Pokémon - Unbroken Bonds escrita por Benihime


Capítulo 4
Revelada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786685/chapter/4

— Certo, Cal. — O tom de Cynthia não deixava margem para discussões. — É melhor nos separarmos. Você vai pelas escadas, eu vou pelos elevadores.

Calista pensou em protestar, mas uma breve troca de olhares com a campeã foi o bastante para fazê-la mudar de ideia. Mantendo um silêncio contrariado, a morena simplesmente assentiu e obedeceu. Parou de súbito, surpresa, após poucos degraus, tendo ouvido um rugido muito familiar soar nos andares acima.

A irmã de Ash se apressou, usando o corrimão para tomar impulso enquanto saltava os degraus de dois em dois. Furiosa, xingava a si mesma em pensamento. É claro que haveria uma armadilha na saída dos elevadores, era o plano mais óbvio. Tão óbvio que chegava a ser ridículo. E Cynthia assumira todos os riscos sozinha, novamente uma atitude tão óbvia, tão típica da campeã de Sinnoh, que a irmã de Ash se sentiu uma idiota por não prevê-la.

Por fim Calista alcançou o último andar, mas o encontrou vazio e às escuras. Olhando em volta enquanto esperava seus olhos se adaptarem, a morena ouviu Mirabelle rosnar baixinho ao seu lado.

— Calma, garota. — A jovem kantoniana sussurrou para sua pokemon. — Fique quietinha. Pode ser uma armadilha. Aposto que estão esperando por nós.

A Sylveon meramente rosnou mais alto em resposta, suas fitas azuis sendo envolvidas por um suave brilho rosado. Calista sorriu consigo mesma. Qualquer um que tentasse atacá-las seria imediatamente repelido pela Explosão Lunar de sua teimosa, porém extremamente leal e corajosa, parceira.

— Como quiser. — A morena disse, estendendo uma das mãos para acariciar o topo da cabeça de Mirabelle. — Ainda bem que você está do meu lado, garota. Eu não iria querer enfrentá-la.

A dupla seguiu pelo andar escuro até atingir o extremo oeste do prédio. Lá, uma porta entreaberta revelou uma escadaria de aspecto industrial, com degraus de metal que se perdiam na escuridão acima. Havia traços de ferrugem no corrimão, indicando o pouco uso do local.

— Essa escada ... — Calista sussurrou, seus olhos se arregalando ao perceber tudo. — É claro! O terraço! É para lá que eles foram! Vamos, Mira! Rápido!

A jovem kantoniana abandonou toda a pretensão de ser discreta e subiu aquela escada correndo, novamente pulando os degraus aos pares. Chegou ao topo da escadaria a tempo de ver um Pyroar macho atacar a Garchomp de Cynthia com um poderoso Hyper Voz. Mirabelle saltou à frente e bloqueou o ataque com sua Voz Ecoante.

— Cal! — Cynthia exclamou. — Não! Saia daqui!

Calista negou com um gesto de cabeça enquanto galgava o último degrau, finalmente revelando sua presença ao homem no telhado. Lysandre a encarou com surpresa, mas seu choque não se comparava ao da mulher de cabelos castanhos que se encontrava parada ao seu lado.

— Calista?!

— Diantha, já chega! — A morena ordenou. — Isso é loucura, e não consigo acreditar que você vai se dignar a simplesmente assistir de braços cruzados.

Por um momento Calista pensou ver um relance da Diantha que conhecera naqueles olhos azuis, a mulher que colocaria a si mesma em risco sem pensar duas vezes para proteger aqueles com quem se importava. Mas logo qualquer expressão naqueles olhos azuis foi suprimida pela mais pura frieza.

— E mais uma vez você fica do lado dela. — A atriz disse simplesmente. Calista recuou um passo inconscientemente. Jamais ouvira Diantha usar aquele tom de desdém com qualquer pessoa, quanto mais com ela. — Eu já deveria saber.

— Não estou escolhendo um lado. — A morena protestou, quase implorando. — Por favor, Diantha. Essa não é você.

— É o que você pensa, Calista. — Diantha rebateu. — Mas você é como qualquer outro: todo esse tempo, viu somente o que desejou ver.

— Cal, cuidado!

Garchomp empurrou Calista com toda a sua imensa força, o que com certeza a teria ferido se a pokemon não a tivesse segurado contra si com firmeza, impedindo que caísse. A dragão rugiu em desafio, dispersando o Pulso Sombrio de Pyroar com um Lança Chamas.

— Você está bem? — Cynthia inquiriu, correndo até a jovem kantoniana.

— Estou. — Calista assentiu, sorrindo para a dupla letal à sua frente. — E obrigada, vocês duas. Lhes devo uma.

Garchomp meramente revirou os olhos ante aquelas palavras, como se dizendo que não importava. Cynthia deu de ombros casualmente.

