325, 326, 327...

Fazia dois dias em que o templo de Plutão havia se tornado seu lugar favorito no Acampamento Júpiter.

Quieto, escuro, frio, sombrio, milhares de ossos para contar até dormir e ninguém se aproximava: perfeito para pessoas que se sentiam miseráveis.

Exatamente como Piper naquele momento.

328, 329, 330...

Sempre que fechava os olhos o desastre voltava em looping em sua mente, o olhar magoado de Reyna era como um soco no estômago, todas as vezes.

331, 332, 333...

Sua irmã estava certa? Afrodite havia marcado Reyna? Ou Piper era apenas estupida demais ao conseguir fazer exatamente o contrário de suas intenções?

334, 335, 336...

Havia magoado Reyna, quando apenas queria ajudar a curar seu coração.

337, 338, 339...

Estavam se abrindo uma com a outra, se conhecendo... Estava indo tudo tão bem...

340, 341, 342...

´´Você estragou tudo, agora ela vai embora. ``

Abraçou os joelhos, sem força alguma para fingir que não queria chorar.

Como havia conseguido? Estragar tudo para si mesma, machucar a garota que estava apaixonada e reforçar sua determinação em ir embora?

Voltou a encarar os crânios que formavam a parede a sua frente, tentando se lembrar onde parou a contagem.

1, 2, 3...

Reyna poderia ser feliz se juntando as caçadoras?

4, 5, 6...

Será que todos estavam certos e não era loucura?

7, 8, 9...

Nico entenderia um dia?

10, 11, 12...

O rangido alto da porta chamou sua atenção.

´´Ótimo, vou ter que assustar outro casal maluco que quer namorar aqui...``

Jason?

O Filho de Júpiter procurou nos cantos, até achar o que estava encolhida contra a parede, seu olhar cuidadoso deu o indício de que precisava sobre sua aparência. Seus passos ecoaram pelo ressinto sombrio, ele sentou ao seu lado, pigarreando por motivos que desconhecia.

— Você sumiu por dois dias. — Não era uma acusação, mesmo que ele soasse preocupado. — Não a vi nem no refeitório.

— Estou comendo em um restaurante em Nova Roma. — Tinha medo de sua reação ao ver a pretora.

O templo de Plutão era o único lugar no em todo o Acampamento Júpiter que não a fazia se lembrar de Reyna.

— Dakota me disse que viu você saindo daqui ontem, então resolvi chegar. — As vozes ecoavam pelo templo, como um som morto. — Pipes, você não é assim.

— Assim como? — Murmurou, se perguntando se no túnel de entrada do acampamento a deixariam chorar me paz.

— Você não deixa seus amigos preocupados. — Engoliu em seco, tentando varrer a culpa para algum lugar. — Ou se esconde assim quando sabe que ganharia quantos abraços coletivos fossem necessários.

— Desculpe, por preocupar vocês. — Não era culpa de seus amigos se estava um caco. — Eu só não queria ter que explicar o que aconteceu. — Relembrar em sua cabeça já lhe dava vontade de chorar, não conseguiria dizer duas palavras sem que as lágrimas a impedissem de continuar.

— Brigou feio com a Reyna, não é? — Encarou o loiro ao seu lado, indignada. — Não me olhe assim, você some e ela fica esquisita, não foi difícil entender.

— Esquisita? — Um bolo se formou em sua garganta.

— Distante. — Ele deu de ombros, como se isso não fosse importante no momento, o que Piper discordava. — Você não disse a ela, disse? — Seu olhar se perdeu nas centenas de caveiras a frente.

´´Deuses, alguém não sabe disso? ``

Aparentemente apenas Reyna.

— Diga a ela como se sente. — Mordeu o interior da bochecha, Jason pegou sua mão, querendo lhe passar força. — Piper, está tudo bem. — Riu com ironia.

— Não está nada bem, eu não... — Hesitou, sentindo o choro voltar. — Eu não quero ser igual a ela... — Limpou o rosto com as costas da mão. — Você...

— Está tudo bem. — Ele passou o braço por seu ombro para abraça-la. — Eu sei, ok? Acredite em mim, está tudo bem. — Teve vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.

Jason Grace era o melhor amigo que poderia querer.

— Hazel me disse que Reyna marcou uma reunião com ela para amanhã. — A espinha da filha de Afrodite gelou, Jason a soltou para fita-la nos olhos. — Você vai tomar um banho, jantar comigo e falar com a Reyna ainda hoje. — E se levantou, oferecendo a mão para ajuda-la.

Encarou sua figura por um momento, a voz suave e amigável a incentivando, o sorriso cortês, junto a mão estendida, para ajudar a garota que gostava a se declarar para outra pessoa.

— Jason, eu amo você. — Dessa vez não teve medo de dizer, porque ele sabia o real significado de suas palavras.

— Também amo você, Pipes. — E ela sabia o significado das dele, e esperava que um dia se transformassem também, pelo a mão de seu amigo.

Com aquela relação consertada, precisava dar um jeito em apenas mais uma.