolve.

Voughan puxa a seta para trás, sem tirar os olhos da ponta da flecha que mira no grande puma diante deles.

—Voughan transforma-te, nunca serás perdoado se a matares dessa forma – Peach implora, quase em lágrimas.

—Tu sabes que eu odeio transformar-me -rebate, prontinho para soltar a seta. Katt vai ataca-los a qualquer momento.

—Voughan não te atrevas a soltar essa seta… - mas Voughan está decidido_ Voughan não!

Ele larga assim que Katt os salta ferozmente. Peach fecha os olhos, mas volta a abri-los segundos depois. A grande puma está diante de Voughan, a olhá-lo nos olhos, com o rasgão da flecha numa das patas dianteiras.

Katt dá um último rugido aos lobos, antes de desaparecer no meio da floresta.

 

 

Flashback Off

 

Nour abre com dificuldade a grande porta pesada do quarto de Luckyan, usando apenas uma mão. A outra segura uma tigela de barro, com uma mistela acastanhada, destinada para o alfa deitado na cama.

Mais uma vez, a única iluminação do quarto é uma vela. Está posta em cima de uma velha mesa de cabeceira, juntamente com um balde com água e um pano.

Nour aproxima-se e pousa a tigela, dando de seguida uma rápida olhadela em Luckyan. Ele segura-lhe o braço quando ela desvia o olhar.

—Porque é que me beijaste? – pergunta, com uma voz quase inaudível. Ele está a suar por todo o lado.

—Precisavas de te distrair da dor – responde ela_ morde isto.

Nour dá-lhe um pano para ele trincar.  Ela começa a retirar as ligaduras que envolvem as costelas dele de forma cautelosa. O furo da bala ainda não sarou.

—Isto vai-te doer – avisa ela, antes de passar os dedos na mistela e colocar sobre a ferida.

Luckyan contorce-se, salientando os músculos abdominais e as veias na zona da têmpora. Mesmo em forma humana, ele rosna como um lobo enraivecido.

—Maricas – ri Nour_ é apenas pasta de margaridas e açúcar. 

—Eu fui baleado e envenenado – diz depois de cuspir o pano.

—Eu fui queimada – ela rebate.

Nour levanta-se da cama e molha o trapo na água para lhe passar pela testa, peito e ombros.

—Tu beijaste-me porque gostas de mim, não me mintas – ele dá um sorriso no canto da boca.

—Da mesma forma que me mentiste a mim? – devolve a loba preta. Ela espreme o trapo molhado bem em cima da cabeça do alfa de prepósito.

—Entendi… estás chateada.

—Oh, chegaste lá sozinho?

Nour atira o trapo húmido em cima dele com força e vira-lhe as costas para se vir embora.

—Por favor… - ele pede_ não vás…

O coração dela aperta. Depois de um suspiro, ela volta a encará-lo. A imagem de Luckyan assim, vulnerável e fraco, faz-lhe pesar na consciência.

—Eu acho que a Saaya vai adorar tomar conta de ti.

Depois de um sorriso falso, Nour sai. Luckyan barafusta em direção ao teto húmido da gruta.

Cá fora, Nour parece que volta a respirar. Como se estivesse estado debaixo de água durante minutos.

Uns barulhos de passos chamam-lhe á atenção. Ela dá de caras com Nanuk na sua verdadeira forma, a caminhar para fora da gruta.

O Husky abranda por um segundo e ambos trocam olhares, antes de continuar a caminhar.

—Nanuk!

Mas Nanuk continua. Ela segue-o até fora da gruta e só para quando ele para também.

—Nanuk, onde é que tu vais? – pergunta agressiva. O Husky demora para se virar.

“O Raphael já deve de andar á minha procura. Eu tenho que ir “– responde o lobo branco e preto.

Nour cerra o maxilar antes de se transformar e apressa-se para acompanhá-lo.

—” O que raio pensas que estás a fazer?”— pergunta rude.

—” Ainda podes remendar o que fizeste!”— devolve a loba preta. Nanuk vira-se bruscamente.

—” E quem é que te disse a ti que eu queria remendar as coisas?!”— ele rosna_ “ou simplesmente retiraste isso da tua cabeça?! Olha para mim Nour! “- os olhos azuis dele brilham num fluorescente — “Os meus olhos são a minha sina! Eu matei, sem misericórdia e não me arrependo. Eu sou um monstro…por favor não me sigas”.

O Husky desaparece na densa floresta escura, mal termina. Nour fica por uns segundos estagnada, mas a brisa congelante de primavera canadense depressa a faz voltar para a gruta.