— Quem está contando, afinal? — A campeã rebateu.

A morena sorriu brevemente para Cynthia, postando-se lado a lado com sua amiga. Mirabelle avançou com os dentes à mostra, rosnando ferozmente, pronta para a batalha.

— Não pensei que fosse esse tipo de homem, Monsieur de Lion. — A irmã de Ash declarou. — Atacando uma dama desprevenida.

— Há momentos, minha cara, em que devemos recorrer a estratagemas que desaprovamos na busca por nossos objetivos.

— Quanta nobreza. — Calista zombou. — Mas, infelizmente, isso também se aplica a nós. Por mais que eu desaprove uma batalha de duas contra um ...

— Dois contra dois. — Diantha a interrompeu friamente, abrindo um sorriso irônico ao ver a surpresa das duas mulheres. — Não foi você mesma a me acusar de simplesmente assistir de braços cruzados? A não ser que esteja com medo de batalhar contra mim.

A atriz se postou ao lado de Lysandre, tirando seu Hawlucha da pokebola. O Pokemon Lutador tentou atacar Mirabelle com uma Injeção Venenosa, mas Garchomp saltou à frente e interceptou o golpe com um Quebra-Telha que obrigou o adversário a afastar-se.

— Pois bem, então. — Foi Cynthia quem falou. — Se vai insistir nisso, Diantha, que assim seja. Você não nos deixa outra escolha.

Calista e a campeã de Sinnoh formavam uma dupla incrível. Juntas, elas e seus pokemon formavam uma muralha de defesa quase impenetrável, bloqueando todos os ataques da dupla adversária e rebatendo com força bruta impressionante. Batalhavam em perfeita sincronia, quase como uma só pessoa. 

Hawlucha tentou atingir Garchomp com uma Prensa Voadora, mas Mirabelle bloqueou seu avanço com Estrela Cadente, forçando-o a recuar mais uma vez. Esse golpe, no entanto, havia sido apenas uma distração, deixando ambas as pokemon sem tempo hábil para contra-atacar a Explosão de Fogo lançada por Pyroar. Antes que as chamas as atingissem porém, bateram contra uma parede de energia magenta.

A Gardevoir de Diantha saiu das sombras onde estivera até então oculta, para surpresa geral. A atriz hesitou ao ver sua parceira, que avançou e se postou na frente de Calista com os braços bem abertos, protegendo a jovem com seu próprio corpo.

— Saia da frente, Gardevoir. — Diantha ordenou rispidamente. — É uma ordem. Saia!

A pokemon tipo Psíquico/Fada encarou sua treinadora por um breve momento antes de negar com um gesto de cabeça. Num segundo Diantha tinha outra pokebola nas mãos. Gardevoir derrubou o dispositivo lançando uma Bola das Sombras, o que fez a atriz arquejar audivelmente de choque e mágoa.

Lysandre, vendo a hesitação de Diantha em atacar sua adorada pokemon, se absteve de interferir, deixando a escolha completamente ao encargo da mulher kalosiana.

— Já que é assim ... — A atriz declarou após alguns segundos. — Hawlucha, use Injeção Venenosa.

O Pokemon Lutador atacou a uma velocidade impressionante. Foi, porém, bloqueado por um Estrela Cadente de Mirabelle e um Lança-Chamas de Garchomp.

— Obrigada, Gardevoir. — Calista disse calorosamente, postando-se ao lado da Pokemon Abraço. — Mas não vou deixar que lute sozinha. Estamos juntas nessa agora.

A pokemon assentiu solenemente em concordância. Mirabelle e Garchomp tomaram a dianteira, mantendo os dois adversários ocupados o bastante para que Gardevoir pudesse envolver Hawlucha em seu campo psíquico. O poder daquela pokemon era tão impressionante que lançou o adversário para o outro lado do terraço.

— Esqueça. — A morena declarou. — Vocês não vão vencer de jeito nenhum. Não vamos permitir.

— É o que veremos, Rainha de Kalos. — Lysandre disse. — Agora, Pyroar, Explosão de Fogo!

A explosão foi lançada na direção das escadas que levavam ao terceiro andar do prédio. Momentos depois o rugido das chamas que começavam foi ouvido, juntamente com o estalo inconfundível de uma viga já danificada começando a ceder.

Com um sorriso maníaco, Lysandre chamou seu Pyroar de volta e escolheu outra pokebola, esta contendo um Honchcrow. Hawlucha, que a essa altura já havia se recuperado, ergueu-se de um pulo e agarrou Diantha pela cintura. Os dois treinadores kalosianos voaram para longe, desaparecendo de vista no céu noturno em questão de segundos.

— Droga! — Cynthia exclamou. — Devíamos ter percebido! Este prédio é antigo, as fundações estão condenadas. O fogo vai fazê-lo desabar.

— Acha que conseguimos sair a tempo?

— Não com o incêndio no terceiro andar bloqueando nosso caminho. — A campeã respondeu. — Nossa única opção seria voar, mas Garchomp já está ferida. Não vai conseguir levar nós duas.

— Merda! Se pelo menos IceFire estivesse aqui! — Calista exclamou. — Vá você, e me espere lá embaixo. Eu dou um jeito.

— Sem chance, Cal. — Foi a resposta. — Não vou sair daqui sem você.

A treinadora kantoniana estava prestes a protestar quando uma luz branco-azulada lhe chamou a atenção, fazendo-a calar-se. Bruxuleava suavemente em um dos cantos do terraço, quase como um fogo-fátuo em sua visão periférica. Calista decidiu investigar, apenas para se deparar com uma escada de incêndio que percorria a lateral do edifício. Parecia antiga e estava apenas precariamente presa, mas era obviamente a melhor opção.

— Mira, volte. É muito perigoso. — A morena disse, colocando sua Sylveon de volta na pokebola e guardando o dispositivo no bolso. — Bem, campeã, você disse que não sairia sem mim. Então vamos nessa.

Olhando para a loira por sobre o ombro, Calista a viu encarando a porta que levava ao terceiro andar. As chamas haviam aumentado exponencialmente, e seu brilho era visível. Os olhos da campeã estavam arregalados de medo. A jovem kantoniana estendeu uma das mãos para segura-la pelo pulso, dando-lhe um leve puxão. Cynthia finalmente pareceu voltar a si, olhando-a por um breve momento antes de assentir.

No momento em que Calista pisou na escada a estrutura balançou precariamente, fazendo com que a morena quase perdesse a pegada. Conseguiu, porém, firmar-se graças a seus reflexos rápidos.

Foi com surpresa que as duas treinadoras viram Garchomp e Gardevoir trocar um rápido olhar. A pokemon tipo Dragão assentiu, permitindo que sua aliada a montasse e decolando. No mesmo instante Calista e Cynthia foram envolvidas pelo campo magenta de energia psíquica criado por Gardevoir. Com a ajuda da Pokemon Abraço, chegar ao chão foi uma tarefa fácil.

— Obrigada, Gardevoir. — A morena disse assim que seus pés tocaram o asfalto. — Você é o máximo. E você também, Garchomp.

— Vocês duas pensaram rápido. — Cynthia concordou calorosamente, sua voz ligeiramente rouca. — Muito obrigada.

— Você está bem, Cynth?

— Estou. — A campeã assentiu, já ouvindo o som de sirenes que indicava que os bombeiros estavam a caminho. — É melhor sairmos daqui, não acha? Não queremos nos envolver em nada do que aconteceu.

A resposta àquela sugestão foi um mero aceno em concordância. As duas amigas seguiram caminhos diferentes. Na manhã seguinte, Calista se viu novamente no parque em que ocorrera seu rompimento com Gary, correndo lado a lado com Mirabelle e Gardevoir. O ritmo cada vez mais rápido a impedia de pensar, o que era exatamente seu intento.

— Calista!

A voz que a chamou era conhecida. Calista tinha certeza de que reconheceria aquela voz mesmo em meio ao rugido de um furacão. Grunhindo baixinho de raiva, a morena correu ainda mais rápido.

Calista. Dessa vez a voz de Diantha soou em sua mente, no mesmo tom de reprovação quase maternal que Calista conhecia tão bem. Ser teimosa é uma coisa, meu bem, mas isso já é exagero.

A irmã de Ash ignorou aquele comentário. Diantha chamou-a mais uma vez, e foi o tom de súplica na voz da atriz que fez com que Calista hesitasse. Devagar, a jovem voltou-se para ver a mulher kalosiana encarando-a de braços cruzados, com um olhar que mesclava frustração, diversão e afeto.

— Eu sempre soube que você era teimosa, meu bem. — A atriz declarou, oferecendo-lhe um breve sorriso. — Mas não a esse ponto.

— Vá se danar, sua traidora maldita!

A exclamação da jovem kantoniana foi corroborada por um grito de raiva de Gardevoir, que mais uma vez postou-se ao lado de Calista em uma atitude defensiva. Isso definitivamente fez um flash de dor passar pelos olhos de Diantha.

— Apenas me escute. — A atriz disse baixinho. — É tudo o que peço. Eu ... Só quero conversar.

— Depois da noite passada, eu diria que você não tem o direito de me pedir coisa alguma. — Foi a resposta. — E não temos nada para conversar!

— Eu poderia ter dito o mesmo, Princesa Rocket. — Diantha rebateu, parecendo frustrada pela teimosia de Calista. — O que teria acontecido, então, se eu não a tivesse apoiado? Eu ouvi o seu lado da história, é tão injusto pedir que me ouça só por um minuto?