Aslam e Bear estão á volta da fogueira para se aquecerem. Aslam come os restos do fundo da panela, cheio de fome.

—Deixa-me adivinhar, ele foi embora outra vez – provoca ele, enquanto pega nos últimos bagos de arroz cozido das mãos.

Nour senta-se com as pernas cruzadas e olha para Aslam com uma expressão séria. Bear chama a atenção de Nour com a mão, antes de tirar uma sandes do bolso e estender para ela.

—” Guardei para ti. Foi o jantar” – gesticula ele com as mãos.

Nour estica-se para pegar. Aslam fica boquiaberto.

—Tu tinhas mais comida este tempo todo e não me deste?! – reclama.

—” Ela ainda não tinha comido, tu já comeste a tua parte” – devolve o mudo.

— Toma – resmunga Nour antes de estender metade da sandes a Aslam_ eu não tenho grande fome.

Ele fica surpreso, mas mesmo assim aceita. Bear diz que não com a cabeça.

 

**** 

 

Na Vila, Nanuk não demorara a chegar. Pé ante pé, quase em silêncio, ele entra pela janela do seu quarto num salto. Está escuro como breu, mas ele percebe que não está sozinho.

O som do descasque de uma maçã faz a sua orelha de lobo mexer. Ele olha, para o escuro, á espera que Raphael diga as suas falas.

—Eu dou-te 30 minutos de pausa e tu voltas a casa quase 6 horas depois…

—Perdi a noção do tempo – responde Nanuk, já humano_ depois a Ignis apareceu e…

Uma faca voa em direção a Nanuk, ficando espetada em cheio no ombro do Husky. Ele inspira fundo com o maxilar cerrado á medida que o velho vai-se aproximando.

—Nanuk, meu leal aliado… - o velho começa calmante_ sabes o que os romanos faziam aos traidores?

Dito isto, Raphael pressiona a faca ligeiramente, causando dores horríveis a Nanuk, que mesmo assim não quebra.

— Cortavam-lhes os dedos das mãos. Um por um, até confessarem. Se isso não fosse suficiente, era a vez dos pés. Um dos meus homens foi encontrado morto na margem do Lago Moraine. Eu espero que não tenhas nada a ver com isto.

—Não sei do que estás a falar – riposta Nanuk.

—O Gabriel encontrou pegadas de lobo e pelo preto– o velho continua a pressionar a faca. Se continuar assim, Nanuk vai ficar com ela atravessada de um lado ao outro_ foste tu? DIZ-ME!!

—Eu estava com a minha irmã!!  - ele grita. Raphael finalmente para de pressionar a faca.

Um longo e tenso silêncio paira no ar durante uns segundos. Raphael dá uma leve palmadinha no braço esquerdo de Nanuk e arranca a faca num ápice, antes de sair do quarto.

Nanuk, marejado em lágrimas, percebe que acabara de fazer uma grande asneira. O Husky deixa-se cair na cama e cobre a cabeça com as mãos, enquanto balança para trás e para a frente.

Alguém bate á porta e entra com alguma cautela. Ignis, a “amante” de Nanuk, espreita para o pequeno cubículo para dar uma olhada nele.

—Estás bem fofinho…? – pergunta ela ajeitando as vestes de seda quase transparente_ ouvi o chefe dar-te uma descasca. O que é que fizeste desta vez?

Nanuk levanta a cabeça e olha para a mulher de cabelo vermelho e olhos castanhos, com um ar de enterro.

—Pelos caninos de Fenrir Nanuk, quem morreu? – devolve ela.

—Não és uma Loup Garou  Ignis. Para de usar as nossas expressões como se fosses – rebate Nanuk curto e rude_ acabei de colocar a minha irmã na lista da morte.

—Eu não sabia que tinhas uma irmã… - sussurra ela. Nanuk balança os ombros e olha depois para a ferida enorme no braço_ Vou buscar algo para te tratar isso…

 

 

(…na manhã seguinte…)

 

 

Nour rapidamente percebe que ter dado a outra metade da sandes a Aslam, não foi lá grande ideia. Dormir com fome certamente não é das melhores experiências para se ter na vida. Várias vezes, a loba preta levantou-se a meio da noite para beber água para enganar o vazio no estômago.

Assim que os primeiros raios da manhã começam a aparecer, Nour levanta-se. Ela está decidida a caçar e a trazer comida para os próximos dias. Deu para notar o quanto Aslam ontem tinha fome. A comida já não está a chegar para todos.

Depois de uma grande caminhada e quase uma hora depois, Nour finalmente encontra uma presa. Um faisão selvagem. Não é grande coisa, mas enche a barriga durante meio dia a pelo menos um deles.