— Aqui não é lugar para essa conversa. — Calista declarou mais calmamente, reconhecendo que a outra mulher tinha razão. — Está congelando aqui fora. Venha comigo.

As duas treinadoras seguiram caminhando juntas em silêncio, com Gardevoir sempre vigilante ao lado da jovem morena, que aos poucos começou a perceber a fachada sempre perfeita de Diantha vacilar, demonstrando o quanto a atitude da pokemon a magoava.

— Você mentiu para mim. — Calista acusou enquanto andavam, sem conseguir se voltar e olhar para a mulher que outrora considerara uma grande amiga. — Esse tempo todo eu pensei que fôssemos amigas, mas não. Você me enganou! Foi tudo só atuação, não foi?

— Não! — Diantha protestou. — É claro que não. Nunca menti sobre isso. Nós somos amigas, Calista.

— Me poupe. — Foi a resposta ácida da Rainha de Kalos. — Já tive minha cota de suas mentiras, Diantha. Não vou cair nessa de novo.

— Olhe para mim. — A atriz declarou simplesmente, estendendo uma das mãos para segurá-la pelo pulso e deter seus passos. — Você me conhece melhor do que quase qualquer um, saberá imediatamente se eu estiver mentindo.

Calista obedeceu, notando com surpresa que aquela era a primeira vez que via Diantha totalmente sem maquiagem. A ausência de adornos somente fazia seus olhos azul-celeste parecerem maiores e mais expressivos. E tudo o que viu neles foi arrependimento. Arrependimento sincero.

— Honestamente, Diantha. — A irmã de Ash disse acidamente depois de alguns segundos. — Você é uma tola se pensou que poderia me convencer tão fácil assim.

— Meu bem ... — A atriz respondeu, sua voz soando tão magoada quanto a expressão naqueles olhos azuis. — Se eu realmente pretendesse enganá-la, não estaria aqui agora. Acredite, eu quero muito lhe contar ... Quero mais do que tudo .... Mas não posso. Só tem uma coisa sobre tudo isso que posso lhe dizer: quando invadimos o laboratório da Equipe Rocket, eu deveria tê-la impedido de conseguir aquelas informações.

— Por isso você as copiou, não foi? Para Lysandre.

— É claro que não. — Foi a resposta. — Fiz aquilo por você. Foi então que Lys percebeu que não poderia confiar inteiramente em mim e armou para que você soubesse de tudo.

— Acha mesmo que sua atuação vai me convencer? Me poupe, Diantha!

Para sua surpresa, aquela pergunta ácida recebeu como resposta um breve sorriso.

— Suponho que não. — A mulher kalosiana respondeu. — Nada do que eu diga vai convencê-la. Mas eu não esperava nada menos. Você sempre conseguiu ver através de qualquer um dos meus truques, mesmo os melhores. Isso é parte da razão pela qual passei a amá-la tanto.

Calista meramente encarou sua mentora, erguendo uma sobrancelha em um gesto de descrença. Seus olhos verdes, porém, queimavam com uma raiva que beirava o ódio.

— Depois de ter me deixado lá para morrer queimada ... — A voz da Rainha de Kalos tremia de raiva. — Realmente espera que eu acredite nisso?! Ainda tem coragem de dizer que me ama?! Você é mesmo uma cínica.

— Nada teria acontecido a nenhuma de vocês. — Diantha revelou baixinho. — Foi por isso que enviei Gardevoir a você: para protegê-la.

— Espere, então naquela noite ...

— Sim, foi tudo encenação. Gardevoir e eu combinamos tudo.

Calista se voltou para a pokemon ao seu lado. Antes que sequer precisasse perguntar, Gardevoir assentiu, confirmando as palavras de sua treinadora. Diantha e a Pokemon Abraço trocaram um breve sorriso, um gesto de cumplicidade que explicava tudo além de qualquer dúvida.

— Talvez isso seja verdade. — Calista cedeu. — Mas ainda não acredito em você quanto ao resto.

— Que seja. — Diantha declarou. — Posso facilmente provar o que digo.

 A atriz estendeu a mão direita com a palma para cima. O significado daquele gesto atingiu Calista como uma bala direto no peito. Mesmo durante suas práticas de Projeção, jamais haviam aberto suas mentes totalmente. Agora Diantha estava permitindo - pedindo, até - para que a barreira final entre elas fosse quebrada.

A morena pôs a mão sobre a da mulher kalosiana. As imagens vieram em rápida sucessão, deixando-a em fôlego. Quando Diantha enfim se afastou, Calista mal conseguia olha-la nos olhos. As duas seguiram em silêncio, apressando o passo para fugir da neve que começava a cair. Logo se viram em uma pequena cafeteria, que Calista imediatamente reconheceu. O dia em que estivera ali tomando chocolate quente com suas duas melhores amigas parecia pertencer a uma outra vida.

— Então ... — Calista falou baixo, quase num sussurro. — Você está apaixonada por ele?

— Desde sempre. — A atriz confessou com tristeza. — Você não tem ideia de como ele costumava ser. Lysandre era ... Um herói. Ele queria mudar o mundo, torná-lo um lugar melhor. Foi por aquele garoto que me apaixonei, não pelo homem em que ele se tornou. Mas percebi que Lys não vai mudar, não importa o que eu faça. Finalmente pude ver o erro que cometi. Por isso vim até aqui falar com você.

Calista ergueu os olhos a tempo de ver Diantha passar as costas da mão esquerda pelo rosto, secando algumas lágrimas que insistiam em cair. 

— Tarde demais, eu diria. Pelo menos em relação a mim. — A morena respondeu. — Mas talvez ainda haja esperança. Talvez Lysandre só precise do motivo certo.

— Talvez. Mas já não me importo em descobrir. — Diantha respondeu tristemente. — Ter sequer tentado foi um erro. Você  acha ... Acha que pode me perdoar? Pode ao menos considerar essa possibilidade?

— Eu já te perdoei. — Calista confessou, deixando a tristeza tomar o lugar da raiva. — O que aconteceu não muda o fato de você ter ficado do meu lado quando ninguém mais estava. Por mais que eu queira ser capaz de te odiar, o coração não muda de ideia tão facilmente.

Para sua surpresa, Calista viu o já familiar sorriso de dez mil volts iluminar o rosto de Diantha, como o sol rompendo as nuvens ao amanhecer.

— Obrigada, Calista! — A atriz exclamou calorosamente. — Você nem imagina ... 

— Não me agradeça. — Calista interrompeu. — Posso ter compreendido, talvez até perdoado você ... O que não significa que as coisas vão voltar a ser como eram antes. Honestamente, Diantha, não sei se algum dia vou conseguir voltar a confiar em você. Ou sequer se conseguiremos ser amigas novamente. Nada vai ser o mesmo a partir de agora.

— Eu ... — Pela primeira vez desde que a conhecera a jovem kantoniana viu Diantha gaguejar, pega completamente desprevenida. — Eu entendo. Bem, preciso ir antes que Lys perceba minha ausência. Cuide da nossa garota, Gardevoir.

A Pokemon Abraço assentiu solenemente. Calista a encarou, atônita.

— Sabe que não precisa fazer isso, Gardevoir.

A pokemon tipo Psíquico/Fada meramente deu de ombros em resposta, abrindo um breve sorriso.

— Ela sabe. — Diantha disse suavemente. — Mas não sou a única que se preocupa com você.

— Se realmente se preocupa comigo tanto assim, por que não me contou a verdade desde o começo?

— Porque fui uma boba e pensei que você não entenderia. — Foi a resposta. — Pense no que eu lhe disse, está bem? E até breve ... Minha amiga.

A essa despedida a irmã de Ash respondeu simplesmente com um aceno de cabeça. Não muito depois de Diantha ter partido, o celular de Calista tocou. Um número bloqueado, o que só podia significar uma coisa.

— Não tenho muito tempo. — Giovanni anunciou prontamente. — Me escute, princesa. Na base em Viridian, na minha sala. Há algo lá que você precisa ver. Para entrar, digite 2105. Os arquivos estão criptografados, mas verá que isso não será problema para você. E mais uma coisa: há uma estante antiga na extrema esquerda, ao lado da minha mesa. Tem um cofre atrás dela. Quero que pegue as duas pokebolas que estão dentro dele. São suas agora. Cuide bem delas.

— Eu não posso fazer isso, pai.

— Nem mesmo se encarar isso como mais uma missão?

— Uma missão para a Equipe Rocket?

— Não. Dessa vez, considere isso uma missão para o seu pai.

A surpresa levou a melhor por um longo momento, até que Calista enfim foi capaz de dar seu consentimento. Cumpriria o pedido de seu pai.

Algumas horas depois Calista se esgueirou pelo corredor até o escritório de Giovanni, desejando mais do que tudo a companhia de Cynthia naquele momento. Mesmo sabendo que não corria perigo algum, se sentiria melhor se a amiga estivesse ao seu lado.

A jovem balançou a cabeça de leve, forçando-se a focar no momento presente e estendendo uma das mãos para digitar a senha que seu pai lhe dissera. A porta se abriu com um clique baixo e a morena deslizou para dentro da sala. Por um breve instante sua mente lhe pregou uma peça, fazendo-a ver Giovanni acomodado atrás da antiga escrivaninha de carvalho com seu inseparável Persian, ambos erguendo os olhos ao ouvi-la entrar. Calista ignorou suas lembranças e avançou, aproximando-se para ligar o computador de seu pai.