A pobre ave só dá por ela tarde demais. Ela quer encontrar salvação no ar e tenta levantar voo, mas Nour é mais rápida e eleva-se para dar-lhe um fim. A última coisa que se ouve é o estalo do pescoço ser partido.

 

 

****

 

Saaya olha para as latas de atum e de estômago vazio. Só há 3 e são 5 bocas para alimentar. Furiosa, ela fecha o punho e inspira fundo. Eles vão morrer á fome.

—”Só há isso?” – gesticula Bear para a morena de olhos castanhos.

—Sim Bear – ela assente_ é o que temos para 1 semana…nós temos que fazer alguma coisa.

O escocês olha para a entrada da gruta onde vê Nour cambalear, mas carregada com alguma coisa. O lobo branco e cor de avelã dá pulos de alegria e ajuda-a a subir até á entrada.

Saaya arregala os olhos assim que vê a quantidade de animais de pequeno porte que ela carrega. A maior parte são coelhos e pequenas aves. A loba castanha escura olha para Nour que está cheia de arranhões.

—O que raio te aconteceu? -pergunta_ roubaste isso a alguém ou foram os coelhos que te deram luta? -ironiza.

Nour inspira bem fundo antes de lhe pensar numa resposta. O lábio está arrebentado, a roupa mais suja do que o costume e os vários arranhões e cortes profundos evidenciam que houve alguma luta.

—Não, quem me deu luta foi o grandalhão ali fora…

Bear olha para as duas e sai a correr para ver o que está lá fora. Ambas as mulheres se encaram. Nour está cansada, ferida, e não está com mínima paciência para o temperamento de Saaya, que gosta de pôr defeitos em tudo que ela faz.

A grande porta de betão abre. Nour e Saaya olham surpresas para o alfa que acaba de sair do seu quarto pelo próprio pé.

—O que fazes aqui?! Devias de estar a repousar! – grita Saaya. Luckyan olha para Nour de cima a baixo.

—Sabes como caçar? -pergunta surpreendido.

—Sei como matar – rebate.

Bear entra na gruta a arrastar de rojo um veado quase maior do que ele pelos dentes com uma felicidade enorme.

—Faz jus á carne – exige Nour á Beta castanha escura_ não me faças quase ter partido o maxilar por nada.

A jovem de cabelo preto está a tornar-se uma mulher aos olhos de Luckyan, que sorri. Ele vê a diferença entre o dia em que a salvou e este preciso momento. Forte, independente e nenhuma ferida ou dor a faz desviar o olhar do seu objetivo.

Ela segue para o quarto e fecha a porta mal entra. Ok Nour, podes tirar a máscara de forte, ninguém está a ver.

Ela fecha os olhos com bastante força. O veado que deu uma enorme felicidade a Bear, deu-lhe com os cascos de trás no fundo das costas antes de morrer. Com um pedaço de espelho partido, ela consegue ver que uma enorme nódoa negra se está a formar rapidamente.

Luckyan entra no quarto de surpresa, o que faz com que ela baixe a camisa branca sem mangas e suja de sangue rapidamente.

—Estás a esconder o quê? – pergunta desconfiado.

—Nada – devolve ela rudemente_ vou tomar um banho ao rio.

Nour caminha para a saída, mas Luckyan não se fica.

—Já tomaste banho comigo aqui, qual é problema? – ele cruza os braços. Nour está praticamente na porta_ O que foi? Já não confias em mim é?

Ela olha para ele e diz antes de sair:

—Não.

Num passo acelerado e manco, Nour dirige-se á floresta. Ela dá um leve piscar de olho a Bear antes de desaparecer no meio do mato. O rio não é muito longe, mas algo está estranho. Ela consegue ouvir a água a correr, o que indica que a floresta está sob um silêncio mortal e nada habitual.

A jovem de cabelo preto roda a cabeça de um lado para o outro, nervosa. Nem uma ave, um coelho, um esquilo faz algum tipo de barulho. Algo os afugentou.

Numa outra situação, ela teria subido um pouco mais a montanha e ido tomar banho á cascata, mas não há energia para isso. Vai ter que ser aqui.

A margem do rio está a apenas uns metros. Ela olha em volta. Parece estar tudo bem, até que alguém aparece nas suas costas e tapa-lhe a boca.


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Notas finais do capítulo

Deixem ai o comentário para ajudar a amiguinha! Gostava de saber a vossa opinião e se estão a gostar do rumo da história :3

Até ao próximo capitulo ♥



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