Acessar os arquivos e desvendar a criptografia foi, como Giovanni havia prometido, extremamente fácil. Mal começou a ler e a morena desabou na cadeira estofada atrás da escrivaninha, tonta e enfraquecida de surpresa.

— Ele ... Sabia!

As palavras deixaram seus lábios em dois arquejos quase inaudíveis. Giovanni sabia. Talvez sempre tivesse sabido. Seu pai sabia sobre o elo lendário que Calista um dia teria com Meloetta, e sabia o que aquilo significaria para sua filha então recém-nascida. Ele tentara encontrar um modo de impedir aquele destino, quebrar o elo antes que fosse firmemente estabelecido. Era nisso que o Projeto Um se baseava.

Quanto mais lia, mais horrorizada Calista ficava, uma das mãos subindo inconscientemente para cobrir-lhe a boca com firmeza, como se tentasse conter um grito de revolta.

Caly. A voz suave de Angel soou em sua mente. Caly, tente se acalmar. Concentre-se no que veio fazer.

Calista balançou a cabeça levemente em resposta, com um suave soluço de choro escapando de seus lábios. A tela à sua frente se tornava cada vez mais indistinta, borrada pelas lágrimas que ameaçavam transbordar de seus olhos.

— Então você estava mesmo aqui. — Uma voz feminina disse ironicamente. — Se o próprio chefe não tivesse me dito, eu jamais teria acreditado.

A jovem kantoniana pulou de susto e virou o rosto, tentando esconder suas feições com seus cabelos, amaldiçoando-se pela falsa noção de segurança que a levara a baixar a guarda e tirar a máscara em formato das asas de um Butterfree que era a marca registrada da infame Princesa Rocket. Num segundo, porém, Jessie estava à sua frente. Os dedos longos da outra mulher agarraram Calista pelo queixo, forçando-a a olhar para cima. Para sua surpresa, a morena viu Jessie sorrir.

— Eu sabia. — Foi só o que a mulher de cabelos cor de rosa disse, seu tom suave. Quase afetuoso, até. — Não poderia ser outra pessoa.

Angel! Calista exclamou em pensamento.

Espere. A Meloetta respondeu. Tem alguma coisa ... Converse com ela, Caly.

O que?!

Confie em mim e faça o que pedi.

Mesmo contra a sua vontade, a jovem kantoniana cedeu. Forçou seus músculos a relaxarem, deixando seu queixo se apoiar na palma da mão de Jessie enquanto seus lábios se erguiam em um pequeno sorriso zombeteiro.

— Bravo. — A morena declarou rispidamente. — Você descobriu. Agora já pode ir contar a todos os outros.

— Ela não fará isso. — Uma voz masculina declarou gentilmente. — Nem eu, tampouco.

— E nem eu, belezura. — Uma terceira voz, roufenha e pingando ironia, completou.

Por sobre o ombro de Jessie, Calista viu mais duas figuras entrarem na sala: uma delas era James, e a outra era ninguém menos do que Meowth.

— Vocês ... — A morena disse, sem conseguir acreditar. — Como sabiam?!

— Sempre soubemos. — Foi Jessie quem respondeu, quase parecendo se divertir com aquela pergunta. — Você está bem?

Em um momento de fraqueza a irmã de Ash quase se permitiu revelar tudo. Deteve-se, porém, no último segundo, adotando uma fachada muito mais fácil: raiva. Com um sonoro tapa, afastou a mão de Jessie e se pôs de pé.

— Não preciso de ajuda. — A morena rosnou, seus olhos fixos em James ao invés de na mulher à sua frente. Era mais fácil dessa forma. — Não de você. E muito menos de você ... Assassina.

— Cale a boca. — Jessie rebateu. — É isso, Calista. Cansei dessa discussão. Onde está a garota que conheci em Viridian? Aquela menina não seria burra de rejeitar ajuda, sendo que claramente precisa dela.

— De que diabos você está falando?

— Do cofre, sua bobinha. — Foi James quem respondeu. — O chefe nos contou tudo. Ele disse que você precisaria de uma mãozinha.

— Bem, ele estava errado.

O homem de cabelos azuis meramente arqueou uma sobrancelha em resposta, desdenhando silenciosamente. A jovem os ignorou, inserindo um pen-drive no computador de seu pai e teclando a série de comandos que lhe permitiria copiar os dados contidos ali. Aquilo não estava nos planos, e ela sabia que Giovanni ficaria furioso se descobrisse, mas algo a impedia de simplesmente ficar calada.

Assim que terminou se pôs de pé suavemente, seguindo na direção da estante no canto oposto da sala. Era uma peça de madeira maciça, cheia de antigos livros grossos com encadernação em couro. Impossível de mover, quanto mais por conta própria.

Com um suspiro frustrado a jovem treinadora kantoniana tirou Kyle, o Lucario, da pokebola. Ela e o Pokemon Aura agarraram a pesada estante juntos, mas não foram capazes de movê-la.

— Carnivine. — Calista ouviu James dizer. — Use seu Chicote de Cipó e dê uma mãozinha.

— Você também, Gourgeist. — Jessie disse. — Vá ajudar.

James e Carnivine se juntaram a Kyle, enquanto Jessie se juntou a Calista. Por um segundo, a morena sentiu a mão da outra mulher roçar a sua num gesto de cumplicidade, e então os quatro treinadores e seus pokemon, trabalhando juntos, finalmente conseguiram mover a estante. Apenas um pouco, porém e logo desistiram, ofegantes de cansaço.

— Há um jeito muito mais fácil de resolver isso. —Jessie declarou. — Cresselia, por favor.

A Pokemon Luar entrou pela janela aberta com um gorjeio, pondo-se ao lado de sua parceira. Jessie lhe pediu que usasse Psíquico para mover a estante.

— Boa ideia. — A morena aprovou. — Angel, dê uma mãozinha também, por favor.

A Pokemon Melodia subitamente se tornou visível, e com seus poderes psíquicos combinados ela e Cresselia suavemente ergueram a pesada estante, revelando o cofre que havia atrás. Era muito menor do que Calista esperava.

A jovem avançou e digitou a senha que seu pai lhe dissera, fazendo com que a pequena porta de aço girasse nas dobradiças, abrindo-se silenciosamente. Dentro, exatamente como Giovanni havia dito, haviam duas pokebolas. Calista as pegou e voltou a fechar o cofre. Mais uma vez Cresslia e Angel recolocaram a estante em seu devido lugar.

 

Só após haverem terminado foi que a morena ergueu uma das pokebolas no ar, libertando o pokemon que continha. Persian miou alto, abrindo um largo sorriso ao vê-la.

— Eu sabia. — A jovem disse carinhosamente. — É claro que seria você. Papai jamais permitiria que te pegassem.

Persian miou alto mais uma vez enquanto a morena se ajoelhava à sua frente. Num segundo o gato pokemon tinha o rosto enterrado no ombro da irmã de Ash e ronronava alto, satisfeito, esfregando sua bochecha contra a da jovem.

— É melhor você ir, princesinha. — Jessie disse. — Não queremos que ninguém descubra o que você realmente veio fazer aqui.

Pela primeira vez, Calista não se importou em ser chamada daquela forma, e nem com a zombaria da outra mulher. Não soava como uma provocação, não mais. Era mais como uma piada particular, e foi com um ligeiro sorriso que a morena se pôs de pé.

— Tem razão, Mulher Serpente. — Ela disse, colocando Persian de volta em sua pokebola. — E ... Obrigada.

— É claro. — James assentiu solenemente, enquanto Meowth retribuía o agradecimento com uma continência zombeteira.

Em lugar de responder, Jessie pegou a máscara em forma de asas de Butterfree sobre a escrivaninha e a estendeu para Calista. A jovem assentiu em agradecimento e recolocou o acessório, sentindo as mãos da outra mulher substituírem as suas com surpreendente delicadeza, quase ternura, amarrando os cordões que prendiam a máscara no lugar.

— Boa sorte, princesinha.

— Obrigada, Jess. Para você também.

Cresselia se adiantou, surpreendendo a todos ao tocar a testa de Calista com a sua. Parecia quase uma bênção, como se a pokemon também estivesse lhe desejando boa sorte.

— Parece que ela gosta de você. — A mulher de cabelos cor de rosa disse, abrindo um sorriso hesitante.

— Parece que sim. — Calista assentiu. — Cuide desses três idiotas, está bem? Não os deixe arranjar encrencas demais.

— Não seja sem graça. — Jessie protestou.

As duas rivais declaradas trocaram um sorriso de cumplicidade enquanto Calista saía pela porta, deixando o local tão silenciosamente quanto entrara.

O resto do dia foi um borrão. Calista só se recuperou totalmente do choque de tudo o que lera naquela noite, enquanto ela e Mirabelle se ocupavam com mais um ensaio.

— Eu juro, Mira. — A morena dizia enquanto completava uma das poses de alongamento. — Quase saí de lá correndo. Foi horrível!

As fitas azuis da Sylveon acariciaram as costas de sua parceira, subindo para puxar gentilmente a ponta de seu rabo de cavalo em um gesto de conforto, o que fez Calista esboçar um sorriso. Momentos depois seu celular tocou, fazendo-a voltar a ficar séria. A morena atendeu sem nem olhar. Sabia exatamente quem era.

— Oi. — A jovem kantoniana disse. — Você demorou.

— Aquilo tudo é verdade? — Diantha inquiriu em resposta, sua voz fervendo de raiva. — Tem certeza, Calista? Não pode ser algum truque da Equipe Rocket?

— Não. — A morena respondeu. — Sinto muito, Diantha. É tudo verdade. E ... Tem mais.

— Mais?! — A atriz repetiu, atônita. — E aquilo já não foi ruim o bastante?

— Acredite ou não, Maître, Lysandre e meu pai serem sócios é só a ponta do iceberg. As coisas nas quais eles estavam trabalhando ... Você não faz ideia.

— Me conte.

— Melhor não fazer isso por telefone. Não é seguro. — A jovem declarou. — Quando podemos nos encontrar?

Houve um momento de silêncio. Calista quase podia sentir a raiva de sua amiga, mesmo pelo telefone.

— Eu posso ir até aí. — A atriz disse enfim. — Se não houver problema, é claro.

— Problema nenhum. Você tem tanto direito a saber de tudo isso quanto eu. Para ser honesta, não sei mais a quem mais eu poderia recorrer.

— Certo. — Foi a resposta, dada com óbvio desapontamento. — Nos vemos em uma hora, então.

As duas desligaram e Calista deixou-se desabar sobre o chão acarpetado de sua sala de ensaios, seu rosto inteiramente contraído de preocupação.

— Espere só, Mira. — A jovem disse para sua parceira, que a olhava fixamente. — Ela vai surtar. Pode apostar nisso.

Mirabelle assentiu solenemente em concordância. Uma hora depois, Calista e Diantha estavam aninhadas juntas no sofá, canecas fumegantes de chá nas mãos. Camomila, é claro. Calista sabia o quanto aquilo seria necessário.

A morena falou devagar, contando tudo o que descobrira sobre o antigo projeto de Giovanni: uma pesquisa sobre mega evolução que visava a permanência dos efeitos de tal metamorfose. O fluxo de poder oriundo de tal ato, porém, era demais para ser suportado. Nenhum pokemon aguentara os efeitos dos experimentos.

— Isso é ... — A voz de Diantha tremia de raiva. — Desumano. Não consigo acreditar que qualquer ser humano em seu juízo perfeito faria algo assim.

— As pessoas sempre nos desapontam. — Calista rebateu. — Pelo que sei, o pai de Lysandre foi o chefe desse projeto. Mas essa ainda não é a pior parte.

— E o que poderia ser pior do que isso?!

— Haviam mais envolvidos. Um casal de cientistas da região de Sinnoh. Eles perderam o controle de uma das cobaias, aparentemente um Houndoom. Naquela noite, o pokemon descontrolado matou duas pessoas, a campeã da região e seu marido. Investigações foram feitas, mas a fera desapareceu. O atentado foi divulgado como um acidente e abafado. E o que é pior ... A campeã tinha três filhos. Não se sabe o que aconteceu com as crianças.

— Acha que Cynthia sabe sobre isso?

— Provavelmente. — Foi a resposta. — Quer dizer ... Eu ainda não contei a ela, mas duvido que Cynth não tenha ouvido a respeito. Foi um grande caso na época, uma verdadeira tragédia.

— Não podemos contar com probabilidades. — Diantha rebateu. — Precisamos contar a ela. Se isso tiver qualquer ligação com os projetos dele agora ...

Aquela declaração meramente fez Calista balançar a cabeça. Era exatamente o que esperava que Diantha dissesse.

— Talvez, mas não acho que seja o momento. — A morena disse enfim. — Cynth pode até não parecer, mas é muito impulsiva. Se contarmos, aposto que ela vai querer descobrir tudo o que puder sobre isso. Será como mexer em um ninho de Arbok. Se eu mesma mal aguentei ler aqueles arquivos ...

A expressão da atriz kalosiana suavizou enquanto sua mão livre buscava a de Calista num gesto de apoio quase automático. A jovem kantoniana permitiu o gesto por apenas um momento antes de se afastar, o que fez Diantha morder o lábio, magoada por aquela atitude.

— Eu nem consigo imaginar. — A mulher mais velha declarou gentilmente. — Deve ter sido horrível para você.

— Uma das minhas piores experiências até hoje. — Calista confessou. — Quase fiquei doente. Fisicamente, quero dizer.

— Foi assim comigo também. — A atriz confessou. — Quando descobri a verdade sobre Lys.

— Mas você lidou com isso muito melhor do que eu.

— Nem tanto, meu bem. — Diantha respondeu. — Eu simplesmente disfarço melhor. Mas não pense que não estou furiosa. Eu juro, poderia matá-lo agora mesmo, com minhas próprias mãos. Fingir apoiá-lo está sendo o papel mais difícil que já desempenhei.

— Nós vamos pegá-lo. — A morena garantiu. — Eu prometo. Só temos que descobrir como.

A atriz assentiu solenemente. Em um breve olhar, as duas amigas formaram um pacto silencioso de vingança.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pokémon - Unbroken Bonds" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.